O modelo de sociedade que nos serve de exemplo, a de consumo e competição, apresentada como democracia, é principalmente a dos Estados Unidos. Em deploráveis manifestações de subalternidade, a mídia privada, que nos domina muitos milhões de mentes, exalta aquela falsa democracia, escondendo seus podres que são conseqüência do modelo e afetam não só sua própria população, mas muitas populações do mundo - onde quer que os interesses das suas mega-empresas localizem riquezas.
O entusiasmo, a admiração e o espaço ocupado pela posse de Obama contrasta com o tratamento depreciativo e irônico das posses dos presidentes latinoamericanos que contestam esse modelo de sociedade e privilegiam os interesses de suas próprias populações em detrimento dos interesses econômicos, loucos pra sugar o sangue público. São esses interesses que a mídia representa, em todas as suas expressões - jornais, novelas, programas, comentários, formando visões de mundo distorcidas e comportamentos lucrativos e anestesiados. A mídia sabe escolher o momento e a direção de arreganhar os dentes ou de abanar o rabinho. Comportamento de capataz, cruel com os servidores e bajulador com os senhores.
Artigo de Altamiro Borges (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/01/a-posse-de-obama-e-midia-colonizada.html, o Blog do Miro) retrata bem essa realidade.
Estamos diante da opção acreditar nas mentiras ou mudar o mundo - desacreditar as mentiras cotidianas é passo fundamental pra essa mudança, embora seja apenas um dos primeiros. Sem esse passo, a caminhada pode se desviar a qualquer momento. E esse é um passo interno. Quanto de valores nos foram impostos desde o inconciente? O quanto o nosso comportamento foi condicionado? O quanto de nossas idéias estão limitadas por esses valores e comportamentos? É preciso humildade, sinceridade e criatividade. Para reconhecer em nós a existência de inúmeros condicionamentos - em diversos graus, primários ou sutis -, tratar com eles e superá-los. Bobagem desprezar a importância da forma de nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo e da nossa lapidação interna, pois é aí que se faz o mais forte alicerce pra mudanças sociais, comportamentais e todas as outras que compõem o ser humano.
Na minha opinião, é preciso destronar a razão arrogante e valorizar o sentimento nas próprias decisões. A razão deve ser usada como assessora do sentimento, para realizar suas determinações. Por que é que, com tanto desenvolvimento tecnológico, tanta evolução acadêmica, conhecimentos profundos em todos os campos, não se resolveu o problema da miséria, da ignorância, da exclusão e tanta barbárie em que vive enorme parcela da humanidade? Porque a razão foi comprada e posta a serviço de poucos e a esses não interessa acabar com o sistema que dominam. Ouvimos mentiras escandalosas, distorções criminosas, e o sentimento oprimido nos angustia.
O sentimento repudia a miséria e o sofrimento. Mas a razão faz parecer que é inevitável, uma lamentável fatalidade, escondendo suas causas óbvias, o controle do Estado, das comunicações, das mentalidades, dos comportamentos, das instituições pelos interesses econômicos, um punhado de podres de ricos. Pouco a pouco as mentiras aparecem, cada vez mais. Luzes se acendem, enxerga-se a realidade, caminha a humanidade. Virá o dia em que o sistema estará desvendado e superado, pelo andar da geopolítica mundial com cada vez mais focos de resistência, ainda aos trancos e barrancos, mas sem que as elites consigam conter - daí a gritaria histérica e raivosa da mídia corporativa, privada, comercial, vendida, mentirosa. E o entendimento dessa estrutura social desumana, injusta, perversa e suicida causará espanto "pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio", como na canção (Índio, de Caetano Veloso).
O mesmo Miro emenda com um artigo que mostra alguns dados sobre a realidade venezuelana e o trabalho sujo da mídia. Como esses meios de comunicação conseguem se manter incólumes, impunes em seus crimes contra as populações, é um mistério. Uma ponta do pesado véu que encobre este mistério pode ser levantada se observarmos os financiamentos das campanhas políticas e os comportamentos dos políticos financiados. Estabelecidas as ligações veremos a quem eles servem - seus financiadores - e de quem eles e seus financiadores se servem - do povo. Não só a massa mais pobre, mas as classes médias e mesmo o que se considera elite (a alta classe média, que não tem helicópteros nem grandes empresas), sendo apenas a parcela mais rica dos explorados, cuja remuneração farta se deve aos serviços especializados, são pessoas condenadas ao sobressalto eterno, ao medo da pobreza e da revolta dos pobres, da violência que a miséria alimenta e o proveito que empresários do tráfico e de outros crimes dão a esses deserdados da sociedade.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/01/a-venezuela-que-midia-esconde.html
Segundo o budismo o desejo e a ignorância são os causadores do sofrimento humano, e é exatamente isso que vemos hoje em dia. O desejo desenfreado, de todos, de querer ter a última tecnologia, a pessoa esteticamente mais bela ao seu lado, desfrutar sempre dos melhores confortos; é esse desejo bestial que inutiliza a razão e nos torna verdadeiros zumbis, como os das histórias de terror, sempre tentando preencher a fome insaciável dos desejos infinitos e irrealizáveis. A ignorância, na outra ponta, torna o mais lógico dos argumentos incompreensível, e faz o mundo parecer um cenário de caos e horror onde o "Carpe diem" representa o bordão daqueles que somente tem o desespero como norteador de suas ações. As coisas estão melhorando, com certeza estão, mas será que teremos tempo para mudar nosso estilo de vida ou acabaremos com tudo antes de despertamos dessa dormência?
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