O acidente com o bonde
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Desenho a partir de fotografia tirada há mais de 20 anos.
O motorneiro é o Nelson, mais de vinte anos mais novo. |
O bonde desmiligüiu, como se fosse de papelão. Eu tava expondo no Largo do Guimarães, no dia, ouvi os primeiros rumores do acidente e quase fui lá. Cheguei a ir até o Curvelo de bicicleta, mas tinha que descer muito se passasse dali. Os desenhos estavam expostos, achei que podia perder venda (tava no maior veneno de grana) e que podia ser um acidente pequeno, com uma moto, ou uma batida num carro ou ônibus, coisa corriqueira. Voltei pro Guima, na responsa do trampo. Depois é que vi a comoção geral, o monte de ambulâncias dos bombeiros, de planos de saúde, outras unidades. O acidente foi a pouco mais de um quilômetro do centro do bairro. Quando desci, à noite, é que vi os escombros do bonde, cercado por bombeiros, polícia, vários peritos examinando, fotografando, recolhendo coisas. Como a rua é bem estreita e eles não podiam interromper o fluxo por ali, por falta de alternativas, o isolamento foi mínimo e deu pra chegar bem perto. Saí dali com a cabeça em branco, só fui pensar quando já tava na barca. O Nélson era o melhor motorneiro de todos, o mais gentil, o mais prudente. Morreram mais quatro com ele, na hora, mais dois no hospital, depois. Mais de 50 feridos. Ele foi um herói, tentando frear até o último momento, sabendo que pular seria a salvação. Mas o honrado capitão afundou com o navio pra não abandonar os passageiros. Pelo menos não tinha filho pequeno, era já um coroa dos seus entre sessenta e setenta anos. E acho que, pra alguns, a morte é um alívio, uma libertação. Afinal, pra ser pior que esse mundinho nosso, tem que fazer muita força. Se o cara era bom, saiu por uma boa porta. Nós é que ficamos aqui, impressionados. Nélson abandonou o corpo a caminho do hospital. Estava destroçado. E ele já não estava mais dentro. Boa viagem, motorneiro.
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Na semana seguinte, as marcas e a comoção de parentes, moradores e freqüentadores. Como sempre, a revolta e a cobrança são feitas aos fantoches, e não se questiona os seus manipuladores. Grandes empresários, financiadores de campanhas, interferem e pressionam o Estado para atender seus interesses, no caso, a privatização do sistema de bondes de Santa Teresa, sempre em detrimento da maioria, no caso os moradores do bairro, que se utilizam do bonde como meio de transporte, sobretudo os mais pobres, mas sem restrições de faixa de renda, a não ser as mais altas, sempre arrogantes demais para "se misturar" com a plebe, ou seja, nós. |
observar e absorver
Aqui procuramos causar reflexão.
Moro a poucos quilômetros de Santa Teresa. No dia que aconteceu essa tragédia, me passou um filme na cabeça quando na época de moleque, ficava me arriscando pendurado no bonde e sentindo a brisa batendo no rosto. Fico triste pelas vidas ceifadas por esse acidente e pelo descaso com o (s) bondinho (s) que aparentemente estava (m) " a sua própria sorte". O Bairro de Santa Teresa é muito foda em vários aspectos, mas de um lado o medo impera ali de uma forma dominante e análogo a isso, o descaso das "otoridades" é escrachadamente notável. As vitimas que se foram, que estejam mergulhados em paz & luz !!!
ResponderExcluirConforta sentir este impulso de Paz em direção do Motorneiro. Belo Texto, Eduardo.
ResponderExcluirFala, Eduardo, tranquilo? Acho uma bela luta pra conscientização essa que você vem travando. Tenho uma sugestão para você, se você, é claro, me permite. Se não, por favor desconsidere. Hoje em dia um blog é, sim, poderoso. No entanto temos outras ferramentas, com mais poder de divulgar a opinião de cada um. Por exemplo temos o Facebook, que inclusive tem um perfil seu, gerenciado por um defensor das suas ideias. Ele está fazendo um bom trabalho, mas acho que o pessoal gostaria de ter um contato mais direto com você. A grande vantagem do Facebook é ter um perfil de divulgação que não é pessoal. Outra coisa é o Twitter, onde você teria um contato mais direto com as pessoas, é um pouco mais radical, há a possibilidade de você não conseguir ler e responder a todos. Mas cada pensamento poderia ser registrado e difundido por lá. O Orkut tem o grande defeito de obrigar a fazer um perfil pessoal, o que não é agradável. Enfim, maneiras de você divulgar. Estimular alguns a pensar, ou como o meu caso ACREDITAR. Antes de ouvir o que você tinha a dizer, achava que só eu pensava desse forma e não adiantaria nada tentar conscientizar os outros. Hoje, penso diferente. Obrigado. Peço desculpas se você encontrar esse texto em mais de uma ferramenta que você use da Internet, mas preciso passar essa mensagem para você.
ResponderExcluirConcordo com o Léo, Eduardo!
ResponderExcluirO facebook é uma ferramenta que talvez se adaptasse mais e melhor à dinâmica destas discussões e mesmo à 'simples' difusão das tuas reflexões. Isso, sem falar que o conceito de rede, de trama, de interconexão dinâmica é bem mais concreto lá que num blog.
Carinho fraterno.
ACABEI DE LANÇAR UM LIVRO AQUI EM CAMPINAS-SP SOBRE OS BONDES ONDE ENALTEÇO O VEÍCULO SOBRE RODAS... AQUI TEM DESCASO COM OS BONDES DA LAGOA DO TAQUARAL DE 4 , SÓ UM ESTÁ FUNCIONANDO. AGORA AÍ NO RIO FOI DESVIO DE VERBA, É CRIME FISCAL E ESSES POLÍTICOS DEVERIAM RESPONDER PELA CARNIFICINA E ESTAREM PRESOS!!!
ResponderExcluirme mandaram um link com seu vídeo. E aqui estou, bacana! Tens força. Espero sinceramente que esta força se volte para dentro e verás por ti mesmo o que está além do sonhar humano. Uma única resposta para todas as perguntas, uma única saída para todos os problemas.
ResponderExcluirDesejo-lhe força. Procure um livro que se chama "O Voo da serpente emplumada" Na net tem. Compensa imprimir.
DEP
ResponderExcluirnao sei como esse Nelson viveu mais a morte que teve e justamente o tipo de morte "heroica" que eu quero ter
ResponderExcluirTudo estava previsto no destino...
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