quarta-feira, 20 de junho de 2012

Natureza morta do Pinheirinho - Não dá pra esquecer : Estado criminoso, Pinheirinho é toda hora, em todo lugar, em nome da ganância de poucos, a população sofre.


Hoje está sendo a Vila Autódromo. Têm sido tantas que nem posso lembrar os nomes. Em todas as cidades onde andei, em todos os tempos que vivi, a história é essa. O poder público, a mando dos poderosos da sociedade, os podres de ricos, ataca, espanca, mata, reprime, prende, rouba e expulsa, sem nenhum resquício de vergonha, dignidade ou respeito, os mais fragilizados, explorados, sabotados e excluídos da sociedade.

Como se consegue fazer os policiais esquecerem que fazem parte do povo e sofrem parecidos problemas, com as mesmas causas? Vivem as mesmas dificuldades e esquecem disso quando cumprem a ordem de atacar. E atacam com fúria, ódio no olhar, ânsia destrutiva, sem perceber que atacam pessoas, destróem moradias, atiram famílias nas ruas, espancam pais, mães, crianças, velhos, aleijados, matam cachorros, matam pessoas. O que é feito com a humanidade desses homens? Que tipo de instruções, de tratamentos, de interferência psicológica recebem essas pessoas, para serem capazes de atos que envergonhariam o mais brutal dos seres? Que monstruoso alcance de estudos avançados de psicologia do inconsciente será preciso pra criar tamanhos ódio, fúria e compulsão destrutiva, por vezes assassina? Onde está, na verdade, a verdadeira responsabilidade nessa zorra toda? 

A quem interessa uma polícia, uma segurança pública destacada da sociedade, capaz de atacar indiscriminadamente qualquer coisa, qualquer coletividade, qualquer cidadão, sem questionar, sem sentir nada além de raiva e obstinação no cumprimento de ordens, desumanizado por completo da parte mais valiosa do ser, sua sensibilidade, sua capacidade de solidarizar-se com o sofrimento  alheio? A quem tem servido o aparato público de segurança? É estimulada a violência sem consciência e sem critério, além da tirania e da intenção de destruir qualquer organização dos explorados, qualquer oposição a esse modelo de sociedade que cria seus próprios monstros, dos dois lados do espectro social, o institucional que se apresenta "do bem", mas que age barbaramente, e o dos inconformados da sorte, que se deformam sob as pressões dos valores e dos comportamentos impostos. E as forças de segurança são apartadas da sociedade. Estão construindo uma "cidade da polícia" em algum lugar da zona norte ou oeste do Rio, não sei bem, onde só morarão policiais e suas famílias, formando um gueto. Uma sociedade à parte da sociedade, um enclave de profissionais de controle de massas, que não podem se sentir parte da turba, do populacho, da massa que precisa ser controlada, amorfa e acéfala como a estrutura é montada pra produzir, angustiados seres sem alma a serviço e sob controle do sistema.

A PM do Espírito Santo adquiriu recentemente um tipo de caveirão (blindado originalmente projetado pra entrar nas áreas pobres -"de conflito"- protegido e atirando para todos os lados) equipado com lança-águas com potência pra 100 metros, em várias direções. Água com pimenta. Se fosse um programa de humor, eu perguntaria que tipo de bandido a polícia pretende pegar com esse equipamento. Polícias de vários outros estados devem ter invejado a polícia capixaba, querendo o mesmo veículo. Já perceberam seu papel de inimigos de qualquer tipo de organização popular de inconformação, de protesto, de reivindicação, de proteção dos seus direitos. Povo, só disperso. Circulando, circulando! Estão convencidos do seu papel de dispersão de massas, de criminalização das lideranças, dos representantes. Tanto que, mesmo depois de serem forçados pela situação de penúria a reivindicarem, por sua vez, direito à remuneração digna, violando um princípio sagrado do militarismo, a hierarquia, muitas vezes em grandes conflitos internos, mesmo assim não se conscientizam e voltam a reprimir outras manifestações.

