Foto - Cleide Cardoso |
Pela segunda vez, a Celestina negou fogo. Desta vez, pelo menos, percebi que ela não subiria a serra logo depois da Capelinha, quando a estrada começa as curvas da subida. Do meu lado tava o Ravi, no banco de trás, Alice, Brisa e Olívia no último banco.
Na primeira vez quem tava era a Marta, conseguimos chegar uns cinco quilômetros depois do Ponto Pergunta - onde, quando era estrada de terra, as pessoas paravam pra perguntar se estavam mesmo no caminho certo pra Visconde de Mauá, dava a impressão de ser muito mais longe. Aí, numa subida mais inclinada, Celestina perdeu a força. Ficamos até de noite, quando um reboque pago e caro chegou pra nos levar de volta até o trevo de Penedo com a Via Dutra - a estrada Rio-Sampa. No dia anterior, era madrugada quando entramos no trevo e ali mesmo a homocinética - eixo da roda de trás - soltou, quebrou os parafusos. Já havíamos dormido essa noite na kombi, de manhã conhecemos Tiago e Bruno, dois mecânicos que moram ali mesmo, num pequeno bairro rural chamado Marechal Jardim. Foi com eles que deixamos a Celestina, depois da tentativa frustrada, e subimos a serra. Só viemos buscar pra ir embora pro Rio. Então ela passou por algumas intervenções, extração de dois carburadores barulhentos e irreguláveis, implantou um novo, ganhou novos pés, um retrovisor, teve fixados, ainda precariamente, os dois bancos de trás e três cintos de segurança novos, exatamente pra viajar com Alice, Olívia e Brisa. Elas vieram passar os dias do natal e voltariam pra casa comigo, que iria expor na serra, até janeiro.
Saímos de Niterói, atravessamos a ponte e o calor sufocante da baixada, chegamos na serra das Araras e, depois de um tempo subindo, um cheiro de óleo apareceu forte, olhei os retrovisores e vi fumaça branca saindo das entradas de ar. Paramos numa barraca de frutas, das várias ao longo da serra. Abri a tampa do motor, a rotação alta das marchas de força pressionara o óleo e espirrou pra cima do motor quente, daí a fumaça. Percebi que a tampa do óleo estava frouxa. Deixei aberto pra esfriar e fomos tomar água de coco. Olívia andou atrás de umas galinhas, brincou numa banheira com água de nascente, Alice comeu polpa de coco até enjoar. Uma paulista estava ali, chorando, abandonada pelo namorado. O cara parou o carro, atirou todas as coisas dela pra fora, expulsou a moça e foi embora, segundos antes da gente chegar com a Celestina fumaçando. Enquanto eu tomava água de coco, o cara me pedia uma carona pra ela e ela chorava, dizendo "sete anos de namoro e ele me faz uma dessa..." Mas, minha filha, em sete anos de namoro não deu pra ver que o cara era capaz de atitudes assim, não? O cara da barraca deu um pequeno sorriso de concordância, "pois é, né..." Mostrei as condições da kombi, ainda fumaçando um pouco, expliquei que não iria pra Sampa, mas pra Resende, que dali até Resende não haveria lugar melhor que aquele onde ela estava, pra arrumar carona. Perguntei ao vendedor se não parava gente indo pra São Paulo por ali, "toda hora" ele respondeu. Disse que levaria sim, mas que era melhor pra ela ficar por ali pra pegar uma carona direta. E fui ver o motor. Limpei o óleo e estava examinando a tampa e o retentor, frouxos - merda, vai continuar vazando. Um carro parou, um cara sozinho, tomou uma água de coco e levou a paulista. Olívia e Alice andavam por ali, achando coisas pra fazer na beira da floresta, Brisa monitorava de longe, Ravi desceu a estrada e voltou com uma jaca madura. Perguntei ao barraqueiro a distância pro alto da serra, "dois quilômetros". Ah, tá perto, o motor já esfriou, vambora.
Em Piraí, de novo o cheiro de óleo, a fumaça branca menos densa, paramos num posto de caminhões, as meninas vão no banheiro, tomam banho, eu fico no motor. Tampa e retentor tinham pulado, óleo por todo lado, queimando. Limpei de novo, improvisei uma ferramenta pra apertar o retentor, cortei uma arruela num feltro duro que tava no chão pra colocar na tampa, completei o óleo e partimos. Senti umas rateadas, achei que as velas tinham se sujado de óleo. Sabia de nada. "Precisa limpar as velas antes de subir a montanha", pensei. O problema era ser domingo. Paramos no trevo de Penedo pra falar com Tiago e Bruno, ver se eles podiam fazer o serviço. Nada, Tiago tinha ido pras cachoeiras e o Bruno ninguém sabia onde estava. "Ah, vambora, sejoquedeusquiser". Nas subidas e descidas até a Capelinha tava tudo tranquilo. Mas é ali que se tá de cara pra montanha, a estrada ganha inclinação e o curvaréu toma conta da estrada. Paramos e comemos na Capelinha. Abri o motor, pouco vazamento, a gambiarra tava funcionando, precariamente mas tava.
