segunda-feira, 9 de abril de 2012

A coisa anda a passo de tartaruga


Polícia grega a serviço dos bancos, ataca a população em protesto, começando pelos jornalistas.
Polícia grega ataca jornalistas, manifestantes e a população em protesto contra as leis impostas pelos bancos ao país, sacrificando aposentadorias, ensino, saúde e direitos trabalhistas. É a demonstração do controle dos Estados pelos poderes econômicos mundiais, que além de financeiros são, em último caso, militares e sanguinários.


      Para dar aspecto de adesão aos três tratados “anti-corrupção” internacionais assinados pelo governo brasileiro, este enviou ao congresso uma lei que, agora, está sob exame de uma comissão especial na câmara dos deputados.
      Mais uma lei de fachada, mais um instrumento pra ser utilizado em “brigas de cachorro grande”, as disputas entre elementos das elites, única maneira de ver podres vindo à tona e privilégios sendo retirados, em uma dança das cadeiras falcatruesco que não modifica as estruturas altamente corruptas que sustentam o cenário “democrático”.


      De minha parte, não tenho como acreditar na eficiência de tal lei – que ainda não foi aprovada e talvez não seja –, enquanto à minha volta empresas são constantemente favorecidas em prejuízo do público. Quando vejo a situação dos transportes, aqui no Rio de Janeiro – esfregada em nossa cara pelo menos duas vezes por dia –, ônibus superlotados, parados nos congestionamentos, metrôs apinhados, abafados, quebrando no meio do caminho, gente passando mal, sem ar, empurra-empurras, lotações esgotadas em trens, nas barcas, os serviços rotineiramente desrespeitosos, como o deboche das tarifas absurdas – onde, no mundo, trens, metrôs e barcas têm passagens mais caras que os ônibus? – e dos cartazes publicitários afirmando o cuidado e o amor aos passageiros, como se o serviço fosse a principal preocupação desses empresários do setor, e não o lucro a qualquer custo.
      O financiamento das campanhas é o foco e a manutenção dos bonecos políticos sob o controle empresarial. Pelo menos o foco principal e mais perceptível. A promiscuidade escancarada entre os políticos e os empresários deixa bem claro a quem serve a chamada “representação pública”, que de pública só tem o nome e o poder sobre o aparato estatal onde quem menos apita é o próprio público.
      O “avanço” que vejo é o fato de se estar falando em corruptor. Sempre me incomodou demais os ataques aos corruptos políticos, sem menção aos seus patrões, os mega-empresários que determinam políticas públicas, sem serem eleitos. Há muito tempo as decisões são tomadas de um círculo acima da política, no escuro dos bastidores. Manifestações “contra a corrupção” que terminam em acusações ao congresso ou a elementos de câmaras legislativas me parecem superficiais, cosméticas, infantis e passam longe das causas da corrupção tradicionalíssima nos poderes públicos das falsas democracias do empresarismo neo-liberal – o “capitalismo” sem cabeça nem nome de que falam as “esquerdas revolucionárias” arrogantes e elitistas.
      Pouco a pouco (e, meu deus, como é pouquíssimo!) se percebe que as causas da barbárie social que se alastra pelo mundo – atualmente “terceiromundizando” a Europa, começando, como sempre, pelos mais pobres – têm suas causas mais acima que a política das marionetes, no escuro dos mercados financeiros, no alto da pirâmide social, entre os riquíssimos a quem interessa manter a população ignorante e desinformada para seguir controlando seus fantoches e determinando as ações e omissões dos poderes públicos – que, de públicos, só têm o nome.
      Não sei quantos passos falta nessa direção, pra se começar a perceber que essa preponderância do poder privado se infiltrou na mentalidade, nos valores sociais e pessoais, produzindo opiniões, objetivos, desejos, modos de vida, comportamentos que sustentam, alimentam e mantêm essa estrutura social. O atrelamento do ensino aos interesses empresariais infestou as escolas e academias, aumentando o abismo entre as classes e desenvolvendo o egoísmo, a arrogância e a competitividade ao extremo, criando indiferença com relação à miséria, à pobreza e à exploração como se fossem mazelas inevitáveis, ao invés de vergonhas inaceitáveis.

      Os acontecimentos na Grécia deixam escancarado os mecanismos de ação e servidão dos governos “democráticos” submetidos à ditadura do “mercado financeiro”- representado hoje pelo que os gregos chamam “tróika”, a trinca Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Mercado Comum Europeu. Quem determina realmente as políticas públicas passa longe de eleições.


      O poder empresarial é desumano e não poderia ser de outra forma, pois seus objetivos se reduzem ao maior lucro e ao menor custo, como uma lei imutável e natural do nosso sistema social, o sistema que aceitamos como único possível e sem possibilidade de mudanças além da superfície e que sustentamos com nossos valores e comportamentos – que foram criados em laboratórios multinacionais e impostos, basicamente, pela mídia, como demonstrou Milton Santos no filme do Silvio Tendler, “Conversas com Milton Santos – a globalização vista pelo lado de cá”.


