segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Para Brisa

Pra você, cercada dessa ignorância social raivosa que infesta a coletividade, debatendo essas propostas superficiais que não buscam as raízes dos problemas sociais e pretendem "combatê-las" de forma que, claramente, vão agravá-las. Por exemplo, criando mais universidades do crime (penitenciárias) ao invés de buscar os porquês de tanta criminalidade - crimes de Estado, constitucionais, contra a maioria da população, negando direitos, condições de moradia, de educação, de alimentação, de informação, criando miséria, pobreza, ignorância e desinformação, deixando as comunicações do país sob controle empresarial, mantendo áreas de exclusão social onde o massacre publicitário-midiático cria desejos compulsivos de consumo, como valor social e pessoal, onde não há condições econômicas pra isso, praticamente convocando ao crime milhares e milhares de jovens, adolescentes, adultos e crianças. Tratando superficalmente de todos os temas, apelando pra termos sonoros como "família", "Deus", "pátria", longe de apresentar propostas sinceras, profundas e realizáveis no sentido de solucionar os graves problemas permanentes através dos tempos e de governos que servem aos poderes econômicos.

Não se trata de "combater" esse ou aquele candidato, mas sim de pensar em formas de sociedade onde não exista gente como lixo, abandonados sociais, ignorância e miséria, onde não exista a exploração desumana que força milhões e se apertarem em transportes públicos torturantes, várias horas por dia. Onde não haja mendicância ou doenças sem atendimento. Onde não se produzam desabrigados sociais, os chamados moradores de rua. Onde não se veja o constrangedor - e revelador - constraste entre a riqueza ostensiva e indiferente de poucos e as condições miseráveis de dar vergonha a qualquer sociedade que se proponha humana.

Essas discussões eleitorais, grosseiras, agressivas, conflituosas, são uma indução à superficialidade que se aproveita da ignorância implantada estrategicamente por uma educação parcial - empresarista e enquadradora. Essas discussões grotescas, insultuosas, violentas, são programações sociais, imposições midiáticas, jogo de ilusão, como faz a mão do mágico, que chama a atenção enquanto a outra age e faz o truque. A outra mão é o mercado financeiro, o poder econômico que submete o Estado e faz de tudo pra impedir a sociedade de ser solidária, harmônica, com prioridade no ser humano, de verdade, onde seja um escândalo a existência de miséria e abandono, da fome, do desabrigo, da ignorância, da desinformação, com tantas condições reais, tecnológicas, de produção e distribuição, relativamente simples e de baixo custo.

Uma população bem alimentada, instruída, informada, tem muito melhor condição de decidir a forma social mais justa, equilibrada e harmônica. Uma sociedade onde as crianças - todas, como prioridade - recebam uma formação amorosa, desenvolvam suas aptidões de acordo com a índole e as vocações de cada uma e tenham estimulado o desenvolvimento do senso de justiça, da capacidade reflexiva, na criação de valores mais humanos. Uma educação centrada não no mercado de trabalho, mas na harmonia social. Assim se constrói uma coletividade menos grosseira, no caminho da evolução planetária.

Quando essa harmonia for o objetivo da existência coletiva, não é difícil imaginar o nível de criminalidade, se é que haverá algum. Mas é preciso perceber que essa desarmonia, essas brigas, discussões brutais, é produção estratégica dos laboratórios de pensamento que se utilizam de muitas formas, mas sobretudo da mídia, pra implantar, induzir essa discórdia dispersiva que passa longe de atingir a estrutura social que se alimenta de todas as mazelas sociais, que precisa mesmo de miséria e ignorância, de superficialidade mental, de alienação, de confrontos inumeráveis, coletivos e pessoais.

Não é à toa a deturpação de significado de várias palavras tidas pelo poder verdadeiro, muito acima das marionetes políticas que distraem a atenção do público, como palavras subversivas. Assim, "radical", ir às raízes, procurar as causas mais profundas, refletir sobre as fontes verdadeiras dos problemas, aprofundar o pensamento, passou a significar "agressivo", "intolerante", "violento", "extremista".

