Por tão poucos terem tanto, é que tantos têm tão pouco
Em cima da palavra 'poucos' há um casal para representá-los, esses, que são 1% da população, ou menos. Chamei-os messiê Deboche e madame Arrogância. Classe das mega-empresas, os concentradores das riquezas, controladores dos mercados financeiros, sentam-se no topo da pirâmide social, vivem isolados da maioria, estão sempre dentro de algum lugar cercado, sentem-se donos. À direita da palavra há uma porta com um segurança, há sempre seguranças entre eles e a realidade. O garçom está num ambiente de pronto serviço, eficiência exigida por esses tipos e seus subalternos graúdos - as cadeiras se assemelham a tronos para simbolizar o sentimento de 'natural' superioridade que eles sentem e emanam, mas o morcego denuncia seu vampirismo social. Eles se sustentam no poder do mundo apoiados pela força das armas - inclusive da segurança pública -, por isso o chão é um fuzil, que divide a sociedade entre os poucos e os tantos, ao mesmo tempo apoiando os poucos que têm tanto e ameaçando os tantos que têm tão pouco, representados na forma urbana da favela, na parte inferior direita - as armas pairam sobre suas cabeças. Aí é o território de exclusão, a área da miséria, de ausência do Estado e da sociedade organizada. A estrada significa haver caminho de saída para esta situação, mas são tantas as dificuldades - as funções do Estado, determinadas pela Constituição, a "carta magna", são ignoradas e não cumpridas, saneamento, condições de vida digna, ensino público que mereça o nome, moradia, alimentação suficiente, higiene, informação, cidadania, nada disso existe para essa enorme parcela da população, muitas vezes nem estrutura familiar-, tantos impedimentos, que um caminhão carregado simboliza ser barra pesada, muito difícil sair por esse caminho. Vêem-se exceções, apontadas como exemplo da possibilidade pra todos, reduzindo a maioria à sensação de incapacidade, impotência e subalternidade.À esquerda inferior há um ambiente de cinema, são as pessoas que assistem à vida, olham o mundo como se fosse um filme do qual eles não participam. Seu pensamento é "sempre foi assim, não tenho nada com isso, cuido é de mim e dos meus", geralmente são pessoas em condições de se qualificar em escolas particulares - e universidades 'públicas'-, alcançam condições de ocupar cargos importantes na manutenção da sociedade como ela é. São entre 20 e 30% da população, hierarquizados organizadamente de acordo com os interesses dos 1%, e disputam as migalhas enormes e variadas da opulência. Como vivem das migalhas do poder, o rato à esquerda os representa com propriedade. São os ricos que o povo vê, ainda que à distância, os subalternos dos mais ricos, dominantes da sociedade e do Estado - esses são difíceis de se ver passar, andam de helicópteros ou, no máximo, em carros blindados, cercados de seguranças, em trajetos curtos. Acima, a escuridão que envolve uma pessoa - nitidamente mestiça - simboliza a ignorância, criada e mantida para envolver a maioria. A vela simboliza luz. Por menor que seja a luz, por maior que seja a ignorância, quando há interesse e vontade, a luz vence a escuridão. É o trabalho da conscientização. A árvore representa a tendência natural, nos vegetais, de ir para o alto e buscar a luz. Aqui há uma analogia com a evolução da consciência. Por isso das suas folhagens mais altas vão surgindo pessoas, subindo pela esquerda, até o alto do desenho, significando a tomada de consciência, quando as maiorias percebem a farsa da "democracia de mercado", com a mídia na linha de frente na formação de opiniões e valores sociais e individuais. Percebe-se, afinal, as falsidades da hierarquia social, a igualdade intrínseca de direitos entre todos. E, deixando de se sentirem inferiores, deixando de reconhecer superioridades artificiais, ocupam naturalmente os lugares que lhes pertencem por direito moral de seres humanos, em igualdade conquistada pela consciência da realidade. O olho representa não só a possibilidade de enxergar a realidade como a necessidade de tomar consciência da realidade, de buscar o porquê e o como de tanta concentração de poder, de tanta perversidade com as maiorias, de tanto egoísmo estimulado, de tanta infantilização e idiotização da esmagadora maioria, de tanta ignorância e, em última análise, tanto sofrimento provocado pela estrutura da sociedade. O olho fala de observar e absorver.
