quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Dia do trabalhador ou do trabalho?

            Pode parecer estranho publicar um texto sobre o 1º de maio em agosto. Mas é uma redação feita para o Núcleo Piratininga de Comunicação (http://www.piratininga.org.br/), em curso de comunicação popular. Claudia Sampaio e Vito Giannotti são os organizadores. E mestres de vida.
            A luta dos explorados é todo dia. Dos espoliados, dos mal servidos, dos sabotados, dos excluídos. Uma luta não só deles, e sim de todos que se pretendem participantes da coletividade humana. Mas precisa começar dentro de si mesmo, em cada um, e daí para a coletividade. Não de fora pra dentro, nem de cima pra baixo. De dentro para fora o trabalho ganha força, raiz, nutrição e substância.





No princípio era o caos. As fábricas eram escuras, úmidas, fechadas, barulhentas, cheias de fumaças, poeiras e resíduos venenosos. As engrenagens eram toscas, enormes, perigosas, qualquer descuido e moíam dedos, mãos, pés, braços, às vezes corpos inteiros eram esmagados entre rodas dentadas, correias de transmissão, rolos compressores. Era o princípio da chamada revolução industrial.

Os operários eram camponeses ou descendentes de camponeses expulsos dos campos pelas milícias da época, a serviço dos poderosos que tomavam terras para a criação de ovelhas e as plantações de algodão. A nascente indústria de tecidos na Inglaterra precisava de matéria prima para suas máquinas. Sem opção, a população expulsa e sobrevivente dos massacres sofridos pelos que resistiam, formava legiões de sem nada. Eles caminhavam sem rumo até as periferias dos centros urbanos, se aglomerando em situação de miséria e desespero, prontos a aceitar o trabalho insano nas condições terríveis das indústrias, sem nenhum direito.

Diante das multidões em desespero, mão de obra farta, os patrões não se importavam com as condições infernais de trabalho nas suas fábricas. Os mortos eram imediatamente substituídos, da mesma forma que os mutilados - estes eram, simplesmente, atirados à própria sorte, ao amparo dos próximos ou à mendicância.

Com o tempo – e com a força que a resistência ao sofrimento impõe – começaram a surgir organizações entre os trabalhadores. Crianças, velhos, homens e mulheres eram massacrados pelas condições de vida e de trabalho e os patrões, atentos, proibiam qualquer tipo de organização. Sabiam que seriam obstáculos à sua exploração desenfreada. Escolhiam os mais fortes e de pior caráter, para controlar os demais em troca de migalhas um pouco maiores. Capatazes, feitores, chefes, gerentes, cagoetes eram os olhos e ouvidos do patrão, armas e ferramentas de desunião e controle.

As primeiras organizações muitas vezes tinham que ser às escondidas, entre conversas rápidas, sussurros e combinações sob o olhar atento do patrão e seus xisnoves*, em reuniões noturnas e encontros em segredo. A luta foi árdua desde o início, o ódio, a covardia e a perversidade dos privilegiados não teve limites, muitos foram e são os mortos, os banidos, os perseguidos e penalizados por lutarem pelos direitos básicos, para não morrerem de fome, de cansaço, de acidente ou de abandono. São "baderneiros", dizem os patrões.

Num primeiro de maio, na Inglaterra de 1848, entra em vigor a primeira lei limitando o trabalho a dez horas por dia. As manifestações eram reprimidas com fúria pelas forças de segurança, muitas vezes terminando em massacres sangrentos. As bandeiras operárias eram tão freqüentemente banhadas em sangue e, depois, erguidas novamente, que a cor vermelha foi escolhida para simbolizar as lutas por direitos básicos, até hoje não atendidos pela sociedade, pelo Estado, em violação flagrante da sua própria constituição e demonstração clara do predomínio dos interesses empresariais, sobre os direitos da população como um todo.

Num primeiro de maio foi iniciada a greve geral nos Estados Unidos que resultou no massacre de Chicago, com dezenas de mortos, centenas de feridos, em 1886.

Quatro anos depois operários estavam organizados entre países, na Europa, nos Estados Unidos, na África e na América Latina houve manifestações, greves, barricadas, confrontos com a polícia. 1890. Em 91, o 2º Congresso da organização operária já conhecida como Internacional Socialista decreta o dia 1º de maio o Dia Internacional dos Trabalhadores.

Impotentes para evitar, os patrões se esforçam, todo ano, para transformar a data em comemoração festiva, de celebrações, espetáculos, sorteios e premiações, na clara intenção de distorcer o significado deste dia de luta dos explorados por condições dignas de vida e trabalho. Dia do trabalho é todo dia. O primeiro de maio é o dia dos trabalhadores.

                                                                                                                                 Eduardo Marinho

* xisnove – ou X-9, informante da polícia.

2 comentários:

  1. Bom seria se os professores do ensino médio e fundamental ensinassem História dessa forma.

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  2. Seu texto tem raiva. É uma raiva saudável, e muito bem escrita, que nos faz refletir. Porém, acredito que nem todo mundo que "lê raiva", consegue senti-la, absorvê-la, percebê-la, ou mesmo se sente bem com ela. Mas não nego sua necessidade. Parabéns pelo texto! E parabéns pela coerente e genial reflexão: o primeiro de maio é o dia dos trabalhadores.

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