Barriga cheia, embarcamos com a agradável expectativa de encontrar um clima fresco mais acima. Na primeira subida mais inclinada, Celestina começou a ratear seriamente. Lembrei do engasgo anterior, com a Marta, no meio da serra, à noite, e resolvi voltar. Tem que limpar as velas, eu disse. Ravi pegou um ônibus na Capelinha, tinha marcado com Satya lá em cima. Sugeri a Brisa ir de ônibus, pra chegar em casa com as crianças, enquanto eu procurava resolver o problema. Ela recusou e, bem Brisa, afirmou que o conserto seria rápido e logo estaríamos chegando. Avisei que poderíamos ter que dormir na kombi, ela riu do meu "pessimismo", Alice adorou a idéia e Olívia não disse nada, porque sabe poucas palavras e não tava entendendo nada, ficando perto da mãe tava tudo certo, pois ali estavam os dois peitos cheios de leite que lhe pertenciam por direito. Voltamos ao trevo de Penedo, nada do Tiago, nem do Bruno. Procuramos outros mecânicos na área, nenhum estava disponível. Já era noite. Lembrei que a Dutra é cheia de postos 24 horas naquela área, algum deveria ter um mecânico. Saímos de Marechal Jardim nessa procura, mas antes de Resende o motor perdeu a força, tivemos que parar no acostamento e esperar o socorro da estrada, que é de graça e tem como finalidade retirar os carros da via, despejando em qualquer lugar. Troquei uma idéia com o motorista, sujeito simpático, e ele se prontificou a deixar a gente num posto que tinha o contato de um mecânico. Era um frentista, cara dos seus vinte e poucos anos, o contato. Ligou pro mecânico e a proposta dele foi até engraçada. Ele viria com seu guincho, levaria o carro pra oficina dele, nós iríamos pra uma pousada e no dia seguinte ele veria o que fazer no motor e prepararia a facada pro final. Eu ri, falei com o frentista ainda com o celular na orelha, "ele não sabe com quem tá falando". Ele riu também, enquanto via a gente se preparando pra dormir ali mesmo. Havia banheiros limpos, lanchonete e restaurante, estávamos bem estruturados.
Brisa ainda queria empurrar a kombi "pra um lugar mais escondido", mas eu rechacei a idéia, quanto mais expostos, melhor. Sair empurrando o carro por um motivo tão besta não ia dar. Ela improvisou cortinas nas janelas, criando uma privacidade, e dormiram Alice no banco do meio, Brisa e Olívia no último banco. Eu dormi no banco da frente, com as janelas abertas.
No dia seguinte vieram o Bruno e o Tiago, conseguiram
fazer andar a Celestina, aos trancos e barrancos, até a oficina deles, no
trevo, depois de comprar algumas peças, parafusos, coisa pequena. Levamos o dia
e a bicha não pegava força. Lá ficou, subimos a serra, Tiago nos levou, em
troca do combustível e da cerveja que tomamos no ponto pergunta e depois que
deixamos as meninas em casa. Fomos pra
Maromba e ficamos trocando idéia.
Ficou marcado de descer no dia 31 de
manhã, eu pretendia expor à noite na Celestina, ao lado do Café Coiote, na
Maromba. Faltavam dois dias. Encontrei a Cleide em Maringá, passando onde
exponho. Tomamos umas brejas, contei a história, ela se dispôs a ir comigo
buscar a Celestina. Fomos de ônibus até o
trevo, uma volta com ela e senti que não tava no jeito, rateava demais
pra subir a montanha. A coisa era mais séria que uma troca de velas e cabos.
Era preciso olhar o coração do motor, o bloco, abrir os cilindros, ver os
pistões. Serviço pesado. E lá ficou a Celestina. Tiago nos levou de novo,
tomamos várias no próprio Coiote, mas não expus.
Dia cinco desci de ônibus, em situação
bizarra, que demonstra bem o desprezo do patrão por seus funcionários e pelos
que são a fonte de renda, os passageiros. Não havia cobrador, a catraca estava
travada e o motorista, constrangido, se desdobrava em explicações a cada passageiro
que entrava, estava sem cobrador, a roleta travada, ele anotava os passageiros
um por um, num papel, que era preciso pagar a ele, descer e entrar pela porta
de trás. Isso, nos pontos mais cheios de gente, gerava uma demora enorme.
