Duvido que houvesse tanta oferta de crianças, adolescentes e jovens pro crime se as escolas fossem boas, se o investimento em educação fosse prioridade, como no tempo dos CIEPs. As crianças faziam questão de ir pra escola, exigiam dos pais mais relapsos. Havia café da manhã, almoço, lanches e janta, banho e escovar os dentes antes de entregar aos responsáveis, no fim do dia. Além de aulas tinha música, teatro, esportes, artes, havia interesse na formação integral e os resultados eram visíveis. A criminalidade nunca foi tão baixa, reduzida às bocas de fumo localizadas, assaltos eram raros, os índices eram muito mais baixos. A fábrica de escolas construída na época permitia a montagem em concreto armado de uma escola em um mês ou pouco mais, pra quinhentas, mil, mil e quinhentas crianças, conforme a necessidade local.
Escolas assim, interessadas na formação do ser humano como um todo, formam um povo mais instruído, mais esclarecido, mais capaz de pensar por si, mais difícil de se conduzir com mentiras, promessas e sorrisos. Daí a sabotagem do ensino público, na criação de ignorância, daí o enquadramento do ensino privado e do acadêmico em valores empresariais, apresentando o mundo como uma arena competitiva, um campo de batalha onde se deve vencer, e não como uma coletividade que tem, ou deve ter como objetivo a harmonia, a paz social, a inclusão e o cuidado de todos para com todos.
Isso deve parecer impossível, nas determinações dos poderes sociais, os econômicos - exercidos sobre o aparato estatal e sobre as mentes formadas, induzidas e controladas com valores, comportamentos, objetivos de vida, desejos programados, visão de mundo distorcida. Acreditamos num monte de mentiras e, no fim da vida, temos a sensação de ter vivido em vão. Enxergar a realidade implantada dentro de si é o primeiro passo pra ver e pensar além do condicionado. E é fundamental na mudança de valores, de comportamentos, muitas vezes de coletividades - e muda o mundo, a vida, os gostos, os sentimentos em viver.
Me parece constrangedoramente óbvio que se o Estado investisse na sua população o que é de direito constitucional, os artigos básicos dos direitos humanos, a criminalidade cairia verticalmente. Como é também constrangedoramente óbvio que se vejo esse mesmo Estado fechar turnos e escolas, reduzir espaços e superlotar salas, desfazer programas que abriam portas de estudos a pessoas da parcela enorme sem condições de pagar, enquanto investe na construção de presídios, vejo as intenções que movem essas atitudes. Percebendo o processo de privatização do sistema carcerário, a fecha o quadro. Quem pretende diminuir a criminalidade não constrói presídios, investe em escolas, no ensino, na população. Prisões são escolas de crimes e se relacionam intimamente com a sociedade, todo o tempo, profundamente. Dorme quem não vê. A criminalidade se entranha em todos os níveis da sociedade, com a mídia como seu porta-voz, condutora da mentalidade, distorcedora da realidade, controladora das informações, malabaristas de verdades fabricadas.
Cara, tô assustada, muito mesmo. A sensação é de estar vivendo realidades paralelas entre tanta polarização de idéias e descaso com o que é óbvio.
ResponderExcluirExcelente texto. Obrigada!
Fala Eduardo,
ResponderExcluirSatisfação enorme em poder trocar uma ideia contigo por esse portal.
Admiro muito suas ideias, e já tem umas duas semanas que eu procuro um vídeo seu que vi há alguns anos em que você fala sobre a capacidade de observação em reconhecer um maltrapilho, um pilantra. Lembro que vc no vídeo fala sobre um caso em que vc ia deixar um outro artista de rua dormir na sua casa, e aí no caminho vcs pegam um ônibus em que o trocador deu troco a mais pra voce e o sujeito te puxou pra impedir que vc fosse devolver ao trocador. E aí foi assim que vc decidiu não leva-lo para casa.
Tô há duas semanas procurando esse vídeo mas não encontro, temo q tenha sido excluído. Gostaria que você escrevesse algo, ou falasse mais sobre isso (essa capacidade de observação). Gostária de aprender.
Agradeço pela atenção, abraço Eduardo!
Daniel
Eduardo,
ResponderExcluirForça nessa missão grande irmão. Ainda estou aprisionado nas armadilhas do sistema, já há algum tempo venho buscando despertar e atuar ativamente na minha vida e na sociedade. Seus textos e vídeos ajudam muito, traduzem de forma clara e alertam sobre onde estão os gatilhos das armadilhas e sua forma de funcionamento. Eu, Lucas Fernandes, agradeço e saúdo a você, Eduardo Marinho, pelo belo trabalho de trazer mais humanidade à sociedade e ao mundo.
"Sucesso", (seja lá o que isso signifique pra vc)
Lucas Fernandes
Poxa, vejo seus videos e imagino o mundo de evolução que tu veio.. é uma grande batalha, sei que nascer "fora da caixinha" em um país como o nosso, e ter valores como os seus, que em gênero e grau são meus também, nos aliena a estagnar em um universo nosso, fazer a passos curtos e lentos o possível para a comunidade.. outra opção seria se integrar ao sistema e ver a classe esmagar e massa "inferior e sem instrução".. Desde que o acesso a internet "viralizou" acreditei que agora a população trabalhadora do país se uniria em prol de um bem comum.. mas não é isso que acontece, lamentável. Admiro sua coragem em expor seus pensamentos que por vezes ofende aqueles que mantém esse sistema falido de movimentações bancarias e falta de caráter!
ResponderExcluirAssiste o filme "Thrive" no youtube. Eh excelente.
ResponderExcluirEu admiro projeto CIEPs. Projeto maravilho!
ResponderExcluirSou seu fã
ResponderExcluirObrigada. Muito obrigada.
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