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sábado, 16 de junho de 2012
Dar sentido à vida
Quando ponho meu trabalho na rua, resultado das vivências, das buscas, das opiniões adquiridas, não pretendo mudar o mundo. Olho pro mundo como um ser em mutação constante. Quem sou eu pra tamanha pretensão? Observo apenas... e me sinto parte. O que preciso é colocar minha posição dentro do que me cerca, do que vejo, do que sinto diante do que vejo. Escolher a forma de participar disso tudo. Não gosto do que vejo, não acredito nas interpretações da realidade que me chegam, por isso escolho diferente e me coloco na contra corrente. Não posso me adaptar a uma sociedade que abandona pessoas e ainda as maltrata com seus "serviços públicos" precários, desrespeitosos, seus organismos de repressão, ou "segurança", na língua oficial, seu sistema de verdadeira escravidão no trabalho. Nas fases mais frágeis da vida - a infância e a velhice -, vejo abandono e barbárie na sobrevivência da vida, ausência da sociedade, ausência de nós, que delegamos o poder de decidir a quem se vende. Há muitas maneiras e eu tive que escolher a minha. E essas maneiras vão se apresentando, as coisas vão se impondo, vão acontecendo, o trampo vai se adaptando a cada situação - ou o contrário também acontece, a situação se adapta à possibilidade do trampo. Cada momento tem suas características. Às vezes me sinto insignificante, dentro de um contexto tão enorme que não posso imaginar, de tão imenso o universo, as galáxias, o espaço infinito e desconhecido. Tenho minha parcela, insignificante no todo, mas que é tudo pra mim. E preciso de um significado, como eu disse aos dezenove anos, ter, sentir um sentido pra vida. Então aponto o nariz e parto na direção de uma sociedade mais igualitária, mais consciente, mais lúcida, mais solidária, mais humana. Com minha vontade, meu trabalho e minha vida. Dentro da minha insignificância, encontro maneira de dar esse sentido à existência. Sinto o antes e o depois, o agora aqui é só uma passagem. O trabalho pode não terminar, ou pode (embora eu não creia), mas é essa lida que dá sentido à vida, seja ela finita ou infinita. Nosso meio é o imediato, é o que tocamos, o que sentimos e o que vivemos - é aí que tá nossa importância, o que há de importante pra nós, o agir cotidiano, o trato de todo dia. Os desejos, os objetivos, as relações com o mundo, aí está o nosso espelho, aí está o que somos. É possível e necessário trabalhar nisso. Daí é que parte o trabalho no mundo. Pelo menos o que tem raízes. É preciso sempre aprofundar as coisas, sentir suas raízes, ao contrário do que somos induzidos. A indução social nos leva à superfície, à forma sem conteúdo, à ignorância, à alienação, ao egoísmo, à vaidade, ao consumismo e ao vazio da alma, do profundo que há em tudo.
Olha estou no mesmo debate, dar um sentido a vida, a minha vida. Ter as informações não é o bastante, existe algo mais, falta alguma coisa, o que seria esse algo a mais? o que seria essa falta, e estou procurando.
ResponderExcluirIsso não é um debate. É o relato de um pensamento. Ou de um sentimento. Ou ambos. Sei lá.
ResponderExcluirTalvez seja o sentimento de estar servindo pra melhorar visões e pontos de vista, a começar pelos meus e se estendendo pra fora, pro mundo.
Tô achando isso, agora.
Ótimo texto, Eduardo.
ResponderExcluirÉ bom ver como você se coloca sempre como parte do todo. Seus objetivos coincidem com a busca de um bem geral, que possa chegar a todos, e nunca somente a você. Pena que essa solidariedade e sentido de humanidade não são discutidos e ensinados, mas o que tomou conta foi justamente um pensamento oposto de individualismo e competição.
Realmente "há muitas maneiras" de se viver e se posicionar no meio em que a gente vive e eu acho que o problema maior é que as pessoas não questionam a maneira que se impõe, não experimentam outras formas, como se esse sentido da vida já tivesse sido "descoberto" e fosse igual pra todo mundo.
Falta diversidade, o que me espanta é que todos pensem igual.
Todos, não, parceiro. Há exceções. Antigamente eram raríssimas, hoje são muito mais numerosas, embora sejam, ainda, exceções. O processo segue, despercebido da maioria e ignorado pelo sistema - e é bom que seja assim, ou as baterias da violência institucional se voltariam contra os bem intencionados que mantêm a clareza na visão de mundo e coerência com suas consciências. As estruturas montadas de predomínio, controle, exploração e concentração de poderes estão preparadas pras manifestações, protestos e "mobilizações" que pululam por aí, inofensivos ao sistemão comandado pelos poucos mega-empresários internacionais e suas cooptadas elites locais. Mas não estão preparadas pra consciência, pra tomada de consciência que está em processo, nem poderiam estar. As falcatruas, as mentiras, as induções, a distorção da realidade não têm como resistir ao olhar consciente sobre a realidade. O trabalho conseqüente, hoje, é o de conscientização. Nada de doutrinação, que já se provou inútil e perigoso - cria lideranças falsas e disputas que enfraquecem o foco real do trabalho de mudança. Ilusões repetidas e alimentadas pelo sentimento de superioridade de alguns sobre as maiorias, a falta de humildade deturpando as lutas, subjugando uns aos outros, esvaziando as coletividades. Tem nada não, os conscientizadores estão por aí, fora dos grupinhos portadores de verdades, trabalhando por fora - aparentemente desconectados, mas em conexão com a busca coletiva, humildemente, levando em conta a igualdade de direitos, o respeito a diferenças e a discordâncias, sem hostilidade. Não se pode mudar nada repetindo os condicionamentos implantados pelos dominantes através da sua mídia, a tendência à disputa e à divisão, ao insulto e à preponderância, a formação de grupos ideologicamente dominantes, o sentimento de superioridade, o desprezo aos que não se submetem às suas "verdades", um europeísmo que subalterniza o pensamento a velhos jargões cansativamente repetitivos e comprovadamente estéreis, que não toca no coração das massas e desmoraliza perante o olhar geral a própria concepção de revolução.
