segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Texto de natal - ou "Feliz Natal!" (republicando)

Lembrando que a data do nascimento de Jesus não é conhecida, e que 25 de dezembro foi decretado pelo Vaticano no ano de 854 para fazer frente às festas do solstício, dos povos do norte europeu, republico esse texto. No império romano o registro dos nascimentos era feito por ano. O dia não constava. Essa mentira teria caído por terra, se a invenção do papai noel não fizesse a festa dos comerciantes e dos industriais, no apelo irresistível ao consumo. A data se transformou na maior onda de consumo anual. A festa da alienação, da ignorância, do egoísmo, da indiferença com a situação de enormes parcelas da humanidade, da hipocrisia, da falsidade, momento de encontros para alguns, de ostentação e conflitos, para muitos, quando se finge ser feliz. O texto de Luiz Sepúlveda merece a republicação.

Bom proveito e abraços a todos,
                                                    Eduardo.


Por Luis Sepúlveda


Estimado Santa Claus, Papai Noel, Bom Velhinho,
ou como queira chamar-se ou ser chamado.

Confesso que sempre lhe tive simpatia porque, em geral, me agrada a Escandinávia, sua roupa vermelha me dá um sentimento premonitório e porque, por trás dessas barbas sempre acreditei reconhecer um filósofo alemão que, a cada dia, tem mais razão no que afirmou, em vários livros muito citados, mas pouco lidos.

Não tema pelo teor desta carta, não sou o menino chileno que, há muitos anos lhe escreveu: “Velho safado, no ano passado te escrevi contando que, apesar de ir descalço e em jejum à escola, consegui tirar as melhores notas e que o único presente querido era uma bicicleta, sem querer que seja nova. Não teria que ser uma mountain bike, nem para correr o Tour de France. Queria uma bicicleta simples, sem marchas, para ajudar minha mãe na condução das roupas que ela busca, lava, passa e entrega. Isso era tudo, uma humilde bicicleta. Mas chegou o natal e eu ganhei uma estúpida corneta de plástico, brinquedo que guardei e te envio com esta carta, para que enfies no cu. Desejo que pegues AIDS, velho filho da puta”.

Foram seus elfos, os responsáveis por tão monstruoso desrespeito? Pois bem, estimado Santa Claus, seguramente este ano receberá muitos pedidos de bicicletas, pois o único porvir que espera os meninos do mundo é como entregadores, mensageiros e trabalhos sem contrato de trabalho, condenados a distribuir pacotes e quinquilharias até os 67 anos de idade. No entanto, não lhe peço uma bicicleta. Peço, em troca, um esforço pedagógico, que ponha seus elfos, anões, duendes e renas para escrever milhões de cartas explicando o que são e onde estão os mercados.

Como você bem sabe, eles nos têm fodido a vida, rebaixado os salários, arrasado as pensões, retirado benefícios das aposentadorias e condenado as pessoas a trabalhar permanentemente, para tranqüilizar os mercados.

Os mercados têm nomes e rostos de pessoas. São um grupo integrado por menos de um por cento da humanidade, donos de 99% das riquezas. Os mercados são os integrantes dos conselhos de acionistas, como são acionistas, por exemplo, de um laboratório que se nega a renunciar aos royalties de uma série de medicamentos que, se fossem genéricos, salvariam milhões de vidas. Não o fazem porque essas vidas não são rentáveis. Mas a morte sim, é, e muito.

Os mercados são os acionistas das indústrias que engarrafam suco de laranja e que esperaram até que a União Européia anunciasse leis restritivas para os trabalhadores não comunitários, que serão obrigados a trabalhar na Espanha ou outro país da U.E., sob as regras de trabalho e condições salariais de seus países de origem. Logo que isto aconteceu, nas bolsas européias dispararam os preços da próxima colheita de laranja. Para os mercados, para todos e cada um destes acionistas, a justiça social não é rentável, mas a escravidão sim, e muito.

Os mercados são os acionistas de um banco que suspende o salário mínimo de uma mulher que tem o filho inválido. Para todos e cada um dos acionistas, gerentes e diretores dos departamentos, as razões humanitárias não são rentáveis. Mas os despojos, as expulsões da pobreza para a miséria sim, é. E muito. E para os ladrões de esperança, sejam de direita ou de direita – pois não há outra opção para os defensores do sistema responsável pela crise causada pelos mesmos mercados –, despojar da sua casa aquela senhora idosa foi um sinal para tranqüilizar os mercados.

Na Inglaterra, a alta criminosa das tarifas universitárias se fez para tranqüilizar os mercados. O descontentamento social levará a ações inevitáveis pela sobrevivência e os mercados pedirão sangue, mortes, para tranqüilizar seu apetite insaciável.

Que seus duendes e elfos expliquem, detalhadamente, que no meio desta crise econômica gerada pela voracidade especulativa dos mercados – e pela renúncia do Estado a controlar os vai-véns financeiros –, nenhum banco deixou de ganhar, nenhuma sociedade multinacional deixou de lucrar e até os economistas mais ortodoxos das teorias de mercado concordam em que o principal sintoma da crise é que os bancos e as empresas multinacionais lucram menos mas, em nenhum caso deixam de lucrar. Que os elfos e duendes expliquem até ficar claro que foi o mercado quem se opôs a (e conseguiu eliminar, financiando campanhas de legisladores a seu serviço - n do T) qualquer controle estatal às especulações, mas agora impõem que o Estado castigue os cidadãos com a diminuição dos seus rendimentos.

E, por último, permita-me pedir-lhe algo mais: milhares, milhões de bandeiras de combate, barricadas fortes, paralelepípedos maciços, máscaras anti-gases, e que a estrela de Belém se transforme numa série de cometas incandescentes com alvos fixos: as Bolsas, que queimem até os alicerces, pois as chamas dos formosos incêndios nos dariam, ainda que temporariamente, uma inesquecível Noite de Paz.

Muito fraternalmente


Fuente: Le Monde Diplomatique                                                                     Tradução - Eduardo Marinho

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Como a mídia manipula a opinião pública para manter sua ditadura

Segue a nojeira comunicacional das nossa sociedade. Desentorpecer é um processo necessário, que está acontecendo apesar das resistências, tanto das empresas de comunicação, quanto pela mentalidade alienada por eles imposta às coletividades.

Pra eles, é vital manter o monopólio e reduzir a comunicação popular ou independente à criminalidade mentirosa. É triste ver pessoas se acharem informadas por assistirem os pseudo-jornais dessa mídia safada, mentirosa, sem vergonha, etc, etc, etc. Mas a blindagem das comunicações está vazando, cada vez mais, já se consegue informações para além da mídia. E as artimanhas dessas empresas se desmoralizam, muito pouco a pouco pro meu gosto, mas em ritmo cada vez mais acelerado, em toda parte.



http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/12/para-entender-o-xadrez-da-politica.html

A Guerra das Empresas contra os Povos - batalhas de Porto do Açu, norte fluminense

Impossível não se comover com o sofrimento dessas pessoas com a truculência do Estado, que ataca e destrói seus direitos para beneficiar o podre de rico. Toda uma população de agricultores está sendo removida das suas terras - onde nasceram e vivem há gerações.

O desvio de função das forças de segurança é um processo instalado há muito tempo. Os pretextos ofendem a inteligência. Os motivos reais despertam os piores sentimentos (inflamam a indignação, como dizia Che Guevara).


A mídia comercial privada, chamada de "grandes meios de comunicação", é desmascarada pelo encarregado da ONU para liberdade de expressão e imprensa

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) é uma sociedade das empresas privadas de comunicação, fundada na Cuba da ditadura de Fulgêncio Batista, então um cassino dos milionários e das celebridades estadunidenses, em 1943. Vinculada à Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), tinha e tem como objetivo o monopólio das comunicações para a distorção da realidade e para o condicionamento das populações, pelo uso massacrante da psicologia do inconsciente (ver O Século do Ego, programa em cinco episódios produzido pela BBC de Londres na década de 80), para formar padrões de comportamento, valores, visões de mundo, desejos e objetivos de vida que favoreçam a gradativa concentração de poderes nas mãos dos poucos beneficiados por essa estrutura social insana.

