Tristeza profunda.
Três dias num hotel cinco estrelas, convidado pra um evento no centro de
convenções do próprio hotel. O desjejum é tão farto e variado que fico sem
saber por onde começar. Começo pelo café, como sempre – quase sempre fico no
café, mas aqui não dá. Melão e mamão, dois pães com queijo, café antes e
depois, pra arrematar. Olho a fartura ostensiva, funcionários preparam coisas
na chapa, fazem sucos, garçons passam entre as mesas, tiram as coisas de quem
já foi, atendem pedidos. Os invisíveis são chamados quando se derrama alguma
coisa no chão, pra tirar rapidamente a sujeira, vestidos de cinza, entram e
saem rápido, percebo que não são vistos pelos hóspedes além do mínimo
necessário, sua passagem é em silêncio. Se cumprimento algum, o olhar é de
estranheza. Afinal, sou um hóspede e
entre eles e os hóspedes há uma barreira invisível, mas intransponível. A
naturalidade em usufruir dos privilégios sem perceber sua existência me
incomoda. Não julgo, nem condeno, apenas me incomoda.
A exploração está explícita em toda parte neste ambiente, em
cada centímetro que me cerca, mas ninguém percebe, ou não leva em conta. O fato
é que parece natural e é isso o que mais me afeta. Os sentimentos de
superioridade e inferioridade são palpáveis, embora artificiais e falsos. Os
trabalhadores que tornam possível tanto luxo, privilégio e ostentação são em
número muito maior do que os que estão no serviço. Vejo-os nas paredes, nas
cadeiras e mesas, nas madeiras, metais e vidros, no enorme lustre de cristal
pendurado no teto altíssimo do salão, nos sofás e almofadas caprichosamente
distribuídos nos ambientes, na limpeza impecável e permanente, na comida que se
come, desde o plantio e a colheita até o seu preparo, nas roupas de marca que
se vestem, nos sapatos que se calçam. Tudo é feito por pobres, os inferiorizados são indispensáveis.
Piscina, sauna, hidromassagem, campo de minigolfe, academia
de ginástica, quadras de esportes, tudo à disposição – enquanto a população é
sabotada nos direitos básicos, roubada e enganada pela estrutura da sociedade.
Não usei nada, nos três dias em que fiquei. A maior parte do tempo, fiquei no
quarto, no evento e fora do hotel. À noite, quando saía sozinho atrás de uma
cerveja pra arejar o coração olhando o mar, fui aconselhado a ir para a
direita, mais “seguro” e preparado pra atender os turistas, evitando o lado esquerdo, “perigoso”, próximo a favelas. Não sou turista, não gosto de
hipocrisia nem de atendimento "qualificado", interesseiro e caro. Tomo o rumo da esquerda. Perigoso
pra eles quer dizer pobre. E eu estava precisando tratar com gente pobre – como
eu –, sem a subalternidade forçada dos ambientes de luxo. Os pobres de grana
são inegavelmente mais transparentes, mais espontâneos.
Encontro uma birosca a uns quinhentos metros, a cerveja é de
menor qualidade, mais barata, mas todos respondem quando chego dando um boa noite geral. Era desse conforto que eu precisava. “Madame, dá uma cerveja bem
geladinha?” Ela sorri do “madame”, enquanto traz a garrafa. Levo a cerveja pra
uma mesa fora, “vou sentar ali, viu, que vou fumar”. À distância, fico
observando aquelas pessoas, umas dez, gesticulando, falando alto, trocando
gozações, acho graça das gargalhadas, das piadas picantes. Do outro lado da
rua, na parede de uma casa demolida, entre outras coisas, havia a frase “a
miséria não acaba porque dá lucro”. Levanto pra pegar a segunda, levo a garrafa
vazia, “pode deixar na mesa”, ela diz, respondo “melhor não, posso esbarrar na
mesa, acaba caindo tudo, “tá, vou deixar aqui”, e encosta no canto do balcão.
Põe outra e pergunta “tá geladinha, meu filho?” “Tá ótima, mãinha”, ela solta
uma risada alta e me olha com simpatia. Sou mais velho que ela, mas não parece.