Vários passageiros, inclusive eu, tomaram a iniciativa de encurtar a explicação
do motorista, “paga na frente e entra por trás”, “a roleta tá travada”, mas ele
fazia questão de demonstrar sua honestidade, exibindo o papel cheio de
tracinhos a cada passageiro e aos grupos próximos, muitas vezes. Os idosos
deviam mostrar a identidade à câmera no fundo do carro. Ele gritava lá da
frente, as pessoas explicavam lá atrás e o idoso finalmente entendia, mostrava
a carteira pra câmera e a viagem continuava. Encheu. E demorou muito mais tempo
que o necessário.
Desci no trevo de Penedo, mais uma vez,
certo de ir embora pra casa, já vim com mochila e pasta de desenhos. Mas tava
tudo na mesma, hoje é que viria o guindaste – que eles não tinham – pra levantar
o carro e tirar o motor pra expor o seu miolo, o tal do cabeçote. Vou ter que
entender essas coisas, agora que pretendo andar por aí nessa kombi. Voltei a
subir, expus em Maringá. E também nos dias seguintes. Quinta, dia 8, acertei
com o Tiago uma meia sola pra andar, porque precisava fazer o motor. Uma
retífica. E os caras tinham que examinar as condições de proveito, não dava pra
definir nada. Mas a retífica demoraria mais dias, eu tava totalmente fora do
planejado, era pra ter voltado dia 5. Preferi a meia sola no cabeçote, que “dá
condição de andar por aqui, patrão, mas não pra distância toda que o senhor
quer”. Odeio ser chamado de patrão ou mesmo de senhor. Mas não disse nada.
Quando tomamos uma cerveja consigo fazer ele parar com isso. Agora quero saber
se a meia sola é pra hoje. “Talvez no fim do dia, o motor tá todo desmontado,
em último caso dá pra pegar amanhã de manhã”.
Tchutcha, amanhã é sexta, devo expor
sábado em Santa Teresa e preciso imprimir, retocar e embalar um monte de
desenhos que acabaram. Era pra ter ido segunda ou terça. O vizinho que ficou de
alimentar os bichos sabe que pode pegar ração fiado no Nico, eu pago quando
chegar. Mas tô atrasando muito.
Pelo menos estou escrevendo. Tanto tempo sem publicar, parece compensação essa overdose de palavras, como uma dívida paga com juros literários.
A Cleide tem uma foto da Celestina, tirada em Santa Teresa, vou pedir a ela pra colocar aqui a imagem da simpática senhora, ainda em tratamento pra se tornar engolidora de estradas. Quando estiver pronta quem for me chamar pra palestra pode pagar o gás, em vez das passagens de avião, pelo menos na região sudeste, embora a viagem de maio seja pro sul. Se possível, será o batismo estradeiro.
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Fico pensando nas arrumações das coincidências, dos acasos, arrumando caminhos. Há muitos anos, quando vendia artesanato de mesa em mesa, bar em bar, em relação intensiva com um monte de gente, pensante do mundo e da vida, avesso a qualquer tipo de religião e já descrente do ateísmo, dizia que eu tinha duas divindades, uma dualidade, um casal divino, o Acaso e a Coincidência. Divindades sem ego, que não precisavam de louvores nem de reconhecimento, não tinham necessidade de serem conhecidos, atuavam entre nós sem que nos déssemos conta. Uma brincadeira, uma intuição, uma escolha de imagens. Com o tempo, meu trabalho foi diminuindo em adornos e ganhando em reflexão, lentamente. A necessidade de falar, de questionar, se impunha. Até que predominaram os pensamentos e os desenhos se misturaram com a função social.
Eu andava satisfeito em ver meu trabalho causar reflexão, em provocar pensamentos, questões, questionar valores, comportamentos, objetivos de vida, as relações humanas, a estrutura social, nas calçadas, nas exposições, em qualquer lugar. Um dia, por acaso, vieram estudantes de jornalismo fazendo um documentário como conclusão de curso, me entrevistaram e publicaram na internet. Então outras entrevistas foram feitas e fui chamado em Curitiba pra fazer a primeira palestra numa semana acadêmica direito e psicologia, se bem me lembro. Era uma mudança de ciclo e eu não sabia, o ciclo das palestras. As calçadas continuam, mas perdi a conta da quantidade de palestras, conversas, debates, mesas, associações, entidades várias me chamando pra falar. A esmagadora maioria da região sul, a partir de Porto Alegre, Florianópolis e várias cidades do interior.
