segunda-feira, 16 de julho de 2012

Crime de Estado - só mais um exemplo

O vídeo foca na figura do governador, quando se sabe que o poder está acima da política, nos financiadores de campanhas e nos financiadores dos financiadores de campanhas, que são maiores e piores. A promiscuidade entre grandes empresários e representantes públicos, seus governos e suas empresas, é notória, descarada e despreocupada a não ser com os altos círculos do poder econômico-midiático. A marionete faz o que lhe comandam os fios. Atacar os fantoches não afeta quem segura os fios, o estoque de bonecos é farto, morcegos nas mãos de vampiros. Chega a ser ingênuo.

Outra discordância é com a atitude do nobre deputado Paulo Ramos, ao provocar a revolta e o insulto coletivo às forças de segurança ali presentes por ordem "superior" e treinadas pra atacar sem dó. Qual é, vai bater o pé e gritar "isca!" pro pastor alemão em ponto de bala? Isso é colocar toda a coletividade em risco, uma irresponsabilidade. O extremo desta atitude pode ser visto nas conseqüências de Pinheirinho, quando algum maluco postou o vídeo dos moradores do bairro armados de escudos de pvc, capacetes de motociclistas, brandindo porretes e cantando cantos de guerra, tipo daqui ninguém me tira. Uma total irresponsabilidade. Duvido que esse vídeo não tenha sido passado muitas vezes, talvez acrescido de fundos musicais escolhidos, praqueles militares que foram lá, no dia anterior, enquanto técnicas de incitamento são postas em cima dos caras, desumanizando-os, tirando deles o que o ser humano tem de melhor, sua sensibilidade. Crianças, idosos, enfermos, trabalhadores, animais, materiais de trabalho, casas com oito anos de moradia foram expulsos, espancados, feridos, mortos, destruídos, destroçados pelas forças públicas de segurança. Mais de oito mil pessoas, em mais de mil e seiscentas famílias. Cães mortos a tiros na frente das famílias, cenas de terror que nunca mais sairão da cabeça daquelas pessoas, sobretudo as crianças. Isso sem falar em Belo Monte, Tucuruí, o Rio dos Macacos, a lista é imensa e a de casos desconhecidos do mundo, muito maior.


Quanto ao deputado, eu, se me fosse dado, sugeriria uma outra atitude. Olhar e se dirigir aos policiais, a começar pelos de mais alta patente, apelar à humanidade deles, "capitão, eu apelo à sua humanidade, veja com seus olhos, há doentes, não têm pra onde ir, conteste suas ordens, é uma desumanidade, não é possível que vocês tenham perdido a humanidade (pode ter um tom dramático, pois é um drama que se desenrola na realidade), como é possível alguém se dispor a tirar essas pessoas daí, nessas condições? Como tratar com violência pessoas que não são a menor ameaça, não esboçam nenhuma agressividade? Como participar do ato de atirar essas pessoas doentes ao deus-dará? Que tipo de ordem pode obrigar a tamanha covardia? Vocês são pessoas, seres humanos, antes de serem militares. Têm família, mãe, pai, avós, tias, sobrinhos... olhem o que estão pra fazer, gente, eu falo com a consciência que tá dentro de cada um, todo mundo tem, pode esconder, mas tem."

Acho que isso dito por um deputado talvez desse pra arrumar um tempo pra correr atrás de um jeito. Bota os advogados pra correr. Bueno, não sou deputado, né? Mas tá na hora de perceber que a língua do confronto é a língua do opressor, pro confronto eles tão preparados. Não tão preparados é pra consciência. Mas esse é um trabalho mais difícil, mais profundo, mais reflexivo e que não permite o arrebanhamento. Além disso, exige um profundo e sincero trabalho constante dentro de si mesmo, corrigindo e se melhorando pra melhorar, senão o mundo, pelo menos o ambiente. Tô cansado de ver "revolucionário" usando roupa de marca. E quem perguntar o que tem uma coisa a ver com a outra eu respondo: cê não sabe de nada, vai se informar. Muito preferem acreditar que vão conduzir as massas. Só se forem entregar pizzas, penso eu.

Mas a importância, aqui, está na denúncia do crime de Estado. Na madrugada, estão ocorrendo desocupações em toda a área declarada o tal porto maravilha. Por muitas décadas, aquela área portuária e vizinhas foram abandonadas. Como capital nacional e porto, havia grande quantidade de prédios públicos, que foram deteriorando, desocupados. Pouco a pouco, a população esquecida pela sociedade, desabrigada, foi ocupando esses prédios, às centenas de prédios, às milhares de pessoas, famílias, crianças, idosos, deficientes. Isso, enquanto a especulação imobiliária concentrou sua atenção na Barra e adjacências, na vastidão da orla oeste. Agora, com a área saturando, os interesses se voltam pra área portuária, depois do sucesso da "recuperação" da área da Lapa e das ruas históricas, tudo entregue a empresários, já "limpo", o serviço sujo o Estado faz. Abandonados, os prédios, as velhas casas, tudo permanece com aspecto antigo, patrimônio histórico, reforma-se dentro do padrão e ganha um outro valor. Revitalizar a área. Só precisa expulsar os pobres, os moradores que, mal ou bem, conservaram, limparam e mantiveram as estruturas que, de outra forma, teriam caído ou estariam irrecuperáveis. E mesmo que não fosse, não muda nada.

Na madrugada. O Estado tá sinistro. Em toda parte acontecem coisas semelhantes. É óbvio que é coisa do - pra falar vagamente - "mercado". Interesses econômicos. E até quando vamos servir ao "mercado" com nossos comportamentos, com nossos valores, com nossas opiniões padronizadas? Ninguém escapou do condicionamento massacrante cotidiano há décadas por publicidade, propaganda, condicionamentos, psicologia do inconsciente, márquetim, merchandaise e o escambau. Pra isso a academia serviu - e serve - direitinho. Seria bom que servisse pra achar o jeito de todo mundo ter seus direitos respeitados.

Reforço - não é crime do Cabral, é crime da própria sociedade, é crime do Estado, é crime público.

Crime do Cabral contra o IASERJ. 15.07.2012

3 comentários:

  1. Eduardo e amigos, olhem isso:

    http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/06/o-dia-em-que-o-capitalismo-fez-mais-uma-vitima-fatal.html

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  2. Outro exemplo no Maranhão: http://blog.jornalpequeno.com.br/johncutrim/2012/07/25/dutra-diz-que-apanhou-da-policia-de-roseana-eles-me-agrediram-com-gas-lacrimogeneo-bala-de-borracha-produtos-quimicos/

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  3. O Estado não só está como é sinistro... mais ainda sinistras são as relações incestuosas que ocorrem entre os interesses do mercado ( empresários da saúde, donos dos grandes planos de saúde e dos conglomerados representantes de farmácias...)e do (des)governo deste Estado... vivemos um momento único, onde percebemos estas e tantas outras "medidas" ditas visando a melhoria, mas que na realidade só conseguem colaborar para afundar neste mar de lama que é este governo...e a saúde, que deveria ser Pública e de Qualidade? Se esvai...

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