Agora que o assunto esfriou na mídia e os ânimos serenaram, pode se perceber os sinais de farsa, por trás da tragédia de Realengo. Uma farsa no comportamento da própria mídia privada, em suas distorções e omissões deliberadas.
A facilidade de acesso a instruções sobre armas, atentados e diversos conhecimentos bélicos através da net, por exemplo, as escandalosas estatísticas sobre o número de armas legais que cai nas mãos da bandidagem comum ou fardada (inegável parcela das polícias pode ser chamada assim), além do tráfico de armas do exterior, o que faz o mercado ilegal de armas farto e facilita o acesso, nada disso é mencionado. Haveria o dedo da indústria de armamentos, por trás deste silêncio? Ou dos empresários do tráfico, os donos de verdade, que possuem empresas para a lavagem do dinheiro e circulam tranqüilos, nos altos círculos sociais, políticos e financeiros, alheios às operações de fachada da chamada “guerra ao tráfico”?
O fato de Wellington, o assassino suicida, ter sido vítima de massacres psicológicos e físicos durante os anos da infância e adolescência, por seu temperamento arredio, introspectivo e tímido, entre a exclusão, o deboche, os espancamentos e as humilhações – várias vezes, nos banheiros, sua cabeça foi enfiada em vasos sanitários com a descarga acionada – não foi levantado, passou por uma menção superficial. Transformado em vítima da coletividade, teve diagnosticada esquizofrenia, mas não teve tratamento nem acompanhamento. O mesmo Estado que o diagnosticou lhe negou acesso a assistência.
O questionamento da precariedade dos serviços básicos, obrigação do Estado, na educação e na saúde, no caso, é proibido na mídia. Trata-se de “custo social”, expressão mentirosa que traz embutida a idéia de contenção, restrição, senão a eliminação de tais “custos”(na verdade, investimentos com alto retorno social), pra que o tal superávit primário seja oferecido aos bancos internacionais para o pagamento dos juros de uma dívida “pública” que não acaba e os bancos estatais invistam nas empresas privadas, ao custo da ignorância, da inconsciência e do sofrimento de uma enorme parcela da população – onde vivem os mais necessários e desprezados da sociedade.
A cobertura repulsiva da mídia privada também omite o chamado a Jesus, na carta deixada por Wellington, onde explica os porquês de sua atitude desarvorada. Com todas as expressões de fanatismo religioso, o assassino foi ligado ao islã, o tronco religioso predominante na área com maior concentração de petróleo do planeta, e a frase em que afirma sua crença de que Jesus, em pessoa, o virá buscar foi retirada na publicação do texto. Uma atitude criminosa, comum à mídia privada nos países comandados direta ou indiretamente por interesses empresariais, na preparação da opinião pública “mundial” para aceitar – e mesmo apoiar – a intervenção e subjugação desses territórios “bárbaros” e qualhados de terroristas pela civilização cristã ocidental, representada pelos mísseis da OTAN, pelas forças de operações especiais, pelos bombardeios “humanitários”, pelos exércitos invasores que precedem as grandes empresas – petroleiras, de (re)construção, de segurança privada (os mercenários) – e a imposição de democracias fantoches – está ficando difícil sustentar as ditaduras “amigas”, atualmente – nas mãos do império corporativo americano e seu satélites europeus, remanescentes de antigos colonialismos.
Governos, hoje, representam empresas, não povos. Constituições são ignoradas. Estados não cumprem sua lei maior e são transformados em criminosos contra seus povos, negando-lhes os direitos básicos para oferecer privilégios às minorias dominantes.
A ideologia do egoísmo, da competição constante e desenfreada, implantada na educação de crianças, jovens e adolescentes em todo o sistema de educação – onde o ensino público, próximo à barbárie, não merece o nome – transforma a vida numa arena de todos contra todos. Prepara competidores para o mercado de trabalho, onde o prêmio aos poucos “vencedores” é o maior acesso ao mercado de consumo. Não interessa formar seres humanos para se integrarem numa sociedade voltada ao bem estar de todos os seus componentes. A estrutura social se baseia na exclusão, na ignorância, na alienação e na exploração da esmagadora maioria da população.
