A mineração é uma atividade pouco abordada pela imprensa - sobretudo a comercial. O poder econômico esmagador das multinacionais desse ramo, no entanto, pode ser percebido nas cidades "ocupadas" por essas mega-empresas, em suas estratégias de convivência, tanto com o poder público quanto com a população das cidades. Seus resíduos são os mais venenosos de toda a indústria, seu potencial de contaminação é elevadíssimo e fácil de perceber, quando a gente não se deixa levar pelas estratégias de márquetim dessas empresas que, se infiltrando no poder público e na vida das comunidades - e se aproveitando da ignorância e da desinformação implantadas pelo estado e pela mídia comercial - e criando mentalidades favoráveis à sua existência com base em distorções, mentiras e omissões.
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A mina junto à cidade de Paracatu. |
Em Paracatu, noroeste de Minas Gerais, onde o índice de câncer e doenças degenerativas está entre os maiores do mundo, a mina de ouro foi denunciada pelo médico Sérgio Ulhoa Dani no plenário do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutrição), na Alemanha, num conjunto de notícias estarrecedor pra quem acredita num Estado legítimo em que as relações empresariais se submetem - inteiramente - às leis. Nada vale mais do que o lucro, para o poder econômico, nem mesmo a vida, seja humana ou do meio ambiente. Não é à toa que esse médico foi morar na Suíça. Os capangas das mineradores - empresas de segurança privada - não brincam em serviço e denunciar com repercussões é risco de vida (http://alertaparacatu.blogspot.com.br/2010/12/fala-do-dr-sergio-u-dani-no-plenario-do.html). A mina lá é a céu aberto, a sotavento da cidade, e lança arsênico no ar e na água em grande escala (cada quilo de ouro extraído significa o descarte de 2.500 quilos de arsênico). Duas universidades, UFMG e a Universidade Técnica de Freiberg, na Alemanha, fizeram coleta de poeira em vinte pontos diferentes da cidade e a proporção de arsênio encontrada levou os pesquisadores a falar em genocídio. Há um documentário francês a respeito desse genocídio: http://paracatu.net/view/7355-documentario-europeu-questiona-acao-da-mineradora-kinross-em-paracatu. Este fala por si. "Ouro é para um punhado de ricos, o que a maioria das pessoas não é. Os pobres devemos nos contentar com o veneno que nos empobrece cada vez mais até matar-nos. Até quando vão abusar da nossa paciência?" Sérgio Ulhoa Dani
Em Jacobina, norte da Bahia, a produção de ouro bruto chegou a 2 milhões de toneladas, o que, limpos, geraram mais de 160 milhões de reais. Em 2008 a empresa anunciou o mais que triplicamento da sua produção. No entanto a população, como sempre, não se beneficiou com isso. "As condições de saneamento em toda a região da Serra de Jacobina se apresentam bastante precárias, com baixos índices de abastecimento domiciliar de água potável e a quase total ausência de sistema de esgotamento sanitário, especialmente em zonas rurais (VALE, 2005)."
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http://amazonia.inesc.org.br/artigos-inesc/amazonia-paraiso-extrativista-e-tributario-das-transnacionais-da-mineracao/ |
Na Amazônia, a coisa é sinistra. Um estudo sobre a tributação mostra o poder e a promiscuidade da mineração com as "autoridades constituídas". http://amazonia.inesc.org.br/artigos-inesc/amazonia-paraiso-extrativista-e-tributario-das-transnacionais-da-mineracao/
Em Mariana - e nos municípios do vale do falecido rio Doce - o procedimento foi o mesmo. Promiscuidade com os poderes públicos, financiamento de campanhas eleitorais que impuseram a redução de investimento em produções locais, tornando os municípios dependentes das mineradoras. Em conjunto com o márquetim e a publicidade mentirosos, formam-se as condições para que, diante da descoberta das falcatruas e prejuízos ambientais e em vidas, a própria população caia na defesa das empresas, em nome dos empregos e dos impostos que "sustentam" os municípios e são parte indispensável da arrecadação estadual - com as relações espúrias com os poderes públicos. Sendo, como são, as maiores poluidoras do planeta, esse é o procedimento comum. Daí ser comum encontrar, em Mariana, grande parte da população "contra" os desabrigados e a favor da empresa - intervenções "benéficas" são propagandeadas na formação da imagem "benfeitora" da Samarco - testa de ferro da Vale estrangeira.
