O cidadão médio, com cabeça de televisão, o político marionete, manobrado do escuro, o ensino em ruínas, os hospitais opressivos, as correntes de mentiras, entre outros detalhes. |
Uma sociedade injusta como a nossa precisa ser observada com muito cuidado e prevenção (contra as armadilhas, dissimulações e distorções “plantadas” no caminho do entendimento), para revelar suas realidades, a forma como está entranhada, infiltrada em nossa inconsciência, como se fosse a única estrutura social possível, como se fosse a melhor, com valores traiçoeiros, falsos, mas fortes como verdades.
Acreditamos que a vida é uma competição desenfreada e é dividida em dois mercados, o de trabalho e o de consumo. Acreditamos ser superiores quando temos muito e inferiores quando temos pouco – seja materialmente ou em conhecimentos mas, em geral, os dois. Narcotizados pela mídia, pressionados econômica e psicologicamente, esquecemos os valores da alma, a solidariedade, a preocupação com o bem-estar coletivo e sua busca, o afeto nas relações, o prazer do bem-fazer, o sentimento de integração no todo, a cooperação, a humildade, a generosidade. Ou guardamos tudo isso num cubículo remoto da mente, para usar apenas com uns poucos, mais próximos e chegados. E o resto é guerra.
Com o egoísmo estimulado ao máximo, vemos adversários por todo lado e deixamos de perceber a grande família humana da qual somos parte – mais que isso, somos uma família planetária e consangüínea, pois nos alimentamos todos da carne e do sangue do mesmo planeta. Somos todos conterrâneos. Mas estamos acorrentados por mentiras em que acreditamos e que nos estragam a vida e o mundo. Descobrir em nós mesmos – e desacreditar – as mentiras impostas como verdades é o primeiro passo para quebrar as correntes da escravidão contemporânea.
Para muitos, é difícil perceber as próprias prisões. As grades são apresentadas como proteção, como garantia contra a barbárie. Por isso a barbárie – miséria, ignorância plena, abandono; e violência e repressão como conseqüência – é mantida, para criar medo, conformação, como uma chantagem irresistível. Por isso a mídia se especializou em distorcer a realidade, para não se ligarem causas e conseqüências de tanto desequilíbrio. Para que a miséria seja vista como inevitável, sem nada a ver com o predomínio empresarial, com o egoísmo estimulado, com a concentração de riquezas e privilégios.
Desejamos riquezas e privilégios, vemos nos irmãos, adversários, transformamos qualquer discordância em discórdia e conflito, confundimos valor e preço, amor e posse, amizade e interesse, felicidade e consumo. Construímos, assim, as grades da prisão e as correntes da nossa própria escravidão. Prisioneiros de mentiras, desejamos o que nos é induzido e nos comportamos como é condicionado.
Se rompemos ou afastamos algumas dessas grades, apenas o suficiente para colocar a cabeça lá fora, é possível perceber o infinito espaço externo, ao mesmo tempo as restrições e o sofrimento da vida engaiolada – e a inutilidade dos seus subterfúgios –, além da fragilidade das mentiras que compõem as grades e correntes que nos prendem. Se, de dentro, essas prisões parecem indestrutíveis, de fora elas se revelam ilusões e desabam ao leve toque de um olhar mais lúcido. Nesse momento, é impossível conter a vontade de abrir as asas e voar. Só o medo pode impedir o vôo, as ameaças estratégicas, planejadas e impostas pelo sistema – cobrando o preço da frustração, do vazio e da falta de sentido na vida a todos que precisam de mais do que matéria, ostentação, consumo e outras superficialidades sem alma. Mas o tempo passa, mudanças não param de acontecer e, apesar das mentiras, cada vez mais a angústia supera o medo, cada vez mais pessoas abrem suas asas e voam, apesar das ameaças, apesar das mentiras, apesar das perseguições, apesar da repressão.
Como uma febre que se alastra, a lucidez contamina, a consciência se desenvolve e abre caminho na escuridão. Lentamente, como todo processo da natureza, e sem que nada possa impedir. As luzes se acendem, ainda poucas, mas são luzes que acendem outras luzes que, por sua vez, seguirão acendendo luzes outras.
Eduardo Marinho
É isso mesmo. Embora eu esteja tão angustiado esses dias. De modo a ter um aperto no coração e o sangue a qualhar como espinhas e cravos por nervosismo.
ResponderExcluirVocê não sente isso não? Eu vivo assim. E vivo achando esse modo de vida bonito, alertado para esses fatores de luta e confronto e das aberrações que são "dadas". Acompanho essas coisas, por hora fico feliz em não estar tão amarrado e iludido, mas por outras me sinto tão angustiado em saber disso, as vezes penso que se eu não soubesse não seria angustiado. Mas se eu não soubesse seria um grande otário. E nem sei la tanto assim, é tanto que a surpreza me surpreende. Se me surpreende é porque a surpreza algo novo e percebido. É uma percepção a mais, entre tantas que virão.
Mas sinto uma falta. Um vazio. É tão triste. Chego em casa e estão assistindo o BBB não sei que número, e se me estresso porque vivem acompanhando isso sou mal compreendido.
Eu me sinto tão triste como aquele personagem do Farenheit 457. E sobretudo por estar sempre próximo de tantas pessoas que penso estarem sendo aquelas pessoas ludibriadas do 457. Fico tenso por estar vivendo o 457.
Que angústia...
Como num garimpo, é preciso procurar as pedras preciosas no grande cascalho humano, entre a lama, os tocos, as pedras sem valor. Educar os olhos, apurar a sensibilidade e andar atento. As exceções passam por nós, todos os dias, nas mais variadas formas. Se estamos distraídos ou afundados em pensamentos tristes, não podemos perceber. Mas se percebemos, a vida enriquece imensamente.