Pouco depois eu estava fumando, quando aparece um caboclo forte,
atarracado, sem camisa e me pede um cigarro, com o olhar cenicamente
suplicante. Estendo um na sua direção, sinto seus olhos bons, pergunto se toma
uma cerveja comigo. Ele abre um sorriso sem dentes, “claro”, eu tiro a garrafa
do isopor e vejo dois dedos de cerveja, entrego a ele. Ele vira no ato e toma
de um gole. “Pega outra e um copo”, ele segura a garrafa vazia e me olha
desconfiado, “eu, pegar outra?” “É, parceiro, eu pago e tu pega, mas se achar
abuso, deixa que eu pego”, faço menção de levantar, ele se adianta, “não,
podeixar”. No balcão, a dona estranha, “quequié, Jonas, já veio perturbar o
freguês...” Eu interfiro à distância, “tranqüilo, madame, ele não tá
perturbando não, eu que pedi, com mais um copo prele me ajudar aqui!” Ela
entrega a cerveja e o copo, com a advertência, “olha lá, hein, Jonas!”, ele
volta reclamando, “a senhora parece que não me conhece...”
“Então tu é o Jonas que morava dentro da baleia?” “Foi, mas
lá era muito molhado”. Rimos e começamos uma conversa divertida. Em certa
altura ele diz “minha inteligência não dá pra competir com a sua, não”, a
fisionomia reflexiva, ele falava de informações, não de inteligência, mas pra
ele era a mesma coisa. “Inteligência a gente não põe pra brigar, não, parceiro,
melhor somar, que o inimigo de verdade tá do outro lado, é burrice a gente
ficar brigando aqui em baixo”. Vejo identificação e afeto nos seus olhos, um
entendimento intuitivo, “tem muita gente burra”, ele diz, “tem muita gente
burra”, eu repito. E rimos.
Em pouco tempo eu já sabia onde tinha maconha,
cocaína, crack, mulher, “o que tu quiser tem, se quiser eu vou buscar agora”, “agora
não, só trouxe a grana da cerveja, mas amanhã, se eu vender...” Uma mentira
estratégica, mudou o rumo da conversa. “Tu vende o quê?” “Os desenhos que eu
faço, olha aqui”, e mostrei a multidão estampada na minha camisa. Ele apertou
os olhos, “tu que desenhou?”, “foi, olha meu nome aqui”. Ele se esforça,
e-du-ar-do ma-ri-nho, com dificuldade. Um sentimento ruim passa por mim, lembro
da sabotagem deliberada do ensino público, mas volto ao assunto, “quer ver a
identidade?” Ele faz cara de ofendido, “tá pensando que não acredito em tu?” “Tu
não me conhece, não acreditar é direito seu. É bom a gente respeitar o direito
dos outros, né não?” “Ah, isso é”, e rimos de novo. Depois ele completou, “mas
eu já sei que tu é um homem direito”. Foi como um afago na alma. Intuição,
sentimento.
Voltei pro hotel, depois de cinco cervejas. Eu pretendia
três, mas apareceu o Jonas... Entrei no
ambiente luxuoso, novamente a polidez distante dos funcionários, abismos entre
pessoas. Subo ao quarto, questiono a tristeza que me invade nestes ambientes.
Vejo as mãos que construíram isso tudo em cada centímetro e que, depois, foram
expulsas pra bem longe e proibidas de voltar, mesmo pra apreciar o que fizeram.