Esses meios de comunicação são porta-vozes e servidores dos inimigos da humanidade.

No vídeo, os "jornalistas" desses meios criticam a lei de mídia criada na Argentina, que limita o poder desses conglomerados midiáticos. Liberdade de empresa, para mentir, distorcer, caluniar e incitar a opinião pública contra o que seria o próprio interesse público, na boca dessas marionetes são a "liberdade de imprensa". A hipocrisia criminosa e muito bem paga é de causar repulsa indignada. Escondendo a tradicional promiscuidade entre empresários e associações patronais com políticos, legisladores e magistrados, eles falam na promiscuidade entre líderes sindicais e o governo argentino para atacar a "liberdade" das empresas privadas. É a solidariedade entre os exploradores, entre empresas irmãs de crimes, em outros países.

A comentarista da globo é a expressão da mentalidade dos seus patrões, de um reacionarismo conservador empedrado, arrogante e raivoso. Impressionante como sua expressão se assemelha mesmo a um leitão. Quando ouço a expressão "imprensa livre" na boca desses fantoches, sinto nojo, sinto a falsidade. E a consciência do alcance das suas mentiras me causa uma enorme repulsa e o questionamento da humanidade destas pessoas, insensíveis ao sofrimento de enormes parcelas da população - perversidade em alto grau exigida e muito bem paga pela mídia comercial. Honestos ali não têm vez.

A distorção da realidade é a prática cotidiana dos "grandes meios de comunicação". Com profissionalismo cênico, ne verdade defendem o predomínio dos podres de ricos sobre as sociedades, em franca ditadura dos mais endinheirados no sacrifício de populações inteiras para manter seus privilégios e destruir direitos.

No final do vídeo, é um prazer assistir ao locutor marionete mor ser obrigado pela justiça a ler um texto do Brizola sobre o papel do "jornalismo" privado, no "horário nobre".


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Malucos de Estrada - os remanescentes do que se chamou o "movimento hippie" no Brasil

Em 1980 "peguei a estrada". Desde essa época, convivi com a repressão institucional permanente, a discriminação social e a estranheza geral. COm os anos, os filhos foram nascendo e a nossa mobilidade tinha que ser imensa, mudando de lugar - de cidade, de região - a cada vez que as dificuldades impossibilitavam uma vida digna. Para comer bem, abríamos mão da moradia e tínhamos que nos virar pra resolver os probleminhas cotidianos, viajando de carona, cidade em cidade. Uma vida dura, embora rica de experiências, vivências e aprendizados.

Perdi a conta de quantas vezes fui atacado pelas forças de segurança - indiferentes ao meu princípio de não causar prejuízo ou qualquer tipo de mal às pessoas -, tive meus trabalhos tomados violentamente, apreendidos sem condições de recuperá-los, tendo que começar novamente do zero. Injustiças cotidianas com os que tentam levar a vida de forma diferente do modo angustiante e sem sentido que nos impõem - é a estratégia de um Estado controlado por grandes empresários, onde se plantam idéias criminalizadoras contra todos os que não se submetem a esse esquema tirânico que inferniza o mundo. E que só é interessante pra os poucos ricos, que usufruem da exploração do trabalho, dos luxos e excessos que custaram os direitos da imensa maioria, roubada em instrução e em informação - pra não permitir condições de entender e reagir.

Consegui superar a revolta, mas é uma sensação estranha você estar lutando com tantas dificuldades pra ter uma vida menos vazia de significado, pra resistir às imposições convencionais, pra sobreviver, e ter o fruto do seu trabalho tomado por pessoas uniformizadas, sob a proteção de armas e da própria lei - com base nos tais "códigos de postura" dos municípios que violam a própria constituição federal. Afinal, as guardas municipais seguem antes as leis municipais que a constituição, que eles nem conhecem.

Esse filme que se propõem a realizar é um marco na história nunca contada dessa enorme e heterogênea coletividade que se lançou nas estradas, ao nomadismo, à contraposição ao esquema convencionado como o único possível. Infinitas histórias diferentes, com o denominador comum da repressão, da estranheza e da discriminação. E da resistência, da criatividade e da insubmissão, pra seguir vivendo.

Aqueles que puderem ajudar essa realização, estarão contribuindo pra lançar luz nessa parte tão obscura da nossa história cultural, nessa realidade tão desconhecida e tão marginalizada, com o trabalho da mídia e das instituições que sempre desqualificam e perseguem aqueles que não seguem os padrões impostos. Será um filme precioso. Até pra entender alguns modos de ação dessa nossa sociedade tão injusta, hipócrita, covarde, genocida e suicida.

Abraços a todos,
                           Eduardo.


O Estado contra Milton Santos - o assentamento.

A comunidade do assentamento Milton Santos está ameaçada pelo Estado de extinção. Mais um crime de Estado contra sua população, em favor de interesses empresariais no monocultivo de cana e o de soja. Perdem as 68 famílias, perde o meio ambiente, perdem escolas e casas de assistência públicas em várias cidades vizinhas, em alimentos orgânicos, isentos de agrotóxicos ou fertilizantes químicos, para beneficiar uns poucos. Um lugar comum, um procedimento cotidiano neste modo de sociedade. Só que dá tempo de pressionar pelo assentamento Milton Santos, peço a quem puder pra divulgar, mobilizar, pressionar de todas as maneiras possíveis, pra impedir mais esse absurdo. Agradeço. Abaixo, o link do vídeo, não consegui transpor pra cá.

 http://brasil.indymedia.org/media/2012/12//514586.mp4

O blogue do assentamento com informações - http://www.assentamentomiltonsantos.com.br/

 Abaixo o documentário do Milton Santos, feito por Sílvio Tendler. Eu já o tenho postado neste blogue, mas nunca é demais, porque é muito esclarecedor - perdi a conta das vezes que assisti a esse filme, é muita informação e é bom lembrar sempre. Foi fácil porque tava no iutube, o vídeo do assentamento tá em outro lugar, ou outra coisa, sei lá. Só deu pra postar o link, espero que funcione.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Aviso aos amigos do sul - Mixou a viagem.


Acabo de saber que minha participação no evento Aldeia Caiana, em Santa Cruz do Sul, foi suspensa. Segundo Joe Nunes, que tá nas cabeças do evento, a universidade suspendeu a grana das passagens e os sindicatos patrocinadores retiraram a grana prometida ao evento, em retaliação às manifestações contra a administração da cultura no município. É essa politiquinha que rege nossa sociedade e ainda tira onda de ser popular. Papo pra otário.

Lamento muito por não poder rever tanta gente boa que conheci por aí. Foi uma ducha gelada. Se eu tivesse grana pras passagens, pagaria de bom grado. Mas não é o caso.

Deixo aqui minha saudade desse povo guerreiro, essa moçada que luta por lucidez num mundo entorpecido.

Abraços a todos,
                            Eduardo.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Retalhos de pensamentos costurados

Vídeo apresentado pelo blogue pensadores compulsivos, em setembro de 2012. São trechos dos meus escritos, garimpados em várias localizações. É pra dar o que pensar, e o pensar é pra dar o que mudar. De dentro pra fora as mudanças nascem com raizes fortes. Antes de pretender mudar o mundo, é preciso mudar por dentro, limpando os condicionamentos implacáveis, meticulosamente trabalhados no inconsciente coletivo, desde cada indivíduo. Um trabalho monstruoso, constante, nas estruturas mentais, sociais, culturais, econômicas, políticas...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Islândia como laboratório social - merece estudo (não se espere que a mídia mostre)


A Islândia é um país que pouco aparece nos noticiários. Fica ao norte da Europa e tem pouco mais de trezentos mil habitantes. Lá tá rolando uma experiência social que o mundo inteiro deveria se debruçar pra observar, mas que a imprensa mundial esconde em nome dos interesses dos poderes financeiros mundiais, que sustentam todo o aparato de comunicações e os seus barões da mídia, vassalos de primeira linha. As mudanças impostas pela população islandesa (ou islandense?) são de cair o queixo, ainda mais da forma que foram feitas, sem lideranças, sem hierarquia. Aquele nível de consciência é o terror dos grandes vampiros.

