Fui esperar o corpo no
cemitério. Meu pai havia morrido durante as férias de verão, num
hotel fazenda em Conservatória, interior montanhoso do estado do
Rio. Ele passava sempre as férias ali, com minha mãe e uma penca de
netos. Havia muitas atividades para crianças e adolescentes,
passeios a pé ou a cavalo, uma lagoa onde se nadava, remava,
mergulhava, além de recreadores, guias, contadores de histórias. A
seresta é uma característica local e toda noite seresteiros
encantavam os hóspedes.
Aquela era a primeira
vez que Ravi, meu filho, havia sido convidado – ele estava com
quinze anos e havia conhecido essa família pelos doze, sem nenhuma
convivência antes. Na tarde daquele dia ele havia passado pelo avô no
estacionamento do hotel, que estava limpando o carro com uma flanela e
reclamando de um arranhão no parachoque, “não sei se fui eu que
esbarrei em alguma coisa ou se alguém “ruim de roda” raspou aqui
no estacionamento”.
À noite ele teve um
acesso de tosse interminável e minha irmã mais velha, que passava
uns dias das férias ali, sugeriu e foi com ele ao hospital local pra uma
consulta de emergência. Depois dos primeiros exames, o médico achou
melhor aprofundar e levou meu pai pra dentro, onde estavam os
aparelhos mais pesados. Minha irmã viu meu pai pela última vez com
o soro na veia, caminhando com o médico pro interior do hospital. O
médico carregava a haste metálica onde se pendurava o soro, meu pai
reclamava, “tira esse negócio do meu braço, doutor”. Tempo
depois, o médico veio com a notícia: “infelizmente o seu pai teve
uma parada cardíaca e, apesar de todas as nossas tentativas, não
foi possível reanimá-lo. Meus pêsames”.
A notícia desabou
sobre a família inteira. Ele tinha oitenta e dois anos – a mesma
idade da minha mãe – e tinha uma saúde ótima, sem nenhuma das
doenças comuns na velhice. Foi um choque geral. Recebi a notícia na
manhã seguinte, por Helena, uma das “funcionárias” da família.
Minha primeira reação foi idiota, “cê tá brincando”, como se
alguém pudesse brincar com um assunto desse. “Pior que não”,
foi a resposta. Eu entrei numa espécie de transe. E o resto do dia
se passou entre lembranças e reflexões. Nosso abraço, tão
esperado havia tantos anos, tinha sido adiado. Agora, só quando eu
chegasse lá também.
Havia cinco anos que
minha relação com eles tinha sido retomada, ainda que muito
superficialmente. Aos dezenove anos eu deixei pra trás faculdade,
casa, vida confortável e socialmente “segura”, com a finalidade
de encontrar algum sentido numa vida que, até então, não tinha
nenhum que me parecesse satisfatório.
Desde os quatorze anos,
quando passei num concurso pro Banco do Brasil, eu questionava os
objetivos da vida. Todos me pareciam pouco, vazios e frustrantes.
“Deve haver algum sentido maior, não é possível que a vida seja
só isso”, trabalhar no sacrifício, esperar pra viver nas horas
vagas, nas férias, pra garantir conforto e segurança e nada mais.
Em dez meses eu sentia repulsa à idéia de passar a vida naquele
ambiente medíocre, com aqueles valores que não me diziam nada, e
pedi demissão.
Então começaram as
cobranças sobre o que eu queria da vida, o que eu seria, o que
escolheria fazer, cobranças que não eram assumidas, mas sugeridas –
eu havia “jogado fora” uma “oportunidade de ouro” de um
emprego público, com plano de carreira, garantido até a
aposentadoria – isso era o que me apavorava, passar a vida naquele
ambiente – com privilégios e garantias como poucos outros
empregos. A garantia de frustração não era considerada, nem
pensada. Só eu sentia, era um vazio, uma falta de significado na
vida que eu intuía a partir dos assuntos que ocupavam os mais
velhos, dos valores que eu assistia serem exercidos. Era uma repulsa
irresistível, incompreensível pra minha família. Pra mim também, "o que eu tenho de errado, que não me enquadro?" Na visão deles, isso
era motivo de preocupação comigo e com o meu destino. Na minha também.
Eu não tinha ideia do
que “fazer na vida”, estava no ensino médio e nenhuma das
profissões universitárias me atraía, eu parecia não ter vocação
pra nada. Procurando satisfazer as expectativas familiares, resolvi
pela carreira militar – que me parecia fácil – e entrei por
concurso na Preparatória de Cadetes do exército. A família
comemorou, certa de que eu seguiria a carreira do meu pai. Um ano e
meio depois eu pedia desligamento, enojado com aquela hierarquia e
com o papel que entrevia das forças armadas, no controle e repressão
do povo. Era pior que o BB. As finalidades sociais eram de
envergonhar, eu não queria colocar minha vida a serviço daquelas
finalidades. Não valiam o plano de carreira, a segurança, a moral
social, nada valia a violação da minha consciência – e o
sentimento de que seria uma necessidade cotidiana definiu minha
decisão de sair dali.
Foi inevitável a
enorme decepção familiar, principalmente a do meu pai. A família e os mais próximos viram na minha atitude uma afronta a ele. Não era. Era a minha visão projetada na vida que eu teria, seguindo por ali, em grande parte previsível. E que me dava angústia, por não ver sentido e me sentir obrigado a seguir ordens que não me respeitariam e me fariam violar minha consciência. Essa era a função da tal "hierarquia". Não questionar e obedecer, era o que me esperava. Me envergonhava a idéia, mas eu não podia dizer, era uma "heresia" imperdoável. Não havia opção, tive que sair.
Um ano e meio depois,
entrei na universidade, ainda na tentativa de me enquadrar nas expectativas da família. As angústias do final da adolescência, começo da
juventude, só aumentavam. Eu estava com dezoito anos e os três
primeiros meses universitários foram de boa surpresa. Vi sendo
discutidas as injustiças sociais e a estrutura da sociedade,
assuntos que me ferviam na cabeça e que eu não encontrava com quem
falar. Entrei com vontade nas discussões, só pra me decepcionar.