Os poucos pobres que se permite são o número suficiente pra servir os hóspedes
e fazer a manutenção, com regras rígidas, sob um manto de invisibilidade social
e ameaça de demissão a qualquer vacilada. Não é o fato de não poderem usufruir
o que me incomoda, mas o de serem completamente esquecidas, ignoradas, como se
nunca tivessem existido, como se tudo se construísse por si, como os castelos
dos contos de fadas. Em geral, essas pessoas não desejam tais luxos e
privilégios – até por acharem impossível –, mas apenas o suficiente pra viverem
em paz, sem faltar nada do básico. Desejam o desenvolvimento dos filhos e uma
vida digna. E isso lhes é negado. O modelo de sociedade imposto pelas
influências irresistíveis de mega-empresas, de interesses empresariais, não
permite que no centro da estrutura esteja o ser humano. Milhões de pessoas se
encontram em condições de exclusão, miséria, ignorância e abandono, outros
milhões são explorados impiedosamente em empregos precários, sem direitos ou
garantias, apertados em transportes superlotados, sem tempo pra viver de
verdade. Bilhões, a nível planetário. A estrutura da nossa sociedade tem nos
seus alicerces não só o consumo e a propriedade, mas principalmente os desejos
de consumo e posse induzidos nos que não podem consumir nem possuir. Estes são
levados a desejar, a sonhar com bens e desfrutes, sonhos entorpecentes que
imobilizam, aprisionam e anestesiam a consciência – contando com a ignorância
planejada – provocando e estimulando movimentos que colaboram na manutenção desse
sistema injusto, covarde, perverso e suicida. O planeta sendo destruído e as
pessoas sonhando com novelas.
Tudo isto eu vejo nos requintes, nos luxos, nas pessoas, nos
olhares e comportamentos, em tudo neste hotel, uma caricatura da realidade
social. Exponho no seu centro de convenções, enquanto espero o momento de
palestrar a essa audiência formada por futuros administradores de empresas e futuros empresários que se preparam pra administrar a(s) empresa(s) da família. Não sei
bem o que dizer, mas sei mais ou menos. Acho que vai espantar. Pessoas que vêem
a realidade da forma que lhes convém não gostam da maneira que eu vejo a
sociedade em que vivemos todos. Mas fui chamado e vou jogar minhas sementes.
Algumas exceções hão de se fertilizar. Não trago verdades, mas opiniões, não
pretendo impor, mas acenar.
Por Eduardo Marinho
(Este texto foi um descarrego. Melhorou o meu estado
interno, por sentir alguma utilidade na situação.)
Antes de ir embora escrevi, no quarto, a saída do cinco estrelas. Segue.
Agora vou.
Antes de ir embora escrevi, no quarto, a saída do cinco estrelas. Segue.
O recado na saída
Hotel Ritz Lagoa da Anta. Último dia, acordo cedo, vou tomar
o café da manhã. Mais uma vez, observo e reflito. Fartura, movimentos,
conversas, frutas, pães, queijos, presuntos, iogurtes, ovos, funcionários de
cinza, garçons de branco, cozinheiras a postos atrás dos balcões, estantes de “selfisérvis”.
As mãos dos mais pobres estão por todo lado. Os que usufruem nem se dão conta,
não pensam, não lembram disso. Os de cinza às vezes passam, como sombras, sem
olhar ninguém, levando esfregões e baldes ou empurrando carrinhos de
utensílios. Vejo-os lá fora, preparando as coisas em torno da piscina. Vejo-os todo tempo, limpando vidros, mesas, arrumando coisas, sempre em silêncio. Aqui
dentro, agora, os hóspedes tomam a primeira refeição e os de cinza só aparecem
quando alguém derrama alguma coisa. Limpam o mais rápido que podem e
desaparecem. São necessários mas não devem fazer parte da paisagem, devem ser o
mais invisíveis possível.
Novamente a tristeza, sem exagero, sem grandes sofrimentos,
apenas uma tristezinha triste, não há surpresa, nada de novo. Hoje eu como mais
do que nos outros dias, estou de saída e não sei se vou almoçar, prefiro não. Volto ao quarto, arrumo a mochila e
escrevo num bloco de papel pra recados, ao lado do telefone. “Ostentação de luxo e riqueza
é pior do que a pobreza de grana. É pobreza de espírito. O próprio sentimento
de superioridade demonstra a precariedade da alma.”
Daqui a pouco, quando eu sair, virá a funcionária para
arrumar o quarto e conferir as coisas, a mesma com quem falei algumas vezes,
perguntei a hora, dispensei a arrumação e a troca de toalhas. Não sei porque
escrevi. Senti vontade quando cheguei do café e vi o bloco. Arrumei as coisas e resolvi deixar, como um recado. Espero que
tenha algum proveito.
