Para dar aspecto
de adesão aos três tratados “anti-corrupção” internacionais assinados pelo
governo brasileiro, este enviou ao congresso uma lei que, agora, está sob exame
de uma comissão especial na câmara dos deputados.
Mais uma lei de
fachada, mais um instrumento pra ser utilizado em “brigas de cachorro grande”,
as disputas entre elementos das elites, única maneira de ver podres vindo à
tona e privilégios sendo retirados, em uma dança das cadeiras falcatruesco que
não modifica as estruturas altamente corruptas que sustentam o cenário “democrático”.
De minha parte,
não tenho como acreditar na eficiência de tal lei – que ainda não foi aprovada
e talvez não seja –, enquanto à minha volta empresas são constantemente
favorecidas em prejuízo do público. Quando vejo a situação dos transportes,
aqui no Rio de Janeiro – esfregada em nossa cara pelo menos duas vezes por dia –,
ônibus superlotados, parados nos congestionamentos, metrôs apinhados, abafados,
quebrando no meio do caminho, gente passando mal, sem ar, empurra-empurras,
lotações esgotadas em trens, nas barcas, os serviços rotineiramente desrespeitosos,
como o deboche das tarifas absurdas – onde, no mundo, trens, metrôs e barcas têm
passagens mais caras que os ônibus? – e dos cartazes publicitários afirmando o
cuidado e o amor aos passageiros, como se o serviço fosse a principal preocupação
desses empresários do setor, e não o lucro a qualquer custo.
O financiamento
das campanhas é o foco e a manutenção dos bonecos políticos sob o controle empresarial.
Pelo menos o foco principal e mais perceptível. A promiscuidade escancarada
entre os políticos e os empresários deixa bem claro a quem serve a chamada “representação
pública”, que de pública só tem o nome e o poder sobre o aparato estatal onde
quem menos apita é o próprio público.
O “avanço” que
vejo é o fato de se estar falando em corruptor. Sempre me incomodou demais os
ataques aos corruptos políticos, sem menção aos seus patrões, os mega-empresários
que determinam políticas públicas, sem serem eleitos. Há muito tempo as decisões
são tomadas de um círculo acima da política, no escuro dos bastidores. Manifestações
“contra a corrupção” que terminam em acusações ao congresso ou a elementos de câmaras
legislativas me parecem superficiais, cosméticas, infantis e passam longe das
causas da corrupção tradicionalíssima nos poderes públicos das falsas
democracias do empresarismo neo-liberal – o “capitalismo” sem cabeça nem nome
de que falam as “esquerdas revolucionárias” arrogantes e elitistas.
Pouco a pouco (e,
meu deus, como é pouquíssimo!) se percebe que as causas da barbárie social que
se alastra pelo mundo – atualmente “terceiromundizando” a Europa, começando,
como sempre, pelos mais pobres – têm suas causas mais acima que a política das
marionetes, no escuro dos mercados financeiros, no alto da pirâmide social,
entre os riquíssimos a quem interessa manter a população ignorante e
desinformada para seguir controlando seus fantoches e determinando as ações e
omissões dos poderes públicos – que, de públicos, só têm o nome.
Não sei quantos
passos falta nessa direção, pra se começar a perceber que essa preponderância
do poder privado se infiltrou na mentalidade, nos valores sociais e pessoais,
produzindo opiniões, objetivos, desejos, modos de vida, comportamentos que
sustentam, alimentam e mantêm essa estrutura social. O atrelamento do ensino
aos interesses empresariais infestou as escolas e academias, aumentando o
abismo entre as classes e desenvolvendo o egoísmo, a arrogância e a
competitividade ao extremo, criando indiferença com relação à miséria, à
pobreza e à exploração como se fossem mazelas inevitáveis, ao invés de
vergonhas inaceitáveis.
Os
acontecimentos na Grécia deixam escancarado os mecanismos de ação e servidão
dos governos “democráticos” submetidos à ditadura do “mercado financeiro”-
representado hoje pelo que os gregos chamam “tróika”, a trinca Banco Mundial,
Fundo Monetário Internacional e Mercado Comum Europeu. Quem determina realmente
as políticas públicas passa longe de eleições.
O poder
empresarial é desumano e não poderia ser de outra forma, pois seus objetivos se
reduzem ao maior lucro e ao menor custo, como uma lei imutável e natural do
nosso sistema social, o sistema que aceitamos como único possível e sem
possibilidade de mudanças além da superfície e que sustentamos com nossos
valores e comportamentos – que foram criados em laboratórios multinacionais e
impostos, basicamente, pela mídia, como demonstrou Milton Santos no filme do
Silvio Tendler, “Conversas com Milton Santos – a globalização vista pelo lado
de cá”.
Ainda nas
palavras do brilhante negão, as empresas não têm nenhuma responsabilidade
social, nenhuma responsabilidade moral, nem mesmo territorial, pois o centro do
seu interesse é o lucro – a qualquer custo.
