A aprovação social tem um preço alto. Na alma. E jamais vale a pena. O problema é que, geralmente, só se percebe isso no fim da vida. Os poucos que percebem antes, podem se preparar pra discriminação, pra condenação, pro preconceito dos convencionais.
Os que percebem tarde demais, têm a terrível sensação de ter vivido em vão, de vazio, de não ter vivido e de não ter mais tempo. Eu vi isso exposto na minha frente, de um rico empresário, já perto dos noventa, doente, acompanhado de enfermeira. "A sociedade me vê como um vitorioso, um bem-sucedido. E no meu coração eu me sinto um fracassado." Disse mais, "quando percebi que minha vida tá chegando no fim, olhei pra trás e vi um vazio, tudo o que eu achava importante não valia mais nada..." E o que me tocou mais fundo, um sentimento que eu tinha e que pensava ser algum erro meu, "...a sensação que eu tenho é a de que mentiram pra mim lá no começo da minha vida e eu corri atrás dessa mentira a vida inteira." Era o que eu sentia, as pressões pro enquadramento, as promessas de futuro, mentiras, enganos. Tudo o que me diziam que era pro meu bem, não me parecia. Todo ideal de vida que me apontavam parecia frustrante, posição social, excessos, desfrutes, privilégios sociais, me pareciam mais constrangedores que desejáveis.
Estranho eu em meu meio, no princípio da minha vida. Mas a miséria, a pobreza, a exploração de "serviçais", tornavam todo desfrute constrangedor, pra mim, intuitivamente, sem perceber ainda quase nada da estrutura social. Me constrangia, de alguma forma, a posição de privilegiado social, embora fosse muito confortável. Mas um conforto que custava um desconforto interno sem explicação. Um desconforto que vi em muitos dos meus iguais sociais, os mais sensíveis, sempre exceções. Quase todos permaneceram no desfrute das considerações sociais, convivendo com esse desconforto, coisa que eu não fui capaz. O desconforto físico me pesa menos. E se não tenho nenhuma consideração por esta estrutura de sociedade, por que precisaria de alguma consideração social?