Lembro de uma frase de Gandhi, "as algemas de ouro são piores que as de ferro".
Lembro de uma frase de Gandhi, "as algemas de ouro são piores que as de ferro".
Agora vou.
Parabéns pelo texto. Forte e provocante.
ResponderExcluirÉ veio, quando a angustia bate, é foda.
ResponderExcluirQuando você escreve, eu vejo/sinto com seus olhos.
ResponderExcluirBem coisa da Administração, hotel 5 ***** , veja como somos bem sucedidos, como somos ricos... me admiro que te convidaram! dei aula na administração e não tenho saudade. Bom, se te chamaram, é pq tb existe interesse em outras leituras da sociedade....
ResponderExcluirEu queria deixar uma mensagem, só porque gostei muito do texto, e porque também não tenho muito a dizer, a observação já foi feita, obrigado por compartilhá-la.
ResponderExcluir"..A estrutura da nossa sociedade tem nos seus alicerces não só o consumo e a propriedade, mas principalmente os desejos de consumo e posse induzidos nos que não podem consumir nem possuir. Estes são levados a desejar, a sonhar com bens e desfrutes, sonhos entorpecentes que imobilizam, aprisionam e anestesiam a consciência – contando com a ignorância planejada – provocando e estimulando movimentos que colaboram na manutenção desse sistema injusto, covarde, perverso e suicida. O planeta sendo destruído e as pessoas sonhando com novelas.."
ResponderExcluirSensacional essa parte!
Muito bom o relato, Edu..passastes uns diazinhos ém área nobre, como diria o grande amigo capoeirista, Montanha: Área nobre pois vive cheia de gente com o rei na barriga!
abraços
Sempre escrevi algo que nos acrescenta , nos melhora . Obrigado Eduardo se um dia
ResponderExcluirvier a Fortaleza quero ter o prazer de conhece-lo .
Um abraço "de um irmão" .
O próprio sentimento de superioridade demonstra a precariedade da alma.
ResponderExcluirAlgumas mensagens tuas me tocam de um jeito "irmao" que eu só tenho a agradecer .
Como vc mesmo disse na sua pagina do face : É difícil alcançar o sentimento de igualdade. Mas é uma luta. Interna e constante.
É MUITO DIFICIL MESMO mas todos os dias eu tento colocar isso em pratica .
O que é fácil nessa vida e tem valor?
Excluircom ctz eduardo . Um abraço !
ExcluirObrigado Eduardo. Tenho sintonia com teus sentimentos. Maravilhoso texto desabafo, presumo que tu falou sobre isso na tua palestra. Tive exemplo maravilhoso da minha mãe que analfabeta era a enfermeira do bairro. Ela colocava qualquer um dentro de casa para fazer curativo nas suas feridas e aplicava injeção. Carrego esse fruto em meu coração que agora soma-se com tuas sementes.
ExcluirOlá Eduardo!! Eu leio o seu blog há mais de um ano e sempre gostei da forma reflexiva e crítica que você expõe o que acontece no nosso cotidiano. Na verdade, eu já aguardava esse seu retorno sobre o evento. Eu já participei do EREAD, mas na Região Sudeste, e sabia que esse não seria o tipo de evento que os estudantes e palestrantes estariam dispostos de escutar as verdades que estão na na frente deles mas que eles não querem ver.
ResponderExcluirEu o admiro pela sua coragem porque, na verdade, os estudantes de administração que são formados atualmente são preparados somente para ser mais um instrumento dessa sociedade consumista e individualista. E pensam que devem ser bem sucedidos, e que para isso, necessitam ganhar muito dinheiro. Eu estudo administração em uma universidade pública no Rio. E sou muito grato por estar estudando em um ambiente em que os professores tem total liberdade para expor como é o mundo atualmente, e por eles nos fazerem refletir quais serão os impactos de nossas decisões diante desse mundo. Lamentavelmente, a grande maioria dos alunos de administração quando tem essas aulas da área de humana e sociais, como: filosofia, sociedade e organizações, teoria política, sociologia, dizem como de fato essas disciplinas irão impactar na vida profissional ou acadêmica deles. Meus companheiros de turma dizem: "Que aula chata!", "Isso não vai me fazer ganhar grana!". E isso sempre me incomodou muito, e na verdade grande parte dessas pessoas são as mais reacionárias, conservadoras e individualistas.