ResponderExcluirA diversidade está aí mesmo, embora pouco percebida e nada levada em conta por esse punhado que se pretende baluarte revolucionário. A realidade não depende do que se acredita, do que se afirma, do que se pensa ou deixa de pensar. A realidade é.
Achei um jeito de postar comentários
ResponderExcluirOlha,muito bom! "Dar sentido para a vida", seria, praticamente,uma das melhores soluções p/ os N problemas pessoais, sociais, ambientais etc,etc, etc. Enquanto o "sentido da vida" for visto periférica e comercialmente, absolutamente nada dará bons resultados. Difícil, né cara?
Pouca coisa nessa vida é fácil e tem valor.
ResponderExcluirO melhor de seus escritos e dos comentários dos que por aqui passam: a esperança de que não está só, não estamos sós, e podemos sim fazer a diferença. Mas uma coisa me preocupa em particular: "a infância e a velhice". Nunca fui a Cuba (penso que no dia que for eu fico por lá...), mas fiz um post há algum tempo em homenagem A Fidel (DESPEDIDA DE FIDEL: http://joserosafilho.wordpress.com/2009/01/02/despedida-de-fidel/) que dizia mais ou menos assim: "em 1999 quando Fernando Moraes foi a Cuba cobrir a visita do Papa àquela ilha, encontrou um imenso outdoor no Aeroporto de Havana dizendo assim: “200 MILHÕES DE CRIANÇAS VÃO DORMIR HOJE NAS RUAS, NENHUMA DELAS É CUBANA!”. Cada país tem sua cultura e seus valores. Mas o que Cuba nos diz desde sua revolução é isso: prioridade para Educação e Saúde, e respeito ao cidadão. abs, José Rosa.
ResponderExcluirConcordo com o relativo aumento das singularidades sociais. Tomo como exemplo meu próprio circulo de relações humanas, que envolve pessoas de vários cantos do país, cada um com sua maneira crítica precisa de lidar com o mundo. Bem como isso também pode ser observado fora das minhas experi6encias pessoais, porém, com menor certeza em cima do resultado da avaliação.
ResponderExcluirO que me preocupa no mundo hoje é a interação entre tempo, ação e verdade. Como você disse eduardo, a verdade de uma ocasional mudança vem da não imposição, enquanto de outro lado vemos o mundo beirando o caos cada vez mais. Ou seja, o tempo é curto. A imposiÇão, obviamente, é o caminho errado, mas a o despertar pode chegar tarde demais.Pelo menos o nosso tempo, enquanto seres humanos, é curto, o universo, como já dizia bob marley, continuará por ai já que nada disso pode parar o tempo.
Dar sentido a vida! Muito bom! Mas qual sentido seria esse? Não sei...
ResponderExcluirSó sei que observando você, absorvo muitas coisas boas!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÓtimo texto Eduardo. A sua lucidez e história de vida me inspiram muito.
ResponderExcluirPrecisamos de mais pessoas que apontam o nariz e partem atrá do sentido pra vida.
abs
Quanto mais eu vejo os seus videos e leio o seu blog, mais me sinto burra. Penso: Como não pensei nisso antes? Eu não sei onde vou parar, mas sei que, o que você está fazendo está certo em sua missão. Continue do jeitinho que você está. Indo para onde o mundo está te levando, que você está indo para o lugar certo. O Brasil e o mundo não, mas você sim. Você tem o dom de perceber a realidade e a verdade muito maior que a maioria das pessoas. E melhor: usa para o bem. Abraço.
ResponderExcluiro que eu mais sinto falta é das pessoas se unirem. se olharem nos olhos e perceberem: há um encontro ali, entre elas. Elas compartilham sentimentos, ideias, vontades.
ResponderExcluirVerdade, muitos têm se unido, percebo movimentos coletivos, iniciativas comuns para mudar uma parte da realidade. Mas falta. Falta olho no olho, falta dar as mãos e sentir a força de mais um. Talvez ao lado deste um haja mais um e ao lado deste, outro e depois outro e outro. Talvez sejamos maiores do que podemos perceber.
Ótimo texto!
ResponderExcluir"A vida é curta, então ame a sua vida, seja feliz... e mantenha sempre um sorriso no rosto. Viva a vida para você e antes de falar, escute. Antes de escrever, pense. Antes de gastar, ganhe. Antes de orar, perdoe. Antes de magoar, sinta. Antes de odiar, ame. Antes de desistir, tente. Antes de morrer, viva."
Parabéns pelo texto.
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