      Ainda nas palavras do brilhante negão, as empresas não têm nenhuma responsabilidade social, nenhuma responsabilidade moral, nem mesmo territorial, pois o centro do seu interesse é o lucro – a qualquer custo.
      Não consegui colocar o nome de nenhuma dessas marcas famosas, acompanhado das palavras “trabalho escravo”, no gúgol, sem obter resultados. Todos o nomes, náique, adidas, zara, marisa, etc, deram resultados, flagrantes ou denúncias de trabalho escravo, de exploração de crianças, em qualquer parte do mundo. E nós, boçais e ignorantes, vendo as marcas como nos foi programando, como símbolos de qualidade e até de afirmação de valor social. “Estupidezes” alienadas, condicionadas, como se vê em qualquer pesquisa em saites como o do Repórter Brasil.


      Precisamos deixar de ser otários e parar de colaborar com esse estado de coisas, precisamos levantar quais são realmente os nossos valores e quais foram implantados pela competência da publicidade, sobretudo depois do advento da psicologia do inconsciente aplicada à criação de valores e comportamentos sociais. Um processo criminoso e desumano que se vê no documentário “O século do ego”, produzido pela BBC de Londres e já divulgado neste blogue. Estamos todos impregnados, em maior ou menor grau. Quem se pretender isento passa atestado de ingenuidade, pra dizer o mínimo. E é por isso que os trabalhos de mudanças na estrutura social para colocar finalmente o Estado a serviço do seu povo precisam começar internamente pra adquirir consistência externa, poder de contágio e propagação. Não é uma figura de linguagem a afirmação de que mudando a si mesmo é que se muda o mundo. É uma necessidade.
      Sem isso, qualquer papo sobre revolução é inconsistente, não passa de teoria ou simples conversa fiada.

12 comentários:

  1. Não adianta eu apenas comentar seu ótimo trabalho, sem antes comentar sobre um dos pontos que mais gostei: A Responsabilidade Social das Marcas.

    Hoje o desejo de ter o melhor, não para melhor usá-lo, apenas para o melhor ter, nasce com o individuo juntamente com suas responsabilidades sociais. Estamos vivendo uma ÉRA dos valores descartáveis, não recicláveis, meramente descartáveis.

    O bombardeamento de informações, talvez seja responsável por tal transformação. A maioria das vezes estas informações são inseridas de forma onerosa e falsária, pesando em nosso ID e enfraquecendo o desenvolvimento de nosso EGO. A pluralidade de mídia, informação e conteúdo sem o devido direcionamento, é o grande causador disso tudo.

    Como boçais e ignorantes que somos, como você mesmo sitou, infelizmente não conseguimos enxergar que todas essas grifes plantadas em nossas vidas, são meramente superficiais. Hoje em dia não importa com quem iremos falar ao comprar um aparelho celular de ultima geração, mas sim ter o aparelho de ultima geração. Não importa a sua cor preferida de camisa caso nela não esteja estampado o logo da marca mais luxuosa.

    É tão simples enxergar tais problemas, porém, entendo como problema maior o fato de conviver com a ideia de que hoje nós temos de tudo, mas pouco do útil.

    Abraços,
    Paulo R. Prudente

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    1. Não temos de tudo. Muitos de nós não têm nem os direitos básicos pra existência.

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    2. Quando disse em "temos tudo", queria passar a idéia de existência, não de posse.

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  2. No dia que a população for consciente em matéria de política e souber exigir de seus políticos, não mais será necessário existir políticos. Não concorda?

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  3. Nesse dia seremos todos políticos. Ou, pelo menos, uma parte considerável de nós.

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  4. the photo got me --- that's really awful.

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  5. Você acha que esse dia está longe? com relação ao seu trabalho com a comunidade, como está sendo seus avanços? O que vc ja conseguiu conquistar em materia de conscientização? as pessoas sao aversas ao que vc diz, ou absorvem bem? POderia me dizer um pouco das suas conquistas em realação a isso, e quais os seus pensamentos para uma "revolução" que possa ocorrer?
    Eu falo isso pq eu entrei a pouco na universidade, e eu concordo com muito que vc fala, porem eu me deparo com muitos marxistas que tem todo um discurso preparado para influenciar pessoas como eu. Minha cabeça ta uma confusao com tantas ideias. por isso queria que falasse um pouco da sua experiencia...

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  6. Temo que seja tarde de mais quando a maior parte da humanidade começar a "despertar". Quando o planeta já tiver escasso de recursos naturais.
    O modelo econômico atual sustenta a idéia de crescimento econômico infinito, mas num planeta que é finito.
    A busca eterna pelo máximo lucro possível feita pelas mega corporações só prova que é impossível haver sustentabilidade.

    A esperança é trabalhar na conscientização mesmo. Na mudança de valores individualistas, degradantes do próprio ser, para valores que olham para o coletivo como algo único, trabalhando na cooperação e não na competição.

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  7. Nem acho que alguém vá despertar sozinho; não acredito que mentes artificialmente atrofiadas voltem a desenvolver qualquer crítica, autonomia, sem ser estimulada. Tenho muitas ressalvas ao doutrinamento mas alguns graus de fazimento de cabeça são necessários, sim.

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  8. Não sei o que você entende por "fazimento de cabeça". Mas a idéia me repugna. Prefiro instrução e informação, e cada um resolve o que fazer com isso. Não há tantas diferenças além da forma. Nosso objetivo é comum. ("Nosso" no sentido de humanidade.)

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  9. E por falar em indignação deêm uma olhada nessa matéria !

    http://textileindustry.ning.com/forum/topics/cerca-de-200-funcionarios-entram-em-colapso-na-fabrica-da-nike-no

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observar e absorver

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