Eu percebo, que boa desse problema está parte na educação e dentro do ambiente familiar. Eu tive a sorte de nascer dentro de um ambiente familiar, que apesar de simples, sempre valorizou o bem do próximo e a honestidade. E essas foram as sementes necessárias para que florescessem a minha busca por justiça social. Muito obrigado por tentar plantar algumas "sementinhas da verdade" em um evento de administração. Espero que floresçam algumas.
Marylin não desista dos alunos de administração, por favor, nós precisamos de pessoas que mostrem outras leituras da sociedade para os alunos, como vc mesmo disse.
Abraços fraternos
Claro, Felipe, eu como educadora jamais desisto de ninguém! Meu nome é Marília, esse é um apelido de infância, quando eu adorava teatro e tinha como personagem predileta a Marilyn Monroe, rsrsrs! Sempre há exceções, é que realmente a maioria dos alunos da adm é assim como vc descreveu. No primeiro encontro, quando peço que me falem dos planos para o futuro, ouço muito "fazer o primeiro milhão antes dos 30 anos..." e tento não desanimar. Abraços e parabéns pelo seu ponto de vista crítico e bem colocado.
ExcluirTomara que não tenha sido organizado por acadêmicos da rede pública, tem tanto espaço nas universidades pra esse tipo de evento, além do acesso livre, outras pessoas tem oportunidade de participar mesmo não fazendo parte do curso ou estando inscrito no evento. Mas parece que a galera quer é esconder o "ouro"... ou mostrar...
ResponderExcluirParece que, na mentalidade da administração, ostentação é sinal de ser bem sucedido.
ExcluirEduardo, da próxima vez que vier a Maceió, fica aqui em casa! Vamos escrever umas coisas juntos e fazer umas incursões nas quebradas, trocar ideia com as pessoas e tomar umas geladinhas.
ResponderExcluirOuve os sons desse link. Já te mandei um e-mail e não obtive resposta, o que não significa que você não leu e nem ouviu os links que te passei, mas só pra reforçar aqui vai o soundcloud do meu trabalho.
https://soundcloud.com/vitor-pirralho-unidade
"A miséria não acaba porque não dá lucro!" essa frase me acertou em cheio
ResponderExcluirMas é o contrário. A miséria não acaba porque dá lucro. O que faria se submeter essa massa de trabalhadores a condições tão brabas de trabalho e existência, senão o medo da miséria? Ela taí, como uma espada sobre a cabeça das pessoas, pra que aceitem condições de trabalho as piores que as empresas impõem, as condições de transporte e de vida mais brabas.
Excluirisso mesmo, acho que ele entendeu certo, assim:
Excluir"a miséria não acaba porque não dá lucro (acabar com ela)...", ou seja, da lucro ela existir
Não há essa passividade. A miséria é mantida, deliberada e estrategicamente. Não é uma casualidade, uma fatalidade ou uma falha no sistema. É parte integrante e fundamental nessa estrutura social baseada no lucro, na mentalidade empresarial, na exploração perversa das pessoas mais pobres, impedidas de se desenvolver como seria, se o Estado cumprisse sua própria constituição.
ExcluirConcordo... é desesperador isso
ExcluirQuanta observação, quantos detalhes, sua percepção é incrivel!
ResponderExcluirCara, valeu!
ResponderExcluirVocê conseguiu retratar, em poucas linhas, uma realidade que poucos, muito poucos, têm acesso; quem sabe depois deste texto,mais pessoas vão começar a observar melhor os entornos e sacar, perceber, "sentir" outras realidades bem mais - VERDADEIRAS!
Um grande abraço e, vai fundo!
