quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Combustível, privatização e jornalismo

Jornalistas especializados dizem que o preço da gasolina é menos o imposto estadual apontado como responsável e mais “as políticas de preços da Petrobrás”. Superficialíssimas análises. Embora seja verdade que os impostos estaduais não têm nada a ver com as altas de preços, pelo simples fato de que são os mesmos há décadas, a expressão “política de preços” esconde a raiz do problema.

A Petrobrás sempre incomodou os poderes externos, as mega-petroleiras internacionais, desde a sua criação (até antes, quando era só uma idéia) mas, sobretudo, nesses tempos de pré-sal e fartura de petróleo em território nacional – que a mídia empresarial tratou de omitir, esconder e, na impossibilidade, diminuir e desqualificar. Coincidentemente, foi quando se reativou a quarta frota dos Estados Unidos, e navios de guerra começaram a ser vistos das plataformas de petróleo próximas a Santos. Depois do golpe de 2016, o presidente da Petrobrás foi trocado por um sujeito que nunca foi petroleiro, com a função de retalhar a estatal*. Durante o governo Temer, a maior parte das refinarias – que produziam todo o combustível necessário ao funcionamento do país – foi vendida ou paralisada, toda a tubulação que trazia gás da Bolívia foi vendida, num processo de amputação que ainda continua. A última foi a distribuidora de combustíveis BR, com toda a sua infra-estrutura de transporte e serviço nos postos. Deixando de produzir o necessário ao funcionamento do país, o que era feito pela Petrobrás, foi preciso importar esses derivados a preços internacionais. Agora os combustíveis baseiam seu preço no dólar e é isso que provoca as altas seguidas, afetando o preço de praticamente tudo. A presidência e a política atuais da Petrobrás têm a missão de destruir a força descomunal da empresa. Ordens de fora.

Por quê será que o “jornalismo” aponta como causa dos aumentos as “políticas de preços da Petrobrás”? Uma expressão vaga, que não explica nada, não vai às causas e evita o entendimento, bem de acordo com os interesses corporativos e mais um crime contra a informação, na “política” de manter a desinformação geral. Assim fica fácil, pros ideólogos sociais de consciência vendida, convencer a população dos “benefícios da privatização”. Todas as privatizações que pude observar, e não foram poucas, causaram desemprego, chamado de “enxugamento”, aumento nas tarifas,  alegados “ajustes” e “correções”, e piora nos serviços, pela terceirização – que é entregar os serviços antes feitos por funcionários de carreira a pessoas sem preparo, de baixos salários, extremamente exploradas, pressionadas com crueldade e ameaçadas de demissão o tempo todo. As promessas antes de cada privatização se diluem com rapidez e a omissão criminosa do “jornalismo” corporativo esconde as conseqüências nefastas pra população. Tragédias e sacrifícios decorrentes jamais são ligados às suas verdadeiras causas. Os “benefícios da privatização” são benefícios só pros mega-empresários e seus acionistas podres de ricos, que não dependem do serviço que eles próprios “oferecem” ao povo.

*Creio que é dessa época o tal projeto de emenda constitucional (PEC) que mudou o artigo determinando que o presidente de uma estatal teria obrigatoriamente que ser um funcionário de carreira da mesma estatal, apenas acrescentando uma vírgula e incluindo a frase “a não ser por determinação do presidente da república”. E o presidente da república traíra da ocasião , fruto do golpe que ele ajudou a planejar e executar – somando com a mídia corporativa, os poderes econômicos estrangeiros e as elites internas e cúmplices, colocou a presidência da Petrobrás nas mãos de quem as petroleiras e banqueiros internacionais determinaram. A partir daí, um após o outro, nenhum presidente da Petrobrás foi funcionário da empresa. Mas a missão é a mesma, reduzir a Petrobrás a um escritório administrativo, amputar e esquartejar ao máximo suas partes lucrativas, “vendendo” pra empresas várias, nacionais e, sobretudo, estrangeiras. A imprensa corporativa, o jornalismo de consciência vendida, esconde, papagaiando razões falsas, sem relação com as raízes verdadeiras do problema.

“O mundo tem condições de produzir tudo o que é necessário às necessidades de todos, mas não o suficiente pra atender às ambições de alguns poucos”.      Mahatma Gandhi

24 comentários:

  1. Interessante conclusões , mas não consegui entender muito bem a onde você pega estas informações indica algum site

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  2. Saudades de quando a "esquerda" jogava as migalhas. Será que agora ainda da para dizer que esquerda e direita são as mesmas coisas?

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    1. Dizer, dá pra dizer qualquer coisa. Mas nunca foram a mesma coisa, a não ser no olhar de superfície que somos induzidos a ter, sem profundidade, sem conhecimento, com informações distorcidas e desinformações estratégicas. Não estamos entre esquerda e direita, estamos entre humanismo e empresarismo. No centro de importância máxima da sociedade deve estar, pra um, o ser humano, pra outro, os interesses econômicos, o lucro e a propriedade. Este é o que está no comando, daí a sociedade ostentar tanta gente como lixo, pelas calçadas, favelas, periferias, áreas de miséria, trabalhos superexplorados e mal pagos, fome, desabrigo e abandono.

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    2. Eduardo, devemos ter nos esbarrado diversa vezes por essa vida. Hoje, eu concordo com quase tudo q vc fala, denuncia.. prega. Só queria ter tido essa consciência antes. Posso cpt esse texto da Petrobras?

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  3. Queria muito conhecer esse cara. Seria um sonho...quem sabe um dia, né?

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  4. Um forte abraço do povo do rio grande no norte natal rn...

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  5. Queria muiiito conhecer você Eduardo Marinho 🥰 acredito que ficaria horas te ouvindo 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  6. O Eduardo Marinho é a bondade em pessoa, tenho certeza que ele é autista leve,essa é a natureza dos autruístas serem livres pensadores com excessiva empatia emocional pelo próximo.Eu o entendo porque também sou.

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  20. Eles usam nossas necessidades para esbanjar suas sobras.

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