Não consegui
colocar o nome de nenhuma dessas marcas famosas, acompanhado das palavras “trabalho
escravo”, no gúgol, sem obter resultados. Todos o nomes, náique, adidas, zara, marisa,
etc, deram resultados, flagrantes ou denúncias de trabalho escravo, de exploração
de crianças, em qualquer parte do mundo. E nós, boçais e ignorantes, vendo as
marcas como nos foi programando, como símbolos de qualidade e até de afirmação
de valor social. “Estupidezes” alienadas, condicionadas, como se vê em qualquer
pesquisa em saites como o do Repórter Brasil.
Precisamos
deixar de ser otários e parar de colaborar com esse estado de coisas,
precisamos levantar quais são realmente os nossos valores e quais foram
implantados pela competência da publicidade, sobretudo depois do advento da
psicologia do inconsciente aplicada à criação de valores e comportamentos
sociais. Um processo criminoso e desumano que se vê no documentário “O século
do ego”, produzido pela BBC de Londres e já divulgado neste blogue. Estamos
todos impregnados, em maior ou menor grau. Quem se pretender isento passa
atestado de ingenuidade, pra dizer o mínimo. E é por isso que os trabalhos de
mudanças na estrutura social para colocar finalmente o Estado a serviço do seu
povo precisam começar internamente pra adquirir consistência externa, poder de
contágio e propagação. Não é uma figura de linguagem a afirmação de que mudando
a si mesmo é que se muda o mundo. É uma necessidade.
Muito bom Eduardo..
ResponderExcluirNão adianta eu apenas comentar seu ótimo trabalho, sem antes comentar sobre um dos pontos que mais gostei: A Responsabilidade Social das Marcas.
ResponderExcluirHoje o desejo de ter o melhor, não para melhor usá-lo, apenas para o melhor ter, nasce com o individuo juntamente com suas responsabilidades sociais. Estamos vivendo uma ÉRA dos valores descartáveis, não recicláveis, meramente descartáveis.
O bombardeamento de informações, talvez seja responsável por tal transformação. A maioria das vezes estas informações são inseridas de forma onerosa e falsária, pesando em nosso ID e enfraquecendo o desenvolvimento de nosso EGO. A pluralidade de mídia, informação e conteúdo sem o devido direcionamento, é o grande causador disso tudo.
Como boçais e ignorantes que somos, como você mesmo sitou, infelizmente não conseguimos enxergar que todas essas grifes plantadas em nossas vidas, são meramente superficiais. Hoje em dia não importa com quem iremos falar ao comprar um aparelho celular de ultima geração, mas sim ter o aparelho de ultima geração. Não importa a sua cor preferida de camisa caso nela não esteja estampado o logo da marca mais luxuosa.
É tão simples enxergar tais problemas, porém, entendo como problema maior o fato de conviver com a ideia de que hoje nós temos de tudo, mas pouco do útil.
Abraços,
Paulo R. Prudente
Não temos de tudo. Muitos de nós não têm nem os direitos básicos pra existência.
ExcluirQuando disse em "temos tudo", queria passar a idéia de existência, não de posse.
ExcluirNo dia que a população for consciente em matéria de política e souber exigir de seus políticos, não mais será necessário existir políticos. Não concorda?
ResponderExcluirNesse dia seremos todos políticos. Ou, pelo menos, uma parte considerável de nós.
ResponderExcluirthe photo got me --- that's really awful.
ResponderExcluirVocê acha que esse dia está longe? com relação ao seu trabalho com a comunidade, como está sendo seus avanços? O que vc ja conseguiu conquistar em materia de conscientização? as pessoas sao aversas ao que vc diz, ou absorvem bem? POderia me dizer um pouco das suas conquistas em realação a isso, e quais os seus pensamentos para uma "revolução" que possa ocorrer?
ResponderExcluirEu falo isso pq eu entrei a pouco na universidade, e eu concordo com muito que vc fala, porem eu me deparo com muitos marxistas que tem todo um discurso preparado para influenciar pessoas como eu. Minha cabeça ta uma confusao com tantas ideias. por isso queria que falasse um pouco da sua experiencia...
Temo que seja tarde de mais quando a maior parte da humanidade começar a "despertar". Quando o planeta já tiver escasso de recursos naturais.
ResponderExcluirO modelo econômico atual sustenta a idéia de crescimento econômico infinito, mas num planeta que é finito.
A busca eterna pelo máximo lucro possível feita pelas mega corporações só prova que é impossível haver sustentabilidade.
A esperança é trabalhar na conscientização mesmo. Na mudança de valores individualistas, degradantes do próprio ser, para valores que olham para o coletivo como algo único, trabalhando na cooperação e não na competição.
Nem acho que alguém vá despertar sozinho; não acredito que mentes artificialmente atrofiadas voltem a desenvolver qualquer crítica, autonomia, sem ser estimulada. Tenho muitas ressalvas ao doutrinamento mas alguns graus de fazimento de cabeça são necessários, sim.
ResponderExcluirNão sei o que você entende por "fazimento de cabeça". Mas a idéia me repugna. Prefiro instrução e informação, e cada um resolve o que fazer com isso. Não há tantas diferenças além da forma. Nosso objetivo é comum. ("Nosso" no sentido de humanidade.)
ResponderExcluirE por falar em indignação deêm uma olhada nessa matéria !
ResponderExcluirhttp://textileindustry.ning.com/forum/topics/cerca-de-200-funcionarios-entram-em-colapso-na-fabrica-da-nike-no