Nossa, como sempre os textos que leio em seu blog "dizem" aquilo que eu vejo e não faço nada para mudar, simplesmente pelo fato de estar tão inserido e entorpecido por esse circo de horrores que no máximo que consigo fazer é me indignar no meu confortável sofá da sala de estar...Queria poder além de observar absorver...Obrigado!
ResponderExcluirJá dizia o pensador Joãozinho Trinta: "Quem gosta de miséria é intelectual. O povo gosta é de luxo!" Se tiverem acesso, todos os que são pobres adorarão o luxo que lhe envergonhou.
ResponderExcluirTodos? Já vi que tu não conhece... talvez cê esteja tirando o padrão por si mesmo. Realmente não é fácil escapar do condicionamento publicitário-midiático, ainda mais sabotado em instrução e senso crítico que uma escola decente permitiria se desenvolvessem. Mas uma quantidade imensa dos que conheço, aliás a maioria dos que conheço não tem essas ambições, não. Moro entre três favelas conhecidas em Niterói, circulo tranqüilo nos complexos mais estigmatizados como "território perigoso", trato com gente de luta, engajada em movimentos sociais e/ou culturais e o percentual dos que não desejam luxos e privilégios é bem considerável, inclusive na lida por desfazer essas ilusões dos demais, mostrando a insidiosidade da mídia e a falsidade dos valores vigentes, em busca de atitudes mais solidárias e menos egoístas. Não é à toa que tantos graduados pela academia, oriundos de favelas, permanecem onde moram e levam o conhecimento que adquiriram para atividades que atendam necessidades dessas comunidades. Claro que há os que pensam em si e tratam de sair dali e esquecer sua origem, cuidando de si e dos seus, atrás dos seus próprios interesses. Mas a quantidade que não se desliga e se sente parte dessa coletividade, mesmo depois de ter "curso superior", é bem considerável - e aumenta todo dia. "O melhor de um homem só desabrocha quando ele se envolve na coletividade" e "só uma vida que se vive a serviço dos demais vale a pena ser vivida" são frases de Einstein. Eu concordo totalmente com ele.
ExcluirJoãozinho trinta nunca foi pensador, foi carnavalesco. Pensava em função disso. Essa foi uma resposta a uma pergunta que questionava se ele não achava que o luxo usado por ele nas alegorias não seria uma insensibilidade em relação às dificuldades que a população em geral encontrava na vida dura da maioria.
Excluir"Não sei bem o que dizer, mas sei mais ou menos. Acho que vai espantar. Pessoas que vêem a realidade da forma que lhes convém não gostam da maneira que eu vejo a sociedade em que vivemos todos."
ResponderExcluirTe acompanho no blog e assisto seus trechos de palestras no Iutubi já há algum tempo, porém, invariavelmente imagino que muitos que lhe ouvem não estão preparados nem para tomar uma consciência básica de tudo o que realmente se passa no mundo, sendo acometidos de espanto e até mesmo repulsa, gerando fortes contestações. Sei que você dificilmente bota ideia pra brigar, mas já teve problemas quanto a isso nas suas palestras? É uma curiosidade. Abraço.
Não tive problemas, contestações se contrapõem a verdades, eu não trago verdades, mas opiniões. Minha visão do mundo, o que vejo à minha volta. Não é uma sociedade de se orgulhar, ao contrário, é de se envergonhar. Harmonizar com ela é impossível. No entanto, é preciso respeitar as opiniões, quando vêm em contrário. Sem desgaste nem confronto, exposição de opiniões e suas motivações. Em geral tudo se aclara. E o respeito permanece. Abraço.
ExcluirEntendi.
ExcluirFugindo um pouco do assunto principal, vi essa tirinha hoje cedo e até desconfiei que a autoria fosse sua:
http://lh6.ggpht.com/-pF-krWOpS3g/UZ5IiZNxosI/AAAAAAAAD6s/_Ecl8ui3zKQ/w377-h539-no/tirinha.jpg
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=v-K730tXMuY
ResponderExcluirEsse é um documentário sobre uma tese de doutorado que revela praticas nazistas no Brasil antes da 2°Guerra Mundial, na década de 30. Não é muito ligado ao assunto do post, mas é uma informação que julgo importante para acrescentar sobre algumas coisas absurdas que já se passaram pelo nosso país. Fica aí uma dica!
