terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Jornalismo empresarial: cadê a realidade?

Eu queria saber o que acontece com os kaiapó, depois de Belo Monte construída no rio onde eles viviam. Foram seis meses de Acampamento Indígena na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em protesto contra a construção da usina - luta "até a morte", segundo eles. Que acabou mesmo na morte de um cacique, do coração, por conta dos gases que as polícias lançavam a cada vez que destruíam aquele acampamento, que era reconstruído em seguida por outra leva de indígenas kaiapó. E na morte de uma criança que ainda estava em gestação, pelo mesmo motivo, ataque das "forças de segurança" do Estado inimigo da população quando se trata de atender interesses econômicos.

Queria saber do vale do rio Doce, contaminado de metais pesados desde 2015, foco de todos os tipos de câncer que os resíduos da mineração são capazes de provocar. São mais de oitocentos quilômetros, mais de vinte municípios na beira do rio, até o mar, no Espírito Santo, passando por um território indígena, os Krenak. As pessoas estão cozinhando com água de poços, a contaminação é geral, deve ser o maior nível de câncer por habitante do país - de esôfago, de estômago, intestinos, pulmões... Barra Longa tá com o maior índice nas vias respiratórias, Valadares tá comendo um peixe mutante que apareceu na água infestada de metais pesados, cor de ferrugem, o vale todo é uma fonte de contaminação geral. Os laboratórios farmacêuticos estão lucrando muito por ali. 

O que está acontecendo nas "frentes agrícolas" que derrubam e queimam florestas? E nas terras indígenas e quilombolas, sempre cercadas de olhos ambiciosos, armados e prontos pra atacar as pessoas e tomar as terras onde vivem há gerações sem conta? 

O que passa nas periferias e favelas das cidades grandes? A quantas anda a repressão, os mortos por balas "perdidas"? Como está o movimento de êxodo urbano, que vem inchando as cidades do interior e levando os problemas das metrópoles pras áreas onde ainda não havia? 

O que acontece hoje com as 250 mil famílias que foram expulsas das suas casas - na base da porrada, do gás lacrimogêneo, da repressão pelas "forças de segurança"- pra dar espaço às obras empresariais da copa do mundo e das olimpíadas que o país sediou? Não se fala do destino dessas pessoas, tratadas como pragas, formigas, espalhadas e atiradas à própria sorte - ou azar de não ter nascido entre os privilegiados sociais.

A imprensa, o jornalismo em geral só fala das personagens, marionetes nas mãos dos poderes "ocultos", nos bastidores - banqueiros, mega-empresários e seus cúmplices na política e nas elites "nacionais". É Moro, Bolsonaro, Lula, Dilma, Dória, Ciro, personagens, no fundo, cênicos da política partidária, que se diferenciam pelas personalidades, mas são subalternos aos "poderes de mercado", ao "mercado financeiro", aos poderes econômicos mundiais e seu braço nacional, que é essa elite de um punhado de podres de ricos, descendentes dos senhores de escravos, antigas alavancas do poderio banqueiro mundial, desde que tinham sede, principalmente, no império britânico. E que hoje estão mais nos Estados Unidos, embora se mantenham ainda pela Europa - o que nos põe sob o controle do imperialismo euro-estadunidense - que se impõe a quase todo continente Americano e a quase toda África. Domínio e saque europeu na África, domínio e saque estadunidense na América Latina. Os que fazem e constróem de verdade a história e as histórias por aí ficam fora dos holofotes, no escuro, mantidos na ignorância e desinformação, impedidos por muitas formas de tomar consciência da realidade como é e suas causas mais profundas.

A mídia mira seus holofotes no palco das marionetes e esconde os bastidores, os verdadeiros poderes que têm no cenário dito "político" um tabuleiro onde movem suas peças - e controlam inclusive os holofotes. A seu favor e contra povos e nações. A mídia empresarial esconde e distorce a realidade, a favor do lucro e da propriedade do punhado de podres de ricos mundiais e suas elitezinhas locais, cúmplices dos crimes contra a humanidade. E a mídia alternativa, dita "de esquerda", mais humanista mas não menos condicionada, fica na superfície, discutindo e disputando no teatro de marionetes, focada na farsa e sem se dar conta dos próprios condicionamentos, dos aprisionamentos em suas "correntes de pensamento" no desprezo à sabedoria e à resistência popular, dos sentimentos de falsa superioridade que afastam, separam e impedem a troca verdadeira com os verdadeiros construtores e mantenedores de toda a estrutura social - em todo o mundo.


