As novas equações no sistema de poder mundial
Por: Nicola Hadwa y Silvia Domenech
Publicado 25 maio 2020
Na atualidade, a política externa norteamericana já não tem um epicentro. Os
focos vitais para os Estados Unidos estão no mundo inteiro. E cada vez são mais
perigosos para todos.
Há algumas décadas, as potências ocidentais criaram um sistema de poder
que, praticamente, as converteu em juízes permanentes de um mundo dominado pelo
imperialismo, a cujos ditames os países deviam se submeter sob pena, caso não o
fizessem, de se verem invadidos, sob diferentes pretextos, ou ser alvo de golpes de
estado ou, simplesmente, enfrentar sua destruição econômica e política.
O desenrolar dos acontecimentos, a arrogância do poder unipolar
norteamericano e a necessidade de sobrevivência interna do capitalismo e das
estruturas econômicas internacionais feitas à sua maneira, leva, no entanto,
este sistema de poder a tentar submeter outras economias, como a chinesa e a
russa, e colocá-las sob sua esfera de controle direto. Lancemos uma rápida
vista aos últimos acontecimentos.
Comecemos pela tentativa de derrubar o governo sírio e tirar a Rússia do
mar Mediterrâneo, privando-a do único porto russo no Mediterrâneo, Tartús, onde
chegam os navios da Criméia, no mar Negro. O iminente fracasso desta ação leva
o império a derrubar o governo ucraniano para colocar um fantoche e depois
privar a Rússia do porto de Sebastopol, na Criméia. O resultado desta manobra
significou a separação de algumas províncias do Donbass e um referendo onde a
população da Criméia votou de forma esmagadora em pertencer à Rússia, e não à
Ucrânia, intensificando as pretensões norteamericanas de isolar a Rússia.
Logicamente, soaram os alarmes e se preparam condições para derrotar
novas conspirações anti-russas.
A administração dos Estados Unidos se volta para a China, pretendendo
atrasar e diretamente minimizar o desenvolvimento econômico desse país, para
dominar sua economia e favorecer as transnacionais norteamericanas, cujos
interesses estão entrelaçados com os das européias, a fim de que estas
mantenham a hegemonia comercial e estabeleçam o controle sobre o comércio
chinês. Isto leva o império a tentar cortar e anular todos os projetos de
desenvolvimentos comerciais da China, principalmente os relacionados com a nova
rota da seda e, em particular, com a Organização de Cooperação de Shangai que
inclui ainda, entre outros, a Rússia, e à qual se integram países como Irã, que
é um aliado estratégico desta última.
China, então, amplia e adapta o porto de Chabahar, no sudeste do Irã, na
fronteira entre o oceano Índico e o mar de Omã, o que lhe permite conectar-se
com o Golfo Pérsico para que funcione como centro de distribuição para todo o
mundo, principalmente Europa, do novo comércio pela rota da seda, que
necessariamente integra a países como Paquistão, Irã e Rússia, entre outros, a
qual aglutinaria 65% do comércio mundial e concentraria países que possuem ao
redor de 70% dos recursos do mundo. No centro deste comércio estarão Rússia e
China e, de forma crescente, o Irã.
O império, em sua tentativa de isolar a Rússia, junta a intenção de
bloquear a China. O que, evidentemente, levou ambos países a estreitar suas
alianças político-comerciais e atuar em conjunto, já não somente na Ásia, mas
em todo o mundo, e a se protegerem e colaborar com seus aliados.
Os Estados Unidos se dá agora a tarefa, em conjunto com seus obedientes
e submissos colaboradores Arábia Saudita e outros como Qatar e os Emirados
Árabes, de bloquear tanto a Rússia quanto a China, de forma conjunta.
Desta perspectiva, criam um movimento terrorista de envergadura, o Daesh
(ISIS) ou Estado Islâmico, organização ultra-terrorista e selvagem. Seu
objetivo central seria derrubar o governo sírio e depois o iraquiano, para
fechar a passagem da China pela nova rota da seda e, fechando o porto de Tartús
à Rússia, transportar o petróleo saudita e dos Emirados – por um oleoduto que
desembocaria em Haifa – para a Europa. Seu preço quase monopolizado permitiria
anular o comércio do petróleo e gás da Rússia com a Europa e, dado que a fonte
do abastecimento seriam as monarquias feudais, a quem não importa desperdiçar
os recursos do país, este sempre teria um preço preferencial, o que daria ampla
margem à possibilidade de debilitar profundamente a economia russa e ao país.
