sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Pavão Pavãozinho Cantagalo

As periferias dormem um sono induzido. Mas está-se acordando, as exceções contaminam de senso crítico à sua volta, estão nascendo cada vez mais focos no meio das populações sabotadas, exploradas, inferiorizadas de quem tudo depende, o Estado, a sociedade, as elites em sua opulência egoísta e arrogante. Nada funciona sem a atuação direta dos mais pobres. A inconsciência da maioria é uma necessidade do sistema. Conscientizar é a melhor maneira de cortar o fornecimento de energias pra essa estrutura social.



Conscientizemo-nos a nós mesmos e uns aos outros, com respeito e com afeto.



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Em Floripa, entrevista à rádio Campeche

No centrinho da Lagoa, eles vieram trabalhar comigo. Tranqüilos, a conversa rolou fácil. Também, assuntos óbvios...



Foi rápida a rapaziada da rádio Campeche, um monte de entrevistas por aí nunca vi no ar, tô esperando hasta hoy. Vez por outra aparece uma. Não tô cobrando nada nem acusando ninguém, tô só relatando um fato.



A Elaine Tavares costurou essa rapidinha...



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Viagem ao sul - tava emperrando, mas saiu...

Viagem resolvida no final do ano passado, vamos Ravi e eu pro sul, hoje. A rota já foi feita e desfeita e agora vamos pra rodoviária apenas com a noção da direção, o sul. Provável que a primeira parada seja em Floripa, já que o Uruguai, por um tempo fora do circuito, foi recolocado no caminho. Assim faremos a volta nas fronteiras brasileiras pelo lado de fora, até Foz do Iguaçu, onde reentramos em território nacional.

Havia combinado com Ravi que eu iria pra Visconde de Mauá, entre Rio e Sampa, exporia um fim de
A descendência, em Mauá. Moram lá Brisa, à esquerda, Ravi,
à direita, Alice, de boné, e Olívia, no colo de Alice.  
Foto: Helena Cristina
semana na montanha, o segundo do ano - aproveitando pra rever a descendência -, e de lá seguiríamos pra Sampa, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Pelotas, Uruguai, Argentina, Foz do Iguaçu. Daí a Visconde de Mauá de novo, já nos dias do carnaval, antes de voltar pra casa. Mas o material estava precário e tive que me aplicar na produção.

Combinamos então que Ravi desceria a serra na terça e viajaríamos na quarta, pra chegar em Porto Alegre a tempo de participar do Conexões Globais (https://www.facebook.com/pages/Conex%C3%B5es-Globais/237310399670494). Deu terça, nada. Aproveitei que Adhara tinha subido a serra e mandei recado, porque lá o celular não pega em muitos lugares e, além disso, Ravi costuma esquecer de recarregar. Quarta-feira, perto das dez horas, o Ravi telefona do telefone de Adhara, dizendo que vai pegar o ônibus das onze, em Resende. Duas horas de viagem e ele estaria no Rio, três horas pra chegar em casa. Imaginei que ele já tava em Resende, que Adhara havia descido lá por algum motivo e ele aproveitara. Não perguntei onde ele estava - um erro.

Arrumei mochila, deixei tudo pronto, ele chegaria e nós sairíamos. Três da tarde e nada. Quatro, nada, já tô acostumado com essas coisas... Ligo o computador, penso em perder o Conexões. Desde o ano passado espero essa viagem. Mas a origem da idéia era a viagem com Ravi, há anos não viajamos juntos, estamos morando em cidades diferentes, seria um prazer e uma aproximação. Mas o incômodo da irresponsabilidade sempre dá sentimentos ruins. Estava escuro já e eu senti um brotar de raiva - "porra, isso já é sacanagem". Parei ao perceber. "Não quero sentir isso". Que fazer? Eu tinha duas opções. Podia pegar a mochila e me adiantar, pegar a estrada sem ele, seria bem de acordo comigo, natural até - e foi o que ele imaginou, me disse depois. Mas podia esperar pra viajar com meu filho, e relaxar a respeito do evento em Porto Alegre. Preferi a segunda opção e aí o embrião do aborrecimento desapareceu.