Que tipo de trabalho psicológico pode evitar que percebam o uso que lhes é dado no contexto da sociedade, o de defensores da propriedade privada e dos interesses dos podres de ricos? Estes tomaram pra si o controle do governo, das assembléias legislativas, do judiciário e suas leis, destruindo o ensino e a saúde públicas e colocando o aparato público a seu serviço, com o apoio da mídia. Em Pinheirinho, mesmo, houve alguns policiais que se recusaram, alguns em lágrimas. Me disseram que houve quem dissesse que não havia entrado na polícia pra fazer aquilo. Devem ter sido acusados de insubordinação e penalizados pelas leis militares, acusados de covardia e incompetência pelos colegas, humilhados pela instituição por terem mantido alguma parcela de humanidade. Isso não é permitido. Há que se estudar, descobrir as causas da falha e corrigir, algo na instrução ou nesses indivíduos. 

Como é que não se questiona a instrução, a formação ideológica e as finalidades reais destas instituições? Acho que sei porque. É porque não pode. E não é difícil intuir as razões, basta olhar em volta e ler o que está escrito na realidade à nossa volta. Tudo o que serve aos interesses empresariais funciona bem; tudo o que serve ao povo em geral, funciona mal. E os mais pobres, os que fazem os serviços que ninguém quer mas, se não forem feitos, será o caos, os que pegam no pesado e sustentam a sociedade são os mais maltratados. É conhecida a brutal diferença de comportamento das polícias nas áreas ricas e nas vastidões das áreas pobres. É conhecido o genocídio que acontece na chamada "guerra ao tráfico", mentira que ofende a inteligência, de "ao tráfico" aí, não tem nada. O terrorismo de Estado é o elemento constante nas áreas periféricas, as mais populosas e mais pobres, além da constante ausência em outras áreas como educação, saúde, cultura, saneamento e tudo o mais. Não interessa a cidadania por aí, a gente poderia se dar conta e reivindicar os direitos constitucionais. Imagina, ter que dar garantias de alimentação, educação de nível, moradia, tudo com o dinheiro público que os grandes empresários estão acostumados a dispor, em benefícios, parcerias e contratos gigantescos para obras gigantescas, onde correm rios de dinheiro por fora e por dentro. Nas relações com os poderes públicos, com os ditos "representantes" da população, financiam suas campanhas e enchem seus bolsos para pagar os serviços e facilitações. Tudo regado a champanhe, nas festas de elite e na promiscuidade bilionária com o dinheiro de uma população atirada à barbárie, roubada em direitos básicos constitucionais e explorada, em troca de uma vida angustiada e sem sentido, que passa sem que se perceba e acaba como se não tivesse existido. Uma estrutura política e social perversa. Para manter e defender essa estrutura é que se trabalha no espírito das forças de segurança, é que se formata todo o sistema de segurança. Na contenção de massa - parece que se sabe o que se provoca e se espera reação popular a qualquer momento. Pra isso se preparam há muitas décadas, mais de um século sem dúvida, no controle das instituições, pouco a pouco, e agora a contenção de massa, que as instituições já estão na mão. 

Há muitos Pinheirinhos, há muito tempo, em muitos lugares onde acontece de existir pobres e interesse(s) de rico(s) ao mesmo tempo. O modelo de sociedade que alimentamos com nossos comportamentos, nossos valores, nossos objetivos, nossas reações, nossas mentalidades, é um modelo perverso, centrado no egoísmo extremo, na ambição, na competição permanente, na exploração, na pobreza e na miséria de muitos. O êxodo rural não é uma figura de retórica, é uma tragédia da história nacional que durou muitas décadas. Hoje há muitos êxodos diferentes, não é mais só um tipo. O mundo está cheio de campos de refugiados e populações deslocadas em guerras movidas por interesses econômicos de grandes empresas. Cheio de sem teto e sem terra, cheio de acampamentos e ocupações. Cheio de desempregados, de pobres e miseráveis abandonados pela sociedade. É a guerra dos pouquíssimos mega-empresários nacionais e internacionais (banqueiros e industriais, sempre mega) contra os povos de todo o planeta, onde quer que haja algum interesse, alguma riqueza, algum espólio a ser conquistado. Usando o aparato público, num cenário de política internacional construído e sistematicamente retocado pelas mídias, forjando relações entre países e negócios para as grandes empresas, a diplomacia das chantagens e ameaças e os acordos internacionais realizam os interesses das empresas. A qualquer custo. 

