sábado, 15 de agosto de 2020

Um fim de mundo

Tenho ouvido muito "quando passar essa pandemia", "quando tudo voltar ao normal", "passando a quarentena"... sei não. Normal? Voltar a que normal? O medíocre? O desumano? Continuar com miséria, fome, desabrigo, abandono? De um lado uns poucos usufruindo de excessos, luxos e privilégios, de outro uma enorme maioria vivendo entre dificuldades, carências, roubada nos seus direitos básicos, humanos, constitucionais.

Voltar ao normal vai ser a pior coisa, se acontecer. Pra quê, então, morreram tantos de covid? Pra quê se dividiu a sociedade tão brutalmente, famílias que se estranharam, personalidades, mentalidades se revelando, se separando, se setorizando. Não se sabia com quem se tratava, ficou-se sabendo e se estabeleceram divisões.

Os descaramentos vieram de monte, os mecanismos de controle social se mostram às claras, pra quem tem olhos de ver. Os poderes chamados públicos nunca foram públicos, uma farsa institucional foi montada, desenvolvida e é permanentemente atualizada. O interesse de um punhado de podres de ricos se insinua pra dentro das instituições e as dominam, controlam, influenciam e corrompem. A propriedade, a grana, o lucro valem mais, bem mais que a vida humana. Todas as vezes que um governo começa a servir aos desservidos, passa a ser difamado, odiado e, afinal, derrubado.

Nunca vi tão descarada a estrutura da sociedade, perversa, empresarista, desumana, mentirosa, covarde, anti-social, controlada dos subterrâneos, dos bastidores do teatro macabro dos marionetes legislativos, executivos e judiciários. Interesses banqueiro-mega-empresariais prevalecem, são rapidamente atendidos em prejuízo das populações. Os que mandam são servidos primeiro. A força da sociedade, inconsciente, é servida de forma secundária, pra que o sofrimento não chegue a ponto de questionar as mentiras. É o que se pode perceber nos movimentos de fato, nas decisões dos poderes ditos “públicos”.

Não tem volta ao normal, esse normal injusto, anti-social e sem escrúpulos, sensibilidade ou respeito à vida. Há muito mais forças e entidades envolvidas do que se percebe. Isso não pode voltar, confio no "apocalipse", na morte desse mundo - pra poder nascer um outro. O "sacode planetário" tá só começando.

Passando a pandemia começa outra coisa, durante já tá acontecendo várias outras - o derretimento das calotas polares, por exemplo, parece que a do norte já foi, a do sul é um continente, tem muita terra por baixo do gelo e já tá aparecendo em várias partes; o nível do mar continua subindo; vulcões explodindo; avistamentos de extraterrestres relatados como nunca no mundo inteiro. Furacões, ciclones, terremotos, tsunamis, num ritmo característico de mutações intensas.

Outras virão na seqüência, dando continuidade ao fim desse mundo. Depois vem outra coisa, e outra, e outra, até que a estrutura institucional se desacredite, desmorone, fique sem condições de funcionar. E a gente comece a construir outra sociedade, cheia de autonomias, cooperativa, humana, solidária. Que tenha no centro de importância o ser humano,  a sua formação desde a infância, alimentação, abrigo, instrução, preparação, informação, desenvolvimento e integração - individual e, por consequência, coletiva - como parte da natureza, do equilíbrio planetário, de um universo de dimensões ainda desconhecidas.


30 comentários:

  1. Tudo isso mesmo 👏🏾. Esse normal não quero jamais!!!

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  2. Verdade Eduardo! Tudo hoje está muito escancarado, só não ver quem não quer. Diria que nunca os poderes públicos se revelaram tão publicamente como no momento atual.

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  3. Essa noite sonhei que te encontrava e conversávamos muito, foi muito real e impactante. Você deu voz a essência do meu ser mais profundo, que foi subjugado por esse sistema e se manifestava em forma de tristeza e depressão. Não tenho mais isso desde que te ouvi, pois você externalizou os ecos da minha alma. Obrigada! Um dia ainda vamos bater essa conversa! Um abraço!

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  4. A mais pura e dura verdade da sociedade atual.