Dez e meia da noite, toca o telefone, é Adhara. Diz que Ravi ligou do telefone dela quando estava no alto da serra, que tinha perdido o ônibus e ido pra estrada tentar carona. Ah, entendi, às dez da manhã ele disse que pegaria o de onze em Resende e não estava, como eu tinha imaginado, na rodoviária de Resende, mas sim no alto da montanha. E não contava com nada garantido pra chegar no horário. A viagem começou incerta, não tinha como saber quando ele chegaria - se desse azar, poderia demorar indefinidamente. Deu até um desânimo, mas como tinha mudado de postura, aceitei calmo a situação. Agora seja o que deus quiser, a gente vai na hora que der. Dançou a chegada no Conexões.

Conversando com a Claudia pela net, expus a situação e ela, como mãezona que é, começou a se preocupar. Parecia não entender a minha calma. Já ia assumindo a preocupação, "mas até essa hora...", "tá demorando muito...", essas coisas de mãe noiada, enquanto eu dizia "conheço meu eleitorado, esquentar a cabeça é queimar a mufa de graça. No auge do desespero, eles aparecem com cara de 'ué, o que que tá acontecendo'". Tava falando com ela, ouvi o barulho no portão. "Só pode ser ele". Em instantes ele entra no quarto, olho meio arregalado e sorriso, na expectativa de ver como tava o meu humor - ele já esperava que eu estivesse brabo. Mas eu tava calmo - quem já tava ficando nervosa era a Cláudia, que sentiu um alívio com a chegada. E já me dispensou na hora, "vai cuidar das tuas crias". Quase desligou na minha cara.

Ravi sentou pra conversar. Contei que depois que Adhara disse que ele ligou da estrada, na montanha, e que tinha descido de carona, eu relaxei, mudei até a rota da viagem e não tinha mais Uruguai no caminho. Que eu tinha imaginado que ele telefonou de Resende, vendo o ônibus das onze. E que, já que tinha perdido o Conexões, mudara a rota da viagem, tirando o além fronteiras. A cara de decepção dele me fez incluir de novo o Uruguai - "não tenho nada resolvido, cara, decidi sem falar contigo porque não tinha como falar contigo. Mas nada tá definitivo não, a gente vai conversando e resolvendo". Aí entra Adhara pela porta, riso de quem "enganou um bobo na casca do ovo". Eles tinham vindo juntos, no carro dela. Ri também, que jeito... "tá se divertindo, né Adhara..."

Bueno, estamos saindo, primeira parada Floripa, depois Porto Alegre. Em Florianópolis temos a casa de um filho afetivo pra nos abrigar, se der pra expor devemos ficar uns dias.
Primeira parada, Floripa.        Foto: Juliana Lehmen
Já em Porto Alegre o meu mano Fabio tá com a casa lotada, a densidade demográfica tá coalhada com parentes, não vai dar pra impregnar por lá. Chegando na cidade a gente se arranja. Pensei em arrumar uns papelões e falar com o Branco, tem um espaço na sobreloja do armazém que ele não usa, a não ser como passagem pro banheiro. Ali estaria legal, mas o Fabio me demoveu da intenção, "ali bate sol a tarde toda, quando ele fecha de noite vira uma estufa, cês vão fritar lá dentro". Bueno, como foi dito, chegando em Porto Alegre a gente se arruma.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"Mensalão"

Ora bolas. Lá vou eu falar no “mensalão”, de novo.

Existem vários interesses na criação desse espectro, o “mensalão”, dinheiro usado pra comprar parlamentares. Na verdade é uma figura de mídia. O parlamento, desde que foi fundado por um rei, Dom Pedro primeiro, sempre foi um balcão de negócios do patrimônio público com o poder privado. Os parlamentares sempre foram comprados e todo mundo sabe disso. Não entendo o que acontece pras pessoas irem votar nessa farsa, acreditarem nas mentiras cotidianas, deixarem sua visão de mundo, suas idéias, seus desejos, seus objetivos de vida serem ditados por um condicionamento planejado e implantado sobretudo pela mídia, rádios e televisões, formando visões de mundo, comportamentos, deformando a realidade de forma a manter privilégios pra uma minoria e, pra isso, negar direitos a uma enorme maioria. Esse é, como gostam de dizer os acadêmicos, o “modus operandi” do parlamento.

Um boy do parlamento do Rio de Janeiro me contou, em 2000 ou 2001, que entregava um envelope da fetranspor, a federação patronal das empresas de transporte rodoviário – não sei se de cargas também, além de passageiros – em todos os gabinetes dos deputados, ou vereadores, sei lá, não lembro, de todos os partidos. Eu estranhei, quis saber como era isso, conversa de calçada, em beira de banca, expondo, o que dá até mais liberdade pras figuras falarem a verdade sem medo. Ele disse que os envelopes dos partidos do governo, os direita, eram mais gordos, mais pesados. O do partido comunista – e aí eu fiquei pasmo – era bem magrinho, mas não deixava de ir, e os caras recebiam.