6 comentários:

  1. É aquilo Eduardo, alguém que vai subindo de classes, ao invés de denunciar, e informar os demais, acabam se transformando nos monstros que ela própria julgava. Na maior parte do tempo vivi na periferia, escutava muito rap, porém, depois fui perceber que muitos cantores na verdade denunciavam aquela podridão, mas que a verdadeira briga era par ter nike no pé, e hoje pagam de gatões na mídia, sendo chamados para participar de programas que eles mesmos eram contra. Acabei trilhando o caminho aberto pra gente, estudei, reprimi minhas vontades, e conseguir subir para classe média, tenho vergonha de ter investido dinheiro na Vale, ou várias outras empresas da bolsa. Hoje mesmo tive uma discussão sobre a Ambev, ela vale R$ 235 bilhões, vendendo droga, e eu sempre digo, eu uso droga, tomo uma cervejinha final de semana, mas, os lambedores de saco dos empresários, diz que não, o que faz mal é a maconha, e outras drogas ilícitas. Comecei a ter contato com a real informação a partir do momento que decidimos vir morar numa cidade do interior, aqui do Ceará, e participar de grupos voltados para a agricultura familiar, o qual denuncia constantemente o massacre contra as outras espécies da natureza. Também presenciamos, fazendeiros de coco que secam riachos para irrigar a plantação, florestas derrubadas para loteamento, empresa que explora o lençol freático para vender água. Ao abandonar a bolha que vivia, nos abrimos mais, fui ensinado que o trabalho braçal é algo desvalorizado, aqui fiz as pazes novamente com ele, plantando, podando, limpando, se movimentando. Aprendi com pessoas ricas, mas pobres ao olhar da sociedade, sobre cultivo de abelhas, plantas, e tudo isso, principalmente em atitudes, não em palavras bonitas. Enfim, os índios que restaram são problemas, que vão ser resolvidos, se não aceitarem a educação (ver que eles precisam fazer faculdade, comprarem uma casa legal, ter celular, comer em restaurantes), vai ser pelo extermínio, como era feito lá trás. Eu dou risada em ver os governos cedendo ao auxilio, por que a estrutura está fadada ao fracasso, e para remendar as rachaduras, auxilio permanente é obrigatório, se não, há revolta, guerra civil, e tudo isso é péssimo para os negócios, e para o cara que paga 30 mil numa garrafa de vinho.

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  2. A elite sao pessoas iguaus a nós da periferia. Essas familias poderosas de hoje, seus antepassados vieram da periferia.A forca da elite esta falta de consciencia em cada um de nos. Os rios vao se contaminando, o ar se poluindo, os animais se extinguindo, mas mesno isso nao chega... demorou 2000 mil anos a chegar aqui, e pouco evouluio, mas evoluiu.

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  3. 👏👏👏 E a ignorância por indução midiatica, deixa ainda o povo acreditando em esquerdas ou direitas, mas não na necessidade essencial da vida. Leva tempo pra essa indução perversa e ignorância acabar. Mas que bom quem pega a visão e corrige a ignorância em sua própria consciência, como prática cotidiana. Abraço Eduardo🙏

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  4. Quero te fazer uma provocação.Mesmo vc sendo uma pessoa revolucionária por viver a sua maneira, já parou pra pensar que ainda assim está inserido no mesmo contexto social e que não consegue ser totalmente avesso a essa loucura comercial de compra e venda. Eu queria mesmo era viver em uma fazenda ou caverna.

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  5. Pra mim não era acaso, era arrumação pra tua chegada. Mas a ducha fria já me esclareceu o suficiente. Né nada disso e segue a vida, com seu montão de coisas pra fazer.

    Em sex, 28 de jun de 2019 às 12:38, Eduardo Marinho escreveu:
    Verdade. Uma pequena brochada. Mas tudo bem, seja como tiver que ser. Não dá pra se debater contra a realidade, é preciso tratar com ela como ela for. Nossa capacidade de interferência, quando não depende de nós, é muito pequena.

    Espero que haja algum proveito, pelo menos. E acho que haverá.

    Eu vou continuar morando dentro, pra não me sentir em fuga. Sinto ser necessário aqui e não pretendo abrir mão. Na verdade, "lá fora" não existe pra mim, é tudo parte da mesma esfera. Ter nascido aqui, circulado a vida toda por esse território, é o indicativo do que tenho pra fazer e viver. Pelo menos até agora. Não pretendo evoluir sem todo mundo, recuso posições de superioridade - prefiro mesmo a responsabilidade - e estou de serviço na vida.

    Tu deixa claro pra não contar contigo. E eu acho isso natural. Minha primeira impressão é a de que você não se adaptaria ao tipo de vida que eu levo. Nem eu me adaptaria ao tipo de vida que você leva, meio que isolada da crueza predominante entre as maiorias sabotadas, áreas sem saber e com muita sabedoria.


    Em sex, 28 de jun de 2019 às 09:13, Gabs Power escreveu:
    Eu tava indo prai ver meu Pai e amigos e vc por acaso separou e ficou podendo me ver. Tô feliz que vou poder te ver pq pra mim é importante estar com você mas vou continuar morando fora e sei que ia distância não te mantém comigo.

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    On 28 Jun 2019, at 04:30, Eduardo Marinho wrote:

    Continuo pensando. Tua imagem me vem.

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