A guerra das empresas contra os povos. Hoje o inimigo se planta na sua sala com o mais lindo dos sorrisos, dizendo que ama você e toda sua família, que a razão da existência dele é a sua felicidade, afaga e conta piadas, enquanto narcotiza, rouba seus direitos e sua consciência, distorce a realidade e esvazia a vida. Molda valores e comportamentos, cria desejos e objetivos, planta ilusões e aproveita pra extorquir o quanto possa, de todas as maneiras. A mídia é o porta-voz, o formador de opinião do sistema, da estrutura social que se baseia na miséria pra concentrar riqueza pra poucos, luxo e miséria como natural e inevitável, merecimento e castigo, nada intencional, nada resolvido, nada planejado - é sempre um deboche com a inteligência média.

A coisa pública tá imersa na privada. É preciso tomar consciência. Eis um novo mandamento: conscientizai-vos uns aos outros. Aprendamos juntos. A consciência é uma arma contra a qual não há defesa, nem ataque capaz de destruir. Idéias não se matam. Solidariedade faz bem à qualidade de vida. Cooperar é melhor que competir. Sentimentos de superioridade inferiorizam, sentimentos de inferioridade paralisam. Humildade gera criatividade e imuniza contra o sentimento de humilhação. Não há superioridade ou inferioridade, mas responsabilidade. Sentir é mais que saber. Quem sabe mais não é melhor, é mais responsável e deve mais à coletividade. Assim como quem sente mais e percebe mais.

Pinheirinho é aqui e agora. É a realidade à minha volta, é a sociedade com a qual não me conformo.



Outras postagens sobre o massacre de Pinheirinho:
http://www.observareabsorver.blogspot.com.br/2012/01/o-massacre-de-pinheirinho-verdade-nao.html
http://www.observareabsorver.blogspot.com.br/2012/01/mudar-por-dentro-pra-mudar-sociedade.html
http://www.observareabsorver.blogspot.com.br/2012/01/complementando-pinheirinho.html
http://www.observareabsorver.blogspot.com.br/2012/02/relato-de-um-defensor-publico-de-sao.html

Texto que recomendo porque me tocou profundamente

http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/06/18/ostentacao-diante-da-pobreza-deveria-ser-crime-previsto-no-codigo-penal/

Faço minhas as palavras do Sakamoto.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Rio+20, Cúpula dos Povos e Belo Monte, Anúncio de uma Guerra - filme


