terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Mudanças íntimas, mudanças sociais

Há pessoas que precisam de um mapa, um caminho pras soluções. Como resolver o problema? Como fazer as pessoas se conscientizarem, como tornar o mundo justo, qual a saída, qual a solução? Pessoas apressadas, sem noção do processo multimilenar em que somos parte ínfima, embora sejamos tudo o que temos. Com o olhar voltado ao outro, ao coletivo, ao externo, e não a si mesmo. Antes de pensar em mudar o mundo, é preciso saber se o vemos com os nossos próprios olhos ou se vemos com as lentes distorcedoras que nos impõem desde a infância. Se queremos com nossa própria vontade ou queremos o que fomos condicionados a querer. Se nossos valores são nossa escolha consciente ou foram implantados em nós desde o inconsciente. Se nossos desejos são nossos mesmo ou são fruto do massacre publicitário-midiático cotidiano. 

É preciso trabalhar nos próprios condicionamentos, antes de pensar na evolução coletiva. Ela já acontece e não depende de ninguém, há milênios, milhões de anos. Cada um de nós passa apenas algumas décadas e parte. É pouco tempo demais pra se deixar escorrer, induzido por uma armação social aprisionadora, que me impõe valores fabricados, comportamentos induzidos, estimula o ego, a competição, o confronto, a ânsia do consumo como importância social. Que me impõe envelhecer sem sentido ou com sentidos falsos, vazios de significado, causando tanto sentimento de viver em vão nos que avançam nos anos. Inclusive nos que se dedicaram à revolução social, na busca por uma sociedade menos injusta, mais igualitária, menos perversa e mais solidária, mas não se dedicaram à revolução interior, pessoal, à observação íntima, com profundidade, sinceridade e humildade pra reconhecer e trabalhar nas próprias falhas.

Enxergar em profundidade, em extensão e de forma abrangente já é um serviço pra algumas gerações. O desenvolvimento de alternativas as mais variadas será um processo paralelo a essa percepção. O foco agora é desvendar, destrinchar e expor os mecanismos sociais ocultos que fazem do Estado uma organização criminosa contra o próprio povo, a serviço de um punhado de podres de ricos mundiais com a cumplicidade das elites locais. Que foram formadas pelos colonizadores, desde a colônia, passando pelo império, até agora na dita "república", no desprezo pelo próprio povo e na subalternidade aos colonizadores, "primeiro mundo", "sociedades desenvolvidas", prontas a entregar as riquezas aos exploradores às custas da miséria, da pobreza, da exploração, de todas as perversidades sociais facilmente extinguíveis, se houvesse interesse, ou melhor, permissão pra isso. A estrutura social foi toda formada por poderosos, é óbvio que a seu favor. Os próprios contestadores do sistema exercem condicionamentos sociais, sem se dar conta. Sentem superioridade se têm curso "superior", por exemplo. Numa sociedade que induz à competição, ao confronto, ao conflito, se propõem a mudanças confrontando, disputando, competindo. Incorporam superioridades e inferioridades condicionadas, egos inflados, e abraçam verdades intocáveis. Desejam o que manda a publicidade, aceitam o trabalho como um sacrifício, anseiam pelas sextas-feiras, pelas férias, pelo usufruto. Acreditam que através das "instituições democráticas" se pode alcançar mudanças sociais significativas. Chamam de "redemocratização" o processo de reconstrução do cenário falsamente democrático, escondendo os mecanismos de controle, indução, bloqueio e pressão pelos poucos de sempre. Falam em democracia quando estamos numa claríssima ditadura banqueiro-empresarial, onde o patrimônio vale mais que a vida, o interesse empresarial vale mais que o interesse de comunidades inteiras e o Estado está escancaradamente a serviço dos mais ricos e suas mega-empresas de todo tipo. Um comportamento que se repete há muito tempo, desde antigas gerações de socialistas.  Exerceram as programações inconscientes, pensando em revolucionar a sociedade - "confrontaram" as "instituições", desejaram a vitória, se organizaram em "hierarquias" induzidas, criaram expectativas indevidas, numa repetição de comportamentos, de sentimentos que não puderam resultar em outra coisa senão a frustração de um "fracasso" programado. É a contestação planejada, que não fala a língua geral e tem pouco ou nenhum poder de mobilização e mudanças profundas.