Em meus tempos de carona, de nomadismo, o sul foi a única região por onde não viajei. De São Paulo pra cima andei geral, amazônia, planalto central, cerrado, sobretudo nordeste, até chegar no sudeste. Depois de estabelecido no Rio e desde aquela entrevista em 2009 é que conheci o sul, tanta gente, tanta riqueza e variedade, tanta história, línguas próprias, uma variedade enorme de culturas convergindo e se relacionando. Pra mim, uma nova forma de me relacionar com o mundo. Conheço o sul a chamado, a convite, e me sinto agradecido. Mas não decidi fazer o batismo da Celestina no sul por nada disso, mas sim uma coincidência. Recebi dois convites pra falar no Rio Grande do Sul, Santiago e Santa Maria, imaginei que a kombi estaria pronta até lá e, já que vão me pagar passagens de avião, podem pagar o gás. Sugeri por alto e encontrei alguma estranheza, mas vai se ver o que ou como fazer. Na volta, devo parar ao longo do caminho pra expor, entrar em contato com as pessoas de várias cidades, arrumar a grana das despesas, dos custos e do material. Se o gás estiver pago, uma preocupação a menos. Há amigos e oportunidades várias nessas estradas de volta. Levo caixa de som e microfone, já que me chamam a falar. A kombi entra na história dessa mudança de ciclo, proporcionando possibilidades que não existiam, mas que surgem como complemento ao desenrolar do meu caminho. Sua primeira viagem grande ser pra região sul tem uma carga simbólica. Daí pra diante, a ver lo que pasa.
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Fiz palestras desde a Cidade Nova, em Foz do Iguaçu, passando por universidades e associações de moradores, até a federação das indústrias do RS.
Cidade Nova é um bairro criado distante pra jogar os removidos das cinco favelas formadas na beira do Rio Iguaçu, que foi transformada num lugar aprazível, lindo e rico, sem levar em conta as facções inimigas dos camelôs do tráfico, os traficantes de favela. "Eles puseram todo mundo aqui e como que disseram 'se vira aí'", me disse o Zeu, "a polícia nem vinha aqui". Um bairro que nasceu do inferno e hoje é um exemplo de superação, sem contar com o poder público ou encontrando formas de pressionar pra que o "poder" cumpra leis, pois ele foi privatizado e só serve a interesses empresariais. É na Cidade Nova que habita Mano Zeu - tá no youtube, se alguém quiser ver o trampo do cara - que foi quem me chamou pra falar na biblioteca da CNI (Cidade Nova Informa).
Na FIERGS era um encontro de empresários jovens, uma outra classe de gente, outros costumes e visão de mundo, outra freqüência vibracional. E uma outra forma de abordar a realidade, pois é preciso levar em conta a recepção das idéias, o tipo de terra a ser plantada deve definir as sementes possíveis.
A parte mais importante da comunicação é o receptor. Sem sua compreensão, qualquer comunicação tá perdida. Encontrei exceções às regras de cima a baixo na escala social, são como missionários em seus meios, pessoas abertas a diferenças, a outras visões de mundo, interessadas em aprendizado, inconformadas com a estrutura injusta da sociedade, que não se satisfazem com as ilusões dispersivas, com privilégios e consumo, com a superficialidade reinante. É preciso sempre falar a língua local. Com respeito e, se possível, com afeto.
Barreiras hierárquicas são obstáculos intransponíveis, distanciadores sociais de primeira linha, uma condição a ser superada no caminho. É preciso desierarquizar a humanidade, e que todos tenham acesso a pleno desenvolvimento - uma condição futura, penso eu. Não quero desdenhar aqui a hierarquia que se torna uma necessidade, em muitas circunstâncias na vida. Mas penso que é preciso ligar essa hierarquia a essa necessidade. Suprida a necessidade, alcançado o objetivo comum, desaparece qualquer distinção de superioridade ou inferioridade. Esse, no momento, é um trabalho sobretudo interno a cada um, impregnados que somos na competitividade, na hierarquização de tudo, desde o inconsciente e desde a menor infância. É a partir de dentro que podemos atuar na coletividade, com sinceridade, humildade e espírito de serviço. Há hierarquia de conhecimentos, de experiências, de habilidades, de muitas coisas. Mas isso não se transfere às relações pessoais. Nessas, se houver hierarquia, é moral, espiritual, e esta não se impõe como superioridade, mas sim como responsabilidade, em esforço, compreensão e tolerância, nunca em acusações e cobranças.
Como se vê, na minha opinião a hierarquia é uma concepção e uma forma de relação - entre inúmeras - a serem superadas no caminhar da humanidade através do tempo, do espaço e das dimensões. Características enraizadas em cada um de nós, trabalho interno - sempre -, que precisa de sinceridade pra ver o que é e não o que se deseja, profundidade pra encontrar as raízes, as causas, as razões que nem sempre se mostram claras, humildade pra reconhecer as próprias precariedades e poder trabalhar nelas., Enfim, um trabalho de consciência e individual, o princípio do trabalho coletivo.