Estive na Cúpula dos Povos, sábado. Entrei pelo lado do Museu de Arte Moderna, onde vi a Rio+20 compondo com a Cúpula. Estranho, não são opostos?
Circulei entre as barracas, grandes lonas bem montadas, caras, com muitos recursos. Recebi revistas, folhetos, panfletos e até um livro. O material é bom, o papel é caro, produções bem bancadas. Não percebi de onde vem tanto dinheiro, mas brota uma desconfiança. Parecia uma grande feira, com todas as características empresariais. Infiltração? Acho que sim, pelos sinais. Vi algumas palestras, de longe, de passagem. Um senhor negro de cabelos brancos falava a umas duzentas pessoas. Aliás, gritava, indignado, que a polícia entra nas favelas sem respeito nenhum, atirando a esmo, maltratando a todos indiscriminadamente, um crime, um absurdo do Estado contra o povo. Não parei. Até aí, nenhuma novidade, conheço essa realidade dolorosa e cotidiana, há muitos e muitos anos. Outra lona reunia indígenas, caracterizados com suas pinturas, várias etnias e tribos. Denunciavam as matanças, os cercos, as perseguições, os extermínios, constantes desde a chegada dos europeus, hoje um genocídio dirigido aos descendentes, aos remanescentes que, incrivelmente, resistiram, sobreviveram e ainda resistem. Guarani-kaiowá, kaiapó, waimiri-atroari, yanomami e tantos outros povos, destroçados em suas culturas, atacados com fúria pelos ambiciosos empresários que só pensam em lucro a qualquer custo e nem moram naquelas áreas, mantendo verdadeiros exércitos de jagunços, de criminosos sem sentimentos que matam por dinheiro. Nenhuma novidade, há publicações neste blogue a respeito disso. Não parei pra ver. Ali não parece haver iniciativas de ações, apenas denúncias e mais denúncias. Eu esperava muito mais, embora meu senso de realidade me avisasse pra não esperar. Mas a esperança é rebelde, não acata nem o bom senso. Ou mau senso, neste caso.
Soube agora da convocação do Raoni pra quarta-feira, no Riocentro, onde afirmei que não iria, pois é a reunião da oficialidade, dos representantes do estabelecimento, com seguranças e polícias de todos os tipos, com aquele velho espetáculo de figuração de um falso poder, ostentando cargos e posições de mando, ocultando os poderes reais que os bancam e controlam, em nome dos seus interesses em mais dinheiro, mais poder e mais controle, por trás do cenário sujo dos poderes institucionais. Belo Monte de mentiras será, mais uma vez, denunciado. Essa é uma luta que vale a vida de muita gente, de muita cultura, de vários povos, ameaçados pelos interesses das empreiteiras e mineradoras que sustentaram as campanhas do atual governo (como sustentaram as de anteriores), que já não estou chamando de governos, mas sim de gerências, que é o que são. O sistema só pode ter o nome 'democracia' se isso for entendido como a cracia do demo. Os grandes vampiros da humanidade, que destróem tudo o que tocam (ou melhor, mandam tocar), não respeitam nada e vêem todas as populações no caminho dos seus lucros como detritos a serem removidos a qualquer custo, eliminados de qualquer jeito. Gentinha desumana que se esconde atrás dos seus vidros blindados, seus helicópteros, suas bolhas de segurança e pagam pra outros botarem a cara em público, pra defenderem com todos os argumentos as suas mentiras, pra enganarem, pra controlarem, pra reprimirem os que não se conformam.
Recebi esse filme aqui, "Belo Monte, anúncio de uma guerra", vários pontos do filme me fizeram brotar água nos olhos. Denúncia feita, fica o pedido de divulgação, de sensibilização, de esclarecimento, de apoio e engajamento. Belo Monte é um símbolo. Será de luta e preservação da natureza e do ser humano, ou de subjugação dos povos, de genocídio e desumanidade que imperam em nossa civilização.





