sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Empresas dos trabalhadores, sem patrão.

Até onde sei, cada fábrica ocupada e administrada pelos trabalhadores tem sua forma de organização. Há caso de todos os trabalhadores, do diretor geral ao faxineiro, todos ganharem o mesmo salário. As experiências estão em aberto. Tudo resolvido em assembléias onde todos podem se manifestar, e se manifestam. E tudo funciona muito melhor do que com o patrão. (https://www.youtube.com/watch?v=k07f70kDrqw - filme de Naomi Klein sobre as fábricas ocupadas da Argentina) O modelo explorador está com os dias contados. Gostaria de dizer que agoniza, mas seria ingênuo, ele domina os meios políticos, econômicos, culturais... Mas as sementes germinam, se espalham, contaminam. Estamos trabalhando e somos muitos, embora espalhados como é preciso ser. E cada vez mais nos encontramos, cada vez mais nos juntamos, cada vez menos competimos, cada vez mais espalhamos que não é preciso se adequar, não é preciso ser como nos mandam. Não é preciso aceitar uma vida angustiante e sem sentido. Já não queremos vencer na vida. Preferimos viver.

Mais um exemplo, desta vez no Uruguai. Na Argentina há o "Movimento das Fábricas Ocupadas", no Brasil, em Sumaré, São Paulo, existe a Flaskô, há mais de dez anos funcionando sob controle dos trabalhadores e há mais de dez anos escondida pela mídia empresarial, resistindo a todas as investidas de um Estado que serve aos interesses empresariais - invasão da polícia federal, nomeação de um interventor, tentativa da justiça de leiloar a máquina mais importante da fábrica, todas superadas pelos trabalhadores. Os salários aumentaram, a carga horária baixou pra 30 horas semanais, a produção aumentou, as dívidas dos patrões foram e estão sendo pagas, galpões abandonados foram transformados em centros culturais abertos à comunidade em volta.
Estes movimentos demonstram, sem engano, que a figura do patrão é dispensável - e muitas vezes nociva. É isso que apavora os empresários e a mentalidade empresarial implantada em toda sociedade. A ganância, a sede de lucro, a ambição desmedida e desumana causam sofrimento geral, pressões perversas, indiferença com a dor alheia - sintomas de psicopatia.
As comunicações são empresariais, dominadas, submetidas, e por isso mentirosas, deformadoras da realidade e inimigas da verdade, da justiça, do equilíbrio social, enfim, da humanidade. Em nome de um punhado desumano de vampiros que tiraniza as coletividades e cria o inferno na Terra.
Pessoas com visão além do que nos é mostrado, por pouco que seja, podem enxergar a mídia privada como o esgoto moral que na realidade é.
Necessária a divulgação da existência desses movimentos de trabalhadores e a comparação com o modo de ação e com os resultados superiores dessas empresas, apesar da sabotagem intensiva, constante e raivosa dos representantes dos interesses empresariais. Este é um movimento anti-parasitismo, anti-exploração, que revela a malignidade da figura do patrão.
Daí o ódio dos poderes vigentes, dominados por estes interesses desumanos, como normalmente são os interesses patronais.
:: EMPRESA DE ÔNIBUS AUTOGERIDA NO URUGUAI
Na cidade de Colônia do Sacramento, no Uruguai, os trabalhadores assumiram eles próprios a gestão de uma empresa de ônibus após o patrão falir em 2001. Desde então, a "ABC Cooperativa", operando sob "controle operário", é a única companhia de ônibus da cidade que não demitiu seus cobradores e impede sistematicamente todas as tentativas de aumento da tarifa.

https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/778667755522811/?type=1&theater

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sentimentos Falsos - texto do fanzine Pençá, nº 5

Favela Santa Marta, Rio de Janeiro.
Casa por cima de casa, becos, escadas, passagens pra todo lado. Nas partes mais inclinadas, uma floresta de vigas de concreto lembra árvores, com a folhagem de tijolos. Lages, casas, puxadinhos, quartos, degraus irregulares entre calçadas e valas. Aqui nunca veio um engenheiro, foi tudo feito e construído por operários, peões, gente pobre de todos os tipos que constrói por conta própria. O peão não depende do engenheiro pra fazer sua casa. Já o engenheiro não constrói sem o peão, sem o operário. Depende dos "menos qualificados". Mas ele se sente superior, enquanto o peão se sente inferior. Sentimentos fabricados, artificiais, sem razão real de ser. ("Não há saber mais ou saber menos; há saberes diferentes" - Paulo Freire)

Tudo o que se come é plantado e cuidado por mãos pobres. Colhem, trazem, preparam. Mãos pobres costuram tudo o que se veste, fazem os sapatos, as calçadas, põem o asfalto nas ruas, constróem tudo o que se vê, casas, hospitais, escolas, clubes, mansões, parques, praças, barracos,... Mãos pobres põem a sociedade pra funcionar, ligam as máquinas, limpam, preparam, carregam. São mãos pobres que buscam doentes e feridos pra serem atendidos e cuidados em primeiro lugar por mãos pobres. Elas enterram os mortos. Os pobres são a base de toda a sociedade. Sem eles, nada funciona.

Apesar disso, o mais pobre é levado a se sentir inferior. E o rico, que depende de pobre pra tudo, se sente superior. Sentimentos falsos, implantados pela mídia, pela cultura do consumo, pra que a gente se submeta conformada a uma vida massacrante, à exploração, sem perceber sua importância na estrutura social, acreditando valer pouco ou nada. Impotência planejada.

O medo dos poucos "de cima" é os muitos "de baixo" começarem a pensar por conta própria e verem, com olhos próprios, a realidade além do que é mostrado. A estrutura social, pra se manter como está, precisa de ignorância e desinformação, de miséria e abandono - pra que se aceite, por medo, a exploração e a vida sem sentido, ou com o sentido vazio do consumo. Precisa do medo que paralisa, dos entretenimentos que ocupam o tempo e o pensamento e dos desejos de consumo que desviam a atenção.

A união, a cooperação e a consciência das populações é o pesadelo das elites e a libertação dos povos.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.