Poucos se dispõem a trabalhar em si mesmos e nos seus próprios condicionamentos, poucos olham pra dentro profunda e sinceramente, serena e humildemente, pra reconhecer suas próprias falhas, suas próprias necessidades. Mas as raízes internas são o que dá espontaneidade e força às ações coletivas, abrindo percepções impossíveis na superfície, permitindo mudanças íntimas, pessoais, que se refletem no trato cotidiano com o mundo, com as pessoas e acontecimentos, nas relações sociais, nos sentimentos que se alimenta e que se provoca nas pessoas em volta. Mudanças que permitem melhor proveito nas relações coletivas, mais harmonia no trato e nos relacionamentos. Nas reações diante de discordâncias, de perdas, frente aos revezes da vida. Melhor freqüência, melhores sintonias. Mudanças íntimas são fundamentais nas mudanças sociais. A curto prazo no individual e a longo prazo no coletivo. Como o crescimento de raízes.

Eduardo Marinho
Bananal, Juiz de Fora, MG. - 27/02/2018


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Modelo de educação

A educação "oficial" tem um modelo empresarista dividido em três. O primeiro, vasto e destinado à esmagadora maioria, não tem como objetivo instruir, mas criar trabalhadores desqualificados e de baixa qualificação, a chamada mão de obra barata, explorável e descartável. O segundo é preparador dos gerentes, dos administradores diretos da massa desqualificada, originários das classes médias, com a instrução pautada em valores de consumo e propriedade, na visão de mundo distorcida da chamada "meritocracia", altamente empresarial e socialmente ignorante. O terceiro, extremamente reduzido, se destina à formação dos filhos das elites financiadoras de campanhas eleitorais, publicitárias, midiáticas e ideológicas, para serem os exploradores - parasitas sociais que dispõem de condições de controle sobre o aparato público, dominando o Estado na manutenção dos seus privilégios e poderes criminosos, além do modelo de sociedade onde o patrimônio vale mais que a vida e os lucros, mais que o bem estar coletivo.

Pescaria no caderno

Privilégios de alguns, direitos roubados da maioria

Diante do quadro social constrangedor - pobreza, miséria, abandono, ignorância, desinformação, exploração do trabalho - e suas conseqüências - violência, criminalidade, angústia geral e frustrações a rodo - onde saltam aos olhos os direitos constitucionais violados, num Estado criminoso que não cumpre sua "lei máxima", direitos respeitados são uma responsabilidade social. E privilégios são uma obrigação moral de serviço coletivo.
Ostentações de luxos e privilégios são demonstrações de pobreza de espírito, de indiferença com o sofrimento de milhões, de conivência e cumplicidade com os crimes de Estado cometidos contra a população por uma estrutura social empresarista e desumana. Entre as minorias privilegiadas há uma dificuldade imensa em enxergar a realidade como ela é. O privilégio depende de direitos roubados, ou não haveria serviçais e a massa indispensável de trabalhadores braçais. O olhar da conveniência naturaliza as injustiças e as justifica.
Os privilegiados conscientes - ou que têm a intuição - da sua própria perversidade se levantam em fúria contra a simples menção de injustiças sociais. Lançam insultos, acusações e afirmações falsas nas quais precisam acreditar, no apego aos privilégios. E servem de obstáculo ao caminhar coletivo em direção a uma sociedade menos injusta, mas igualitária, menos perversa e mais solidária, em direção à harmonia social que o desenvolvimento científico e tecnológico já permitem há tempos, faltando apenas o desenvolvimento humano, moral, social e espiritual pra isso.

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Não é o mundo que está piorando, nem a humanidade está regredindo. É a tua visão das coisas que está se ampliando, aumentando a percepção da verdadeira profundidade dos problemas, além dos aspectos de superfície.

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Consciência não se alcança, se desenvolve. O que se alcança são degraus de consciência. O desenvolvimento é permanente.

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O orgulhoso têm dificuldade em distinguir humilhação de humildade, pra ele parece a mesma coisa. Mas a humilhação nasce do orgulho. E a humildade é seu antídoto.

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A arrogância intelectual não permite o encontro entre o saber e a sabedoria, a união que será a salvação do mundo, da humanidade e da vida. Por isso o saber foi feito prisioneiro da ganância, acorrentado pelos sentimentos induzidos de superioridade acadêmica. E a sabedoria foi desacreditada, desvalorizada e vestida de inferioridade e convencida da sua própria impotência. Mentiras deslavadas que servem à manutenção desta estrutura social injusta e desumanizante.
Essa união vai pacificar e harmonizar a sociedade, com sentimentos de coletividade, solidariedade natural, consciência social e cooperação, com humildade digna.

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