DO BOM E DO MELHOR
ResponderExcluir(Leila Ferreira)
Estamos obcecados com "o melhor". Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do "melhor".Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.Bom não basta. O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor".Isso até que outro "melhor" apareça - e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também.. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.. Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos.Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros!...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis. Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência? Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa? E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"'? Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos. A casa que é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que está velha, mas nunca deu defeito.O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos".As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo. O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem.O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do "melhor" a gente nem percebeu?...
Att.
André
Obs. Comprei um poster seu no Rio de Janeiro na semana passada!
Olha a tua volta
ResponderExcluirAproveita cada momento
Não te alienes
Julga o que está vendo
Melhor é lutar
Do que temer o sofrimento
Melhor é se indispor
Do que viver em tormento
Abre teus olhos
E escuta o sentimento
Ele te dará a pista
Da onde se oculta o inimigo
Que você não está vendo
Cala se tiver que calar
Fala se tiver que falar
Mas ouve sobretudo
O olhar do pensamento
Só não fuja da verdade
Encara ela de frente
Reage enquanto há tempo
Muito correto o conceito da função da arte que voce colocou no seu video. A arte tem que ter um sentido social de questinamento de valores e contextos, senão não é arte. Questionar esta sociedade absurda é nossa função. A ligação do homem com o cosmo está sendo cruelmente substituida pela religião (fanatismo), para manter a manada num sono profundo e letárgico.
ResponderExcluirForça !!!!
Vi um vídeo seu hoje mais cedo e procurei mais a seu respeito. Encontrei esse blog que gostei e já esta nos meus favoritos.
ResponderExcluirParabéns cara. Gostei de tudo que você falou e escreveu até agora.
Queria saber aonde você vende sua arte, sou aqui de Vila Isabel, queria ir até o local um dia desses.
Abraço!
Exponho há vários anos no Guimarães, em Santa. A guarda municipal me ameaçou algumas vezes, mas sempre consegui desenrolar com eles. Neste último feriado eu fui pro mato e, quando voltei, soube que um amigo, que também expõe, só que pedras, teve sua mercadoria apreendida num atraque desta "guarda". Não sei como está lá, vou saber no próximo fim de semana. Se não puder expor em paz, parto pra outra alternativa, caso contrário, estarei lá.
ResponderExcluirO meu amigo não é nada diplomático, em vez de desenrolar, com calma, parte logo pras verdades ofensivas. Talvez isso tenha influenciado os animais semi-racionais a tomar dele o seu material.
Abraço.
PARABÉNS EDUARDO;MUITO BONS SEUS TEXTOS;SOU CARTUNISTA E SUAS PALAVRAS ME FIZERAM REFLETIR SOBRE MINHA FUNÇÃO COMO ARTISTA;ADOREI O VÍDEO E ESTOU DIVULGANDO-O PRA AMIGOS;ACESSE MEU BLOG PRA QUE VC CONHEÇA UM POUCO O TRABALHO QUE FAÇO...WWW.PEDROCHARGES.BLOGSPOT.COM ;ADICIONEI SEU BLOG NOS MEUS FAVORITOS E DESDE QUE CONHECI ENTRO SEMPRE;PARABÉNS MAIS UMA VEZ...ABRAÇOS!!!
ResponderExcluirVi um vídeo seu ontem... Quero dizer que acho muito inspirador quando alguém Reflexivo(como você chamou)sabe se expressar e mostra o que pensa, isso reúne outros como ele e faz com que juntos todos possam melhorar as coisas, ainda que eles não estejam próximos fisicamente.
ResponderExcluirEnfim, só para dizer como é importante isso que você faz, porque todas as pessoas precisam daquele empurrão inicial pra coisa andar, e você está empurrando muitos pra frente.
Brilhante trabalho! É simplesmente formidável! Precisamos e estamos divulgando seu trabalho!
ResponderExcluirConsegui colocar meus sentimentos e pensamentos em palavras atraves de suas citações. Realmente especial!!
ResponderExcluirMuito bom mesmo, retrata perfeitamente a sociedade injusta em que vivemos, aliás batalhamos pra sobreviver de forma honesta.
ResponderExcluir