Devagar, quase na velocidade de uma caminhada, íamos na kombi, olhando. O rio morto estava ali, a vinte metros. Na faixa entre a estrada cheia de terra e o rio, casinhas ao longo, pobres e muito pobres, improvisadas sobre o terreno inclinado, telhados escorados, muros remendados, a vida apertada em todos os sentidos. Uma senhora negra, cabelos brancos, sorri pra nós quando cumprimentamos e responde alto. Paramos a kombi, ela chega pra conversar. É dona Sofia, mora ali há muito tempo, tem filhos criados, morando fora. Ela fala que depois da lama dos rejeitos, a vida acabou. E a samarco? Ela fica séria, parece compenetrada, põe a mão no queixo, olha pro lado como quem não quer encarar e diz "a gente tá com a samarco". A senhora trabalha com o quê? Ela sorri sem responder, uma passagem de insanidade no olhar, tento consertar, vive de quê? Ela retorna à serenidade, me olha cheia de condescendência, ainda sorrindo e ainda sem responder, como se eu fosse incapaz de compreender. Baixo o tom de voz, a senhora era pescadora? Ela abre mais o sorriso, fecha os olhos e confirma com a cabeça, "eu e meu marido". Há uma tristeza forte no seu sorriso conformado. E agora? Ela ergue os ombros, olha pro céu. A mineradora "dá" a ela noventa reais por mês. E tem dado água, pouca, mas tem. Há muitos que não recebem nada. Com os noventa "dados" ao marido, cento e oitenta pra passar o mês. E isso porque ela "tá com a samarco".
A educação pública não merece o nome, é sabotagem e criação de ignorância, fornecimento de mão de obra não qualificada ou de baixa qualificação, pra ser explorada, manipulada, controlada, reprimida e descartável na miséria extrema. Enquanto isso, o sistema de comunicações distorce a realidade, superficializa mentalidades, aliena, induz, condiciona e comete todos os crimes contra a verdade que os interesses banqueiros e mega-empresariais - sempre o mesmo punhado - julgarem "necessário". Isso é o que cria o campo pras "donas Sofias" acreditarem nos parasitas sociais.
Num dos poucos momentos sem sorriso. |
O sentimento de tristeza é pesado demais
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ResponderExcluirEssa mulher está sendo silenciada, comprada, satisfeita, não pede ajuda, embora não tenha a mesma vida de antes, não abandona seu chão. É por aí Eduardo ?
ResponderExcluirPra mim a educação pública merece esse nome sim, porque é essa a educação pública do Brasil, sempre foi assim, então nunca teve um diferencial, sempre falta alguma coisa, o pessoal do público sempre se f$&@. Abandonados e desprezados, vivendo de migalhas. Querem diminuir as desigualdades sociais com ordem e repressão, oprimindo os pobres com tiro e porrada. A intervenção no RJ e prova disso, estão metendo bala a troco de nada e sem critério algum, sem instrução, apertando o gatilho e tentando silenciar os oprimidos.
"Quando o ódio dominar não vai sobrar ninguém"
Quando o ódio dominar, não vai sobrar ninguém...
ExcluirPode crer.
Por um lado, a tristeza de saber que existe gente inconsequente, que por causa de dinheiro destroi a vida de muita gente, e nao só gente, destruiu toda uma Fauna e Flora, irrecuperavel...
ResponderExcluirPor ooutro lado, a força do brasileiro, levantar a cabeça e seguir com um sorriso no rosto, apesar dos pesares, nada tira a união e satisfação do povo da base, gente que realmente faz deste pais diferente e importante nesse mundo vazio...