sábado, 16 de junho de 2012

Dar sentido à vida

Quando ponho meu trabalho na rua, resultado das vivências, das buscas, das opiniões adquiridas, não pretendo mudar o mundo. Olho pro mundo como um ser em mutação constante. Quem sou eu pra tamanha pretensão? Observo apenas... e me sinto parte. O que preciso é colocar minha posição dentro do que me cerca, do que vejo, do que sinto diante do que vejo. Escolher a forma de participar disso tudo. Não gosto do que vejo, não acredito nas interpretações da realidade que me chegam, por isso escolho diferente e me coloco na contra corrente. Não posso me adaptar a uma sociedade que abandona pessoas e ainda as maltrata com seus "serviços públicos" precários, desrespeitosos, seus organismos de repressão, ou "segurança", na língua oficial, seu sistema de verdadeira escravidão no trabalho. Nas fases mais frágeis da vida - a infância e a velhice -, vejo abandono e barbárie na sobrevivência da vida, ausência da sociedade, ausência de nós, que delegamos o poder de decidir a quem se vende.  Há muitas maneiras e eu tive que escolher a minha. E essas maneiras vão se apresentando, as coisas vão se impondo, vão acontecendo, o trampo vai se adaptando a cada situação - ou o contrário também acontece, a situação se adapta à possibilidade do trampo. Cada momento tem suas características. Às vezes me sinto insignificante, dentro de um contexto tão enorme que não posso imaginar, de tão imenso o universo, as galáxias, o espaço infinito e desconhecido. Tenho minha parcela, insignificante no todo, mas que é tudo pra mim. E preciso de um significado, como eu disse aos dezenove anos, ter, sentir um sentido pra vida. Então aponto o nariz e parto na direção de uma sociedade mais igualitária, mais consciente, mais lúcida, mais solidária, mais humana. Com minha vontade, meu trabalho e minha vida. Dentro da minha insignificância, encontro maneira de dar esse sentido à existência. Sinto o antes e o depois, o agora aqui é só uma passagem. O trabalho pode não terminar, ou pode (embora eu não creia), mas é essa lida que dá sentido à vida, seja ela finita ou infinita. Nosso meio é o imediato, é o que tocamos, o que sentimos e o que vivemos - é aí que tá nossa importância, o que há de importante pra nós, o agir cotidiano, o trato de todo dia. Os desejos, os objetivos, as relações com o mundo, aí está o nosso espelho, aí está o que somos. É possível e necessário trabalhar nisso. Daí é que parte o trabalho no mundo. Pelo menos o que tem raízes. É preciso sempre aprofundar as coisas, sentir suas raízes, ao contrário do que somos induzidos. A indução social nos leva à superfície, à forma sem conteúdo, à ignorância, à alienação, ao egoísmo, à vaidade, ao consumismo e ao vazio da alma, do profundo que há em tudo.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A mídia, a Síria e uma outra visão.




Recebido em 13 de junho, denúncia de interferência de guerra na Síria, via midiática, devido ao veto da Rússia e China aos ataques da OTAN:
http://resistir.info/moriente/siria_golpe_iminente.html






Estamos diante de mais uma campanha preparatória para a guerra, com a mídia preparando a opinião pública, em todo o mundo, para a - já anunciada aos quatro ventos - invasão da Síria. Vizinha e aliada do Irã, o mais forte opositor da política internacional ditada por banqueiros e corporações euro-estadunidenses aos seus governos fantoches.


A mídia acusa o governo sírio por ataques e massacres que não param de acontecer, revoltando a opinião pública e preparando o apoio às intenções dos seus patrões e financiadores. Repetem o que fizeram com a Líbia, e dirão que a destruição do país e de toda a sua infra-estrutura foi necessária, foi por uma causa nobre, uma guerra humanitária. Dá pra uma gargalhada sinistra, essa expressão absurda, enquanto passam na mente as imagens de casas explodindo, famílias mutiladas, morte e sofrimento de muitos milhares, por decisão de poucos que nem ali estão, mas têm ali seus interesses nos recursos, nas riquezas e/ou na localização geo-estratégica. 