Logo percebi que os discutidores não sabiam ligar suas teorias à
realidade que eu vivenciava todo dia, que eram jovens de classe média
em sua maioria, vindos do ensino particular, e não se aproximavam
das dificuldades vividas pela maioria mais pobre, tinham aquele
sentimento programado de superioridade e se achavam capazes de
“conduzir as massas”, não tinham a menor dúvida disso. Eu
tinha. Aliás, tinha certeza de que ali ninguém suportaria viver e
superar as dificuldades cotidianas da maioria. Com o couro duro
adquirido no exército, eu viajava de carona em férias e feriados,
com muito pouco dinheiro, dormindo ao relento, em postos de gasolina,
em casas abandonadas ou em construções, convivendo com os mais
pobres e os observando com total interesse. Passava dias na reserva florestal do Mestre Álvaro, sozinho ou com um ou dois amigos, "esquecendo" a vida cotidiana na atividade mateira, facilitada pelos treinamentos militares. Encontrava pessoas vivendo em pobreza extrema, em casinhas pelo meio das trilhas, analfabetas e ainda assim com sabedoria de vida, com substância profunda e forte que me confundiam os valores aprendidos. Sentia haver alguma coisa errada no que me ensinaram.
Eu sentia uma diferença
ainda incompreensível pra mim, mais espontaneidade, mais afeto, mais
transparência de personalidade, mais solidariedade, mas capacidade
de encarar e superar dificuldades. O sentimento de inferioridade que
eu via neles não combinava com a vida que eles levavam. Eram muito
mais fortes que os meus colegas universitários, embora se sentissem, eu via, inferiores. E a distância entre
as teorias acadêmicas e a prática cotidiana se fez visível pra
mim. Falava-se em “mudar a sociedade” ou “o mundo”, sem a
menor condição pra isso. Falavam em "conduzir as massas" mas nem a língua das massas eles falavam. Logo estariam com seus diplomas,
sentadinhos em seus lugares sociais, caladinhos pra não se darem mal
em suas carreiras profissionais de “nível superior”. O tempo mostraria que eu estava certo.
As reflexões sobre a
vida, a busca de sentido, os questionamentos que se aguçavam à
medida em que eu me aproximava da idade adulta, me faziam sentir que estava
diante de uma encruzilhada decisiva. Na minha frente, estava a opção
entre a frustração e o risco. Os caminhos visíveis me pareciam de
uma frustração certa, uma vida repetitiva, previsível, onde eu
esperaria férias, fins de semana e feriados pra poder viver e ter
algum prazer na vida. O objetivo seria apenas manter meu patamar
social – de preferência subir degraus – privilegiado, isolado da
realidade e conformado com as injustiças. “O mundo, infelizmente,
é assim mesmo e não se pode fazer nada além de se garantir
individualmente e, pra satisfação da própria consciência, se ela
assim o exigir, fazer caridade ou algum trabalho voluntário de
ajuda aos mais pobres”, nunca engoli esse egoísmo cheio de vaselina.
A visão intuitiva da
minha própria frustração foi se tornando insuportável. Aqueles
valores, aqueles comportamentos, os privilégios e garantias, o
conforto e a consideração social já não me diziam mais nada. Os
privilégios me constrangiam, apareciam como usufruto de injustiças,
davam a sensação de uma vida artificial e cheia de falsidades. Isso me
fazia meio estranho no mundo em que vivia.
No auge das angústias,
antevendo as frustrações de uma vida convencional e previsível,
sentindo uma necessidade imperiosa de encontrar algum sentido maior
na vida, que me satisfizesse a alma, me desliguei da universidade e fui procurar. Devia haver algum sentido além dos sentidos vazios que me apresentavam. Peguei a mochila e caí
na estrada, “ou vou encontrar algum sentido pra essa vida ou vou
morrer procurando”, falei muitas vezes, naquela época, a quem me
perguntasse por que eu estava fazendo aquela “loucura”. E muitos me perguntaram, antes de cortar relações... eu havia ficado maluco, pra eles. Na minha visão, eu havia ficado incômodo. Precisavam me desqualificar pra não se sentirem prisioneiros, eu imaginava.
A família,
horrorizada, decepcionada, não tinha condições de perceber os
sentimentos que me moviam, de entender as minhas motivações. Não
podiam aceitar, compreender, nem mesmo respeitar – era a suprema
traição, pra eles. Meus pais achavam que eu não
os respeitava, confundindo respeito com submissão. Era a minha vida
e era meu direito e minha obrigação decidir o que fazer com ela –
afinal, seriam minhas as conseqüências das minhas decisões. Mas
eles não me ouviam mais e, depois de todas as tentativas de me
manter no padrão de vida que eles me deram, sem sucesso, cortaram
totalmente as relações comigo – corte que se estendeu a todo o
meu convívio social, parentes, amigos e conhecidos.
Então as vivências se
fizeram, a angústia desapareceu, a vida ficou muito mais
interessante, embora muito mais arriscada também, e o aprendizado se
intensificou, na prática do dia a dia. Era um outro ponto de vista
pra observar a realidade, muito mais rico e profundo que os
anteriores. A dor da incompreensão durou pouco. A vida tomava toda a atenção, o trato cotidiano com as variadas situações que se apresentavam não deixavam espaço pra lamentações, o dia a dia fez sumir a lembrança de um dia ter sido parte dos privilegiados. Ficava apenas na formação de visão de mundo, agora mendigo, maluco, hippie, micróbio, pária social. Com o passar dos anos, tive filhos, uma em Vitória, outra na Bahia, o caçula em Minas Gerais.
Dezoito anos se
passaram até que minha segunda filha, então nos seus quatorze anos
de idade, resolveu conhecer os avós. Tentei demover essa
intenção – lembrando que já havia feito uma tentativa de
apresentar as duas, pequenas, que foi sumariamente recusada por meus
pais –, mas ela estava decidida. “São meus avós no documento?
Estão na minha certidão de nascimento?” Sim, estão, são meus
pais e tinham que estar. Ela fulminou, “então eu acho que tenho o
direito”. Eu não tive o que dizer, além do número do telefone que, pra minha surpresa, saiu de uma vez só, sem esforço. E não precisei dizer duas vezes.
Ela telefonou, pensei
que eles iam recusar de novo, mas a convidaram pra jantar. Ensinei como chegar, dei a grana das passagens. Ela foi de
ônibus e voltou de táxi, pago por eles com um motorista conhecido.
Acharam um absurdo mandar uma adolescente sozinha do Catumbi –
estávamos morando na beirada do "complexo" do Fallet, em Santa Teresa -
ao Leblon. Desconheciam a minha realidade e, por conseqüência, a
realidade dela, desde pequena criada entre a periferia e a rua, a estrada, as situações de risco que a sociedade impõe a enorme parcela da população. E ela trazia um convite, que eu fosse jantar com eles
no dia seguinte.