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  5. ...mas existe uma mudança acontecendo, poucos estão percebendo, está pandemia como bem disse não é atoa,

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  6. Mas não acredito que as pessoas sofreram transformação
    Eu vejo em mim algumas

    Eduardo, desculpe importunar mas não achei o link do trampo

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    1. Está no canto direito superior - no formato página web você acha. É "Ver o trampo". Você vai direto nele neste link:
      http://observareabsorver-vendadetrabalhos.blogspot.com/?m=1

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Eu não acredito no novo normal, e desculpe, mas também não acho possível um novo anormal, um anormal em que se abstém, como você escreve esperançosamente no final. Esse sonho, essa utopia da colaboração humana. É desesperador saber que apenas algumas pequenas mudanças tornaria tudo tão melhor, mas os abutres do sistema, os abutres financeiros, que já não se podem mais ser medidos como pessoas, que se incomodam com a presença da miséria e degradação que eles mesmos causaram, que querem eliminá-la de sua vista, mas não querem eliminá-la desse sistema, porque dependem desta miséria para alimentar seus luxos e privilégios, é realmente desesperador pensar que estes poucos, estes punhados de corações e cérebros, poderiam fazer muito pela vida de tantas pessoas, mas não fazem apenas por escolha, apenas por uma simples decisão, um menear de cabeça para a esquerda e para a direita, dizendo não, não vou fazer, não vou me meter a ajudar estas pessoas. É desesperador acordar todos os dias sabendo o quanto somos enganados e quanto nossas preocupações mundanas são tão efêmeras diante disso tudo.

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  9. 1. Sabe, entretanto, disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis.
    2. Os homens amarão a si mesmos, serão ainda mais gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desrespeitosos aos pais, ingratos, ímpios,
    3. sem amor, incapazes de perdoar, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem,
    4. traidores, inconsequentes, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus,
    5. com aparência de piedade, todavia negando o seu real poder. Afasta-te, portanto, desses também.
    (2 Timóteo, 3)

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  10. Infelizmente o mundo voltará ao normal. A humanidade já passou por situações semelhantes e nem por isso o mundo mudou. Tudo volta ao normal. Tudo é um ciclo. A humanidade é mal.

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  11. Grato Eduardo!
    Bora construir esse novo mundo!

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  12. Síntese perfeita. O novo normal é a velha alienação de sempre. A mudança de mentalidade deve ser planetária. pertencemos à terra e não ao mundo. Para começar essa transformação é mais que necessário aprender que é um erro acharmos que o homem pode dominar a natureza, pois esta é e sempre será uma força maior do que tudo! A tomada de consciência individual para o coletivo é o que pode fazer a diferença. Do contrário será só repetição do mais do mesmo. Porém, MAIS UTOPIA MENOS DISTOPIA! Grande abraço!!

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  13. Já estamos vivendo a transição a muito tempo esperada... rumo ao sexto ciclo iniciático... porque a verdade prometeu isso e é impossível tampar o Sol com a peneira... cada ser deve buscar sua individualidade e cumprir sua missão nessa terra que nos apresenta somente ILUSÃO ... TUDO É ILUSÃO...��♥️������

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  14. Os arrombados do capitalismo estão desesperados, eles querem até propor uma renda básica universal (dar dinheiro grátis aos pobres). Por que um cara como o dono do facebook ou o Elon Musk se preocupam tanto em dar dinheiro grátis aos pobres por meio da renda básica universal? Mas logo agora? Por que não fizeram isso antes?

    Eles querem dar grana, pra gente poder ter dinheiro e comprar os produtos inúteis que eles oferecem! querem nos manter escravos dos produtos deles - que por sinal são bem caros e inúteis. Agora faz sentido o desespero em dar dinheiro aos pobres, eles mudaram o discurso muito rápido, antes do bolsonaro não se podia dar dinheiro aos pobres e ajudar, mas agora querem dar dinheiro e ajudar só porque perceberam que um povo sem dinheiro jamais os deixariam na posição de ricos, é necessário ter consumidores pra eles continuarem ricos, é necessário ter pobres pra eles continuarem ricos. ESSES ANIMAIS SELVAGENS SÃO ESTÚPIDOS!