Competitividade, desejos intensos de consumo, usufrutos e excessos, vaidades, egoísmos, intolerâncias, preconceitos, a própria estrutura social, a forma de viver, de se relacionar, a lista de superações é imensa. E se isso desanima os acomodados, de outro lado estimula os inconformados, pra quem é impossível se acomodar. O caminhar se percebe, fácil, quando se busca ter olhos de ver e não moldados por "conveniências". A mudança é a única permanência que percebo. Devo participar do processo da forma que eu escolher, e não como me foi determinado, condicionado, imposto e cobrado - dentro do leque de "escolhas aceitáveis". E isso exige constantes faxinas internas. Essas escolhas me levaram a ser o que sou - ou às vivências que tenho - e a fazer o que faço. Que deram sentido à minha vida dentro da realidade em que vivo, daí a necessidade de me informar além do que é mostrado "oficialmente", de fontes menos corrompidas e mais diversas. E fazer do meu trabalho minha forma de dizer ao mundo o que sinto e como vejo as coisas que considero importantes.
Agora entrou a Celestina no processo. De repente, vou poder carregar muito mais coisas do que posso carregar na mochila. Ainda não está pronta, mas sua função é clara. Deve transportar e servir de base pra expor as coisas que faço - e quem sabe o que mais, eventualmente. A capacidade de carga aumentou e eu penso que é na razão direta da responsabilidade sobre o que levar.
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Olívia acorda séria, não zangada, apenas não sorri. Não responde a cumprimentos e afagos. Olha e se espreguiça. A mãe troca sua fralda molhada. Depois disso ela ri pela primeira vez, pra mãe, depois pra mim. Saio do quarto pra tomar um café e escuto ela falando com Brisa, vovô.
Lembro de Brisa nessa idade, já acordava rindo, olhos arregalados olhando em volta, procurando as novidades do dia, cada pessoa que seus olhos encontravam ela abria um sorrisão. Lembro de ter visto o processo todo, estava olhando ela dormindo, ela abriu os olhos, se deu conta de que estava acordada e sentou depressa e contente, olhando em volta em busca de alguma coisa. Ou de tudo. Como naquela manhã, final de 83 na aldeia de Arembepe, na Bahia. Acordei de madrugada com batidas fortes na porta da casa de palha, a casa tremia toda - "é o leite!". Leite, aqui na aldeia? Eu demorava a acordar já abrindo a porta. Eram dois policiais federais, armas em punho e carteirinha esticada na minha cara. "Polícia Federal!" Cabeça em branco, disse tudo bem, amarrei a porta na palha - senão ela fecharia sozinha na cara dos sujeitos - e continuei falando baixinho, meio dormindo, cabelo comprido e todo desgrenhado, só vou pedir pra não fazer barulho que tem uma criança recêm nascida aqui, e apontei a caixa de papelão, toda forrada e coberta com um mosquiteiro, com furos nas laterais como entrada de ar. Eles baquearam, "recém nascida"? É, e de sete meses. "Sete meses?!" Espanto. Olhando em volta, pro teto, pro interior da casa, "ela vai morrer aqui!" Foi aí que Brisa acordou - era um único cômodo, na época - e foi sentando, viu os caras e abriu o maior sorriso debaixo dos impressionantes olhos azuis. Eu aproveitei pra responder, que nada, essa aí nasceu aqui, olha pra ela, não é saudável? Aí a mãe acorda, loura também, os canas perguntam, "essa aí é alemã?" Ela olha agressiva com aquela invasão de privacidade, "não, sou brasileira!" Eles, meio desconcertados, voltam a atenção pra Adhara, na caixa de papelão - Ovos Caipiras escrito do lado de fora. "Cês são maluco", diz um, o outro fala "não vou nem botar a mão" e escuta de volta a mãe, "ah, não vai mesmo!". Eles se olham e saem pra varanda, falando entre si baixinho. Brisa não tinha nascido ali, era mentira, mas não resisti à oportunidade, era a resposta que ele precisava ouvir no processo de desarmamento. Ela nasceu no Espírito Santo e já tinha morado em mais lugares que muita gente por aí, nos seus menos de dois anos. Mas eu estava ameaçado em minha casa por um Estado corrupto e tirânico, sob pretexto de ser um território maldito, a "aldeia dos ripe", onde rolavam sexo e drogas à louca, uma grande mentira que trazia a agressividade policial e a ilegalidade pra ameaçar qualquer vivente da área. Tocados onde menos esperavam, a sua humanidade, os canas foram embora sem fazer o mal que vieram programados pra fazer, ao menos com a gente. Muitos na aldeia foram levados embora por eles, estrangeiros sem documentos legais. Mas isso são outras histórias.
"Preso" na montanha pelos problemas com a Celestina, achei desenhos que tinha guardado pra esvaziar a pasta, quando cheguei, numa prateleira dos fundos da casa de Brisa. Não lembrava e foi um alívio. Pelo menos tenho desenhos pra expor amanhã, vou precisar imprimir menos do que pensava. Isso alivia a pressa e garante a exposição de sábado.