As propostas podem ser lindas, mas a realidade do procedimento institucional é espúria. Não só pelo relato do cara, são muitos os acontecimentos, esse é só mais um. O parlamentar, por mais bem intencionado que seja, precisa adotar comportamentos, procedimentos e maneiras que são inerentes àquele meio, o político partidário. Se não por si, por meio dos seus assessores, os partidários, adaptados aos procedimentos. Meios sujos, fingir, simular, trocar segredos, armar o jogo, usar insinceridade, sorrir pra quem cê tá armando. Há quem vá por aí e não sou ninguém pra condenar, pra dizer que tá errado. Apenas eu não consigo. Sigo por outro lado, digamos assim. São tantos, infinitos modos de se viver com proveito, dentro da coletividade...

Vejo pessoas instruídas falando nesse “mensalão” de uma forma que me deixa triste. Reproduzem a repulsa de classe, assimilam o ódio antipetista como se fosse um partido o responsável por esse descalabro social em que vivemos. E abrem mão de ver a realidade de uma estrutura social dominada por interesses empresariais, com mentalidades implantadas neste sentido, num mundo de concentração total de poderes, tanto políticos quanto econômicos. Aliás, os poderes políticos estão dominados pelos econômico-financeiros. E é a nossa mentalidade, a geral, que alimenta isso. Competitividade, busca de excessos, desejos de “vencer na vida”, ser melhor que os outros, usufruir de privilégios enquanto existe miséria, consumos e consumos, ver o mundo como uma arena onde são todos contra todos e que vença o melhor. O inferno.

Não me venha falar de mensalão, por favor. Pra mim, é um atestado de alienação. Pior, uma demonstração de teleguiamento, se é que se pode falar assim.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eduardo marinho - Uberlândia (MG)

Isso me chegou recente, mas data de outubro de 2012. Na falta de postagem melhor, vai aí. Gabriel Serafim é autor de "Riso, risco, aliso, enrosco", livro pra cujo lançamento fui convidado. Bibi conseguiu superar a corrida de obstáculos burocráticos, psicológicos e ideológicos dos editais públicos e obteve o financiamento pra todas as necessidades da produção. Fui incluído graças a isso.

Pouco tempo atrás ele esteve em Santa Teresa, onde exponho, foi um prazer rever esse camarada. Disse que em janeiro mudaria pro Rio e disse mais, que faria essa corrida de obstáculos pra me conseguir a mesma coisa. Ele insistiu pra que eu fizesse, apesar de eu afirmar minha incapacidade. Não há dinheiro que me encante a ponto de encarar o desgosto do contato com as instâncias burocráticas do Estado. O sentimento de sem fim - vai pra cá, vai pra lá, falta uma assinatura, um número, um carimbo, volta, busca, não está, aguarde sua vez, volta na segunda, ... - me perturba. Aí ele disse que era fácil e que ele mesmo iria fazer isso, usando o material que existe a meu respeito por aí. E brotou a sensação, "será?" e a imaginação fez o resto.

Pra quê que tu foi falar isso, Bibi? Agora já era. Perdeu, pleibói, vou ficar na tua cola. Quem sabe eu não aprendo o caminho? Aí, sim, vai se poder fazer muita coisa que não se faz por falta de condições. E o trampo vai voar por aí. Grande abraço.


Ah, sim, a respeito do vídeo, no final eu falo em amor irrestrito pelo ser humano. Preciso dizer que não me sinto nesse patamar de elevação, penso nisso como objetivo da humanidade como um todo. Em certo momento senti que passei essa impressão.

Carrego comigo todas as mazelas que vejo na humanidade à minha volta, senão de forma explícita, pelo menos em potencial. Eu me debato interiormente contra meus próprios e ainda inevitáveis sentimentos ruins, destrutivos, desequilibrados que influenciam minha vibração pessoal e toda a realidade à minha volta. Prestando atenção aos sentimentos que permito brotarem dentro de mim e nos sentimentos que provoco nas minhas relações, posso perceber e evitar constrangimentos, atritos, mágoas ou rancores. Quase sempre. É desnecessário e nocivo provocar sentimentos de mal estar. E a gente arruma menos problemas.