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  15. Moro atualmente em Brasília! Tempos atrás assisti a uma palestra na Universidade Federal de Uberlândia do Eduardo Marinho, desde então, venho acompanhando o trabalho dele. Gostei e ainda gosto muito, algumas divergências mas nada que não saia do campo da democracia, respeito mútuo. A mídia é sempre mídia e às vezes cruel. Já ouvi e vi falar tanta coisa sobre o Eduardo Marinho que o que posso fazer é rir. Falar sem ao menos conhecer é desobservar e desabsorver, só pode. Já vi comentarem que ele não passa de um revoltado que foi expulso da família Marinho (Rede Globo), por não concordar ficar com pouco dinheiro que a família roubava dos cofres públicos. A mídia é um fenômeno que precisa ser estudado por alienígenas cujo grau de conhecimento se assemelha aos deuses. rsrs. Mas? Fazer o que? Ficar calado pois se falo favoravelmente sou comunista, se falo contrariando sou fascista, é uma bagunça. Eu quero é aproximar o meu cantar vagabundo daqueles que velam pela alegria do mundo. Roubei do Caetano!
    Abraço, sucesso para você.

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  16. Olá amigo assistir suas entrevistas que circulam nas redes sociais,e mostra um ser humano se expressar com tanta sabedoria e simplicidade usando sempre sua emoção e suas palavras sábias de Mestre grande filósofo da simplicidade de vida simples mas com um coração de paz consigo mesmo valeu cara.

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  17. Só digo oque observei ate hj:
    ... "Alegria demais, traz tristezas"!

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  18. Eduardo Marinho...continue com essa empreitada, só vc pode "puxar", e não quer dizer que, vc sempre acertará, mas até os teus erros servirão de acertos para todos. Vc já fez a diferença!

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  19. Admiro muito a personalidade e simplicidade de marinho. Na idade dele também tinha os mesmos questionamentos, daí decidi por mim mesmo, ai veio a confirmação, a exclusão. Gostaria de te enviar um livro marinho.

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    1. "Na idade dele"? Cinquenta e nove anos quando escrevi esse texto, hoje tenho sessenta. Tu deve estar com o quê, oitenta, noventa?

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  20. Pude aprender algumas coisas nesse período de pandemia, mas uma delas, em especial, me chamou bastante atenção. Todos sabemos dos problemas do nosso "sistema de saúde", o nosso SUS. Tinha a visão de que ele não funcionava, não atendia a população adequadamente, etc. Mas houve um acontecimento que me deixou pensativo. Minha mãe, uma empregada doméstica, estava precisando marcar um exame de endoscopia e se dirigiu à UBS próximo ao bairro onde moramos, no Jardim Castro Alves, e sem surpresa nenhuma, ficamos sabendo que não tinha possibilidade de fazer o exame, não haviam vagas disponíveis. Comentando com a patroa, minha mãe disse que não conseguia marcar o exame porque não tinha disponibilidade no SUS. A patroa dela espantada disse que o SUS tem disponibilidade para qualquer exame que era só ela procurar a UBS que fica próxima à casa dela, na região do Brooklin, próximo da Avenida Morumbi, a unidade da UBS chama-se Meninópolis. Minha mãe decidiu tentar utilizar esse serviço e para sua surpresa, a unidade estava impecável, parecia um hospital particular, tudo muito bem organizado, atendimento cordial por parte dos profissionais, nem parecia que era o SUS. No entanto, ao tentar marcar o exame, ela foi gentilmente informada que não poderia ser feito, pois as unidades só podem atender pessoas que moram próximas, nos bairros circunvizinhos. Ela informou que estava tentando agendar o exame na unidade da UBS próxima à nossa casa, mas era informada que não tinha disponibilidade. Mas, tudo bem. Desistiu e voltou à casa da patroa, que inconformada, disse que voltaria lá com ela e cadastraria ela com o seu endereço. Assim foi feito! Para a surpresa da minha mãe, quando a patroa voltou lá com ela e pediu para que registrassem a minha mãe no endereço dela, os atendentes da unidade aceitaram prontamente e os exames foram agendados para daqui 20 dias. Além disso, pediram para ela já fazer, gratuitamente, o teste para a COVID. Fiquei intrigado com essa situação. Como é possível o mesmo sistema de saúde, popular, ter tratamentos tão diferentes por estarem localizados em bairros nobres, os quais, nem são utilizados, visto que a maioria da população desses bairros nobres utilizam o sistema privado de saúde? Ficou claro pra mim, como o Eduardo sempre diz, a diferença no tratamento dispensado a pobres e ricos, mesmo quanto se trata de utilizar um serviço que, teoricamente, os "ricos" nem utilizam. Esse episódio me fez pensar que essas unidades de saúde do SUS, em bairros nobres, foram construídos exclusivamente "para inglês ver". Acho que os governantes devem direcionar para essas unidades os questionadores do sistema, como uma forma de mostrar que o sistema funciona porque incrivelmente nos bairros ricos o SUS funciona igual um hospital particular. O atendimento, os procedimentos, a disponibilidade de exames "quase imediata" me fizeram pensar. Uma UBS sem fila, atendimento bem feito, disponibilidade de exames, mas que ninguém usa porque não pode usar. As pessoas que realmente necessitam não moram nesses bairros, e, portanto, nunca poderão usar o SUS com padrão "FIFA". Eduardo, o que pensa sobre isso?