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"Em último caso, dá pra pegar amanhã". Não deu. A Celestina tava lá, bunda pra cima, apoiada em dois tocos, sem o motor, que tava aberto entranhas expostas na bancada da oficina. Todo fudido por dentro. Solução, retífica, depois de uma avaliação. Thiago e Bruno convocaram uma avaliação pro final daquele sábado, quando vários mecânicos amigos entravam e folga e viriam pra olhar, analisar e opinar. Marcamos segunda e voltei à serra pra expor novamente no muro do estacionamento em Maringá. Penso que o motor deve ser retificado e devo fazer isso antes do carnaval, até lá vou na meia sola, mesmo, que "o tempo ruge". Depois da retífica, a Celestina vai subir com um pé nas costas, carregada de material, ainda menos do que pretendo. Ao mesmo tempo em que se prepara a kombi, a oficina de produção corre em paralelo.
Estive hoje na oficina de metais da Priscila. Saudade dos metais. Na oficina pretendo manter uma bancada pra metais, tenho ferramentas e pretendo voltar a usar, embora não seja como centro do trampo. Vivi desse trabalho por muito tempo e exclusivamente, é um sacrifício enorme e não sobra tempo pra muita coisa. Agora o contexto é outro, o metal entra como acréscimo, um prazer, uma pequena seção do trampo, pra ser apresentado quando possível.
Tiago mecânico ligou. A junta de mecânicos condenou o motor. Nem pra retífica serve, ou serve mas sem garantia de que funcione muito tempo. Não sei o que aconteceu que marcou fundo o bloco de aço maciço, mas a conclusão foi a pior possível. Seria preciso trocar o motor. Pelo menos é o mesmo preço da retífica, num bloco de motor inteiro, muito mais conservado.
Minha intenção de arrumar uma terrinha na montanha se desfez no ar. É preciso arrumar a base da minha vida, a oficina de produção e o transporte e loja, a Celestina.
Segunda, de frente pra kombi sem motor, lembrei que esqueci o telefone na casa de Brisa, carregando na tomada. Hoje vai. Colei em Tiago e Bruno, "amanhã é aniversário da minha mãe, 94 anos, não dá pra não ir", resolvo pressionar e funciona. Pra mim essas datas não têm significado além de motivo pra reflexão. Mas isso é pra mim, pra ela sei que é importante e seria uma alegria. Voltando à Celestina, o transplante de coração tá decidido. Vamos e voltamos a Resende, acertamos o motor, voltamos, pegamos o velho, prende o reboque, carrega o motor, suja a roupa nova de graxa (quem mandou colocar a túnica novinha que Brisa me deu?), leva, descarrega, avalia, não vale nada, prepara o novo, carrega, leva, descarrega, solta o reboque, devolve ao vizinho que emprestou. Começa às seis e tanto a colocação no lugar. "Dessa vez ela vai ficar pronta pra encarar qualquer subida", eles dizem. Resolvo fazer o teste. Vou subir a montanha pra buscar meu telefone, aproveito pra testar. E na continuação, desço e vou pra casa, na madrugada. Aproveito pra tomar um banho lá em cima, antes de viajar de volta. Pelos meus cálculos eu chegaria em casa entre quatro e seis da manhã, se tudo corresse bem. E daria pra almoçar com minha mãe. Eles ficaram espantados com minha disposição, "é mesmo? Tu vai emendar direto?" Era mais de meia noite, eles davam os acabamentos na colocação do motor, quando chegou um amigo de infância deles, traficante da área a espera de clientes, e ficou olhando o conserto, ouvindo a conversa de Bruno e Tiago, abaixado, "virou mecânico mesmo, hein Tatu..." Eu tava em pé, mais afastado, pensando na vida, quando ele me olhou de repente - ouviu na conversa deles o que eu pretendia fazer - e perguntou espantado, "tu vai subir a serra pra Mauá a essa hora?" Eu respondi "vou tentar, né, já tentei duas vezes e não deu, agora eu acho que vai". Ele balançou a cabeça, disse "eu não subo essa hora de jeito nenhum". Ué, por quê? Ele me olhou sério, "é cheio de assombração". Não ri, continuei, sério, "e depois ainda desço pra Niterói", pra espanto maior ainda. Acho que saí dali cheio de moral com ele. Se me encontrar de novo, na certa ele pergunta como foi.
O tempo estava fechado desde o fim da tarde, depois das nove começou a pingar esporadicamente, no horizonte apareceram raios e relâmpagos, cada vez mais freqüentes, junto com um vento forte que fazia soarem e voarem folhas, galhos e poeiras. Isso fazia mais impressionante minha intenção, parecia um agouro pra viagem. Nuvens pesadas escondiam as estrelas, pingos grossos e esporádicos pareciam avisos, rajadas de ventos balançavam as árvores, em frenesis ocasionais. Os raios e relâmpagos por trás do Pico das Agulhas negras revelavam por instantes a silhueta da serra de Itatiaia, preta na escuridão da noite, me esperando.