A Líbia ostentava um Índice de Desenvolvimento Humano maior que o Brasil e o maior da África. Em todos os sentidos. Mas o Kadhafi era uma pedra no sapato desde 79, travava a entrada das mega petroleiras do "Primeiro Mundo" e aplicava o dinheiro, pelo menos grande parte, no próprio país. Encarou bombardeios da OTAN e resistiu, com enorme apoio da população. Os senhores das guerras de saque perceberam que entrar por terra seria a maior roubada, o povo líbio resistiria como um bloco. O líder virou um herói, não só na Líbia, mas em muitos movimentos de resistência ao redor do mundo. Só depois que viu o exército branco barbarizando no Iraque e as empresas ocupando todos os poços de petróleo, Annuar Kadafi deu entrada às mega-petroleiras ocidentais, ainda sob seu controle, com lucros e obrigações definidos em lei. As empresas rosnavam, mas sabiam não haver condições de simplesmente derrubar o cara. Quando ele surpreendeu o mundo apresentando a proposta de criar uma moeda panafricana e quase conseguindo - a diplomacia ocidental teve que rebolar, e rápido. Ameaças, chantagens e barganhas convenceram os governantes que apoiavam a idéia do coronel a voltar atrás, mas os banqueiros não esqueceram a afronta. No ano seguinte explodiram a primavera árabe, Tunísia, Yêmen, Egito - contra o ditador Mubarak  que havia 34 anos tomara o poder (não se falava de ditadura no Egito, a mídia não denuncia ditaduras "amigas"), em nome dos aliados eurostadunidenses que sustentavam seu exército. Aliás, continuam sustentando enquanto Mubarak passa mal na cadeia, tranqüilos com os generais aliados que ocupam o mando no país. Bom, voltando ao assunto, com o pipocar de rebeliões nos países os banqueiros internacionais, aliados às petroleiras, às construtoras e à industria armamentista, entre outras, moveram suas marionetes políticas e focaram suas máquinas midiáticas na criação do clima de guerra necessário aos seus planos. Investiram em armas e treinamento de grupos dissidentes e criaram conflitos internos, causando vítimas para culpar o governo. Suas televisões, seus jornais, rádios e revistas distorceram a realidade. E o país foi inteiramente destruído, sem um plano de reconstrução além dos poços de petróleo que ocupam uma parte do território da Líbia. Grupos de saqueadores, grupos armados, tribos se enfrentam em qualquer parte, grande parte da população apoiava Kadafi, agora a perseguição, o extermínio, a vingança come solta e a mídia não fala nada. 

Aliás, fala sim, prepara outro cenário de guerra, desta vez contra a Síria. E é a mídia em peso e a mais pesada. A todo momento os jornais falam nos "massacres do governo sírio contra seu povo", da mesma forma que falavam de Kadafi. As pessoas falam na rua como o governo sírio deve cair, o trabalho de convencimento é de cair o queixo, funciona geral. Mas comigo não, violão. 

Eu sou escaldado demais com essa mídia privada, repetidamente mentirosa, flagrada tantas vezes em mentiras criminosas. Não precisa ir longe pra conseguir a extensa relação, fora as mentiras cotidianas em jornais, "informativos", entretenimentos, publicidades e sub-liminares em novelas e programas. É de dar nojo tanta desumanidade em defesa do sofrimento e da miséria para enorme parte da sociedade e do luxo, da opulência e do desperdício das celebridades e dos seus patrões, pouquíssima gente servida pela (e dependente da) maioria. Aí, no México http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/06/televisa-manipula-eleicoes-no-mexico.html,   na Argentina - http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/06/direita-bate-panelas-na-argentina.html  e no Brasil - http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/06/inflacao-despenca-cade-os-urubologos.html, só pra três exemplos recentes, pra degustar depois do almoço. Mas a batata deles tá assando, cada vez se desmoralizam mais, cada vez mais e mais gente se toca, é o processo de despertamento, na parte do desgaste da mídia vigente.


Não canso de me espantar com gente relativamente instruída acreditar que está informada por assistir os jornais da mídia comercial. Chegará o tempo em que só os de mau caráter sustentarão o que diz a mídia comercial, hoje grande e forte, mas que mostra o caminho que trilha, rumo ao descrédito. Não dá pra servir ao lucro e à verdade. São óleo e água.

A Síria é mais um genocídio planejado pela ambição do predomínio. E nós, de boiada, assistindo e aprovando, estupidificados pelo sistema. 