Começava ali uma nova
relação, meus pais haviam envelhecido muito e, apesar deles
esperarem uma continuidade da relação interrompida, não havia a
menor condição disso acontecer. As vivências que eu trazia eram
inimagináveis pra eles, assim como a visão de mundo que eu formara
nas práticas atentas da sobrevivência com as dificuldades dos
excluídos periféricos. Eu era outra pessoa, com a visão a partir
de baixo, opiniões formadas na lida cotidiana, distante dos
privilégios, convívio íntimo com a falta de direitos e com o
desrespeito social pelas áreas periféricas e pelo povo mais pobre.
Foram cinco anos de
convívio rarefeito com a “antiga” família, até a partida do
meu pai. A relação se mostrou distante, eu havia me tornado uma
pessoa estranha – agora na prática, com vivências, além da teoria intuitiva da adolescência – àquele
meio. Mas percebia, às vezes, meu pai me olhando de longe, com uma
expressão que eu interpretava como a percepção de que eu não era
uma pessoa tão ruim quanto ele havia pensado. Eu imaginava que aos
poucos ele iria se tocando, até que a gente pudesse se reaproximar de
verdade. Não deu tempo.
Quando recebi o
telefonema com a voz emocionada da Helena, pensei “o nosso abraço
foi adiado, vai ter que ser lá do outro lado”. Sempre admirei meu
pai, como pessoa boa e reta que é, caráter honesto e temperamento
amistoso. Onde há afeto, há ligação, é o que me diz a intuição.
Mesmo com todo o afastamento, em todos esses anos, a ligação
afetiva não se desfez.
As vivências e acontecimentos em minha vida,
tantos aprendizados e experiências, não seriam possíveis se a
relação com a família consangüínea não se tivesse rompido. Em
várias ocasiões críticas eu teria pedido socorro. Mas o rompimento
era total e em nenhum desses momentos eu sequer lembrei da existência
deles. Estava igual a todo mundo à minha volta, nas periferias, exposto a tudo o que a maioria está. Era minha saga, minha sina, minha escola.
Mais tarde no mesmo dia, recebi o
recado da minha mãe – eu devia ir ao cemitério São João
Batista, onde o corpo chegaria à tarde. Era preciso alguém da família pra receber o corpo. O enterro seria na manhã
seguinte. E eu fui.
Havia um salão
preparado, com um caixão vazio e duas coroas de flores, uma do
exército, outra da Petrobrás – onde meu pai fora assessor de
segurança depois de reformado, o aposentado militar. Algumas luzes
fracas, castiçais com velas apagadas, grossas e imponentes. Cortinas
escondiam as vidraças que davam pra vastidão de túmulos dentro do
cemitério e escureciam o ambiente. Lá fora, a tarde anoitecia. Uma
escada larga dava pra portaria, de onde se via a rua e a entrada
pelas portas de vidro. Subi e olhei pra fora, os pensamentos variando
sobre sentimentos difíceis de definir. Nessa hora vi um carro funerário entrando pelo portão. “Está chegando”.
Em pouco tempo dois
caras entraram empurrando a maca de rodas, o corpo do meu pai em
cima, cabelos brancos, camisa social, calça comprida e meias. Eles
me viram olhando do alto da escada, devem ter percebido a semelhança
física e me cumprimentaram, sérios. Pensei em perguntar pelos
sapatos, mas me contive, “pra quê?" Ele não precisava mais de
sapatos. Fiquei observando quando eles encostaram a maca no lado do
caixão e, com movimentos profissionais, transferiram o corpo num
único impulso, ajeitando um travesseiro sob a cabeça. E foram
embora ao mesmo tempo em que um funcionário do cemitério entrava
com um carrinho cheio de flores. Cuidadosamente ele foi colocando as
flores sobre o corpo, devagar, até ficarem de fora apenas a cabeça, as mãos
entrelaçadas sobre o peito e as pontas dos pés. Todo o caixão eram flores até em cima. Aí ele saiu e então eu fiquei
sozinho.
Cheguei perto. Ele
parecia dormir, tranquilo como sempre. O pensamento corria, tanta
distância, tanto tempo, tantos acontecimentos, tanta ligação...
Senti que ele não estava dentro do corpo, não tinha ninguém ali
mais. Desabitara. Senti também que ele podia estar por ali, por
perto, no abstrato, vendo e ouvindo meu pensamento. “Será que você
agora pode ver a minha alma? Será que pode ver quem eu sou, de
verdade? Será que minha imagem se modificou pra você? Enxergar meus
valores, meus propósitos, desfazendo a imagem que teve, de rebelde,
desmiolado, drogado, perdido, largado e bandido? Ah, meu pai...
quando chegar aí quero te abraçar como não foi possível nessa
vida. Agora talvez você possa perceber que os valores do mundo são
falsos, superficiais, que os verdadeiros valores são os da alma,
abstratos e longe das convenções sociais que foram a base da sua
vida. E que os mesmo motivos que te levaram a sentir vergonha de mim
são, na verdade, motivos de orgulho.”
No meu sentimento, na
minha intuição, a morte é reveladora, um portal que nos leva a
dimensões de onde se vê a realidade física de outra maneira,
percebendo a superficialidade, a falsidade dos valores sociais, ao
mesmo tempo em que se vislumbra valores mais verdadeiros. Praqueles que vibram na sinceridade, na honestidade, na busca de melhores valores. Porque me parece óbvio que há outros níveis de sintonia, cada um vai sintonizar a vibração que cultivou, que exerceu e exerce, que carrega consigo. Mas isso é outro papo.
Os que vêem na morte
uma tragédia, uma desgraça – e não uma conseqüência natural de
ter nascido – devem ser os que mais se surpreendem. Assim como os
fanáticos religiosos que apregoam “verdades” improváveis e, talvez por
isso mesmo, têm pavor da morte.
Nathália apareceu
sozinha ali pelas nove da noite. Era a primeira neta, minha sobrinha
que conheci adulta e que não pude sentir como sobrinha – não a vi
criança nem adolescente. Conversamos e depois ela se aproximou do
caixão. Eu me afastei em respeito, havia um amor especial entre os
dois e era a sua despedida do avô tão amado. Fiquei olhando de
longe. Quando ela foi embora eu fiquei sozinho de novo com o corpo e
a sensação de que meu pai estava por ali.
