segunda-feira, 23 de março de 2015

Primeira viagem maior - Celestina engole estrada

Foram mais de duas semanas, desde que saímos pela zero quarenta (BR 040) pra Belorizonte. Na verdade deveríamos ter ido por Magé, pra pegar o documento definitivo de Celestina, a kombi, mas o costume me levou a entrar direto na ponte Rio Niterói. Quando me liguei, já tinha entrado nela, comentei com o Pepe e paramos num espaço grande à direita, esperando vir algum veículo da CCR, a concessionária, que nos autorizasse a utilizar o retorno funcional que estava ali, na cara, com uma placa ameaçando de multa quem fizesse o retorno por conta própria. Depois de um tempão esperando - certamente estávamos vistos ali, a ponte é qualhada de câmeras -, resolvemos seguir sem o documento, mesmo. Atravessamos e pegamos a linha vermelha, única via expressa do Rio de Janeiro que não tem pedágio - construída no governo Brizola, que deixava claro que via pública era função do Estado, não de empresas - e chegamos à estrada na subida pra Petrópolis. Dois cilindros de gás pra chegar em Beagá. Chegamos no vermelho e tivemos que cruzar a cidade pra encontrar abastecimento. Depois fomos dormir na Praça do Papa, com o visual da cidade lá do alto. Expusemos no Maletta na outra noite, mas não foi bom. Dormimos uma segunda noite na mesma praça, desta vez os barraqueiros já cumprimentaram a gente. Os outros dois dias fomos abrigados na casa do Edson, Celestina teve garagem - de outra forma teríamos que dormir dentro, porque ela não tem tranca - e nós, tratamento dentário qualificado. O dotô Edson Saleme Júnior é desses que gosta do que faz e, portanto, faz bem feito.

Seguimos viagem pelo norte de Minas, desde as nove na estrada, de tarde passamos por Corinto e chegamos em Montes Claros, onde ficamos duas horas procurando alguém, sem encontrar, pra nos hospedar. Sem isso, não fazia sentido ficar e fomos embora, já escuro, em direção a Janaúba, Mato Verde, Monte Azul e fronteira com a Bahia. Nesse percurso, já madrugada na estrada deserta, em plena curva à esquerda aparece um enorme zebu atravessando a estrada. Pepe dormia no último banco, chamei no freio até bem perto do bicho, soltei pra guinada à direita e à esquerda em seguida, pra não perder o controle. O zebu levantou a cabeça na hora certa e passamos raspando nela, aprumando a Celestina na estrada. Pensei que Pepe podia ter caído do banco ou batido em algum lugar, mas o silêncio no salão do carro continuou. Soltei ainda um "caralho, foi quase", mas não houve resposta. Depois ele me disse que acordou com o solavanco, levantou o corpo, olhou, mas não viu nada e voltou a dormir quase de imediato. Aquilo deu energia pra seguir até depois da fronteira, onde precisei de duas ou três horas de sono. Então seguimos e às quatro e meia parávamos num raro posto, pra abastecer e tomar café. O dia começava a se anunciar, num lindo clarear que paramos pra registrar.

Vi o Pepe fotografando a Celestina, por minha vez fotografei a cena.
 E o céu mereceu mais de uma foto, pegando fogo por cima do teto e refletindo nele. O esforço da noite valia a pena, no espetáculo do amanhecer no sertão suave do sul da Bahia. Dali seguimos, Guanambi, Caetité, moinhos e mais moinhos de vento, captação de energia eólica, dezenas, centenas de cataventos modernosos, linhas arrojadas, três pás apenas, longilíneas, quase sensuais.

Vimos centenas, e também caminhões enormes, transportando as pás ou pedaços da haste, enormes também, com batedores e ocupando a maior parte da estrada, de forma que tínhamos que ir pro acostamento ao cruzar com eles.

Assim fomos até Brumado e voltamos, pra descobrir numa oficina, em Belzonte, que estávamos sem freios. Era o ar infiltrado servindo pra freiar, quando se fez uma sangria, afinal não era pro ar estar ali, acabou o freio. Lembrei do zebu com um sentimento estranho.

Mas na primeira grande viagem se saiu muito bem Celestina, a kombi. Promete ser a engolidora de estradas, como se propõe, por esse Brasil afora - ou adentro, o que dá no mesmo. A meu ver - e gosto é gosto - ela tem uma bela forma. Embora o que importe, mesmo, é o conteúdo que ela carrega, na permanente intenção de causar reflexão, pensamentos, questionar valores e existir dentro do processo de caminhada humana, planetária, nesse momento em que existimos.

Na volta, desci a Dutra pra São José dos Campos e tive que passar por Itatiaia e Resende, onde está a entrada pra Visconde de Mauá. Não resisti a visitar os descendentes. E tive a grata surpresa de encontrar meus três netos lá, Alice, Olívia e Noé - que Adhara registrou como Noah. Foi um dia de descanso, quase se pode dizer assim. Coisa rara.                            

11 comentários:

  1. quase senti a freada rsrs abraço irmãozão paz!

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  2. Muito legal teu relato, Edu. Eu estou em busca de sentido para minha vida, e teus textos e pensamentos tem me ajudado.. A propósito, quero poder um dia, quem sabe, ter a oportunidade de conversar com você, trocar ideias, refletir, pensar.. Mas com as viagens vai ser um pouco difícil te encontrar pelo Rio, não é? Abraço, e boa viagem! Paz e luz.

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    1. Próximo fim de semana devo expor em Santa Teresa, cumpade. Não sei se no Largo do Guimarães, que tá quebrado em obras, poeirando demais, mas certamente por ali, ou na Pascoal Carlos Magno, a rua do bar do Mineiro, ou no caminho entre o Curvelo e o Guimarães, vai depender da situação por lá. Mas onde ficar, será bem visível.

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  3. relato bacana, me senti nessa Celestina HAHAHAH

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  4. Extasiada com suas colocações cara, há algum tempo tenho buscado sentido pra vida. Abraço. Se vier BH irei será um prazer conhecê-lo.

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    1. Em julho devemos ir a Minas, há festivais de inverno por aí. O último que fui, em BH, estava institucionalizado e não encontrei lugar pra expor - havia segurança terceirizada (sem diálogo nem abertura) e uma feira de cadastrados. Eu, como nômade, sem previsibilidade nem planos, não encontrei espaço. Dessa vez vamos aos festivais do interior, depois passamos uns poucos dias em beagá antes de voltar ao Rio.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. E quando que a "Celestina" vai dar umas bandas aqui pro sul parceiro??

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    1. Em maio, cumpade. Descemos a Santiago, Santa Maria, Porto Alegre, Santa Maria de novo e então vamos a Floripa. Aí devemos passar uns dias, se as exposições resultarem. Marcaremos em Monte Verde, na casa do Thiago. Na volta, que será em junho, depois do dia 6, a última palestra.

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    2. ok fico no aguardo então...Só não esquece de postar aqui no Blog a data..... Valeu parceiro fica na Paz

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  7. Veio a Brumado e Não deu um Pulo em Vitoria da conquista (Suíça Baiana). Rsrs Abracao meu Maluco beleza, salve. Quem sabe da proxima não vem aqui, seria um Prazer " inarravel "RS.

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