Por: Minoska Cadalso Navarro
20 noviembre 2018
Desde 2016, o dr. Arnaldo Cedeño Nuñez atendia as crianças indígenas da etnia Apalai Waiana no Brasil. "Não pude me despedir, viajei e talvez em 20 dias, na sua inocência, esperem minha volta. Não vai acontecer, por isso peço perdão". Assim relata o dr. Arnaldo.
Esse dia eu não vou esquecer nunca. Era 11 de setembro de 2016, a manhã estava nublada, havia previsões de chuva e turbulência. Subi ao aviãozinho, viajava a partir da cidade de Macapá, no estado do Amapá, no Brasil, até a aldeia Bona, pertencente ao município Almeirim do estado do Pará".
O doutor Arnaldo, em sua memória, sinto que volta a viver aqueles momentos, para ele muito tensos, "não nego que temia, imagine-se, só viajaríamos o piloto e eu, o qual me deu as instruções para casos de emergência porque atravessaríamos a selva amazônica até chegar à comunidade indígena da etnia Apalai Waiana".
"O percurso durou duas horas, o trajeto era complicado e arriscado, só depois de umas quantas viagens comecei a apreciar a natureza formosa e quase virgem que via das alturas".
Ao jovem galeno, oriundo da província de Granma, conheci através das redes sociais, por ocasião da declaração do Ministério de Saúde de Cuba, de não continuar no programa "Mais médicos", quando Cedeño publicou, no seu perfil, uma nota: "Perdão por não lhes haver dito adeus!!!"
A quem pedia perdão o médico cubano?
El doctor Arnaldo con niños y miembros de la etnia Apalai Waiana en Brasil. Foto: Cortesía del Dr. Arnaldo Cedeño Núñez. |
"Eu fui para a aldeia indígena no dia seguinte à eleição do presidente Bolsonaro. Durante dois anos, cada vinte dias convivi com os nativos. Não havia luz elétrica, nem telefone, nem internet, só tínhamos um televisor no posto de saúde, que funcionava duas ou três horas na noite, enquanto houvesse combustível pra alimentar a eletricidade, mas nesses dias o equipamento de tv estava quebrado e eu não sabia nada do que estava acontecendo".
"Com as crianças da comunidade havia uma relação afetiva, sempre lhes levava caramelos e eles, em troca, me ofereciam a pouca comida que tinham. Aprendi sua cultura, seus jogos, seus cantos, sua inocência, chegava a chorar quando adoeciam e me doía que seu futuro estivesse fechado apenas na selva e rios que lhes serviam de sustento".
"Dois dias antes de sair definitivamente do lugar, quis fazer um descanso na noite, coloquei a rede fora do posto de saúde e deitei. Na aldeia havia uma festa, foi então que chegaram uns meninos e me pediram permissão para me cantar umas canções na língua indígena. Não gravei e não me perdôo. Eles me salvaram nesse dia de uma picada de cobra, porque descobriram que debaixo da rede havia uma pequena. Um deles, com sua sandália, quase descalço, a matou".
Por uns segundos, o doutor se mantém em silêncio.
"Não sei porque, sentia o pressentimento de que algo não ia bem, mas nunca pensei que não voltaria a vê-los. Prometi passar com eles o natal, uma data importante para os brasileiros, mas não pude me despedir, me fui e talvez em 20 dias, em sua inocência, esperem minha chegada. Não vai acontecer, não pude dizer-lhes adeus e por isso lhes peço perdão".
El doctor Arnaldo y sus pacientes de la etnia Apalai Waiana en Brasil. Foto: Cortesía del Dr. Arnaldo Cedeño Núñez. |
"O que você traz a Cuba, das crianças indígenas da etnia Apalai Waiana?
"Deles trago as melhores recordações, por exemplo, quando chegava o aviãozinho, todos vinham com suas carinhas risonhas a meu encontro, no começo me tocavam para sentir a textura da minha pele, que eles notavam que era diferente".
"Eram curiosos e me perguntavam de que etnia era o médico cubano, então lhes explicava que em Cuba não tínhamos cacique, nem tribos. Um dia perguntaram sobre nossa comida e me comovi muito ao saber que se alimentavam apenas de mandioca e frutas, estão mal nutridos, sobretudo os menores".
Percebo emoção na voz do doutor Arnaldo, ele faz uma pausa para me dizer por último: "Lhes dei meu amor, ensinei a dançar e cantar, entendendo a nossa cultura, e minha única tristeza é não ter podido abraçá-los em minha despedida".
Desde el año 2016, el doctor Arnaldo Cedeño Núñez atendía a los niños indígenas de la etnia Apalai Waiana en Brasil. Foto: Cortesía del Dr. Arnaldo Cedeño Núñez. |