O país, sob um governo tipo neoliberal, comprado pelos poderes econômicos, tinha ido à falência diante das imposições do FMI e companhia. Empréstimos gigantescos haviam sido feitos e deveriam ser pagos com o sacrifício do povo, cortes de direitos no trabalho, de verbas na educação, na saúde, privatização comendo solta, aquela velha história que todos conhecemos na própra pele.O povo andava nas filas, até de comida. A estrutura da Islândia entrou em colapso. Os recursos se esvaíam pra pagar dívidas públicas com os bancos internacionais e como sempre, o primeiro a sofrer é o povo.

Mas a população se organizou num movimento organizado, sem lideranças e com permuta nos cargos da organização. Assim, foi às ruas, ao governo e aos parlamentos, tomou os poderes, levantou um plebiscito, pressionou os parlamentares e deu uma banana pros banqueiros. Vocês que fizeram a dívida, vocês que a paguem. No dinheiro do povo não se toca.

Então as pessoas desatrelaram os poderes financeiros, FMI e a corja toda, e tomaram conta da situação. Perceberam o quarto poder, o financeiro-midiático, o "poder da riqueza", enquadraram com leis, limitaram "doações" a partidos e estabeleceram transparência. Pararam com a destruição do meio ambiente, em nome do lucro. Os movimentos não tinham líderes, mas impuseram uma constituinte que se baseou na da Bolívia e do Equador no trato com a natureza, com um respeito muito acima dos interesses financeiros. O processo tá detalhado no filme abaixo.

Pessoas físicas não podem ser proprietárias de meios de comunicação "para não fazerem lavagem cerebral nas pessoas, como fizeram antes". Houve a preocupação de tornar as informações totalmente acessíveis, pra que todos pudessem saber o que acontece no país.

Houve a estatização dos setores estratégicos. "Se deixarmos todos os recursos em mão privadas, vamos perder todos e nunca mais os veremos."

Na reestruturação da sociedade, "não demos tanta atenção ao colapso, ou ao problema financeiro em si. Nós nos concentramos mais nos motivos que deram origem. Se deseja liberdade, tem que assumir a responsabilidade."

Os "clubes de poder" dos biliardários foram detectados, como também a tendência, caso a população não se organizasse pra exercer o poder, de haver conflitos, massacres de cidadãos em protesto contra as más condições de vida, pelas forças de segurança, perigo de "guerra civil, de sangue nas ruas".

Injetou-se sangue do povo no parlamento, com membros escolhidos aleatoreamente, sem curso superior porque eram a maioria e conheciam a realidade popular, porque perceberam que essas pessoas tinham "a tendência de se posicionar sempre a favor da população", avessos aos jogos políticos de interesses e vaidades do poder.

Esse filme devia passar nas universidades. Mas as instituições não farão isso. Alguns professores, talvez.
Na minha opinião, deveria ser dublado pra passar nas periferias, entre a população.

Tachos, Panelas e Outras Soluções

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mentiras cotidianas




O prefeito do Rio diz que as 199 comunidades pobres situadas em área de valorização imobiliária serão retiradas "porque estão em área de risco".
O governo do estado afirma que a construção da barreira feita ao longo da linha vermelha, eixo de ligação do aeroporto internacional com o centro do Rio, tampando a visão do enorme complexo de favelas da Maré, tem como intenção proteger os ouvidos dos moradores do “ruído” do trânsito da via expressa.
Israel diz que atacou 80 focos terroristas nesta noite de domingo pra segunda. Havia “terroristas” de até alguns meses de idade, mulheres, velhos, deficientes, ...
A polícia se instala nas favelas mais “visíveis” do Rio com unidades que foram denominadas “polícia pacificadora”, como se a polícia tivesse sido pacificada.
Os ataques constantes às comunidades pobres e aos camelôs do tráfico de drogas são chamados de “combate ao tráfico”.
Cuba é uma ditadura sanguinária, embora exporte professores e médicos aos lugares mais pobres do planeta, tenha o menor índice de mortalidade infantil e analfabetismo das Américas e o maior índice de escolaridade da região, sendo isenta de miséria e abandono, de desabrigados e de desatendidos na saúde pública gratuita.
Hugo Chávez é um ditador, embora tenha passado por eleições, plebiscitos e referendos, tenha renunciado à presidência depois de aprovada a constituição bolivariana pelo congresso e pelo povo, no voto direto, sendo reeleito em seguida em eleição fiscalizada por centenas de observadores internacionais. Chega a duas dezenas a quantidade de votações diretas na Venezuela desde a primeira eleição de Chávez, das quais o governo perdeu duas. Mas é uma "ditadura" pétrea, denunciada pela mídia privada que se diz democrática e se alinha com os USA.
Nos metrôs, barcas e ônibus superlotados se lê cartazes dizendo que a maior preocupação das empresas de transporte é o bem estar dos passageiros.
A prefeitura do Rio estampa a frase “contra a injustiça”, num painel enorme sobre a fachada do prédio, falando contra a divisão dos royalties do petróleo, enquanto na mesma região da cidade se vêem legiões e legiões de desabrigados, mendigos e outros abandonados da sociedade.
O agronegócio afirma produzir alimentos para o povo brasileiro, embora exporte mais de 90% da sua produção (o resto vai pra indústria alimentícia), trocada por dólares, e ataca a agricultura familiar, que produz mais de 70% do que se come no território nacional e é base de luta pela reforma agrária.
As áreas de ausência do Estado, as comunidades pobres, são chamadas de “território perigoso” para justificar seu abandono.
O mundo é apresentado aos jovens como um grande “mercado” dividido entre o trabalho e o consumo, e a razão da existência é constituir patrimônio e consumir. Todos são competidores e é cada um por si nesta vida. Não se pode confiar em ninguém.
O valor pessoal é apresentado pelo nível de propriedade e capacidade de consumo, não pelo caráter, pelos sentimentos, pela participação na coletividade, pela generosidade, pela integração humana.
Execuções são justificadas por “autos de resistência” que não são investigados.
Empresários afirmam que são bons por “darem empregos”, enquanto se servem de mão de obra farta e barata em meio ao desemprego, evitam de todas as formas assumir obrigações trabalhistas e exploram até o talo as pessoas desesperadas que conseguem uma vaga de escravo na “terceirização”, a atual escravidão, mais barata do que quando se sustentavam os escravos legalmente.
Expressões como “chegar lá”, “ser alguém”, “vencer na vida” tomam ares de objetivo de vida, como verdades incontestáveis, enquanto são fonte de angústias e sentimentos de derrota na maioria das pessoas que, segundo essa linha “filosófica”, devem se conformar com sua inferioridade.
São incontáveis as mentiras a que somos submetidos, como aos dogmas religiosos. E nós vamos aí, comendo essa farinha podre. E pior, muitos se convencem e repetem essas mentiras. 
Mas muitos não, e são cada vez mais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Covardia contra a Aldeia Maracanã - são as grandes empresas, como sempre, manipulando seus fantoches políticos pra saquear o patrimônio público.

O antigo Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro junto com várias lideranças dos povos originários, é a Casa do Índio no Rio de Janeiro, que tem hoje o nome de Aldeia Maracanã. A posse foi oficialmente dada a eles há muitos anos, e o poder público abandonou a casa, a idéia e as pessoas à sua própria sorte. A existência dessa aldeia, a ocupação desse espaço pelos nativos locais, desde antes dos europeus chegarem, contraria interesses empresariais. Como o Estado e a coisa pública são controlados pelos grandes ricos da sociedade, esse punhado que anda de helicóptero e põe o serviço público a seu serviço, a Casa do Índio foi se deteriorando - na certa com a torcida empresarial para que caísse. Mas a resistência existe.