Passei a madrugada
refletindo, “conversando” com ele, pensando que talvez agora ele
pudesse me ver e estivesse surpreso com a visão sobre mim desta
outra dimensão. Fui interrompido por três vezes, por pessoas que
vivem de explorar a dor dos familiares, aproveitando a tristeza pra
extorquir o máximo possível. O primeiro queria grana por
uma coroa de flores que havia sido encomendada pela minha irmã. Estava indo embora, "largando", e precisava receber. Eu
mostrei as duas coroas, a do exército e a da Petrobrás, não havia
outra. Ele disse que estava sendo confeccionada na floricultura em
frente, onde ele trabalhava. “Se foi encomenda da minha irmã, é
dela que tu tem que cobrar”, eu disse. Eu não tinha nenhum
dinheiro. E ele sumiu. Pouco tempo depois, outra assombração surgiu
do escuro, perguntando se o falecido “merecia” uma chuva de
pétalas e som ambiente na hora de descer ao túmulo. Olhei nos olhos
dele, com raiva daquela covardia oportunista, “o falecido tá
falecido e não precisa de mais nada deste mundo”, ele sentiu no meu olhar e foi
embora. Antes de amanhecer, o primeiro voltou pra mais uma tentativa,
demonstrando a mentira de que estava indo embora. Insistiu em
receber a grana da tal coroa de flores. Eu fui direto, levantei o
dedo na cara dele, “vou perder a paciência com você, urubu safado”.
Aí desistiram de mim. Depois eu diria que passei aquela noite espantando os urubus.
O dia começava a
clarear quando ajoelhei do lado do caixão, pra ficar mais perto do
semblante tranquilo, dormindo. “Ah, meu pai, quanta distância e
quanta proximidade ao mesmo tempo...” Tive o sentimento de ser uma
relação antiga, de muitas vidas. “Dessa vez não pudemos conviver
muito, né, pai...” Aos poucos entrei em estado de oração, não
sei como se diz, em nível mais profundo de consciência, evocando
luzes, ou irmãos, pra receber aquele cara tão amado, tão querido
por todos que o conheceram. Não sei quanto tempo fiquei assim, as
lágrimas descendo, numa espécie de transe natural, em estado mental
mais profundo, refletindo, conversando com a dimensão onde ele
estava, na minha imaginação.
Um burburinho distante
apareceu e foi se aproximando, me trazendo de volta, abri os olhos e
vi a primeira parte da família chegando. Enxuguei os olhos,
levantei, saí de perto do caixão, que foi cercado, e fui lá fora
respirar e ver o dia já claro. Saí caminhando entre os túmulos,
mausoléus enfeitados com esculturas em granito, em mármore, lindas,
bem acabadas, caras, pirâmides, cruzes enormes talhadas com
perfeição, granito, mármore, quartzo negro e rosa, anjos, santos, divindades gregas, romanas, uma exposição e tanto. Fui
caminhando a esmo, me afastando da administração e me aprofundando
naquela “cidade dos mortos”. À medida em que me afastava, luxo
era substituído pela sobriedade, pela simplicidade e, enfim, mais
longe, pela pobreza. Túmulos de tijolos, com cruzes simples,
os nomes e retratos dos enterrados, até os mais pobres, montinhos de terra, sem
nada além da cruz tosca de madeira com o nome e data de nascimento e
morte. Na morte, como na vida, ricos no centro de importância,
pobres nos longes, nas periferias.
Caminhei de volta, de
longe vi o salão cheio. Chegando, vi amigos, parentes, conhecidos e
desconhecidos, gente que me conheceu criança e de quem eu não
lembrava ou lembrava muito vagamente. O falatório era intenso,
choros, reclamações, lamentações, “ele era tão bom...!”, fui abordado no meio do caminho, me parecia levemente conhecida, mas não sabia se prima, amiga da família, de qual parte, desolada, "por isso mesmo que ele tá bem, minha senhora, fica tranqüila". Ela olhou nos meus olhos e tinha confusão nos olhos dela. Mas eu não tinha mais nada pra dizer e segui adiante.
Minha mãe estava ao lado do caixão, chorava amparada pelas filhas e
por alguns netos. Cheguei perto, dei um beijo na testa, ela me olhou
sem expressão e voltou a olhar o rosto do meu pai, acariciando o cabelo dele com as pontas dos dedos. Falei no seu ouvido, “cê
vai ter que esperar pra encontrar com ele”. Ela me olhou de novo,
interrogativa em sua dor. E eu continuei, “pra onde cê acha que vai esse povo todo que
tá aqui?”, fiz um gesto com o braço abrangendo todo o salão, ela
acompanhou. “Ele passou pela porta que todo mundo vai passar, cada
um no seu momento. Quando passar pela sua, seja no tempo que for, cê
vai dar de cara com ele, porque o afeto, o amor une as almas, aqui e
lá”. Ela me olhava com uma expressão de surpresa e distância, sem
ânimo pra replicar. Mas tive a impressão de que um pouco de calma
lhe chegou. Não posso saber se é verdade ou minha vontade.
Passei os olhos pela pequena multidão e fui andando, quase ninguém eu conhecia, nem mesmo os que me
abordavam com cara de me conhecerem. As frases, as expressões de
consolo e solidariedade, programadas, repetitivas, não me diziam
nada e me incomodavam. Garções serviam água, refrescos, canapés,
biscoitos, “caraca, contrataram um bifê”. Senti olhares sobre
mim, o “filho perdido”, motivo de tanto sofrimento, olhares que
me cobravam um arrependimento impossível, traidor da família que
nunca me senti, apesar das acusações repetidas por décadas. Não
era surpresa e não chegava a me incomodar, de previsível que era. Na
mentalidade comum, natural que fosse assim. Diante das manifestações
que me incomodavam, me afastei pra um canto e fiquei olhando. Até
que alguém chegou, “sua mãe quer falar com você”.
Voltei ao centro do
evento, ela permanecia junto do caixão. “Oi, mãe, tá me
chamando?” “Meu filho, cê tem que fazer uma coisa muito difícil.
Eles vão lá retirar o corpo da sua tia pra poder enterrar o seu
pai, alguém da família tem que ir junto”. Parece que ninguém
quis ir. “Sem problema, vou lá”.
Senti alívio em sair
do ambiente fechado, abarrotado, e respirar o ar da manhã. Fui com
dois funcionários do cemitério, era regra ter alguém da família
naquela função. Eles levavam um pequeno guindaste que foi instalado
em cima da tumba. Rasparam o cimento embaixo da pedra de mármore que
cobria, depois passaram cordas e ergueram.
Minha avó, mãe do meu
pai, havia sido enterrada ali em 1982. Pouco mais de dez anos depois,
era vez da filha dela, irmã mais velha do meu pai, Dinda, a
“madrinha” da família, nascida quatorze anos antes dele. Nunca se casara pra viver com minha avó que ficou viúva nos trinta e tantos anos. E se tornou a Dinda da família.