Esse texto me foi passado pelo blog Somos Todos Palestinos, escrito por um jornalista independente russo, Marat Musin, e traduzido para o português de Portugal, pelo que me parece. É só clicar aí em "mais informações".

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Invasão Policial À Moradia de Estudantes da Unila


A UNILA é uma universidade para a integração dos povos latinoamericanos. A união entre os povos explorados da América Latina não interessa aos poderes dominantes, acostumados a explorar, roubar o patrimônio público, a produzir a miséria e a ignorância, sabotando o investimento dos Estados na educação pública e dominando as comunicações, produzindo alienação, consumismo, desinformação, narcotizando as consciências.

O ataque das forças de segurança pública revolta, mas não surpreende. Por trás desse ataque, há o pensamento condicionado de criminalização de tudo o que defende, reivindica ou conscientiza as populações. A ideologia deformada das ditaduras e das elites é representada e posta em prática pelas polícias e forças armadas, a mando último dos poderes econômicos concentrados em mãos de poucos, sempre atacando com fúria os mais pobres, sob qualquer pretexto - ou sem nenhum. Há o pavor do despertamento na consciência coletiva, processo em curso atualmente e cada vez mais acelerado, apesar dos esforços da mídia e das ações da chamada "segurança pública", que ainda não fez por merecer o próprio nome.

Todo o apoio à UNILA e aos seus pioneiros alunos, parte de uma proposta linda e lúcida onde somos todos irmãos e podemos nos unir contra o saque e o predomínio constante da minoria mais rica, que controla as intituições e os Estados, com seus grandes bancos e empresas multinacionais. Os problemas dos países da América Latina são os mesmos ou muito parecidos. Vêm todos da mesma fonte, a mentalidade colonizadora da elite mundial e a mentalidade colonizada das elites locais. Estas últimas, como os cães em matilha, mostram os dentes pra dentro e abanam o rabo pra fora, pros seus patrões internacionais, a quem entregam as riquezas, os recursos e o próprio povo dos seus países.

Trocar as experiências vividas, compartilhar as soluções e apoiarmo-nos entre todos é fundamental para a mudança estrutural que precisamos para chegarmos a uma forma de sociedade mais humana e solidária, onde não se admita o abandono de pessoas, onde não se aceite a pobreza e a miséria como inevitáveis nem o privilégio como superioridade.


"A América Latina não se encontra dividida por ser subdesenvolvida mas, sim, permanece subdesenvolvida porque está dividida."
                                                                                                            Jorge Abelardo Ramos


http://quebradadoguevara.blogspot.com.br/

terça-feira, 5 de junho de 2012

Não quero ser "feliz"



       