ExcluirEspero que vocẽ encontre forças interiores em tudo o que você é para transcender o que acontece sobre este mundo, olhar para a realidade como algo efêmero e ter a confiança na luz que irá trabalhar, efetivar o crascimento da Verdade em cada coração.
ResponderExcluirNão podemos ensinar o que deve ser vivenciado, mas podemos irradiar o que já possuimos.
Obrigado por sua força, por ser você!
Eu encontro forças interiores todo dia de manhã. E aproveito pra expulsar de dentro tudo o que precisa ser posto pra fora. Por isso é que eu não sou um cara enfezado.
ExcluirDesculpe-me mas te digo que o que li me deixou meio incomodado e intuitivamente nao sei o que isso significa, o que significa voce dizer que nao é um cara enfezado? hahaha ]
ResponderExcluirAbraços
Enfezado significa, literalmente, cheio de fezes. Isso dá mau humor, intolerância, irritabilidade, entre outras coisas. No caso, usei a forma de piada com o fundo de verdade.
ExcluirAbraço.
Dei boas risadas com o significado do 'enfezado'. O resumo, se é que isso é possível, de mais este seu belo post é o seguinte: Somos todos conterrâneos ! no sentido que somos todos filhos desta Terra. O garimpo que você tanto fala, o garimpo diário de se olhar e enxergar, ouvir e escutar, a sua mais bela mensagem !
ResponderExcluirObrigado,
forte abraço,
José Rosa
E vemos tantos se deixando conduzir pela artimanha de tão poucos a uma vida sem sentido, angustiante, a uma estrutura social torta e infernal, com tanto sofrimento desnecessário - se não nos deixássemos levar a valores tão falsos, a comportamentos tão absurdos, a ver tão distorcida a realidade. Até a alegria dos privilegiados é uma alegria falsa, um biombo pra angústia, pra indiferença, pra mesquinharia ou pra perversidade. Tão poucos controlam essa estrutura e bilhões a sustentamos, convencidos de mentiras cada vez mais óbvias. É preciso conscientizarmos uns aos outros, aprendendo e ensinando, depois de por em prática, claro. Valores, desejos, objetivos de vida estão em questão. A razão tá tão impregnada de condicionamentos que é preciso despertar a intuição e sentir o que fazer. Precisamos sentir antes de decidir o que fazer. O sentimento desperto faz muita falta ao mundo.
ExcluirSentimento desperto...
ExcluirComo me disse, ontem, um mestre: "Os adolescentes de hoje estão proibidos de expressar emoções."
Em um mundo dominado pelo consumo, jogos de poder, alienação e hipocrisia, quem mais sofrem são as crianças.
Faz-se o tempo de construir arte,
saída para a educação ausente de humanidade.
É a hora de arrumar a bagagem de dentro
antes que seja tarde para qualquer partida.
Precisamos dançar para calar essa dor de alma,
como ciganos sem pouso nessa "democracia"
e sentir a Terra, com pés descalços.
Somos filhos das estrelas que também caem.
Olhemos para o céu.
Não façamos testamentos.
Para tudo tem dicionário
mas ninguém lê de dentro.
Só nos resta pintar as paredes de rosa,
antes que a tinta de sangue seja marca eterna
na nossa calçada, lençóis
e olhar.(Janice Pires)
As luzes se acendem. Poucas é verdade! Mas suficientes para nos alentar no renascimento de cada dia!
ResponderExcluirAgradecido!
Se comparar a humanidade com um garimpo, isso não significa que apenas uma pequena porcentagem de pessoas são "pedras preciosas"? Ou seja, apenas alguns poucos vão se importar o suficiente para buscar uma nova forma de pensar e agir? Claro que ainda sim vale a pena toda e qualquer denuncia dessa estrutura social que vivemos, mesmo que seja para "lapidar as pedras preciosas" que ainda não tiveram a oportunidade de enxergar a realidade sobre outro ponto de vista, ou então para tentar diminuir/inibir as injustiças que acontecem.
ResponderExcluirMas como dizem, "o mundo é dos espertos", onde a esperteza já não se diferencia da desonestidade, fica fácil acreditar que apenas uma pequena parcela da população tem bom caráter. Não culpo as pessoas por essa situação, acredito sim que os valores e objetivos de vida são implantados em nosso inconsciente (desde a infância - vide o Documentário "Criança, a alma do negócio"), só acho difícil acreditar em uma mudança já que são tão poucas as exceções...
A preciosidade humana tem uma diferença fundamental da preciosidade mineral. A preciosidade humana contamina. Contagia, pega. Porque todos temos humanidade a desenvolver. E o mundo reprime, enquadra, discrimina. Quando há contaminação, há mudança de atitude, de valores, e uma mudança em um indivíduo é uma mudança no mundo. O processo é longo, participar dele já é um privilégio. Esperar por resultados coletivos, visíveis, é ingenuidade, é pedir pra desistir. Quem se contenta em participar do processo não cansa, não desanima, não espera.
ExcluirOs "espertos" pagam seu preço, cada um colhe o que planta. A vida segue e a realidade física é apenas uma parcela da realidade. Tratar da alma é mais importante que tratar da vida, embora as duas coisas estejam ligadas, em nosso presente. Nada existe que não esteja em constante mudança, até os minerais, que dirá os "racionais", os seres humanos. A realidade não se restringe ao nosso tempo de vida. Estamos apenas de passagem. E o que levamos é abstrato.
Observar e absorver, transformar, mudar, repensar, entender e valorizar!
ResponderExcluirBravo!Belas colocações!