Olhei pra dentro do
buraco. Da Dinda só tinha o vestido cor de vinho, com um nó grande
sobre a barriga, que eu reconheci de eventos na minha infância e
sempre havia achado horrível. Dentro, o esqueleto marrom não
lembrava em nada minha tia. Um monte de baratas corriam no fundo e
nas paredes. Estranhei, “ué, cadê o caixão?” Um dos caras
pulou dentro, indiferente às baratas, dizendo “o caixão é o
primeiro que acaba” e meteu a mão no pó lateral, puxando uma das
alças metálicas, “tá vendo aí?” Em seguida passou a recolher
os ossos e colocar numa caixa branca. A naturalidade com que ele
fazia isso era constrangedora. Os ossos das mãos entrelaçadas ainda
tinham os anéis de ouro e pedras e se desfizeram ao serem recolhidas
com rapidez e jogadas dentro da caixa, com anéis e tudo. Eles tinham
pressa e não era à toa. Depois de limpar o fundo, varreram e usaram
o guindaste de novo. Pra minha surpresa, o fundo era “falso”.
Retiraram a laje do fundo, a cova era maior do que parecia, e apareceu outra caixa branca, igual a que
agora continha os ossos que foram da Dinda. Eram os da minha avó,
entendi. A de Dinda foi colocada ao lado e a lage, reposta em seu
lugar, escondeu as duas.
Acabaram o serviço e o cortejo já vinha
caminhando pela alameda, em direção a nós. Tudo sincronizado, eles eram profissionais. Não precisei ir ao
encontro. Um funcionário empurrava o carrinho, a família em volta e
a multidão atrás.
Vi ao longe, na área
pobre do cemitério, outro enterro acontecendo. Impossível não perceber o
contraste. Poucas pessoas, o caixão parecia de papelão e era
carregado nas mãos por quatro pessoas que não eram trabalhadores do
cemitério, mas parentes ou amigos. O que esperava era um buraco no
chão, ao lado de um monte de terra com uma pá cravada em cima e um coveiro
esperando pra cobrir o caixão na cova.
Olhei pro “meu”
cortejo. O caixão de madeira nobre, num esquife de rodinhas todo
enfeitado com flores, um monte de
gente bem vestida – uns poucos pobres, servidores da família. Atrás, a multidão era variadas, tinha de várias classes, de pobres a ricos. Meus pais tratavam muito bem os que os serviam, vi muito reconhecimento ali.
Esperei chegar, minha mãe vinha ao lado, já sem lágrimas, abatida,
amparada por vários parentes. O caixão foi colocado sobre o túmulo,
em cima de duas ripas atravessadas, pro “último adeus” antes de
descer ao fundo. Alguém me perguntou “quer falar?” Pego de
surpresa e consciente da visão geral de que eu era o “filho
maldito”, fui seco, “não”. Ficou um clima estranho, resolvido
por um antigo amigo do meu pai que eu não conhecia, embora soubesse da sua existência. José Hermógenes, professor de ioga,
companheiro da juventude dele, se adiantou e contou uma história da
época em que eram estudantes. Engraçada no final, arrancou alguns
poucos sorrisos. Depois o caixão foi descido e a pedra foi
recolocada em seu lugar. O nome já estava colocado nela, em letras
douradas, com as datas.
Então a multidão foi
dispersando, lentamente, e eu me integrei à pequena comitiva
familiar que acompanhava minha mãe no caminho de volta. Olhei
distante na direção do outro enterro. O coveiro tinha terminado de
encher a cova e enxugava a testa, enquanto pouco mais de dez pessoas
caminhavam em direção à saída lateral do cemitério. Uma mulher
mais velha era amparada por duas outras mais novas. Na minha tristeza
pessoal, acrescentei uma tristeza social, “até a saída é outra”.
Fomos pela área
“nobre”, saímos pela portaria principal onde um táxi já
esperava minha mãe. Fui com ela e minhas irmãs até seu
apartamento, onde lhe deram uma droga pra dormir. Não havia mais o
que fazer por ali e eu fui embora, com a cabeça em branco.
Chegando em casa,
peguei pincéis e tintas, preparei telas e pintei cinco quadros
seguidos, coisa que nunca havia feito, mas que me serviram pra
equilibrar o espírito. E pelo jeito, só pra isso mesmo, não criei nenhuma ligação. Dei três deles, com a sensação de que não
teriam proveito algum, mas como se eu precisasse passar adiante. Os
outros dois deterioraram com o tempo, a umidade, a chuva e a
precariedade da minha casa. Não me importei. A vida segue e a
matéria desaparece.
Eu amo sua alma ! Sua alma é cheia de amor !
ResponderExcluirSua alma é linda...conhecendo você percebi quanto alienada eu fui na vida...
ExcluirQue pena que não tenha conhecido oque realmente importa antes...
Simmm...concordo!
ExcluirTODO SENSITIVO, TODO PENSADOR SENSATO, OBRIGATORIAMENTE, QUASE TODOS, PASSAM POR CRISES EXISTENCIAIS!
ExcluirMinha solidariedade em todas essas suas dores, meu querido...
ResponderExcluirAdvogar em causa própria, morrer, quem tá vivo, morre, e muitos em situações brutais, sem justificativa, sem merecer o momento monstruoso, casos de chacinas, etc...
ResponderExcluirPense melhor com equilíbrio, imediatamente supera.
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ResponderExcluirNamastê, obrigado por ter compartilhado isso conosco!
ResponderExcluiro seu texto me tocou profundamente . Obrigada.. a vida , seus ciclos e o aprendizado sempre 😘🦋
ResponderExcluirQue foda dar...minha história é parecida com a sua. Tento não ter culpa por ter nascido com privilégios. Os aproveito, com humildade, sem gastar mais do q preciso. Tento com meu trabalho ajudar meus irmãos de vida. E ela segue...
ResponderExcluirMuito boa e sincera sua narrativa. Somos seres de alma solitária nos momentos mais importantes de nossas vidas.
ResponderExcluirComo é bom aprender contigo!
ResponderExcluirEstamos todos interligados.
ResponderExcluirO Amor é a única força!
Força!
O mundo é feito de força,
e a força vem do nosso interior,
e o nosso interior é o mundo,
o nosso mundo.
Abraço forte e apertadinho de coração para coração.
Que sensibilidade, obrigada !