         A voz se fazia ouvir no avião pra Juazeiro do Norte. Repetia, quero ser feliz, tenho o direito de ser feliz, insistia na afirmação idiota. Fui ficando impaciente, deu vontade de interferir, perguntar que felicidade era aquela. Prudentemente, puxei meu caderno e minha caneta e passei a refletir por escrito o que causaria, provavelmente, mal estar, constrangimento e, talvez, alguma grosseria.
         Impõe-se a necessidade de ser feliz. “Todo mundo” corre atrás da felicidade, até leis consagram o direito à felicidade ou a busca permanente dessa condição. Eu olho em volta e pergunto, como assim? Vejo crianças, velhos, homens, mulheres em estado de barbárie, de miséria, comendo lixo, ao desabrigo, abandonados da sociedade. Como posso pensar em ser feliz no meio disso? Esquecer? Não quero e não dá.
         Não pretendo a felicidade do egoísmo, da ignorância, da ingenuidade, da maldade ou da indiferença. Pra mim, felicidade é uma sociedade sem vítimas, sem famintos, sem ignorância, sem desabrigados, sem exploração e com igualdade de direitos e oportunidades. Impossível imaginar a felicidade em sua forma plena. Nem me interessa.
         Satisfação, encontro no trabalho por uma sociedade melhorzinha, inconformado com essa falcatrua generalizada, essa ditadura econômica de poucos que mandam, gerenciada por falsos governantes e travestida com um cenário democracilóide, que se desmancha ao olhar mais atento, ao primeiro golpe de consciência. Luxos de um lado pra poucos, agonia no meio, pobreza e miséria pra grande maioria. E predomínio privado sobre o público.
         Eu tive e teria vergonha de usufruir dos privilégios da riqueza num mundo tão cheio de miséria. Ainda que houvesse um só miserável, abandonado pela sociedade, e toda riqueza seria vergonhosa. Ter orgulho de luxos apenas demonstra pequeneza de espírito. Os anestésicos de consciência, do tipo “sempre foi assim”, “não se pode fazer nada” e outros não funcionam comigo. Não posso olhar pro outro lado e fingir que não tenho nada com isso, porque tenho, sim. Azar meu, dirão alguns. E eu penso que é sorte. Preserva minha humanidade. Os mais superficiais verão nisso a apologia da infelicidade. Vão de um extremo ao outro sem enxergar as infinitas nuances, as inúmeras variações e combinações de sentimentos.
         Há momentos em que a tristeza é necessária, outros em que a alegria é fundamental. Situações que impõem a necessidade da calma, ou que a raiva nos impulsiona ao que precisa ser feito. Momentos de ternura, sentimentos de acolhimento, ou de repulsa, de compreensão ou de intolerância. O medo pode nos fazer cuidadosos, evitando riscos desnecessários, ou pode nos acovardar e nos impedir – ou impelir – ações que vão resultar, muitas vezes, em conflitos de consciência e vergonha.
         São tantos e tantos sentimentos – variando em significados, causas e conseqüências –, infinitas possibilidades de combinações entre eles, que a própria expressão ou a intenção de “ser feliz” toma um aspecto pobre, superficial e primário. Uma pretensão infantil e egoísta, cega à realidade de sermos todos o mesmo grupo, todos a mesma imensa família humana e responsáveis uns pelos outros, assumindo isso ou não, consciente ou inconscientemente.
         Não sinto atração por felicidade, não pretendo ser feliz enquanto tantos sofrem. Muitos tipos de felicidade nesse mundo torto chegam a depender da infelicidade de outros. A mim basta a satisfação de viver descontente com a estrutura social que me cerca e dedicar meu trabalho – e minha vida – à contra-corrente dos valores vigentes. Ao levantamento de reflexões ligadas à prática cotidiana, que é o que faz a realidade. Ao questionamento dos valores implantados, dos comportamentos induzidos que nos levam ao sofrimento inútil e ao evidente desequilíbrio social, entre o luxo pouco e a miséria geral.
           Acredito que o principal trabalho é interno, precisa começar dentro de cada um. Assim, meu trabalho maior é dentro de mim mesmo, metabolizando, corrigindo, atentando, refletindo, aprendendo. O trabalho externo, os desenhos, as pinturas, pelo menos a maior parte dele, é extravasamento do trabalho interno, é a exposição do que rola dentro, resultado de reflexões, de vivências, de escolha de temas, conforme a mim parece necessário, possível e assimilável. Quando vejo pessoas refletindo com base no meu trabalho, eis aí minha "felicidade", apenas participar do processo e ter esse sentido na vida. Felicidade maior é pra um mundo melhor e, se não o temos, devemos construí-lo. Sempre a partir de nós mesmos, reconhecendo erros, mudando atitudes, observando a si mesmo, desejando melhorar, sempre. Absurda a idéia de que não muda, é muita miopia, não se consegue olhar ao longe. Está tudo em mudança, até os minerais. Com o tempo, emanamos as mudanças que fizemos em nós mesmos. Aí podemos servir ao mundo, com humildade e sendo a mudança, antes de tudo.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.