A frase é de Jean Paul Sartre*, conforme dizia naquela folha de caderno jogada no chão, em forma de bolinha amassada, que eu recolhi pra ler enquanto aguardava numa fila de padaria, em 1982, em Mar Grande, ilha de Itaparica. Uma frase entre muitas outras, a única que marcou e ficou na memória.
Explicando o desenho:
Explicando o desenho:
No alto à esquerda, em torno da palavra "loucos", porta fechada, crucificação, enforcamento, cadeia, a fogueira da inquisição, as formas de discriminação, de perseguição em geral impostas aos considerados loucos pelos padrões vigentes, pelos valores superficiais e momentâneos. Aqueles que descobrem, inventam, criam, trazem o novo para a humanidade são repelidos, criminalizados. O astrônomo desvenda o universo, o ciclista se atira no abismo, um mergulhador se aprofunda, o tanque de guerra é o fruto mau da loucura, o navegante de séculos atrás penetra o oceano desconhecido, o caminhante desfruta a solidão das montanhas. Loucura é refletir, nestes tempos de produção e consumo, é voar na imaginação, sempre com o risco de ataque dos predadores medíocres - o homem com a carabina, sobre a letra 's' de 'mais'. No caso exposto, a bruxa é aliada dos loucos voadores, solidária na discriminação e perseguição por conhecer o trato do mundo - sua força anula a intenção do predador. A busca do conhecer, o olho como sol da vida, a música dos loucos encanta a natureza. O louco passa, despido de padrões, preconceitos e valores da sociedade, enquanto esta lhe vira as costas, à esquerda de 'percorridos'. Abaixo, a tristeza olha o mundo a esmagar o louco, que está morto. Só aí os "sábios" - graduados e reconhecidos pelas convenções - se aproximam para estudar as obras da lúcida loucura, terror dos convencionais. A palavra "sábios" está coberta por alguns símbolos sob os quais se abrigam os sábios do mundo, convencionais e numerosos, também, sob os signos acadêmicos, sobretudo nas regiões de cultura ocidental, de origem européia. O quadrinho à direita e abaixo retrata a compulsão dos loucos. O mundo nos impões muros, nos enquadra; os loucos não conseguem ficar enquadrados, pular os muros é inevitável, é isso ou a morte, mesmo em vida. A perda do sentido, o abandono da função, da razão de ser. O quatorze bis é a homenagem ao louco generoso que foi Alberto Santos Dumont, que nunca patenteou nenhum invento seu, e foram muitos, além do avião. Ou aviões, que também foram vários.
* Passei mais de vinte anos dizendo ser Sartre o autor dessa frase. Não é. É de Carlo Dozzi. Mas não importa muito a antena que captou, importa o serviço que ela presta no mundo. Só é bom corrigir o erro.