O fundo do poço
"Há males que vêm para o bem" diz o ditado em português. Prefiro a versão em espanhol, "no hay mal que para bien no venga", não há mal que não venha para o bem. Na minha opinião, todas as dores têm sua função, sua lição a ensinar, sua razão de ser, ainda que não possamos perceber - é isso, depende da nossa capacidade de perceber, de reconhecer erros, de aprender na dor, questionando a nós mesmos. Mas o orgulho nos leva a encontrar culpados, a espalhar responsabilidades, a livrar a nossa própria cara... burrice, reconhecer os próprios erros é o primeiro passo para a melhoria de si mesmo.
Quatro frases se misturam à decoração do desenho, ao entorno do recado principal, com referência ao mesmo tema. A primeira é "há sinais, vê quem é capaz", pois ninguém (ou melhor, quase ninguém) vai ao fundo do poço sem passar por vários sinais de que se está numa roubada, a vida oferece as oportunidade de percebermos e nós as ignoramos, temos a tendência de ver a realidade do jeito que gostaríamos que ela fosse e negar o como ela é. Somos influenciados pelo que nos convém, pelo que desejamos, e não enxergamos a realidade que, quando se impõe (pois a realidade se impõe, cedo ou tarde), nos desequilibra, nos derruba.
A segunda, abaixo e à esquerda, diz "tudo são lições". São oportunidades, a dor é um momento crítico que possibilita criar resistência, abrir a visão, perceber em si e no mundo, coisas que não percebia, antes. O que torna a dor insuportável é não saber o porquê dela, é não entender o que está fazendo tamanho sofrimento em nossa vida. A partir do momento em que se percebe o porquê da dor, ela ameniza, perde o viés insuportável, esclarece e se conforma com o inevitável, abrindo espaço para novas vivências, vai caindo no arquivo.
Mas a dor, por si só, não esclarece, não melhora ninguém. É preciso reconhecer falhas, os próprios erros - ou repetiremos o mesmos erros, várias vezes, mesmo com nuances diferentes -, é preciso localizar suas causas e trabalhar nelas, elas não somem por terem sido percebidas. Por isso, embaixo e à direita, está escrito "a humildade aprende, o orgulho se ofende". O orgulho coloca à frente duas falsas saídas, na verdade becos sem saída, ou sem saída honrosa. Uma é a revolta, a busca de um responsável pela dor, alguém pra "pagar por isso", fonte de discórdias, agravamento da situação. Outra é a depressão, o se fazer de vítima, se sentir injustiçado. É a inação, a preguiça, a postura do "me ajudem".Verdadeira aversão a reconhecer a própria responsabilidade, em ambos os casos. O orgulho emburrece e estaciona a gente.
A quarta frase, e a mais escondida, se deve a eu ter percebido uma freqüência enorme de traição nas situações de fundo de poço. Confia-se em quem se gosta, e a traição é uma punhalada em pleno coração desarmado. Mas, em geral, puxando pela memória, percebe-se que foram dados sinais de caráter, em conversas sem compromisso, em papos eventuais, opiniões, comentários, observações. Tivemos os sinais mas, por afeição, distração, simpatia ou algum outro motivo, relevamos, não os tomamos como sinais. Por isso, escrevi de lado, à direita pouco acima da metade da altura do desenho, numa linha ondulada, "a traição se denuncia antes".
a humildade aprende, o orgulho se ofende", obrigado Eduardo por transcrever, filtrar isso para nós nessa atualidade. Devemos estar atentos a tudo com muito discernimento e responsabilidade. A traição se denuncia antes tai uma verdade tardia. Muita luz.
ResponderExcluirLincoln um grande adimirador.
Só quem já lambeu o chão dos infernos e se responsabiliza por tamanha descida pode começar a entender o que significa humildade, pois estou convencida de que se negamos as evidências do engano, que se manifesta já no primeiro olhar, já no primeiro cheirar, é porque, arrogantes, acreditamos que escaparemos, ilesos, ao desequilíbrio alheio. Hoje, não sei se minha humildade já é suficiente, mas tenho certeza de que minha arrogância é bem menor. ;o)
ResponderExcluiracreditar na frase: "a traição se denuncia antes", é evitar pesadelos.:p
ResponderExcluirO bacana é ter consciência que nos momentos que a vida dá suas pistas, nós escolhemos nos trair, nos boicotar...Ao meus olhos isso é bilateral, essa consciência apesar de árdua (depois que eu culpei alguém) é libertadora. É libertador saber que eu me trai, aceitando no meu coração o que minha mente já sabia ou vice-versa.
ResponderExcluirO gosto dessa traição passou a ser doce e de puro conhecimento.
Sempre existe uma mola no final do poço.
ResponderExcluirSinais da traição, sutis, quase imperceptíveis a olhares distraídos. É preciso condicionar os olhos, com valores colhidos no campo fértil da humildade. Por outro lado, a soberba, muitas vezes, toma conta. Ter opinião é uma coisa, ter verdades é outra. Esse trabalho começa em si. É a própria soberania na corda bamba do equilíbrio.
ResponderExcluirMuito bom o texto, reflexivo e edificante. Por muito tempo me senti "cega" neste mundo sincronizado, onde todas as pessoas cegas como eu era tem mais ou menos o mesmo raciocínio, estão todas nadando para o mesmo lado. Mas de algum tempo pra cá venho nadando contra a piracema, e encontro em vc e alguns outros pensadores, palavras que me fazem questionar este modelo pronto que nos entregam. Com relação ao seu texto, quando li me perguntei: O que é dor ou sofrimento? Com certeza o que é dor pra mim, pode não ser para o outro. Exemplo; Há pessoas que sofrem uma dor terrível por perdeu um amor, há outras que veem nisso uma oportunidade de amar novamente. Há pessoas que sofrem por perder um bem material, ou por não poder comprar algo. Há outras, que jamais sonharam em ostentar riqueza, a não ser a da alma. Mas acredito que a unanimidade em dizer que a doença traz dor e sofrimento. Como vc bem colocou no texto, sempre temos o que aprender, tirar uma lição, mas se a cabeça estiver fechada para isso, só o que sobrará será a depressão.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFabuloso
ResponderExcluir