terça-feira, 7 de agosto de 2012

Celso Blues Boy foi embora.

Morreu ontem, de manhã, em Floripa. Eu o conheci em Itaperuna, nos idos de 82, quando eu era um bicho solto, sem morada nem destino, circulando a esmo pelos territórios, tomando avidamente a vida, em todos os lugares, seguindo a direção que apontava o meu nariz. O acaso me levou a Itaperuna, saído de Carangola, passando por Faria Lemos, Tombos, Porciúncula e Natividade, entre Minas e o norte do estado do Rio. Cheguei à noite, vi o movimento, o palco e ouvi a música. Ganhei um segurança na idéia e entrei de graça - dei a ele um par de brincos. E me encantei com aquele bluseiro cantando na minha língua, de forma tão bonita. Muito sentimento, muita entrega naquele som. A bebida era de graça, a maconha rolava solta, um clima de paz contagiante, circulei de grupo em grupo, acolhido com carinho em todos, sem nenhuma rejeição, sem nenhuma reserva. Depois das apresentações, bêbado, dormi embaixo do palco, num frio danado, coberto com álcool. Acordei com um sol enviesado na minha cara, ainda ouvindo a novidade daquelas músicas que eu não conhecia, querendo guardar sem saber como, sem saber que já estava guardada em minha memória e em meu coração.

Senti uma ligação forte com aquele cara que eu não conhecia, como se o conhecesse há muito tempo e estivesse reencontrando um irmão mais velho. Amor antigo, de outras vidas, de outros cantos. Era um trabalho de coração e o meu se irmanou com a alma do som. O cara emanava amor. Era a contraposição à decadência do rock, pasteurizado pela transformação em mercadoria promovida pela sede de lucros dos empresários. Eles estragam tudo com ganância, transformam em merda tudo o que tocam. Mas Celso seguia intocável na sua linha, um dinossauro de resistência ao impacto destruidor do mercado maldito.

Partiu mais um companheiro e eu me sinto só, triste, no deserto em meio às multidões. Vai parceiro, segue teu caminho, agora além da matéria física. Há coisas que não se pode entender, é preciso respeitar pra não entrar em crise. Amei muito tua passagem. Tava no direito de não querer tratamento, mas se eu pudesse teria te dito - precisava ir tão cedo? Neste momento sinto um enorme vazio no peito, lágrimas quentes me descem na cara, uma saudade inexplicável, pois não convivemos nada e, pra mim, tua música era tu mesmo.

Se eu pudesse, pediria pra se demorar um pouco mais. Sinto enormemente a sua falta, parceiro.

"As coisas são assim
pra quê se lamentar
se dentro de nós
sempre brilhará..."





http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=HgPsE_WVjTs

3 comentários:

  1. Ouvi essa música e achei forte e linda!
    Que ele tenha uma excelente viagem!

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  2. Eduardo,
    apesar de tanta baboseira na internet, foi exatamente através dela que conheci sua saga e ideologia.
    Parabéns pelo empenho!

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