segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Projeto Porto "Maravilha" - crime contra a população mais pobre. Nenhuma novidade.

Mais uma vez a gerência das grandes empresas e associações empresariais (conhecida como governo, como se o sistema fosse democrático) ataca os mais pobres em nome dos lucros dessa minoriazinha safada que controla suas marionetes político-jurídico-legislativas. O projeto chamado "porto maravilha", encabeçado por uma prefeitura eleita com financiamento de campanha de construtoras, imobiliárias e grupos empresariais, vem sendo realizado nas madrugadas. Ataques das forças de segurança às ocupações de prédios por desabrigados, em remoções violentas de famílias, idosos, crianças, deficientes, vítimas da violação pelo Estado da sua própria constituição por vidas inteiras, vêm sendo sistematicamente realizados. Na calada da noite, como assaltantes brutais, o "poder público" evita repercussões. A presença de jornalistas é proibida e algum incauto fotógrafo que se apresente na área, no momento do crime contra a população, corre risco de agressão, prisão e perda das suas ferramentas de trabalho, câmeras, filmes, gravadores...

No caso da Providência, é óbvia a intenção de reduzi-la a 30%, expulsando 70% dos seus moradores não interessa pra onde. Assim como é óbvio que um poder público com um mínimo de legitimidade submeteria qualquer interferência aos moradores da área, convocando assembléias gerais e submetendo a votação simples todas as decisões.

A área portuária ficou décadas esquecida dos empresários da construção e imobiliários, enquanto eles se ocupavam da zona oeste, Barra da Tijuca e cercanias, de grande e constante valorização. Daí as centenas de prédios abandonados na área do tal projeto. Ainda hoje se sente o abandono ancestral, quando se circula por essas áreas, entre a Francisco Bicalho e a praça Mauá, num sentido, e das docas à Presidente Vargas, noutro. Uma enorme área que precisa ser "revitalizada" - o que significa varrer os pobres, investir na infraestrutura e entregar a empresários para exploração, primeiro imobiliária e, depois, turística. Os mais pobres são riscados dos planos, devem ficar apenas o suficiente pros serviços de base que se farão necessários para o funcionamento posterior desse plano perverso. Casas de show, boates, restaurantes, hotéis precisarão de faxineiros, camareiras, cozinheiros, garagistas, seguranças, garçons... Ao que parece, 30% dos moradores basta. O resto, fora! Fodam-se, sumam da área, não interessa pra onde.

O real poder se revela, a cada instante, nas intenções que vazam pelas frestas das mentiras deslavadas, cada vez mais. É preciso estar muito entorpecido pra não perceber a natureza da estrutura social em que estamos e que nos rege. A mídia é muito eficiente na narcose da consciência coletiva, aliada à sabotagem educacional que desarma de senso crítico suas vítimas. Mas o número de inconformados que já não se deixa enganar tão facilmente cresce, os vazamentos não se estancam, ao contrário, aumentam em tamanho e número. O processo de despertamento está em curso, sob responsabilidade dos que estão despertando, aos poucos, e acordando pras mentiras que nos governam as vidas.





Acrescentado à postagem, em 15 de agosto

No documentário Distopia 21, é mencionado o medo ancestral da revolta dos escravos, hoje atualizado no medo de levantes dos pobres e miseráveis, excluídos do e explorados pelo sistema social vigente. Os exploradores e as classes médias, em sua maioria ideologicamente cooptados pelo controle da educação e das comunicações pelos economicamente mais poderosos -citados na mídia como "exemplos" de cidadão - temem uma revolta violenta porque eles mesmo seriam mortalmente violentos se fossem tratados da maneira com que fazem tratar a maioria. Por isso, temem a vingança da parte de baixo da sociedade, da qual dependem inteiramente, embora façam parecer o contrário. A idéia é de que se a favela descesse pro asfalto seria o caos, a barbárie. Ora, as periferias caminham para o centro (incluindo os bairros ricos) todos os dias, sem o que esses locais não funcionariam. Seria o caos se isso não acontecesse. No dia em que os pobres não saírem de casa, das periferias e favelas onde vivem, nada funciona, pára tudo, transportes, fábricas, construções, hospitais, escolas, empresas e mesmo as residências que dependem de pobres nas cozinhas, nas portarias, nos balcões, linhas de montagem, pra limpar, carregar as caixas, descarregar caminhões, conduzir, abrir as lojas, fazer funcionar a sociedade como um todo. Mesmo as forças ditas "de segurança" parariam nesse dia.