Cada vez mais se percebe o papel da mídia privada na manutenção dessa estrutura torta, mentindo, distorcendo, induzindo, pressionando. É preciso desacreditar a indústria da desinformação, é preciso tomar o espaço público das comunicações do controle privado, é preciso pulverizar e popularizar o chamado espectro magnético, é preciso respeitar e incentivar a criação de TVs, rádios, revistas e jornais populares, de bairros, associações, sindicatos, movimentos sociais, comunidades, em todas as cidades e regiões. Não só do país, mas da América Latina e do mundo. É preciso tomar consciência e parar de acreditar nas mentiras que nos acorrentam, jorrando da publicidade massiva, em todas as partes, revistas, jornais, rádios e das televisões em nossas salas, criando visões de mundo e valores falsos, desejos de consumos impossíveis, objetivos de vida frustrantes e interpretações distorcidas da realidade.
Eduardo Marinho, 27 de maio de 2011.
Mais uma vez você teve a visao de aguem que vê o que foi mostrado com outors olhos, o acontecimento foi mostrado apenas como um garoto com problemas que entrou em uma escola e matou alunos inocentes. Mas o que em nenhum momento foi mencionado nessa mídia suja foi como Wellington chegou ao ponto onde chegou. E quanto o estado deu as costas a mais um ser humano com problemas e que foi esquecido. As a midia faz com que a gente se sinta culpado em pensar "coitado do garoto esquecido" e que matou tantas pessoas, isso é para que ninguém perceba que a culpa desse trágico acidente é culpa de uma mídia que dá valores maiores a um iPad 2do que q uma criança com problemas.
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ResponderExcluirNa quarta-feira dia 25-05-2011 houve uma bela manifestação em Natal, muitos foram inspirados pelos protestos que ocorrem na espanha, a mídia local e nacional convenientemente condenou ao ostracismo tão bela manifestação cívica.
ResponderExcluirPara quem quer ver aquilo que a mídia não mostrará:
http://www.youtube.com/watch?v=aasQJy6V_CI
Eles tbm nao comentam que esse massacre cada um de nós foi e é culpado assim como o ESTADO . "Nós" que viramos a cara a quem precisa nós que nao queremos saber o que o outro esta passando ou sentindo queremos apenas ganhar dinheiro para consumir cada vez mais . Nosso egoísmo e falta de ação sao responsaveis por grande parte da violencia que acontece no mundo e o wellington foi apenas mais uma vitima da sociedade .
ResponderExcluirFez lembrar de um filme do Sérgio Biachi que eu gosto muito.
ResponderExcluirO filme é "Cronicamente Inviável" e há um trecho que a personagem-narrador diz:
"(...) dizia há séculos atrás que nos países tropicais a civilização tinha sérios entraves a seu desenvolvimento, dizia que o sangue engrossa com o calor, dificultando o raciocínio. Isso já foi uma explicação, na época era honesta, difícil de contra-argumentar porque a convencia.
Mas, o que é mais importante então: explicar a realidade ou convencer? Será que a ausência de civilização pode ser uma coisa boa? Seguindo pela lógica é bem mais simples: se não há civilização, há consequentemente a barbárie. É por isso que a lógica indutiva me assusta. Ela acaba com a indignação.
Se a gente for tentar explicar o espancamento de um índio através da realidade, vai chegar a que conclusão? "É claro que aquele índio dever ser um traficante ou senão, deve ter comido a mulher do policial". Mas desde quando isso explica alguma coisa?
E se essa realidade não me convencer?
Bom, os índios que era população original aqui da terra já exerciam violência entre eles. Violência sempre existiu, mas eles organizavam a violência e até a guerra de forma ritual. Se bem que o jeito de fazer as coisas hoje em dia não deixa de ser ritual: o ritual de bater sistematicamente no mais fraco. Interessante que nós compreendemos a violência dos índios com facilidade. Será que eles compreendem a nossa de exterminá-los sistematicamente?