O atual governador (devo dizer gerente) está empenhado em atender a demanda dos seus financiadores de campanha - tranformar esse reduto cultural, a primeira casa dedicada à cultura indígena na América Latina, num estacionamento para o chópim-center que será construído no Estádio Mário Filho, o Maracanã. O cúmulo da insensibilidade, do descaramento, da falta de respeito e da hipocrisia.

Falam em desenvolvimento... que porra de desenvolvimento é esse que só existe na matéria? Não se desenvolve a alma, não? Não dá vergonha a continuação do massacre secular, sempre por interesses materiais, nisso que chamam de riquezas, mas que empobrece escandalosamente o espírito? Somos uma civilização muito sem-vergonha, mesmo.

Falam em atraso dos índios... no entanto nas sociedade indígenas não há abandonados, não há privilegiados e sacrificados, a miséria e o excesso são desconhecidos e indesejados, por desnecessário. Exatamente a busca do excesso está na raiz das crueldades sem conta que se praticam todo dia, em toda parte. A ânsia por muito mais do que se precisa é causa primária da estrutura social em que estamos, onde a vida é uma arena onde todos são adversários, não existe solidariedade e tudo se resume no mercado de consumo e no mercado de trabalho - com o martelar de entretenimentos vazios pelo meio, pra servir de válvula de escape e ajudar a alienar o pensamento, a confundir a realidade. Não há moral pra falar da sociedade indígena, em uma sociedade tão injusta, perversa, covarde, genocida, ecocida e suicida.

A liminar que impedia a remoção dos índígenas de várias etnias da Aldeia Maracanã - e a demolição da casa - foi derrubada ontem e o governador tratou de reafirmar a intenção de retirar as pessoas que resistem lá, há anos - a ataques, ameaças, incêndios criminosos, bombas atiradas de madrugada, sabotagens e terrorismo cotidianos. Uma covardia descarada, mas é preciso acalmar os empresários que sofrem por ainda não terem construído o tal estacionamento. Afinal, eles investiram muita grana nas eleições, agora querem a contrapartida. A lei - ora a lei -, a única lei que esses caras reconhecem é a lei do mercado. E usam o jurídico pra dar um aspecto legal aos seus crimes morais. Contratam advogados que são verdadeiros malabaristas de leis. O que não é difícil, pois no direito romano que estrutura a legislação brasileira, patrício se dá bem e plebeu se fode.




(...)

Ontem, segunda-feira, dia 13 de Novembro, foi cassada a liminar que impedia a demolição do antigo Museu do Índio e protegia os índios da Aldeia Maracanã que lá residem. A Aldeia Maracanã é uma comunidade indígena multiétnica que já há 6 anos ocupa aquele espaço, abandonado pelo poder público, de forma construtiva, promovendo eventos culturais, preservando e tornando acessível a cultura indígena. Funciona como centro de referência para os inúmeros índios que chegam ao Rio de Janeiro, do Brasil inteiro, em busca de estudo e emprego. A queda da liminar representa uma ameaça da iminente retirada dos índios que lá moram. E, consequentemente, uma ameaça às suas vidas, uma vez que eles já se estabilizaram no local e não tem para onde ir. O próprio prédio -centenário - tem valor histórico e cultural inestimável, tendo funcionado como o Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro e em operação até a década de 70 (hoje se encontra em Botafogo), e marcando os passos do Marechal Rondon.
Vale ressaltar, apesar da falta de verba para reforma, que o prédio está, na medida do possível, conservado e bem utilizado. Segundo o defensor público André Ordacgy, existe um laudo do IPHAN a favor da preservação do prédio, assim como um laudo do CREA afirmando que a reforma é possível.
Uma ocupação na própria aldeia, a favor da permanência dos índios e do prédio, está sendo organizada e em processo de efetivação. Pedimos, então, a cobertura da mídia como forma de dar visibilidade à manifestação e fazer pressão ao governo estadual e municipal, mostrando a posição contrária às remoções para a sociedade civil (esta que não foi consultada quanto às obras em nenhum momento).
Mando o contato de dois dos representantes da Aldeia:
Afonso Apurinã: 8362-1472
José Guajajara: 9504-7517

(Breno)

No vídeo abaixo, depois de apresentar a casa, termina apresentando um texto em que aparece a empresa interessada na demolição, IMX. Sabe-se que terminam em X as siglas das empresas do podre de rico Eike Batista, o mesmo que está financiando Unidades de Polícia Pacificadora em locais estratégicos. Com que interesses, não é difícil imaginar. Mas é um notório financiador de campanhas, o "investimento" mais seguro que existe e de maior retorno imediato em obras superfaturadas, em utilização das forças de segurança pública para a "limpeza" dos locais onde haja interesses empresariais (leia-se a remoção dos pobres, com direito a gases tóxicos, pancadas a rodo, tiros de borracha e o cacete. Diálogo gravado pela polícia federal revelou o conselho de um rico empresário a outro - "investe 30 milhões em campanhas e você tem 300 milhões em obras públicas pro ano todo". Esta é a sociedade em que vivemos. Vergonha de participar disso, não posso ser "normal" nessa merda social. Essa civilização é a própria barbárie. Com altas e baixas tecnologias, a alma é esquecida.
Com a exigência legal de audiência pública a respeito da privatização do Maracanã, o governo monta uma farsa e tenta ignorar a sólida oposição moral à entrega de mais esse patrimônio público à avidez empresarial por lucros a qualquer custo. Não só a Aldeia Maracanã, com a Casa do Índio, mas uma escola pública também está destinada, por esse governo-gerência, à demolição, para abrir espaço aos lucros tão ambicionados pelos financiadores de campanhas eleitorais, donos de políticos, sejam legisladores ou governantes.
Isso não é o Brasil, nem representa mais que a parte menor e mais doente da sociedade. Os governantes, os "representantes" do povo, são comprados nos balcões eleitorais. Não é de se estranhar que as ditas "políticas públicas" sejam decididas por empresários, nos bastidores das campanhas e no ar condicionado dos gabinetes. E há idiotas que responsabilizam a própria população, deliberadamente sabotada em instrução, em informação, altamente narcotizada pela mídia e pelo massacre publicitário, conduzida como gado aos infernos das suas vidas. Uma demonstração de cegueira e impiedade. As estratégias de controle, condução e repressão estão aí, no cotidiano, no dia a dia, em toda parte, explícito ou subliminar, declaradamente ou pelo inconsciente.

sábado, 10 de novembro de 2012

O silêncio, nada inocente, do Programa Nuclear Brasileiro


101112 mina Uranio
Foto: Mina de urânio em Caetité, no estado da Bahía, única em produção da América Latina

Brasil - Portal em Pauta - [Zoraide Vilasboas]

Dois acidentes, graves, em menos de um mês, expõem, mais uma vez, as vulnerabilidades do Programa Nuclear Brasileiro. Mas as autoridades responsáveis não saem do "sapato alto".
Vale tudo pra tentar reforçar a cortina do silêncio, com a qual tentam blindar os crimes ambientais praticados a 757 km de Salvador, pela unidade de exploração de urânio da Indústrias Nucleares do Brasil –INB, em Caetité, onde começa o ciclo de produção da cara e perigosa energia atômica, que ameaça a sobrevivência da humanidade, como vem alertando as várias catástrofe nucleares ocorridas no mundo (Chernobyl, Fukushima, etc.), deixando em seu rastro a letal contaminação radioativa.
Sexta-feira passada (2/11/2012), os operadores da INB enfrentaram, de forma precária, como é habitual, novo desafio. Estancar um vazamento de ácido sulfúrico que estava sendo drenado de um tanque, que estoca 100 mil litros do produto, para uma das bacias que armazenam licor de urânio. A tubulação do ácido furou e, com as chuvas, a contenção não resistiu. O ácido foi parar no reservatório de água pluvial, que é pequeno e, quando chove, costuma transbordar para o meio ambiente. Desde o acidente, a produção está paralisada. Vazamentos de ácido sulfúrico são corriqueiros na planta da INB.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Domínio público - documentário importante precisa de ajuda pra existir




Esse filme revela os por trás dos acontecimentos, traz à mostra a realidade por trás da realidade em que a maioria acredita. São revelações necessárias, raras, que tratam com todas as dificuldades que o sistema põe em seu caminho. Uma iniciativa pra se apoiar, de humanidade, de inconformação, de solidariedade.