ResponderExcluirA busca pelo sentido da vida rompendo com o sistema neste belo texto de vida e morte são pura poesia na realidade do país da desigualdade. Flávio Maia Poa RS
ResponderExcluirBah.
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ResponderExcluirAbsorvendo sempre! Que possamos sempre entender a morte para viver melhor a vida, aprendi isso quando pequena com meus avós japoneses.
ResponderExcluirA vida é imensa e só percebe quem expande a mesma, a maioria só passa por ela. Você é incrível Eduardo, ser Humano valoroso e cria valor por onde passa. Acredito que mesmo velado, sempre existiu muito orgulho de você, e que de certa forma passou por cima do imenso amor paternal... e te entregou ao mundo para contribuir com as pessoas que estão diante de seus olhoa; o rompimento talvez foi a forma mais suportável dele fazer isso, a ligação de vida é eterna, sempre estarão juntos!
Eu pude viver melhor após o falecimento do meu marido, tomo uns porres às vezes ainda, só eu sei... foi barra pra mim com 36 anos entender a despedida sem ele ao menos ter chegado à meia idade, porém os seus quase 41 anos de vida, valeram mais que 100 de muita gente. Esse mês fará 3 anos do seu falecimento. Zerei tudo, perdi muito dinheiro e bens neste período e por vezes enfrento situações de miséria desse sistema. Porém o que levo da vida é saber viver e aprender, saber o porquê eu sobrevivi há tantas coisas desde criança, ter significado, questionando sempre esse "mundo".
Mais importante que qualquer vitória é jamais ser derrotado, compartilho isso em minha comunidade. Dialogando percebo minha vocação e existência. Refiz parte da minha vida, tenho novos planos, uma pessoa maravilhosa ao meu lado e algum dinheiro para pagar despesas e comer dignamente às vezes.
Agradeço sempre por ter visto seu primeiro vídeo, me encontro em seus textos e vídeos. Você inspira muita gente e a coletividade faz a mudança, mudança que talvez não estejamos vivos para ver, mas tenho certeza que acontecerá um dia. Acabei prolongando o texto mas quis compartilhar com você um pouco e tbem dizer que você me ajuda com suas experiências de vida. Que nós possamos ter a Boa sorte de tomar uma cerveja ao seu lado qq dia. Valeu Eduardo! Gratidão
Você tb tem uma história incrível, semelhante a do eduardo. Vc tb é um ser humano fantástico. Grande abraço e grande beijo. Que suas dores, magoas e frustrações sejam amenizadas e amortecidas pelo efeito do tempo, que a tudo resolve. Bjão!
ExcluirUm dos seus textos mais belos e tocantes, Eduardo! E o domínio da narrativa então? Espetacular!
ResponderExcluirNem sei o que te falar, pois nessa hora não há palavras que conforte, pois já passei por isso há quase 7 anos, meu pai também de um ataque fuminante. Mas algo ele sempre me ensinou em meio as dificuldades: que nascemos nus, mas hoje estamos vestidos e isso já é motivo de sermos gratos!Que seu coração seja confortado Eduardo, um abraço Jaqueline.
ResponderExcluirAmo olhar através dessa janela...o seu Coração.
ResponderExcluirMeu pai separou-se de minha mãe quando eu contava apenas 3 anos de idade. Desde então o convívio e vínculo eram raros e escassos. Pelo sim pelo não eu tenho um certo grau de mediunidade desde a infância, o que me permite entrar em contato com os espíritos com razoável facilidade. Enfim... em desdobramento espiritual, à hora do sono, saí do corpo e fui levado a devido plano espiritual onde encontrei meu pai deitado numa maca, à guisa de hospital espiritual. Abraça-mo-nos e e ele chorara copiosamente. Teu encontro astral há de chegar...
ResponderExcluirCaraca, que texto, Edu!!!
ResponderExcluirBelíssimo, meu caro. Muito valioso ter contato com suas vivências e suas sensibilidades de vida. A humanidade cultivou distanciamento do sentido real da vida, a colheita é maldita e envenenada. Gente como vc, nos traz um choque de realidade, um insigth de toda essa percersa falsidade que transformaram a vida. Esse pode não ser o sentido que vc procura, mas registro a mibha gratidão por exercer sua liberdade para compartilhar o afeto,a sensibilidade, o amor.
ResponderExcluirBelo e comovente relato, Eduardo. Eu acho que você, dado seu grau de consciência acerca dos fenômenos da vida, irá se sentir muito bem lendo este livro e incorporando-o à sua essência:
ResponderExcluirhttp://www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/ubaldi_05.pdf
Nele acredito que encontrarás muitos esclarecimentos - que já és capaz de intuir.
Abraços fraternos !
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ResponderExcluirEduardo, parabéns por ser essa pessoa tão lúcida, realista e sensível.
ResponderExcluirCompanheiro, me encontro muito em suas palavras. Somos um triste parceiro dos oprimidos do mundo. Abraços fraternos Eduardo Marinho! Te desejo muita paz, amor, saúde e que suas palavras possam continuar a despertar nas pessoas a verdadeiro sentido da vida humana: viver e não competir, amar e não odiar, compartilhar e não ao egoísmo. Que as leis que nos envolva e que possa sempre nos reger sejam as leis do humanismo e da evolução da vida. Não as leis do "deus" mercado que está para destruir, roubar e matar todas as formas de vida: fauna e flora.
Abraços irmão!
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ResponderExcluirAgradeço imensamente por compartilhar esse desfecho do capítulo Pai, da sua história.
ResponderExcluirSempre me perguntei sobre a sua relação com ele, como terminaria, confesso que a redenção de ambos foi sábia, sem rancores, acredito que ele, segundo minha perspectiva, tenha enxergado em você, a coragem e a sabedoria que você carregava, o abraço físico não aconteceu, prefiro pensar que ele, reconhecera, que seu filho, Eduardo, tinha se tornado o homem que queria ser, e não que o cidadão que a sociedade ou família quiseram moldar.
Acredito eu, que seu pai, ao final, tenha abraçado e entendido os seus valores, e que mesmo sem dizer, deve ter pensado que seu filho se tornara um sábio.
Olá Eduardo. Primeiramente muito obrigado por esse texto.
ResponderExcluirSempre gostei dos seus vídeos, dos seus posicionamentos e resolvi vir aqui no seu blog para procurar alguma coisa que eu pudesse entender melhor a relação conturbada que tenho com meu pai, e por minha surpresa esse era o primeiro post, o destino é foda, acredito que existe um universo dimensional totalmente inexplorado e desconhecido por nós que me fez vir aqui e achar esse texto que preencheu algumas lacunas de minhas dúvidas e também pode estar dando ao seu pai as respostas sobre você que foram bloqueadas pelos cruéis valores mundanos que nos são impostos desde nossos primeiros segundos aqui.