Pela lógica, sempre tem que ter alguém pra apanhar no final. Isso convence qualquer um."
"Que os sensíveis sejam também protegidos. Que sejam protegidos todos os que veem muito além das aparências. Todos os que ouvem bem pra lá de qualquer palavra. Todos os que bordam maciez no tecido áspero do cotidiano. Todos os que propagam a bondade. Todos os que amam sem coração com cerca de arame farpado. Que sejam protegidos todos os poetas de olhar e de alma, tanto faz se dizem poesia com letras, gestos, silêncios ou outro jeito de fala. Que sejam protegidos não por serem especiais, que toda vida é preciosa, mas porque são luzeiros, vez ou outra um bocadinho cansados, no escuro assustado e apertado do casulo desse mundo." Ana Jácomo
ResponderExcluirPubliquei o comentário no meu blog: http://tami-veloso.blogspot.com/
ResponderExcluirQue lindo Rebecca, não conhecia essa escritora.. obrigada! =)
ResponderExcluirRetorno social: investimento em prédios públicos (Us$2 em manutenção p/ não gastar US$30), na cultura popular (Popular para o povo, e não a elite). "É a educação, idiota!" não a economia, assistência social e psicológica na escola, saúde, saúde, saúde!!
ResponderExcluirACORDA, Brasil!
Texto irrepreensível, cumpadre !
Fui dormir ontem depois de escutar a música Where do the children Play de Cat Stevens... acordei hoje pensando no acontecido no Realengo, e és que sou abrilhantado com este belíssimo texto. Destaco uma frase que me tem feito pensar muito ultimamente sobre minha condição existêncial:
ResponderExcluir"Prepara competidores para o mercado de trabalho, onde o prêmio aos poucos “vencedores” é o maior acesso ao mercado de consumo"
É colocado um mal-estar de uma pessoa saperado de tudo. A "doença" de um adolescente como o grande espetáculo do momento.
ResponderExcluirO que não é visto é que a pequena doença deriva de um mal maior, onde temos um meio social enferme.
A grande mídia/estado/sistema/poder "esquece" do processo que levou a um determinado ponto; que levou a um resultado, a um estopim, a um CABOOOM!
O resultado é separado do processo.
Quando que as coisas não são separadas, desde o processo do resultado quanto da pequena doença á grande mazela social.
Muito bom texto Eduardo Marinho.
Análise perfeita amigo. Descortinemos o véu da Matrix (matriz) que vende a percepção da realidade, ocultando a realidade em si. Vc não é voz zolitária, está em curso a grande jogada, onde as cartas estarão na mesa e podermos subir pelados em cima da mesa deste jogo e gritar TRUCO!
ResponderExcluirum dos melhores de seus textos já publicados. é importante relembrar que as crianças inocentes realmente nao deveriam ter perdido suas vidas, mas que PELO MENOS não tenha acontecido em vão, que sirva como exemplo para toda a sociedade do que acontece com aqueles que são abandonados. que pelo menos sirva como exemplo pra todos nós nos preocuparmos mais com o bem coletivo.
ResponderExcluirMeu caro, por favor, entre em contato comigo. Tenho vontade de publicar o seu texto no meu blog. Para isso preciso de autorização sua!
ResponderExcluirAbraços
Ótimo texto, principalmente no que tange às críticas aos veículos de comunicação massificantes, que teimam em divulgar valores perversos.
ResponderExcluirOptei por não ver mais televisão e não tenho sentido falta nenhuma disso.
Devemos é valorizar a imprensa popular, sindical, comunitária, alternativa, bem como rádios livres, fanzines e blogs.
Já que a imprensa burguesa é uma porcaria, então sejamos, nós mesmos, a mídia!
(www.expressaoliberta.blogspot.com)
Ótimo texto. Apenas gostaria de acrescentar alguns detalhes que não foram observados. As fábricas de armas no país já se foram. Pode-se pesquisar sobre quantas lojas o Brasil possui e quantos portes de arma são liberados por ano, que vais perceber que o problema não são as armas ilegais. Poderia afirmar que os problemas não são nem as armas em geral e sim a impunidade.
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