Afinal, tudo pronto, meia noite e quarenta. Despedidas, agradecimentos, desejos de boa sorte, vais com deus, pagamento, mais bons desejos e adeuses. Peguei o trevo, passei por debaixo da via Dutra e embiquei na direção do escuro da montanha. Quase ninguém na estrada, passei por dois carros até o último trevo de Penedo, depois escuridão de floresta e em dez quilômetros cruzei um carro. Celestina, lépida, passou na amostra de serra até a Capelinha sem problemas, subindo até em quarta, sem pedir a segunda nenhuma vez. Da Capelinha em diante, a estrada afunda na floresta e começa a subir, entre as árvores altas, abrindo uma vista de vez em quando da planície que vai ficando lá embaixo. A ventania continuava, eu via as folhas se agitando, pedaços de galhos na estrada, recém caídos, alguns batendo no chão sob a luz dos faróis, tive que desviar de vários maiores, atento nas encostas pra perceber algum deslizamento, nas partes mais íngremes, cheguei a ver um pequeno, ainda inofensivo. Em grande parte dessa estrada se passa entre a vegetação sem ver o céu, as árvores misturam seus galhos grandes sobre a pista e mesmo de dia fica escuro. A kombi se comportando bem, se resolvia em terceira e quarta marchas, poucas vezes pedindo a segunda, em locais onde eu imaginava que só de primeira ela passaria. Cheguei no alto da serra e parei. Afinal. Saí do carro, olhei em volta, a chuva tinha parado como se estivesse mais pra baixo na montanha. Eu via as nuvens mais abaixo, de um e de outro lado. Na terceira tentativa, Celestina superou a subida. A ladeira da casa de Brisa era o último e pior teste, eu sentia que seria fácil com o motor novo. Desci até Mauá com atenção nos freios - ainda não pude conferir o sistema, apesar de saber que as pastilhas estão em boas condições -, passei pelo povoado deserto e tomei a estrada que sobe o rio Preto. Feliz da vida, Celestina respondendo direitinho aos controles, forte, tranqüila, segura. Agora chovia pouco na noite escura e na estrada vazia. Desviando dos galhos e ramos caídos na estrada, chegamos à ladeira crítica. Subida em primeira, sem fazer muita força, Brisa tinha deixado o portão aberto - eu havia falado com ela pelo telefone do Tiago -, imaginou que seria difícil parar naquela inclinação - o freio de mão não segura -, e deu pra entrar sem dificuldade. Alice e Brisa acordaram. Enquanto eu tomava banho, Brisa esquentou a comida. Jantei e o corpo amoleceu. Eram duas e meia da manhã, considerei o cansaço do dia e concluí que seria forçar a barra sem necessidade. No dia seguinte eu teria tempo de sobra pra chegar na casa da minha mãe, ainda que não na hora do almoço, antes de ir pra minha própria casa.
Dito e feito, cheguei às quatro no Leblon, sem problemas. Confraternizações feitas, fui pra casa de noite. E encontrei a situação crítica.
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Quando saímos, Ravi, Olívia, Alice, Brisa e eu, dia 28 de dezembro, havíamos iniciado o processo de preparação da oficina, juntado vários montes de entulho, galhos, folhas e lixo no quintal, pra resolver na volta. Um vizinho se encarregou de alimentar os bichos e colocar água, todo dia. Havia uns carrapatos, mas o gato parece imune a carrapatos e Tina Tâner tomou uma vacina preventiva que envenena o sangue do cachorro e elimina os carrapatos. Achei que daria pra resolver na volta, mas a ausência durou muito mais tempo que o esperado e a infestação tomou conta. Os montes de entulhos e resíduos viraram focos, empesteados por milhares de pulgas e carrapatos, um mar desses bichos se espalhou no quintal todo, mesmo dentro de casa.
Parei no portão, vi Tina deitada na varanda da cozinha, olhando. Estranhei ela não estar no portão, fazendo seu habitual estardalhaço, com choros, latidos, voltas e abanos de rabo. Chamei, ela levantou devagar e vinha andando, mas eu disse ficaí e ela parou. Coloquei o carro pra dentro, só então desci e olhei de perto. Um estado lastimável, havia tufos de carrapatos aglomerados em toda parte do seu corpo, a começar pelas orelhas. Horrorizado, sabia que tirar um por um a deixaria em carne viva e inflamaria depois. Fui com Ravi - que estava em casa no dia anterior - numa veterinária e trouxemos um anticarrapaticida forte, pra passar em Tina, e outro, pra passar no ambiente. Ela demonstrava uma fraqueza enorme, recusava comer, mesmo com os carrapatos caindo às dúzias, condenados pelo sangue envenenado. Ravi chegou a comprar uma lingüiça pra incrementar a ração. Ela comia, mas muito pouco.