Abraços a todos,
                             Eduardo.




Domínio Público

"Esse documentário começou a ser filmado há um ano atrás, de forma independente, com pouquíssimo recurso conseguido através da produção de um evento cultural. A equipe abriu mão de seus salários e os equipamentos foram cedidos gratuitamente. Percorremos as comunidades do Vidigal, Vila Autódromo, Providência, toda a Zona Portuária do Rio de Janeiro e o Maracanã, obtendo diversas imagens, entrevistando muitos moradores, participando de reuniões, debates e conflitos. Além disso, entrevistamos o professor Carlos Vainer do IPPUR/UFRJ, pesquisador sobre megaeventos, o Deputado Estadual Marcelo Freixo e o Deputado Federal Romário. Para entrevistar esse último, tivemos que nos deslocar de carro até Brasília, aproveitando a ocasião para fazer algumas imagens da cidade e das obras do estádio Mané Garrincha. Nesse período, investigamos para onde estão indo todos os bilhões investidos no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, visando a Copa do Mundo e as Olímpiadas. Está muito claro para nós, que grande parte desse dinheiro sairá dos cofres públicos e servirá para enriquecer um grupo muito restrito de empreiteiros, políticos, bancos e empresários envolvidos com esses megaeventos. O legado que vai ser deixado para a população é muito pequeno. E o pior de tudo: várias comunidades estão sendo removidas, ilegalmente, das áreas de forte interesse imobiliário para periferias distantes, sem nenhuma infraestrutura e dominadas por milícias fortemente armadas e extremamente violentas. Se você pensa que pode fazer algo para mudar essa realidade e não sabe o quê, colabore com o nosso projeto, onde o roteiro está aberto e podemos mudar o final dessa história. A sua doação vai ajudar na produção e divulgação dessas informações, incentivando a participação da população nas decisões sobre o seu futuro. Precisamos de 90.000 reais, o que ainda é pouco, pois queremos filmar muito mais, finalizar um longa-metragem, divulgar na internet e exibir nas ruas, praças e comunidades através do Cine Ataque. Acreditamos que o nosso vídeo pode chamar a atenção da sociedade para as injustiças que estão sendo cometidas contra o povo brasileiro. JUNTOS, NÓS PODEMOS INTERVIR NESSA REALIDADE. PARTICIPE !!!! ACESSE: catarse.me/dominiopublico"

Fausto Mota, Raoni Vidal e Henrique Ligeiro



http://www.facebook.com/ProjetoDominioPublico 



PARA ASSISTIR O FILME E DOAR, ACESSE: 

www.catarse.me/dominiopublico 



Texto da postagem de 20 setembro


Acabei de assistir esse vídeo, precioso por sua raridade, por seu ponto de vista do chão da sociedade onde toda a estrutura se sustenta.  

A coisa toda é simples demais. Os mais ricos dos mais ricos dominaram a sociedade. Pressionam o supremo tribunal, o congresso, as câmaras legislativas, mandam em governos, dispõem de farto apoio dos organismos públicos, dominam as comunicações, fazem a cabeça do povo pobre, das classes médias e das elites subalternas. Induzem comportamentos e valores que sustentam todo o sistema, esvaziando a vida de qualquer sentido além do consumo compulsivo, a busca de riquezas, a competição permanente, os preconceitos, as divisões, as rixas e disputas. A estrutura social se alimenta dessas coisas. E nós pagamos o preço em angústia, colaborando inconscientemente, sem questionar se nossos valores são mesmo criados por nós - ou são induzidos pelas convenções e pela psicologia do inconsciente, muito usada pela publicidade, além da própria educação -, se queremos realmente viver como vivemos e senão, por que vivemos assim, quais são as causas dentro de nós, como foram e são produzidas desde fora - por cabeças estudiosas das entranhas do inconsciente - e o que podemos fazer pra acabar com elas. Senão na sociedade toda, pelo menos em nossas vidas, cada um na sua. E estaremos fazendo por nós e pelo mundo. 

A mentalidade empresarista está entranhada no dia a dia, no palavreado, nos valores, nos comportamentos. O primeiro passo é perceber em nós mesmos. O resto é conseqüência, a vida dá seqüência.

Merece apoio quem trabalha com a busca da verdade, com a humanização da sociedade, pelo esclarecimento e conscientização das pessoas, em todos os níveis. Esse é um trabalho merecedor.

Divulgue-se.

Abraços a todos e bom proveito. 

O documentário (em curta) completo, no vimeo:
https://vimeo.com/49419197

Darcy Ribeiro, o brasileiro.

Darcy Ribeiro, o guerreiro sonhador
(documentário)

"O que eu tenho pelo Brasil é exaltação, de sentir tudo o que ele pode ser, vai ser, há de ser, e tudo o que ele ainda não é. Eu tenho pena de... nos meus anos (de vida) eu fiz força pro Brasil dar certo... eu tenho pena de, eu ando meio doentinho, posso até morrer, e ficam vocês encarregados de fazer esse país. Mas façam, façam!, sem copiar ninguém, realizando as potencialidades do nosso povo, potencialidades que são imensas, uma civilização tropical, uma civilização mestiça e, sobretudo, uma civilização humana, que herdou dos índios essa capacidade e esse talento pro convívio, dos negros essa espiritualidade, e dos europeus a tecnologia e a sabedoria européia. Nós estamos prontos pra ser uma das CIVILIZAÇÕES do mundo." D.R.






O Povo Brasileiro 

Documentário em dez capítulos sobre a formação do povo brasileiro em grande quantidade de nuances. Imagino que o formato se deva à intenção de fazer aulas. Aulas de Brasil, o verdadeiro, a população, sua formação, seu jeito, sua história. Vale demais, é visto de menos.
Baseado no livro do mesmo nome, uma das últimas obras do mestre, já condenado à morte por um câncer, consciente da sua situação e com pressa. Depois de conseguir sair do hospital, ele produziu mais cinco livros, nos dois últimos anos de vida. Um guerreiro de verdade. Uma obra inestimável e que permanece sem divulgação, pois vai no sentido de criar amor próprio e autonomia, de criar consciência e sentimentos de identidade, noção do próprio valor e da própria capacidade. Tudo o que não interessa aos exploradores, aos beneficiários da ignorância, da miséria, da exclusão e da exploração. Mas sempre há quem espalhe por aí. Cada vez mais.

















quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Rafael Correa por Julian Assange - os poderes por trás dos "poderes", as informações por trás das "informações"

Julian Assange é pioneiro do Wikileaks, o saite que leva a público as tramas dos intestinos dessa realidade que vivemos, documentos, telegramas, comunicações escondidas, envolvendo crimes contra soberanias, populações, governos, traições, mentiras dos meios de comunicação de massa, campanhas mentirosas, etc. Há uma publicação a respeito dele neste blogue. Provavelmente mais de uma.

Obviamente é perseguido sob qualquer pretexto para que se cale. Está refugiado na embaixada do Equador, em Londres, cercado pela polícia londrina, que ameaçou mas não se atreveu a invadir a representação.

Ele mantém um programa de entrevistas e, neste, entrevistou Rafael Correa.

Rafael dá um espetáculo de clareza e concisão. Tem espírito o cara.

Começa falando das relações com os Estados Unidos, explica depois a expulsão da embaixadora, coisa escondida por nossa mídia que tratou o assunto como uma loucura ou tirania do governo do Equador - não assisti, apenas suponho.

Explica também aquele movimento policial que chegou a fazê-lo refém por uns momentos. A infiltração da CIA nas forças de segurança é impressionante, embora não surpreendente. É prática cotidiana nas atribuições que esta agência se dá, ao violar soberanias no interesse das empresas que comandam seus governos. Sua existência é conhecida, reconhecida, denunciada, desmascarada inúmeras vezes na história mundial. Não há país latinoamericano que tenha escapado disso.  E nenhum se livrou por completo, apesar de vermos processos avançados, sempre malditos pelas mídias privadas do mundo inteiro - Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e alguns países caribenhos formam a ALBA, alternativa de união para mútuo apoio e criação de independência econômica e política das imposições de sacrifícios às populações para benefício do punhado mais rico, acostumado a fazer e desfazer, de acordo com seus interesses, o que bem entendem com as sociedades.