Os riscos para a Europa de uma campanha anti-russa, de forma direta e decidida,
no entanto, eram muitos, já que qualquer contradição entre as empresas
européias e norteamericanas e a falta de alternativas de abastecimento poderia
significar um preço monopolizado e/ou a perda de liberdade comercial.
Por outro lado, seguindo esses desígnios ianques, a monarquia feudal
Saudita inicia uma guerra insensata contra o Yemen, com o objetivo de
satisfazer o desejo norteamericano-israelense de controlar o estreito de Bab El
Mandeb*, gargalo que dá acesso ao Mar Vermelho desde o oceano Índico, pelo
golfo de Adén, o que o faz passagem obrigatória até o canal de Suez e o
Mediterrâneo, tendo portanto uma imensa importância para o comércio e a
segurança internacionais ao ser o que liga os portos europeus com a Ásia e com
o Golfo Pérsico, passando por em torno de 10% do petróleo mundial transportado
por mar.
Foi a aliança da Rússia com o Irã e com as forças anti-imperialistas e
anti-sionistas do Oriente Médio – a Frente da Resistência formado pelo
Movimento Libanês Hezbollah, o governo da Síria, o Movimento Yemeni Ansarolá e
outros grupos aliados, como Hezbollah Al Nuyaba, do Iraque, Hashad Al Shaabi,
Ansar Allah, Hamas, Jihad Islâmica Palestina e a Frente Popular para a
Libertação da Palestina (FPLP) – o que permitiu mudar o rumo da guerra contra o
terrorismo na Síria e deter a desintegração desse país. E fazer, em geral, que
todos estes projetos de domínio imperial do Oriente Médio estejam sendo
derrotados.
Arábia Saudita e seus aliados, no entanto, têm demonstrado ser os
traidores não só dos seus povos, mas do mundo árabe e islâmico, num trabalho
absolutamente contrário a estes, colocando seus recursos à disposição do regime
sionista e dos Estados Unidos, para promover o domínio destes sobre os pontos
estratégicos do Oriente Médio e, ao mesmo tempo e de forma ativa, a
normalização dos laços com aqueles que os exploram e, em especial, com esta
entidade anti-árabe e anti-islâmica que é a entidade sionista. Mas há mais
ainda. Traíram também o povo palestino e sua luta contra a ocupação sionista.
Mas a guerra contra a China não pode parar. É a guerra do petróleo. E aí
está a entidade sionista, que segue fiel ao seu rol de gendarme do
imperialismo, apesar da estratégia de usá-la como meio para agredir e derrotar
os países da Frente da Resistência e obrigá-los a se submeterem aos Estados
Unidos ter falhado. Não importa, os estadunidenses sempre os apoiaram. Os
sionistas coordenam as atividades contra os povos do Oriente Médio e em outros
continentes, cooperando ativamente nos complôs contra Venezuela, Cuba,
Nicarágua e Bolívia, tratando de deter o inexorável despertar independente e
libertário destes países, os quais também desafiaram o controle imperial.
Países que este controle tenta sufocar, por meio de bloqueios ilegais,
ilegítimos, que Rússia, China e Irã têm contribuído para resistir, transferindo
suas ações de confrontação com o domínio norteamericano para a América Latina.
O interessante é que, se como base territorial do sionismo, sua entidade
(Israel), em quilômetros quadrados, não é muito grande, ela representa o capital
financeiro mundial e seu poder é imenso, pelo que seu lobby controla a política
externa (e o congresso - n do T) dos Estados Unidos. O governo norteamericano, então, pressionado pela
entidade sionista que controla sua política externa para os países árabes e
tira vantagens aceleradamente da presença no poder de uma administração
pró-sionista arrogante e soberba – que simplesmente há demonstrado não ter nada
de estadista, apenas ser inábil em política, acostumada à busca de fortuna e
sem conhecimentos –, inicia gestões para reforçar Israel. E agora doa terras e
cidades, que não lhe pertencem, ao colonialismo sionista, aprofundando ainda
mais seu conflito com o povo palestino, que resiste à ocupação e ao roubo do
seu país.