Eu tianha um compromisso no Piauí, no fim de semana. Pelo que vi, não daria pra deixar a casa nesta situação, estava muito a fim de ir no evento, uma semana acadêmica na cidade serrana de Dom Pedro II, que não conheço, numa área onde passei uma única vez na vida. Lamentei profundamente sacrificar essa viagem, mas como se provou, era uma questão de vida ou morte. Alguns dirão que não adiantou nada, que Tina morreu assim mesmo, mas eu sei que se ela morresse comigo longe, ainda mais consciente do problema e da minha omissão, eu me sentiria muito pior. Escrevi pra eles, avisando da urgência, duas vezes. Ninguém respondeu nada. Devem ter ficado furiosos, dar pra trás assim, em cima da hora. Mas foi inevitável e a vida tem dessas coisas, né não? Provavelmente ganhei antipatia por ali, mas não pôde ser de outro jeito.
Continuamos com o tratamento e a limpeza do ambiente, nada fácil com tantas reentrâncias e buracos, com uma peste dos diabos infestando toda parte da casa. Aos poucos, os bichos foram cedendo, mas a cachorra não resistiu. Tina Tâner fez a passagem no domingo, enquanto eu expunha em Santa Teresa, assistida em seus últimos momentos por Ravi. Deitou, ofegando, e expirou em silêncio, sob massagem raviana. O veneno pra carrapato deve ter tido sua participação, mas nós perdemos já uma ótima cachorra, apesar de idosa, no hospital veterinário, por overdose de sedativos, daí o medo. As profissões da saúde, subjugadas por interesses empresariais, têm prioridade no consumo de remédios e procedimentos que geram lucros. Não dá pra confiar. Acabou que nós é que envenenamos nossa familiar, inadvertidamente, pensando em atacar os carrapatos que a torturavam.
Partiu a cachorra mais mansa com quem já convivi. Sua delicadeza, apesar do seu tamanho, lhe
Foto - Alice Luz |
Até hoje persiste esse combate, dentro da casa não há mais pulgas - que se tornaram uma infestação pior que os carrapatos - mas ainda há combates no quintal. E eu sozinho em casa. Bueno, ontem a Cleide estava aqui e não negou fogo, demos um grande adianto no processo. Mas espero os outros pro combate final, o extermínio definitivo vai ser um trabalho de grupo, em todos os cômodos da casa e em todo o seu entorno.
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Eduardo.
Tu és um narrador fantástico! Faz um episódio de carro enguiçado ficar eletrizante e itneressante, hehehe! Aguardo o final :)
ResponderExcluirMuito interessante e divertida a estória da Celestina, apesar de seus problemas de "saúde"/funcionamento!
ResponderExcluirBaita Contador de Histórias, Eduardo Marinho....Adoro!
ResponderExcluirQue peninha da Tina. =/
ResponderExcluirPuxa, lamento a perda da cachorra tão querida (essa foi a tragédia, agora entendi). Mas são coisas da vida, perdas existem toda a hora.... ah, Eduardo, se eu tivesse o teu talento artístico e literário, largava tantos compromissos e obrigações, pois sabia que pdoeria sobreviver. Mas eu só sei dar aulas, orientar teses e fazer pesquisa qualitativa. Então continuo até encaminhar minha filha. Depois.... vou viver mais livre. A liberdade é linda, é vida........ tô esperando o próximo livro, hein? Se passar por POA em maio, por favor avisa! Abço.
ResponderExcluirCom esse "talento artístico e literário", meus filhos estudaram em escolas públicas péssimas, vivemos nas condições mínimas de sobrevivência, várias vezes tivemos períodos sem casa... não basta, não, Marília, tem que ter alguma coisa que eu não tenho. rs Mas que não se entenda nenhum lamento ou reclamação, as vivências nessas condições são riquíssimas, quando se consegue absorver o que a vida ensina, minimamente. Foi aí que se desenvolveu minha visão de mundo e de humanidade.
ExcluirTadinha da Tina..
ResponderExcluirEla só pode estar bem, Adha. Nem nunca mordeu ninguém. Fez amizade com o Chico, que foi agressivo e demorou um tempão pra aceitar, até ficar todo babado com os carinhos dela. Tremenda bunda mole na guarda da casa, mas latia grosso na simulação e funcionava. Lembro de um dia ela estar latindo furiosa com as crianças voltando da escola - elas não eram fáceis, faziam macaquices na frente do portão, gritavam, provocavam, parece que adoravam os latidos furiosos de Tina Tâner. Conhecendo a índole, cheguei por trás e abri o portão de repente. As crianças correram apavoradas até virar na esquina de cima, mas Tina parou de latir na mesma hora, mudou completamente de expressão e me olhou como quem diz "oi, tudo bem?", abanando o rabo.
ExcluirEla tá bem.
Parabéns pelas tuas vivências e relatos. Fugir do condicionamento social é tarefa urgente e pena que cativa raras almas, inconformadas com a vida imposta e não escolhida. Convido-o a conhecer www.sentidosplenos.blogspot.com
ResponderExcluirAbraço