terça-feira, 11 de agosto de 2009



Invasão de Favela - acrílica sobre tela, 68x100cm, 2007










Trabalho executado sob forte comoção, durante uma série de operações policiais em várias comunidades pobres. Na ocasião, mais de uma centena de pessoas foram mortas, todas sob alegação policial de resistência, grande parte delas sem nenhum envolvimento com atividades criminosas. O aparato de segurança do Estado é atirado contra a população das favelas, enquanto a mídia criminaliza a pobreza cotidianamente, ligando a pobreza ao tráfico de drogas, à bandidagem e à violência, sem lembrar a omissão do próprio Estado em relação às populações em áreas de exclusão social, onde faltam saneamento básico, escolas que ensinem de verdade, condições de formação profissional, atendimento de saúde com recursos e qualidade, noção de cidadania, informações, urbanidade.
Durante essas operações, milhões de pessoas vivem o inferno da conflagração, tiros de fuzil varando paredes, atingindo qualquer um, homens, mulheres, crianças, idosos. O medo de ter familiares e amigos mortos ou feridos é uma constante absurda, o pavor na hora de ir à escola e ao trabalho, o temor dos que ficam em casa esperando a volta dos que saíram, o coração aos saltos ao ouvir tiros nestes horários, mais que em outros, é uma injustiça imperdoável com essa coletividade já tão sacrificada.
Senhoras se juntam em orações para que Deus proteja seus filhos e netos, senhores silenciosos permanecem com olhares sombrios, calados e ausentes. A polícia invade essas áreas entrando em qualquer casa, de armas apontadas, escorados no instrumento jurídico "mandato de busca coletivo", criado especialmente para comunidades pobres. Nestas ocasiões, um espirro pode decretar a morte de alguém, pois os policiais estão em estado de tensão máxima e atiram sob qualquer pretexto, pois estão entre o risco de morrer ou ser baleado e a garantia da impunidade, em caso de engano e envolvimento de inocentes. Afinal, são "apenas favelados", sem recursos para buscarem direitos. O histórico de mortes de crianças, adolescentes e jovens é avassalador, embora ignorado pela mídia, e faz pensar em processo de extermínio intencional de pobres, já que os verdadeiros donos do tráfico de drogas e do crime organizado estão longe das favelas, têm empresas legalizadas e transitam facilmente entre os poderes constituídos, em ligações com políticos e autoridades do Estado e gozando de todos os privilégios das elites. A grande maioria das favelas nada tem a ver com o crime, embora seja obrigada a conviver com armas e o tráfico que, na ausência do Estado, impõe suas leis a essas comunidades abandonadas à própria sorte. Ali, só se conhece ações do governo pelo seu braço armado, pela repressão.
Esta pintura é expressão de solidariedade do autor com essa massa de pessoas sabotada, excluída, empobrecida e criminalizada por um Estado feito refém de elites, das grandes empresas nacionais e multinacionais, posto a seu serviço, contra a maioria de sua população, roubada em seus direitos fundamentais enquanto estas elites gozam imensos privilégios, egoístas e insensíveis, mutilados na melhor parte de sua humanidade, sem solidariedade ou senso de justiça.

13 comentários:

  1. Tudo o que vc se propõe a escrever é uma dura realidade, que muitos preferem ignorar, mas seja pobre ou rico, inteligente sem oportunidades, abastados ou não, todos nós um dia daremos contas a Deus de tudo o que falamos e vivemos. Todos temos nossa parcela de responsabilidades na sociedade, ninguém é isento, infelizmente. O único tendo autoridade para um julgamento perfeito foi e continua sendo Jesus Cristo - que deixou a sua glória para se tornar um de nós. Não falo aqui de religiao, mas de uma fé viva. Quem dera, você unisse os seus ideais com a fé em Jesus Cristo - que se fez pobre por amor de nós. Você poderia se assemelhar a Sadhu Sundar Singh da vida. Um sadu que viveu para Cristo em pobreza e abnegação, sendo deserdado por causa de sua fé. Quem dera todos fóssemos desprendidos e sem o cadáver da arrogância rondando a nossas vidas, ou do consumismo sem valores humanos. Deus ti abençoe!

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  2. Apesar de hoje as polícias avançarem substancialmente em poíticas mais humanas, está contido em senso coletivo o pensamento de que "bandido bom é bandido morto", sem pensar em erradicar as causas da criminalidade e também de uma resociliação.Excelente o seu texto, meus parabéns pelas palavras.Acompanho seus textos todos os dias e os acho bem interessantes e reflexivos.Meus parabéns pelo blog

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  3. Polícias avançando em políticas mais humanas (ou menos desumanas)? Onde? Na Alemanha? Há tortura cotidiana, praticada sempre contra pobres. Há desrespeito cotidiano, esculacho, humilhação, falta de dignidade de quem porta armas e barbariza quem não tem como se defender. Todos os dias, homens, mulheres, crianças e velhos são desrespeitados, ameaçados ou tratados com grosseria e violência, ameaça e chantagem. O que fazem as instruções com a humanidade dos policiais, o que fazem com sua honra, com sua dignidade? Jogam-nos pra cima da população pobre, na velha estratégia de criminalizar as áreas de exclusão, a pobreza. E os bandidos mais perigosos estão no meio das elites, travestidos de empresários bem sucedidos.

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  4. Empresários bem sucedidos que usam a miséria pra organizar o tráfico, jogando o risco pras favelas, sem pagar direitos trabalhistas, indenizações, com farta mão de obra disponível e altamente substituível, sem pagar impostos, sem nenhuma fiscalização da mercadoria, dinheiro farto, à custa de milhares de vidas. E a polícia é mandada pra cima do varejo, sem afetar o tráfico, em puro efeito midiático, pra dizer que estão combatendo o tráfico. Como quase disse o Hélio Luz (ex-chefe de polícia civil no RJ), em entrevista para o filme "Notícias de Uma Guerra Particular", a maior organização criminosa do país é o próprio Estado.

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  5. Resumidamente,FALOU TUDO,o que a socidade tem medo de expor,eu tenho pensamentos fortes e entendo tudo o que ta escrito ai,algumas coisas
    eu so tenho que amadurecer especificar mais,em fim
    Show de bola esse resumo das verdades que nao estao mais ocultas,mais sim a socidade quer ocultar, por medo ? por falta de colaboraçao de amigos ? por medo a vida ? sinceramente NAO SEI !!!

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  6. Uma das mais maiores manifestações de hipocrisia e má-fé que já vi. O pior foi ver as reações de muitos, sentindo-se seguros pelo aparelhamento violento do Estado, sem sem sequer se dar conta da contradição da operação em si e do próprio 'alívio'. Se era isso o que bastava para dar cabo ao tráfico, por que nada fora feito antes, sem tanta violência? O foco, claramente, sendo outro: entre briga de milícias até disputa de territórios de poder e influência pelo 'crime organizado/autorizado pelo crachá público'. Triste demais.

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  7. Me sinto invuneravel diante de tudo isso, onde fomos parar em...

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  8. Estado Brasileiro: máquina de moer gente, como disse Darcy Ribeiro.

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  9. Passaram-se 10 anos, e o post está atualizado com os dias atuais. Em algum ponto tivemos alguma evoluçao?
    Talvez sutil e imperseptivel...

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