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  21. Boa tarde vovó Marinho, como está?
    Eu estou bem.
    Estou observando seu trabalho Já faz duas semanas e logo me encaixe no raciocínio pois eu não encontro jovens com reflexões mais íntimas eles sempre dizem que nada irá mudar porque
    Eu não sou ninguém e na família ninguém está no estado...
    Ficaria agradecido pela interação

    Um forte abraço

    Sou de Moçambique (África)

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  22. "NÃO PeRCAM TEMPO COM ESTE DESABAFO...sério"
    Ola! Sr. Eduardo, tive o privilégio de ver seus vídeos, na primeira vez 2016, não pude ver todo seu trabalho, foi muito chocante o que vi, posso dizer que, partilho da frequência que te conduz, e como o impacto foi forte, tive que fechar e estou de volta agora em 2020, porquê? - em 2016 estava no meio do meu curso de Direito, fui Bolsista cotista 100%, doutra forma não teria como estudar, Fui militar por 6 anos 1997 suportei até 2003 por carência financeira, (sai por não aceitar mais, o excesso de subordinação), foi bom ver seu trabalho em 2016, eu teria largado tudo, mas não sou tão forte assim, cada Ser é uma singularidade no tempo.
    Enfim, aqui estou, e estou vendo aos poucos seu trabalho, é chocante sinto que ouvimos a mesma frequência, a repulsa ao sistema político, tristeza de um povo sem direito de escolha, escravizado na sua formação, não suporto a ideia de ser servido, "talvez revolta de desfavorecido", mas somos, ou devíamos ser Humanos e nos tratarmos de igual forma, não acumulo riquezas, "talvez porque não as tenho" de nada servem, tenho o mínimo do conforto, que vejo como o máximo perto das desigualdades geradas no mundo, tenho 2 filhos pequenos que abraço todos os dias 24 horas "o tripálio não me roubará a vida", posso trabalhar a qualquer tempo, só agora Não! a energia maior do universo " Deus", me ama, assim como te Ama, e ama a todos, nos falta compreensão, "não há como compreender o incompressível e nem explicar o inexplicável", não gosto de citar defuntos que viveram no seu tempo, e dali espremeram suas uvas, gosto de falar por mim pra minha inquietude, nunca postei algo assim, mas se há universos paralelos, acredito que a energia que te move, tem permanecido adormecida em mim, até quando, não sei, sigo minha estrada, imóvel, atordoado com a política e sua capacidade corrupta e devastadora de mundos, inconformado com as desigualdades e a destruição que "causamos" ao planeta, esperando hora de ver a vida nua sentir-se no olho do furação chamado VIDA. abraço...Paz.

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    1. Como é possível "seguir sua estrada, imóvel"? Não tem nada imóvel, parceiro, por mais que pareça.

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  23. Quando o ser humano será o foco?
    “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6.24)

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  24. Que reflexão maravilhosa concordo com vc Eduardo 👏🏾👏🏾

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observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.