Rafael Correa comenta o assunto crucial que tenho levantado. Acredito ser determinante, neste estado de barbárie, a atuação da mídia, das comunicações controladas por interesses econômicos. O governo do Equador apresentou ao congresso uma proposta que divide o espaço das comunicações em três setores iguais. Um terço para a mídia comercial, outro terço para atividades comunitárias e o último para o poder público, incluídos os poderes federais, estaduais e municipais. A proposta está no congresso equatoriano mas não é votada, porque a maioria parlamentar deve serviço aos magnatas da mídia e de outros poderes econômicos, sempre associados à mídia privada por interesses comuns, sobretudo de se servir do que é público. É como no Brasil.

Ele coincide comigo em estabelecer a diferença entre os que servem à população e os que se servem dela. Eu ainda faria diferença entre os que pretendem servir, mas não sabem como, os que não conhecem a população e seus códigos, os que querem mas em troca de cargos dirigentes e os que servem no cotidiano, sem querer nada pra si, além da satisfação de ver as coisas caminhando para melhorar, através da conscientização geral, da tomada de decisões por assembléias informadas e em condição de decidir.

Aponta a diminuição do poder das corporações imperiais - "sobretudo o financeiro" - e pede pro Wikileaks publicar tudo o que achou sobre o Equador - e ilustra com uma passagem significativa de comunicados secretos entre a embaixada e o governo dos Estados Unidos sobre o governo equatoriano. Declara a inevitabilidade do confronto em algumas áreas. Mas confrontos com a corrupção, com a exploração, com a interferência indevida, com o predomínio dos interesses privados sobre as sociedades.

Pra quem não sabe, existe um Wikileaks Brasil e inúmeros outros espalhados em outros países, não posso dizer em todos, mas tomara fosse.

Desnecessário afirmar a necessidade de divulgação deste material no acendimento de luzes no mundo.




Sobre Julian Assange, abrir a reportagem abaixo ("mais informações") e clicar sobre o nome Assange escrito em vermelho. Vários artigos a respeito.

Entrevista - Mente Consciente, Vanguarda do Rap Nacional e Mundo do Rap - set/2010


1.      (Mente Consciente): Conte um pouco da sua historia de vida.
    Nasci na parte garantida da sociedade. Fui nela, usufruindo sem perceber, até os 15, 16 anos. Fui percebendo aos poucos a desigualdade e a injustiça. Comecei a me sentir constrangido, como um atleta que recebe o privilégio de começar a prova próximo ao final - que honra pode haver nisso?
    Fui experimentando e percebendo quantas distâncias, além das aparentes, me separavam da maioria e da sua realidade. O convívio foi me mostrando minhas próprias fraquezas, as fraquezas dos privilegiados, que dependem de serviçais pra quase tudo e os tratam com uma arrogância grosseira, ou mesmo uma superioridade benevolente. Então fui experimentar como é não ter nada.
    Tinha sido bancário (BB), militar (EsPCEx), vendedor, mergulhador e estudante de direito. E estava com 19 anos. Meus pais não concordaram, mas eu estava decidido a experimentar. A vida tinha perdido o sentido (não admitia esquecer o mundo e pensar só em mim e na minha carreira, era pouco pra ser a razão da vida, eu precisava de objetivos que me dessem satisfação ao espírito, que acabassem com minha enorme angústia – difícil explicar de forma resumida) e eu precisava procurar algum. Não pedia nada, além do respeito à minha decisão. Impotentes em impedir, ameaçaram com o banimento definitivo se eu não seguisse o caminho convencional. Mas eu precisava não ter nada, precisava construir o meu respeito próprio, diferente da sensação de superioridade que eu via à minha volta, artificial e falsa. Então as relações foram cortadas e minha experiência se tornou minha situação. O preço de voltar atrás cobrava minha alma, por isso eu não tinha caminho de volta.
    A partir daí, toda a bagagem educacional e informacional que eu tinha passou a ser usada na análise das vivências que passei a ter, sem posição de classe, materialmente abaixo de qualquer classe. Tudo o que eu tinha de material, carregava nas costas.
    Perdi os documentos e a proteção social. Andava na estrada, a pé e de carona, dormindo nos acostamentos, postos, construções abandonadas, debaixo de marquises. O mundo passou a me tratar como mendigo, hippie, ralé. Eu não me importava, ao contrário, percebia que quanto maior a minha “inferioridade”, mais sinceridade o mundo tinha comigo e mais próximo eu ficava da realidade. Eu não queria privilégios, já os tinha tido e sabia que não eram grandes coisas, diante do significado que eu buscava na vida. O sentimento de superioridade, a meu ver, bloqueava a inteligência, tornava as pessoas burras, em certos aspectos. Eu queria era aprender, mesmo sem saber muito bem o quê. E aprendia o tempo todo.
    Vivia nas periferias, entre os sabotados da sociedade, encantado com a sabedoria que nunca imaginara. A coletividade, tendo negado o acesso ao saber, desenvolvia uma sabedoria tão profunda que superava em muito o saber acadêmico, que já me parecia meio desumano. Percebia que isso vinha do sentimento, do coração, e não da razão, do cérebro. Isso fez nascer e crescer um grande respeito pelos sabotados, os excluídos, os periféricos. Atrás daquela ignorância explícita, havia um saber vivencial, uma sabedoria forte e profunda, parte vinda de dentro, parte da vivência, muito mais forte que o saber acadêmico. O saber se envolve em medo, proteção e, com triste freqüência, é bloqueado pelo sentimento de superioridade. A sabedoria nasce da serenidade diante das dificuldades, da experimentação empírica, da humildade e da intuição.
    Logo no começo, casei com uma figura pra quem balancei a mochila quase vazia no ar e avisei, “tudo o que eu quero de material na vida tem que caber nessa mochila. O que não couber, não me pertence, nem me interessa”, como um aviso, uma advertência. Calma, eu tinha só 19 anos, lembrem-se de vocês mesmos (os que tiverem pelo menos mais de 30. Os que forem mais jovens, saibam que criamos conceitos pétreos e, com o tempo, percebemos que a vida pode virar um vulcão e derreter as pedras). Três filhos eu tive com essa figura, vivendo de arte e artesanato. Vim para o sudeste, definitivamente, em 85, e morei no Rio, em Saquarema, Bacaxá, nas ruas do Rio, Jacarepaguá, Petrópolis, Montes Claros, Sete Lagoas, Prudente de Morais, Belo Horizonte, Visconde de Mauá, Rio de novo e Niterói, onde estou até hoje.  Isso pra resumir a história.



2.      (Mente Consciente) “A minha pobreza é a minha riqueza, e nessa sociedade competitiva a minha derrota é minha vitoria”. O que te levou a abandonar, a renunciar todo prestigio e privilégios que o capitalismo pode te proporcionar?