Em meio a todo este panorama e afundado na crise gerada pela pandemia do
COVID-19, Estados Unidos anuncia o deslocamento de uma “estranha” operação
militar antidroga, ao que segue um frustrado atentado de incursão marítima na
Venezuela. A realidade é que os Estados Unidos quer lançar mão do poder na
Venezuela para controlar o mercado de petróleo e gás no mundo e, assim, poder
novamente estabelecer um preço que, enquanto dana a economia russa, não lhe
gera perdas – pois o prejuízo deverá ser absorvido pelo povo venezuelano – e
não afeta as reservas ianques. E com o terrorismo e suas próprias bases
militares no Oriente Médio, poderia manter a guerra terrorista contra a Síria e
o Iraque, desta vez com o apoio da Turquia, e prolongar pela maior quantidade
de anos possíveis, tentando assim paralisar e bloquear o projeto chinês da nova
rota da seda, ao qual se incorporaram e trabalham ativamente a Rússia, o Irã e
o Iraque.
Tudo isso quer dizer que o governo da Venezuela não só constitui um
incômodo exemplo para a América Latina. Se transformou no ponto chave para
fazer fracassar os planos globais do império, dirigidos a dominar o mundo com o
enfraquecimento de Rússia e China. Países estes que, junto ao Irã, sustentam e
apóiam a Venezuela e a queda do governo venezuelano nas mãos de um fantoche dos
Estados Unidos como o auto-proclamado presidente Juan Guaidó constituiria para
eles uma derrota estratégica.
Não é por acaso, então, que estes países estejam ajudando a ressurgir
adequadamente a produção petroleira venezuelana. Assim, Rússia e China aportam
capital, instrução militar e armas para que tenha capacidade de resistir ao
embate criminoso do império contra o povo da Venezuela. Império que espera um
levante popular cada dia mais distante. Com ajuda russa se reativou um complexo
de refinarias com capacidade para 140.000 barris e agora, com a ajuda do Irã,
pretende-se recuperar toda a capacidade de produção de combustíveis refinados.
O Irã está enviando neste momento ajuda de emergência à Venezuela. Ajuda que os
Estados Unidos ameaça deter, cinco superpetroleiros, além do pessoal que está
no país trabalhando para reativar a dita capacidade de produção, que se quer
levar novamente a cerca de 1.000.000 de barris de petróleo por dia e
convertê-los em 66.000.000 de litros de gasolina, lubrificantes e outros
derivados. O que romperia o bloqueio ianque sobre este país latinoamericano e
terminaria por fazer fracassar o plano israeli-estadunidense contra a
Venezuela, que pretendem substituir o governo por um à maneira dos planos
imperiais.
Na Venezuela se joga, como na Síria, portanto, o destino dos planos
norteamericanos. Em ambos, as desesperadas manobras imperialistas de
desestabilização estão fracassando. O Estado sionista, que depende do músculo
norteamericano, vai cavando sua própria sepultura, junto ao império. A nova
equação já não tem só o Oriente Médio como centro de gravidade. Este é a
América Latina, a Europa e o mundo inteiro, posto que o império se move sobre
areias movediças. Mais por seu desespero em deter o rompimento do bloqueio à
Venezuela, está colocando o mundo em uma perigosa rota de colisão.
*Nos últimos anos, este estreito tem passado por vários conflitos e se
converteu em cenário da rivalidade entre potências regionais e mundiais, que
pretendem se assegurar do seu controle. Ali se concentram aspectos de grande
importância na atualidade do Oriente Médio e África Oriental: a guerra no
Yemen, as constantes disputas e enfrentamentos no Sudão e na Somália, o
confronto entre Irã e Arábia Saudita e é passagem obrigatória do petróleo e gás
procedentes do Golfo Pérsico, pelo que constitui um ponto estratégico que atrai
a presença e a influência de diversos países.
Nicola Hadwa – Analista internacional chileno-palestino. Ex-treinador da Seleção Palestina de Futebol. Diretor da Liga Latinoamericana pelo Direito ao Retorno e coordenador do Comitê de Solidariedade com o Povo Palestino do Chila. Especialista em temas principalmente do Oriente Médio. É colaborador de varias redes de notícias internacionais.
Silvia Domenech – Pesquisadora
cubana com vários livros publicados. Doutora em Ciências Econômicas e
Professora Titular da Universidade de La Habana e da Escola Superior do PCC.
Tradução – Eduardo
Marinho.
Essas informação é muito util
ResponderExcluirFica por dentro do q ta acontecendo.pra te uma noção do q vai acontece ...gostei tinha q te mais acesso a esses tipo de informação pra nóis(população geral)