Seria de espantar o silêncio marianense a respeito da destruição causada por essa empresa criminosa - há mais de dez anos eu já ouvia a denúncia sobre a iminência do desabamento da barragem de Fundão -, se não se levasse em conta o conjunto de fatores que favorece este silêncio e a ignorância a respeito do assunto. A sabotagem e o controle do ensino escolar, de modelo empresarista - que tem nos interesses empresariais importância maior que a da vida - formando mentalidades convenientes, e o controle das informações através da mídia empresarial. Além da repressão e difamação de toda denúncia fundada.
No fim das contas, mais importante que a "punição" da empresa - freqüentemente multas alardeadas pela mídia que, ao final, jamais são pagas -, é preciso perceber nosso modelo de sociedade dominada por poderes econômicos, que cria as condições pra que essas coisas aconteçam. Estamos sob poder banqueiro-mega-empresarial com uma fachada democrática falsa, apenas cenários que são comandados dos bastidores, sem que a população se dê conta, levada a crer que está num sistema democrático, que os poderes públicos são realmente públicos e que as leis são feitas pra serem cumpridas por todos. A necessidade de investimento em formação popular, com ensino de qualidade e de modelo humanista, não empresarista - para a constituição de um povo capaz de entender o que acontece e decidir coletivamente - é exatamente o terror desses dominantes, que pressionam permanentemente pelos cortes nos "custos sociais", expressão estratégica que deforma o que seria "investimento" na formação de um povo intruído, informado, capaz de ver a realidade com olhos próprios.
Estamos numa sociedade que tem no patrimônio um valor maior do que a vida. Isso vai se descarar à medida em que formos descendo o rio morto, antigo rio Doce, o Watu dos Krenak.
Mais uma demonstração de como as empresas adquirem poder sobre os eleitos. Há muitas, o financiamento direto de campanhas eleitorais são tão importantes quanto as campanhas publicitárias e de márquetim. As primeiras, pra fazer do poder público serviçal dos seus interesses; as segundas pra formar a mentalidade geral da população, no controle mental exercido pelo massacre midiático-publicitário. No Espírito Santo como em qualquer parte onde exista interesses e "autoridades":
http://seculodiario.com.br/19686/10/empresas-de-mineracao-dominam-doacoes-a-eleitos-da-bancada-capixaba-no-congresso-1
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Em dezembro de 2015, chegando em Bento Rodrigues. Ou no que foi o Bento. |
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Entrada da fazenda "Cachoeira", em Camargos, o terceiro povoado atingido. |
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Entre Bento e Paracatu de Baixo, o apocalipse da lama tóxica fez a paisagem. |
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Em Bento Rodrigues, a imagem simboliza o acontecido. |
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O tal carro, tão filmado pelos drones da mídia privada. |
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Entre Linhares e Colatina, o rio morto mata tudo. |
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Animais perdidos com a destruição, à mercê dela, esmagadora maioria condenada à morte. Os que ficaram vivos. |
Aqui no RS acontece o mesmo NESTE INSTANTE.
ResponderExcluirhttps://www.sul21.com.br/areazero/2018/02/projetos-de-mineracao-provocarao-colapso-social-e-ambiental-na-metade-sul-do-rs/
Triste isto tudo...a ganância mata!
ResponderExcluirExcelente informacao!!!! Obrigada!!! Abre um perfil no instagram.
ResponderExcluirTambem nao sabia de nada disso. Grata pelas informacoes! Ia comprar um brinquinho de ouro pra minha filhinha, nem vou mais.... como sao sedutoras as propagandas... credo... é preciso estar atenta, sempre.
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