   É um prestígio falso, baseado num sentimento de superioridade social fajuto, improvisado, com jeito de farsa, que não resiste a um olhar mais atento. Superioridade social é manter como prioridade máxima o atendimento a todas as necessidades básicas materiais e não materiais de toda a população, sem admitir de forma alguma, exceções. Isso é superioridade social, a responsabilidade solidária de todos para com todos e a prioridade das situações de fragilidade de qualquer espécie. Nossa sociedade não alcançou, ainda, esse patamar mínimo de dignidade. Estar em situação de privilégio, numa sociedade como a nossa, deveria ser motivo de constrangimento, de vergonha. A meu ver, aqueles que se encontram em patamares mais privilegiados da sociedade estão é em dívida moral, com a maioria que não tem acesso, e deveriam tomar seus privilégios como responsabilidade social, e não superioridade. Mas o ego, superestimulado pela cultura midiática do consumo, da posse e da ostentação, transforma essa responsabilidade em soberba. Claro que é apenas minha opinião, há quem pense diferente. E é claro que vai agir diferente e seguir sua consciência e seus valores. Eu analiso as ações, mas não julgo os atores. Cada um com suas decisões e suas conseqüências, que “o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória”. Prefiro trabalhar na direção do explorado, do oprimido que é, em última análise, o sustentáculo inconsciente desta sociedade injusta, perversa, covarde e suicida.
    Os privilégios que eu usufruía eram parte da minha realidade, eram comuns no meu nível social. No nível de angústia, de falta de sentido na minha vida, não me pareciam valores a serem considerados. Ao contrário, pareciam um peso a tirar de cima de mim, pra eu descobrir algum sentido na vida. Não ter nada, no princípio, foi uma embriaguez, um respirar, uma sensação de estar livre pra crescer, pra procurar sem saber nem direito o quê, de perguntar, ouvir, aprender, observar e absorver sem fim e perceber que, pra mim, é este o sentido da vida. Aprender, crescer, se desenvolver por dentro e por fora.
    Quando vejo os privilegiados da sociedade, meu sentimento passa longe de admiração ou inveja; tampouco se aproxima do ódio ou do despeito; nem mesmo de indiferença ou desprezo. É difícil definir. Não gostaria de estar entre eles, embora não me recuse a circular por ali, se é preciso. Diante da minha humanidade, teria vergonha de usufruir privilégios. O que não significa condenar os abastados, nem santificar a pobreza.

continua... é grande a entrevista.

domingo, 4 de novembro de 2012

Mensalão nada, o nome é Seculão. Ou Permanentão. Ou Desdessemprão.


A marionete política, o cidadão comum na hora de folga, cabeça feita. O hospital público que parece uma cadeia, a escola pública em ruínas. A meia altura, do lado esquerdo, alguns "revolucionários" fazem barulho, sem nenhum efeito, afastados da massa abaixo da corrente pesada da escravidão contemporânea. Estas correntes são muito bem feitas de mentiras e sua força depende de o quanto acreditamos nelas. Tomar consciência é um permanente romper correntes.



Tenho uma desagradável sensação quando ouço falarem do tal mensalão, revelado por um fascínora às vésperas do próprio julgamento, pra tumultuar tudo e minimizar ao máximo os próprios danos. No que, aliás, foi muito bem sucedido, tá lá ele na lista dos deputados federais, depois de um período de férias forçadas em suas fazendas. As "revelações" excitaram a mídia, que evitou investigar a fundo pra não aparecer o próprio rabo e os dos seus aliados na política e no poder econômico. É evidente que houve corrupção, mas essa corrupção não se resume ao mensalão. É a prática parlamentar, desde que o parlamento foi criado. A mídia falar tão repetidamente, martelando jargões como slogans publicitários, batendo claramente na administração petista, é parte de uma campanha visando diminuir o capital eleitoral do PT e aliados. Desmoralizar os desafetos. Política partidária do pior nível, feita pela mídia, com publicidade pesada exercida pelo que apresentam como "jornalismo". Uma disputa pela gerência, nada mais, pois o patrão é o poder econômico, grandes bancos nacionais, mas sobretudo internacionais, e mega-empresas nacionais, mas sobretudo idem. E a mídia joga do lado do PSDB, mais elitista, privatista geral,  servidor das elites estrangeiras, mais linha dura com os pobres, sobretudo os que se organizam. Estes recebem os títulos de baderneiros, vândalos e terroristas. E são implacavelmente atacados pelas forças de segurança toda vez que algum interesse empresarial está em jogo, com o apoio do judiciário na criminalização dos movimentos sociais. O chamado mensalão é a parte forte da campanha, descaradamente utilizado no período eleitoral, para favorecer os peessedebistas contra os petistas. O buraco, no entanto, é bem mais embaixo. 

Protógenes Queiroz, o delegado que prendeu o banqueiro envolvido na compra do congresso pra mudar a constituição e reeleger o presidente (além de vários outros crimes envolvendo enormes cifras), entrou com ordem de busca e apreensão na casa do banqueiro e encontrou um fundo falso no armário. Dentro, um disco rígido continha informações sobre as movimentações financeiras do Opportunity, banco sediado nas ilhas Cayman e pertencente ao dito banqueiro. Esse disco foi estudado por Protógenes e guardado em sigilo pela Polícia Federal. Depois a justiça requereu e guardou essa fonte de informações, sem jamais revelar o seu conteúdo. Mino Carta, jornalista e dono da revista semanal "Carta Capital", pergunta a Paulo Lacerda, chefe de Protógenes na Operação Chacal, da Polícia Federal, e na Satyagraha, que levou ao banqueiro. Reproduzo as palavras de Mino:

"Por que o mensalão petista vai ao tribunal antes daqueles tucanos que o precederam? E por que Daniel Dantas (banqueiro dono do Opportunity), que esteve por trás de todos, não está no banco dos réus? Por que as operações policiais que desnudaram seus crimes adernaram miseravelmente? Por que o disco rígido do Opportunity, sequestrado pela Polícia Federal durante a Operação Chacal e entregue ao STF, nunca foi aberto? No fim de 2005 dirigi esta pergunta ao então diretor da PF, Paulo Lacerda, na presença de Luiz Gonzaga Belluzzo e Sergio Lirio. O delegado, anos depois desterrado para Portugal, respondeu: ‘Se abrirem, a República acaba’."

Acaba, por quê? Porquê vem à tona a prática cotidiana de compra do congresso nacional? Acho que o que aparece é a inexistência da república. Da democracia. Porque nunca houve, foi sempre uma fachada, desde que se instaurou a democracia, a república e mesmo a independência, que escondia a dependência econômica, política, cultural e militar das potências estrangeiras da época. As chamadas instituições democráticas estão postas sob controle desde sua criação. Quando esse controle foi ameaçado, os militares foram acionados e o golpe de 1964 fechou o tempo, suspendeu a pretensa democracia pra amarrar tudo direitinho antes de "redemocratizar". O que está acontecendo é o começo de um despertamento. Informações que nunca estiveram disponíveis estão sendo conhecidas, notícias que jamais são transmitidas pela mídia privada circulam na internet, pra todo lado. O que vai acontecer, não dá pra saber. Mas que vai acontecer, vai. Já tá acontecendo, divagazim...

Protógenes se elegeu pelo PC do B de São Paulo, apesar de ser de Niterói, e luta por uma CPI da Privataria Tucana, com base no livro de mesmo nome que denuncia, com provas documentais ocupando metade das páginas, as falcatruas nas “vendas” das empresas públicas mais ricas e rentáveis à ganância dos mega-empresários, propinas, compras de parlamentares, promiscuidade público-privada pura. Luta solitária e sem frutos. A política institucional foi esterilizada, não funciona e foi regulamentada pra não funcionar. A não ser em benefício dos privilegiados donos do poder, os financiadores das campanhas eleitorais, que é a grande feira de políticos. Os que não se enquadram nos costumes, se conseguem furar o bloqueio e se elegem por um furo da estrutura, são isolados nos parlamentos, não conseguem aprovar – ou mesmo apresentar em tribuna – a maior parte dos seus projetos. E nos executivos são cercados pela mídia e pelos vícios do sistema, o controle sobre a estrutura administrativa das empresas parasitas que dependem do Estado e têm grande penetração nos organismos estatais através de relacionamentos e corrupção, em relações de conivência. Essa área é toda minada. Embora alguns avanços sempre se consigam, desde que não ameacem diretamente as estruturas da sociedade, de privilégios pra alguns e exploração da maioria - os dois lados da mesma moeda.