Compreender o ciclo da vida nos ajuda a lidar com as perdas, mas a pancada ainda é dura.
Força aí Eduardo e sigamos em frente.
Boa noite... conheci sua pessoa através dos vídeos do YouTube MT bonito sua mentalidade de mundo, me esclareceu coisas que não enxergava. Sou de um bairro periférico e vendo seus vídeos eu comeceu enxergar as pessoas com mais harmonia MT obg ainda vou desenrola um livro seu!!! Gratidão
ResponderExcluirE você encontrou o "sentido da vida " ? Os caminhos A, B ou C ... chegarão no mesmo lugar...
ResponderExcluirQue alegria encontrar uma pessoa de incrivel mente como vc eduardo.. vi num video antigo q vc expunha em santa teresa. Minha mae mora na lapa.. vc ainda expoe em santa?
ResponderExcluirMuito obrigado por esse texto, obrigado por expressar essa história que viro uma arte.
ResponderExcluircom toda certeza seu pai já enxergava sua luz, até mesmo em matéria !
Obrigada por colocar em palavras sua maneira de pensar, de ser. Fazuita diferença p/ muito melhor em nossas vidas. Um abraço, Thalassa e Marcel
ResponderExcluir
ResponderExcluirشركة تنظيف منازل بالجبيل
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Não entendi nada.
Excluirle de novo !
ExcluirTraduzindo o texto acima que está em árabe:
ExcluirO PALMEIRAS NÃO TEM MUNDIAL
Observar e absorver.
ExcluirIgnorar e manter a cabeça fresca.
Eduardo, só agradeço por dividir um mundo e um tempo com você. Suas palavras têm uma força que me carrega, me levanta, me inspira! Obrigada por existir em minha vida. Em nossas vidas! Muito amor pra você!
ResponderExcluirChorei... Do início ao fim do texto. Tão simples direto e verdadeiro. Tua voz tua história mexe muito comigo. Talvez no sobrenome tão forte Marinho (meu também) me faz lembrar do significado de família, a minha tão distante quanto a tua. O abraço que deixamos pra próxima vida. A morte, o corpo que "desabitara". O largar as coisas e ver valor nas pessoas, será que um dia será possível alguém ver quem realmente somos de verdade. Obrigada por se mostrar por inteiro, por me mostrar que não estou sozinha. Obrigada or ser a voz que não tive coragem de levantar.
ResponderExcluirCara, me acalma muito a alma sempre que leio algo que escreve ou quando vejo algum vídeo seu!
ResponderExcluirObrigado por fazer o que faz, você passa adiante a coisa mais importante que existe na vida! Que sao os afetos, o abstrato!
Muito lindo
ResponderExcluirOs dons que Deus ti deu, um foi escrever. Me sentir no seu lugar vivendo todos aqueles momentos.
ResponderExcluirobrigado Eduardo, ti acho um ser fantástico. pois tens nos ensinado lições valiosas mesmo não tendo essa intenção.
ResponderExcluirBoa noite, Eduardo, muito obrigado pro compartilhar essas reflexões. Mas, em que ano isso aconteceu?
ResponderExcluirDeus é tão perfeito na sua magnitude, que Ele te colocou lá quando ninguém mais estava para o ultimo acerto de contas.
ResponderExcluirNarrativa simplesmente bela.
ResponderExcluir-“Deve haver algum sentido maior, não é possível que a vida seja só isso”, trabalhar no sacrifício, esperar pra viver nas horas vagas, nas férias, pra garantir conforto e segurança e nada mais.
ResponderExcluirEstou nesse momento da minha vida. E também perdi o meu pai, também me distanciei, me reaproximei, por outros motivos. Sou nova no blogspot, e resolvi procurar outras pessoas que se aventuram na escrita. Vou lhe acompanhar, feliz por ter compartilhado sua história conosco.
Então agradece a Deus por teus Pais te terem dado educação acadêmica, por ter mais conhecimento que muitos por este Mundo fora..... eles seguiram o " regime" e deu certo pra você. Será que está dando certo pró seu filho, que so começou a conviver com a familia aos 15 anos??? Será que ele tem educação acadêmica, ou a que você lhe deu, e acha a certa? A vida e o Mundo é feito de perguntas, não é???
ResponderExcluirVocê certas é a voz da justiça social, por isso é a voz de Jesus aqui na terra.
ResponderExcluirAmo você .
O meu sonho é conhecê - lo ao vivo um dia .
Meu Francisco de Assis encarnado .
Lindas palavras, não pude parar de ler enquanto não terminei todo o texto. Meus sentimentos.
ResponderExcluiressa das baratas e do caixão sumir... novidade para mim...
ResponderExcluirMeu pai partiu dia 16 de março de 2019
ResponderExcluiraos 94 anos...o enterro foi muito parecido com oque descreveu do enterro dos pobres...
Não dá pra expressar em palavras a dimensão da beleza desse relato. Suas palavras são de uma lucidez e profundidade jamais vista em minha vida. Tenho a impressão que vc é de uma dimensão mais avançada a essa que estamos e tem trazido consciência para que possamos observar mais, absorver mais e sentir mais.
ResponderExcluirObrigado Eduardo por compartilhar conosco suas vivência.
Forte abraço.
Ai dontispique ínglich.
ResponderExcluirBoa Noite Eduardo, seu texto é lindo, uma projeção de sua fala que, por sua vez, é a projeção do seu ser.
ResponderExcluirQuando assisti pela primeira vez a um dos seus vídeos fiquei fascinada pela coerência entre o seu modo de pensar, viver e dizer. Coerência é algo difícil..acho que poucas pessoas a têm, ela exige uma firmeza e uma fortaleza individual muito grande e na falta desses atributos, para muitos, se torna mais fácil ceder às tentações da ilusão ou aderir à hipocrisia.
Ter coerência é um desafio e um risco para a estabilidade individual e social. Você arriscou, você desafiou. Acho que no fundo seu pai tinha muito orgulho de você e talvez tenha visto na sua atitude a realização do desejo que era dele também. Ele só se foi depois de receber você como o presente do futuro que ele sonhava e acho que ficou muito grato por você tê-lo feito existir para além do passado. Numa dimensão afetuosa vocês nunca romperam, o que se rompeu foi a regra aprisionadora da liberdade de ser aquilo que se é. Se você me permite, acho que você libertou o seu pai para a vida que ele não podia ter. Encanta-me a sua fala na forma, no conteúdo e no sentido.