"Individualista" passou a ser "egoísta", "criativo" é "empreendedor", "solidariedade" agora é "empatia" (eca, parece nome de doença do fígado). É preciso não estranhar a superficialidade, a agressividade, a competitividade, os confrontos. São produções sociais, induções, deformações, condicionamentos, enfim, uma "condução de gado" muitíssimo bem montada na estrutura social que ainda persistirá muito tempo, enquanto outras formas de pensamento, de relacionamento, de valores sociais fermentam como embriões invisíveis por aí, invisíveis mas não inativos, ao contrário, extremamente contaminantes. Desenvolvendo formas de se relacionar, de existir, criando relações solidárias e cooperativas. O processo, como eu disse, é planetário, permanente, as mutações se fazem por gerações e gerações.

A busca da harmonia social começa da busca de harmonia pessoal, na busca de harmonia nas nossas relações com o mundo. Não posso transformar a sociedade da forma que gostaria, obviamente. Então procuro fazer essas transformações em mim mesmo, na minha vida, nos meus valores, nas minhas relações.

17 comentários:

  1. Sempre certeiro e lúcido nas palavras.

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  2. Massa! Penso bem nessa linha aí!
    Somos vítimas de um tal "dividir / polarizar /dominar" cultivado por uma corrida por poder e dinheiro disfarçada de vontade de ajudar o país. Essa polarização acaba defecando um bate-boca ideológico que empina o nariz e se acha "debate político" -quando temos no máximo POLITICAGEM. Quanto mais se eleva este bate-boca para a linha de Corrida Eleitoral, mais merda ocupa nossas mentes. Isso funciona até melhor que "pão e circo".

    Enquanto buscamos ver os motivos que nos afastam dos que não pensam como a gente, ao invés de fazer o contrário, deixamos nossa humanidade que um dia - civilizada - chegou a entender que era necessário e vantajoso buscar o bom convívio, coexistência, acordos e consensos neste planeta redondo de onde não podemos fugir. Abandonamos isso e passamos a viver em condomínios fechados, entre grades, muros, cercas e muralhas. Ou seja: quem não é espelho é inimigo - sugerem alguns líderes profissionais do negócio político.

    Bom, quem costuma decidir o próximo presidente é o sistema financeiro ( ou melhor - no texto: mercado financeiro) basta a gente ter acompanhado a relação bolsa de valores e pesquisa eleitoral ou quem realmente financia toda essa farsa. E isso não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, há um $governo mundial oculto$

    E pra quem gosta de analisar pela LUTA De CLASSES, a mesma que faz Policial e Estado bater na cara de criminoso ou suspeito preto e pobre, mas não tocar um dedo no bandido empreiteiro rico - repare se a classe política gorda e bem nutrida com seus "partidos empresas" não são classe rica e possuem o Estado.

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  3. Perfeito!!!! Tambem penso assim. Voce sabe que todos os dias venho dar uma olhada aqui no seu blog pois eh o unico lugar que mostra a verdade nua e crua. Obrigada!!!!

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  4. Sensacional! Obrigado por escrever isso. Obrigadobpor compartilhar!

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  5. O meu sonho se tornou conversar contigo Edurado, como faço para realizar ? Me ajuda, suas reflexões são semelhantes as minhas. Genio

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  6. Muito bom seu texto, Eduardo. Faz tempo que não frequento blogs e só entrei pra vez seus textos, suas artes etc.
    Também trabalho com desenhos e ilustrações.

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  7. Olá, Eduardo Marinho, ótimo texto eu o divulguei compartilhando seu texto na minha conta do Facebook.
    Acredito que dessa maneira mais pessoas irão conhecer seu trabalho e sua linha de pensamento exposto nesse maravilhoso texto.

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  8. Obrigada Eduardo, por mais essa reflexão!Por conseguir expor em palavras tão claramente!
    Abs Thalassa e Marcel

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  9. Somos condicionados desde que nascemos a competição à ambiciosidade nos corrompe.Mais a reflexão é a contrariedade do sistema é estimuladada em nos jovens por meio de resistências sociais.Meu nome é João Victor Camargo é queria saber o porque de concordância massiva não ser repercutida como valores impostos,exemplificamente na "tv".

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  10. Eduardo, incrível que eu leio os seus textos desde muito nova. Realmente, os seus pensamentos são muito pautados na realidade e na sua vivência e eu admiro muito isso em você. Gratidão pela sua transparência e desejo intrínseco de ensinar através da sua existência.

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