Maravilhoso!
ResponderExcluirMuito bom!! No início pensei que fosse aqui em santa maria no Sul quando falou no hotel, depois vi que não. Lembrei do nosso papo na frente do hotel sobre obserrvar as "mãos invisíveis", o meu Dudu precisava ouvir isso de ti.. as vezes eu falo mas ele não dá muita importancia. Ficamos muito gratos de poder te conhecer e foi uma experiencia unica te ouvir falar. Pode ter certeza que depois disso nós pensamos, observamos, revemos valores. Te alugamos e atrasamos a palestra o pessoal do direito deve ter ficado doido comigo, afinal nem do curso eu era e nem a inscrição eu paguei hahahahah mas como eu disse, eu só queria te ouvir, e consegui! Mais uma vez, muito obrigada! As pessoas precisam te ouvir, não pra pensar igual e nem concorcar com tudo. Mas pra parar e pensar, observar, ouvir, sentir!!!!
ResponderExcluirCara, vc é foda... excelente texto, me desculpa o palavrão, cara eu a alguns meses vi vídeos seus no YouTube e... cara foi uma das paradas mais impactantes que eu já vi na vida até agr, eu ia escutando e me identificando de uma forma absurda, algumas coisas eu já pensava parecido, só não exatamente igual pq vc é um cara muito mais inteligente, e em outras eu fui abrindo minha mente, refletindo, concordando, e hj por aí no dia-a-dia eu carrego isso cmg e carregarei, e sou muito grato por isso, obrigado por compartilhar com agente seus pensamentos, eu sempre me preocupei em ser uma boa pessoa, e to numa fase que crl, se importar com o que está ao seu redor da trabalho, me tira o sono, assim como nessa madrugada, e seu trabalho me ajudou e me ajuda a lidar com as coisas, me faz refletir... Posso dizer que eu era um mlk de que sempre tentava ser de boa por aí, agr eu sou um mlk do msm jeito, mas que tenta sempre, Observar mais, Absorver mais, e graças a você Eduardo, Abraço!
ResponderExcluirSem comentários.
ResponderExcluir'Deseja mais alguma coisa, senhor?' Esta foi a pergunta que você mais ouviu nesse hotel, tenho certeza. Apenas com uma observação: essa pergunta é feita centena de vezes ao longo de um dia. Não bastando que os funcionários dos hotéis sejam prestativos, querem que eles sejam servis e subservientes.
Aliás, é o carro-chefe desses hotéis, que dizem, ironicamente, ter TUDO para oferecer aos hóspedes.
Eles pararam com isso no primeiro dia. Acho que me viram como um hóspede muito estranho. Com prazer para os menos graduados, com estranheza para os mais.
ExcluirÉ uma caricatura de mau gosto da nossa estrutura social, bem frisada.
Obrigado Eduardo. Tenho sintonia com teus sentimentos. Maravilhoso texto desabafo, presumo que tu falou sobre isso na tua palestra. Tive exemplo maravilhoso da minha mãe que analfabeta era a enfermeira do bairro. Ela colocava qualquer um dentro de casa para fazer curativo nas suas feridas e aplicava injeção. Carrego esse fruto em meu coração que agora soma-se com tuas sementes.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"só uma vida que se vive a serviço dos demais vale a pena ser vivida". Assino embaixo.
ResponderExcluirTexto de gênio...
ResponderExcluirTriste... A desgraça é grande!
ResponderExcluirAbraço irmão!
Eduardo, parabéns pelo texto e obrigado pela partilha! Arte verdadeiramente útil.
ResponderExcluirEu tive a mesma sensação num hotel de luxo ao qual a empresa onde eu trabalhava me enviou para um treinamento.
ResponderExcluirGosto da sua abordagem e falas. Até postei minhas impressōes em https://chicoary.wordpress.com/2017/04/28/a-verdade-nua-e-crua-para-reflexao-num-dia-de-greve-geral/.