Meus pêsames Eduardo,te admiro como homem q segue com seu cajado,deixando seus grandes conhecimentos práticos e teóricos aos q queiram estar aberto ao conhecimento .(....).
ResponderExcluirSo tenho a dizer (observar/absorver)faco de suas palavras a minha .obrigado
ResponderExcluirBelo texto amigo,grande história parabéns, vocês vão poder em outras oportunidades viverem juntos mais tempo,essa vida foi para ser assim .
ResponderExcluirmeus sentimentos eduardo, não sei se vc percebeu mais seu talento vai alem do artesanato, sua escrita tbem é muito boa forte abraço
ResponderExcluirMe perguntei esses dias, após ver um dos seus vídeos, se você havia se entendido com seus pais. Hoje um amigo mandou no watsapp o link dessa página e falou para eu me ater a esse texto. Sem mais palavras...
ResponderExcluirExupery fez uma homenagem a perda de amigo "ele nunca mais estará presente, mas também nunca mais estará ausente"
ResponderExcluirVoce está wikipedia Eduardo!!!!!
Meu Deus, "até a saída é outra". Duro ler e ter que concordar que até nesses momentos, o dinheiro, o status, a classe social fala mais alto. Cara, eu te admiro pra caramba!!!
ResponderExcluirQuando estará no Rio de janeiro ?
ResponderExcluirFiquei imaginando como vc seria se vc não tivesse nascido de família rica, queria muito te fazer essa pergunta pessoalmente !!
ResponderExcluirAmei saber que vc brotou com essa natureza de ser um ser especial ... nos meus estudos aprendi que os bons sofrem mais , e que a vida não tem garantia .. A morte não existe porque nas leis naturais da Natureza tudo se transforma nada se perde , nada se cria ... Além da ciência que não revela nada , temos a cultura Racional que nos revela tudo . Agradeço muito esse seu blog existir .. preciso ter uma arte sua na minha casa , não tenho ídolos , mas vc se tornou um ser admirável pra mim . Abraço ... agora é hora de colher os frutos , vc plantou muito bem e merece esse reconhecimento. Parabéns por ser gente da gente . Salve
ResponderExcluirobrigado por compartilhar essa história. veio na hora certa pra mim. obrigado.
ResponderExcluir❤️
ResponderExcluirMuito grata por partilhar a tua historia de vida. Com certeza uma grande inspiração ❤️
ResponderExcluirEu tiro proveito de todos seus vídeos,sinto verdade em tudo,suas palavras sabias,minha admiração almentou pós ler esse testo q faz parte da sua vida e mesmo assim bc compartilhou com nosco,
ResponderExcluirEssa falada da vida contém valores que riqueza alguma paga, é uma literatura da vida real!
ResponderExcluirProfundas são suas palavras e tocantes, há uma sensibilidade nelas que nos faz refletir sobre a nossa existência.
ResponderExcluirrsrsrs boa
ResponderExcluirlol good
Não lhe conhecia, parabéns pela narrativa, me tocou profundamente. Lindo
ResponderExcluirGrande ser humano
ResponderExcluirPessoa admiravel teu pai tem orgulho de ti
ResponderExcluirNao sei se ja escrevestes um livro se nao poderias escreve lo colocando todas as tuas vivencias abraco
ResponderExcluirSenti muita emoção lendo, e muita empatia também! Meu pai faleceu aos 63 anos de idade com uma saúde invejável, repentinamente em um acidente de carro. Fui a única pessoa da família que teve contato com ele após o acidente, ele ficou em coma por 6 dias. Sentia que estava ali por perto também... é estranho , mas hoje, após 12 anos, ainda sinto ele em mim, parece que tudo que faço sinto a vontade de mostrar pra ele e receber sua aprovação.
ResponderExcluirSeu texto me emocionou muito! Muito rico em detalhes...deveria investir mais como escritor! Parabéns pela pessoa que é! Sinto que seu pai tem muito orgulho de você!
ResponderExcluirTexto real e emocionante
ResponderExcluirNessa sociedade patrimonialista, "liberdade" é um desparate. Lembro de quando falei pra minha família que queria ser caminhoneiro, todos a minha volta se revoltaram. Meus pais falaram: "não te demos educação pra virar caminhoneiro. Você tem que ser alguém na vida." Os pais ao buscarem "garantir a vida de seus filhos", esquecem que o excesso de zelo, traduz-se em desrespeito a identidade deles. Os filhos não são extensões dos pais.
ResponderExcluir"Até a saída é outra" muito reflexivo, como sempre. Te admiro Eduardo, muita paz !
ResponderExcluirQue cacetada !!!
ResponderExcluirExatamente assim essa viagem neste planeta !!!
Lamentável que poucos tenham essa compreensão !!!
Nossa,,,história belíssima!!
ResponderExcluirVc é um escritor nato ... pois toda vez q consigo visualizar o ambiente ou as emoções como se estivesse ali , sei q encontrei um!!👏👏🤜🤛
Relato emocionante!!💞
Uma vez li, "os bens materiais são perecíveis e o tempo é fugaz". Obrigado pela linda estória.
ResponderExcluirPostagem legal! Você pode compartilhar seu post no twitter e obter muitos likes daqui https://viplikes.pt
ResponderExcluirEscrevi um textão e não foi ...
ResponderExcluirUm artista dos tempos modernos, mas com uma alma antiga.
ResponderExcluirPORQUE não te conheci antes.
ResponderExcluirTenho uma pergunta:COMO ESTÁ SUA RELAÇÃO COM SUA MÃE é de sua Mãe, com seus filhos....?
AMEI descobrir sua existência. Parabéns por quem você é. Buscava conhecer mais gente que pensa como eu também, sempre questionei a vida e a sociedade em que vivemos. São muitos os absurdos e injustiças crimes, brutalidades de todas as formas. Não aceito essa sociedade mas, vivemos nela.
ResponderExcluirUm abraço amigo. Parabéns pela espetacular coragem, pelo verdadeiro senso de humanidade, por fazer a diferença.
Eduardo, acabei de ver e de escutar você pelo ICL e agora li suas palavras...me senti tão próxima que posso toca-lo num abraço, em silêncio e no olhar.
ResponderExcluirSim, estamos todos irmanados nessa amorosidade, são muitas as histórias, muitos caminhos , só um amor maior, a nos redemir, a nos confortar.
Todo amor e paz a você, sempre.