O trabalho de conscientização não pode se restringir aos movimentos sociais, sempre minoritários, aos partidos e organizações, acadêmicas ou não, que só alcançam minorias mais esclarecidas. É preciso trabalhar no dia a dia, em todos os lugares, nos ônibus, nas filas, na rua, nas comunidades, nos bailes, nos papos de boteco (ou birosca), nas escolas, em toda parte. Revolucionários que só atuam com seus companheiros de movimento, que desqualificam os que não lhes compartilham as idéias, se fecham em pequenos grupos e fazem "ações" que não mobilizam além de algumas dezenas em barulhentas manifestações que insultam as marionetes do real poder, mas não agregam consciência mais que buscam doutrinar de acordo com sua cartilha, não são revolucionários de verdade e ainda desmoralizam a idéia de revolução - afinal, servindo ao sistema, colaborando na construção de um cenário fajuto de "democracia". O conservadorismo os aponta dizendo "eles podem falar assim porque isso aqui é uma democracia". Clara mentira, propagada com sucesso pelo porta-voz da contemporânea barbárie, a mídia. A esses falsos revolucionários é permitido falar, gritar, insultar e provocar a polícia e a política porque, além de colaborar com a montagem da farsa, não têm capacidade de mobilização real, não falam a língua da maioria, são guetos pretensiosos que acreditam estar prontos pra conduzir as massas. Em sua cegueira, sua soberba e lacre mental, só conseguiriam conduzir massas se fossem entregar pizzas. Um pouquinho de humildade ajudaria enormemente. Esbarramos, aí, na natureza humana. Se não trabalhamos internamente, o trabalho externo, com a coletividade, se torna um simulacro, uma ilusão. É o que temos visto.

E depois essas divindades ideológicas culpam o próprio povo, por desinteresse, por "não se esforçar"- ignorando completamente o esforço hercúleo da sobrevivência sem condições decentes, sabotado em instrução, em informação e em cidadania. Não percebem sua própria incompetência em falar a língua da maioria, se expressam em academês ou politiquês - ver "Dicionário de Politiquês", de Vito Giannotti e Sérgio Domingues - e morrem de medo de favela, onde só entram escoltados por moradores já devidamente "catequizados" em seus "cursos de formação política", eufemismo pra doutrinação e subalternização ideológica.

                                                     Distopia 021


4 comentários:

  1. A violencia travestida faz seu trottoir

    http://www.youtube.com/watch?v=Tb-pmXPLC38

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  2. Muito bom artigo, Eduardo!
    O importante é continuar insistindo na necessidade de sair da alienação, maravilhosamente nutrida pelo sistema midiático - como sempre, aliás.

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  3. Eduardo, ao lê teu artigo e ao asistir o vídeo abaixo, me deparei com um acontecimento quase idêntico que estou passando! "Moro" no conj.habitacional MURIBECA, em jaboatão dos Guararapes,PE. E à alguns anos começaram umas histórias que os blocos (tipo caixão) estavam com as edificações comprometidas! Enfim, tudo mentira em que estão envolvidos o governo, a caixa econômica federal,e um bocado de gente do mesmo naipe. O que mais me entristece é que de todas as formas que pude tentei, junto com minha amiga, onde a mesma está respondendo a processo por esse motivo e não consiguimos quase nemhum êxito. Há duas semanas fui coagiada a deixar meu apartamento onde só quem estava ainda no prédio era eu e mais 2 vizinhos, o meu prédio não possui nenhum estrago aparente para que seja motivo de desapropriação,falo com clareza pois minha irmã é tec.em Edificações e a mesma nos confirmou. O"x" da questaão é que esse bairro, fica em uma rota muito visada de uns 3 anos pra cá, pois fica no eixo da rota do porto de suape! a quem diga que é viagem, ou algo do tipo. O que se sabe é que dezenas de pessoas já morreram de infarte dentro outras patalogias como depressão,por ser á única coisa que possuem na vida, não apenas o iomvel, mas a dignidade que tinham. Me indgno,frusto, e me sinto impotente perante essa situação. Sou estudante de jornalismo e ao tentar recorrer a algum veiculo, parece que foi pior, o que mostraram foi o oposto do que ocorre! Ou seja estamos no mundo de MEUDEUS!

    Não vou desitir de lutar até quem sabe um dia conseguir esclarecer de fato qual interesse dos orgãos envolvidos nessa sujeirada, apesar que pra mim é mais que óbvio, porém tenho medo de quem sabe quantas pessoas mais vão precisar padecer até algo vim a tona!

    #desabafo

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