A árvore não nasce das folhas pra raiz. Esse é o grande engano da intelectualidade revolucionária. Das folhas eles acreditam que, por ver melhor o terreno, devem comandar as raízes. Mas não descem lá e não as conhecem. Alguns as desprezam, outros têm medo delas, muitos as duas coisas. Mas as raízes estão aí, firmes, sustentando toda a árvore social, inconcientes da sua força, entorpecidas pelas fumaças midiáticas, desprovidas dos nutrientes educacionais, sem perceber a própria sabedoria e o próprio valor, a capacidade de superar obstáculos, dificuldades, problemas e fatalidades. As raízes precisam de um pouco de conhecimento e muita consciência da realidade. Assim se faz uma revolução. Independente da política partidária, os movimentos acontecem. Em toda parte. E a América Latina tem sido um grande foco.

Talvez seja assim mesmo, as mudanças partem de dentro dos indivíduos, espalhados no mundo inteiro, contaminando, transformando, operando e cooperando, descobrindo novas formas de relações, percebendo as induções, discernindo, escolhendo por si e pela coletividade. As coletividades se formam. Percebem-se. Sem coordenação visível, o processo caminha seus passos cada vez mais acelerados, embora ainda lentos. A rigidez e a intolerância perdem espaço a partir das relações pessoais. Os costumes são questionados, os valores induzidos são denunciados como nunca. Os efeitos ainda não aparecem na coletividade, as coisas vão solidificando aos poucos, a criança engatinha. Ingenuidade acreditar em efeito imediato, o caminho é longo. Participar dele já é a satisfação que espero da vida. Caminhar do jeito que se quer, e não do jeito que mandam caminhar. É o sentido da vida, no momento. E é fonte de contágio.

Uma visão maior não significa superioridade. Responsabilidade é o que significa. Conscientizemos uns aos outros, sempre que possível. Com respeito, com carinho, que é a melhor maneira de trocar conhecimentos, sentimentos, idéias, o jeito mais tranqüilo, seguro e proveitoso. E com humildade, principal requisito pra um aprendizado constante. Despertamos cada vez mais e um despertamento traz outro, em sucessão infinita. No indivíduo e na coletividade. 


Reportagem de Paulo Nogueira sobre o uso de Marcos Valério pela mídia:

sábado, 3 de novembro de 2012

Mudança de parede, em Santa Teresa


Exposição em Santa Teresa
      Quebrou a unidade. Percebi quando olhei a foto, o bondinho, a casa, as portas fechadas, os desenhos formando uma unidade, na diversidade entre portas e paredes. Quando as portas abriram, quebrou a unidade, separou os desenhos, perdeu o impacto que a unidade formava. 
      A casa foi reformada, o antigo armazém agora é um café cultural, as portas foram abertas. O lugar está muito bem decorado, bonito de se ver. Há belos quadros nas paredes e um piano que, nas vezes em que expus, tocou lindas músicas que chamo de clássicas porque não conheço muito de música, embora sinta na alma. 
      No entanto, a unidade do meu trabalho foi quebrada com a mudança de cenário, as portas abertas criaram vazios que enfraqueceram. Coisa da vida, do tempo, das mudanças às quais temos que nos adaptar. De alguma forma, é até bom. Ou pode ser.
      As vendas caíram, o espírito mudou, ao invés de unir, tá separado em partes. A capacidade do trabalho em tocar no abstrato, no espírito, no pensamento, no sentimento, perdeu força. O mundo atual é cheio de apelos visuais e sonoros por toda parte, clamando por atenção, freneticamente, as pessoas se acostumaram ao superficial, ao apelo, ao impacto visual ou sonoro, a enxergar apenas o que chama a atenção. 
      Alguns poucos, já vivenciados, acostumados a unir as partes dispersas das coisas, das informações e das experiências, ainda percebem, mas estes são muito poucos. A maior parte, por outro lado, não se liga na exposição pela falta do impacto, olham como parte da paisagem, passam batido, sem despertar a atenção.        A maioria ainda não percebe as nuances por trás das formas, por cima, por baixo, pelos lados, por dentro. Esse é um processo de desenvolvimento que começa na percepção da existência e da força do pluriverso* abstrato. Ou melhor, que existe, mas toma força e responsabilidade a partir do momento em que se toma consciência dele.
      O trabalho exposto em unidade faz uma figura mais perceptível, ele separado perdeu a presença. E eu preciso pagar minhas despesas.
      Tudo isso pra dizer que vou mudar de parede, de lugar. Devo ficar pelo Largo do Guimarães, mesmo, é o que pretendo. Gosto dali, é um ponto centrífugo e centrípeto de incríveis variações de seres. Uma convergência de “loucos” da sociedade, de pessoas que procuram as correntes contrárias ao movimento convencional dos acorrentados. Muitos têm uma capa de loucura, mas são de mentalidade e sentimentos convencionais, egocêntricos, vaidosos, superficiais e perambulam pela área por causa dos reais loucos, tentando se confundir com eles e enganando as almas ingênuas. Estas são suas vítimas. É preciso cuidado com estes falsos "loucos". Bem, por outro lado, estas relações são potenciais aulas de vivências.
      Há reacionários também, alguns bem criativos, outros raivosos, quase todos inofensivos e cordiais, desde que não se pise em nenhum calo. Os reaças são cheios de calos, sobretudo nestes tempos de mudanças, na onda de despertamento pra realidade de inúmeras exceções às regras. Claro que são exceções, mas já fazem seu barulho ser mais ouvido que antes, quando só se tinha como fonte de informação a mídia comercial e todas as notícias chegavam de acordo com os interesses empresariais, em prejuízo das populações. E os donos da sociedade explodem em ódio e violência, enquanto ainda podem, fornecendo pela mídia argumentos, informações distorcidas e instruções aos seus repetidores. Destroem os movimentos que se levantam, mas não podem conter o processo de conscientização que lhes vai tirar a sustentação – ou a dos seus descendentes. Quero ver o que vão fazer esses privilegiados quando não houver mais serviçais com tanta facilidade quanto agora para explorar e aumentar suas fortunas. Esta gente cercada de empregados por todos os lados não planta, não colhe e não faz sua própria comida; não faz sua própria roupa, não lava, não limpa seu próprio lixo; não constrói sua casa, não sabe consertar nem um vazamento. Servem-se da parte sabotada da família humana pra tudo, tanto pra enriquecer quanto pras tarefas cotidianas e ficam perdidos sem seus pobres pra fazer tudo por eles.
      Bom, como eu ia dizendo antes da indignação me tomar, procuro uma parede que permita a unidade em meu trabalho. De preferência no Largo do Guimarães. Senão, ali por perto. De qualquer maneira, o bairro é todo cultural, há muitos lugares. Depois aviso, nesta mesma postagem, onde estou expondo. Aliás, este blogue é a única forma que tenho de anunciar, embora eu não tenha nada a reclamar. Antigamente, quando mudava de lugar, e mudava com muito mais freqüência, não tinha como avisar além de alguns poucos amigos, pessoalmente. Agora posso colocar no ar e explanar geral.
     
     
*Pluriverso – o Universo que conhecemos e estudamos na ciência oficial é o universo material, os planetas, as estrelas, em bilhões, formando galáxias também nos bilhões, trilhões, espaços que não podemos alcançar nem com a imaginação, muito além do nosso alcance, mas todo material. Matéria em relações magnéticas, gravitacionais, química, mas matéria física. Um universo entre outros universos com vibrações moleculares diferentes. Ou atômicas, sei lá. Mas intercalados, interpenetrados no mesmo espaço, em dimensões diversas, como ondas de rádio, cada uma em sua freqüência, sem interferência direta, mas se relacionando de várias formas, com sentimentos, pensamentos, crenças, desejos, intenções  fazendo pontes de comunicação, atraindo, repelindo, sempre interagindo. Uma coexistência plural fora do alcance da razão, mas não da intuição. Sentimos alguma razão de ser na existência, mas não alcançamos, não compreendemos. É possível sentir. A razão, em sua soberba e idiotia, muitas vezes negará a existência dos universos abstratos, com tanto mais força quanto maior for a qualificação acadêmica. Não é uma questão de crença, nem de raciocínio. É intuição, sentimento, percepção subjetiva, numa linguagem mais adaptada à língua acadêmica. O pluriverso não precisa do crédito de ninguém, como o universo não dependeu das crenças em monstros nas beiradas da terra, poucos séculos atrás.