Os donos do dinheiro se preparam, grandes bancos, mega-empresas afiam seu monitoramento, é preciso se manter no controle, manter ou, de preferência, aumentar o seu poder de pressão sobre os poderes ditos “públicos”.
O judiciário, com seus salários enormes e poder social
incontestável, já está devidamente afastado da população em geral e sua realidade, artificial e
irresistivelmente inflados em seus sentimentos de superioridade. “A justiça é
como a serpente, ataca de preferência os descalços”, como disse Galeano. Assim os interesses econômico-financeiros, tradicionalmente anti-sociais, garantem a conivência e a proteção da "justiça", a impunidade na prática cotidiana de crimes contra a população, principalmente a mais pobre.
Agora é a vez do executivo, "eleição" do governo central, a cabeça
da hierarquia estatal nas decisões da "cúpula" do Estado. Os lobistas, correias de transmissão dos poderes
econômicos, circulam nos corredores estatais, reforçam seus apoios institucionais,
carregando as forças das mídias empresariais sempre em defesa dos interesses
desses poucos podres de ricos, sempre em prejuízo da população em geral e dos
direitos de imensa parcela, sempre sabotada, enganada, explorada, iludida,
alienada das decisões que afetam sua vida.
Mal sabe a população que é no seu comportamento
condicionado, nos seus valores induzidos, nos seus desejos e objetivos
programados, impostos pela educação empresarista, pelo massacre
publicitário-marqueteiro – entre a sedução e a ameaça – e pelo falso jornalismo
dos interesses econômicos – consciências profissionais vendidas por altos
salários e privilégios sociais – que se baseiam os pilares desse modelo social
injusto, perverso, covarde e destrutivo.
A sociedade é como é porque nós consentimos, sem perceber,
exercendo a vida como é induzido, assimilando os falsos valores do excesso, do
consumo desenfreado, na atenção e na intenção postas na matéria, na
propriedade, na riqueza como objetivo de vida, como se a vida não acabasse. Pra
isso a morte é concebida como uma tragédia, uma desgraça que “não vai acontecer”
(a não ser num futuro remoto que, sideusquiser, nunca vai chegar), e não uma
simples conseqüência de ter nascido, um acontecimento natural pra onde tudo o
que vive se encaminha, seja fungo, planta, bicho ou gente. Da porta de entrada
até a porta de saída, a vida é uma passagem. Minha razão, por algum tempo,
negou a existência antes do nascimento e depois da morte. Mas o meu sentimento
se impôs, diante de acontecimentos e percepções – nascimento de filhos,
observação do desenvolvimento de crianças, assuntando a velhice avançada e a
visão da vida das pessoas mais velhas que encontrei, em contatos com “entidades
incorporadas” no candomblé, na umbanda, no kardecismo, em linhas
espiritualistas independentes e das mais diversas – e, com o tempo, a convicção
se fez como certeza intuitiva. Não se começa ao nascer, não se acaba ao morrer.
Minha razão acata meu sentimento. E não se mete a entender, muito menos a
explicar, a não ser através da intuição, que não precisa atender às exigências
da lógica. Até por ter a humildade de reconhecer a própria ignorância, as
limitações do conhecimento, do alcance e do entendimento.
Da mesma forma que sabemos hoje o que não sabíamos ontem,
amanhã saberemos o que não sabemos hoje. A ciência, que sempre se arrogou dona
das verdades, foi obrigada pelo tempo a reconhecer erros e fazer correções
inúmeras vezes. Esse processo não termina, embora a arrogância continue, e é de
se esperar sempre novos reconhecimentos de erros, correções e descobertas, num
caminho sem final, sem chegada, de aprendizado e evolução coletivos. Negar
obstinadamente o que não está comprovado cientificamente chega a ser
ingenuidade. A ciência não chegou a seu termo, não tem conclusões finais sobre
tudo – embora muitos tenham essa pretensão –, há muito a se descobrir, a se
corrigir, a perceber e desenvolver. O caminho do desenvolvimento geral,
sobretudo da consciência, é um caminho do qual não se vê o fim. Aqui do meu
pequeno alcance me parece permanente.
Uso a imaginação pra daqui a mil anos, dois mil, e vejo a
integração com a realidade universal, o contato com outras realidades
planetárias, no desenvolvimento da consciência pra além da harmonia social que
ainda estamos por construir. No contato com outras dimensões da realidade, já
praticada por muitos, mas ainda não reconhecida pela “ciência oficial”. Tenho a
intuição de que quando alcançarmos o patamar de sociedade sem abandonados, sem
escravidão – e não tenho a ilusão de que esse passo se dê com poucas gerações e
muito menos no tempo de uma vida, muito trabalho ainda por fazer – e nos
tornarmos a família humana e planetária que somos e ainda não exercemos, não
tomamos consciência, teremos percepções e desenvolvimentos além do que a
maioria imagina ou acredita.
Ao mesmo tempo vejo o planeta dando sinais cada vez mais
numerosos e intensos. Por mais que os geógrafos e geólogos digam que todos
esses movimentos são naturais e sempre ocorreram, não me lembro de tantas
convulsões ao mesmo tempo, terremotos, vulcões, tempestades, furacões, secas,
neves e incêndios onde nunca tinham acontecido, migrações em massa e profecias
se cumprindo. Parece mesmo que se aproxima “o fim do mundo”, pra quem está
atento aos acontecimentos mundiais. E é mesmo um fim de mundo que se aproxima,
entendendo por “mundo” as formas sociais em que vivemos. Um modelo social
entrando em agonia de morte, prenúncio do nascimento de outro modelo, mais
humano e solidário pela necessidade de sobrevivência, de superação das
dificuldades que vêm se anunciando há muito tempo e que agora se apresentam e,
pelo jeito, vão se apresentar cada vez mais. Não há retorno. Nem haverá um
momento preciso de mutação, um ponto no tempo onde tudo vai mudar.
A mudança é permanente e, por mais que o momento seja
intenso, de pressão, ainda assim leva gerações esse “momento”. É preciso
serenidade e visão de médio e longo prazo – exatamente o contrário da visão imediatista
a que a sociedade induz – pra perceber o processo multi-milenar no caminhar da
humanidade e do planeta no tempo e no espaço. Minha satisfação – e não me dou o
direito de cobrar de ninguém – é me colocar a serviço nesse processo, dentro do
meu pequeno alcance e no máximo das minhas possibilidades. Pra mim, é assim que
a vida vale a pena.
Eduardo Marinho – 13/10/2021
Sim até mesmo na pressão social de se formar rapidamente acabamos aprendendo as matérias e a história de maneira psiclogicamente com a visão do dominador em todas elas acabamos não questionando , já é difícil pra gente que é pobre estudar ainda mais questionar o que estamos estudando entendendo o psicólogico das coisas , mas estou atento nisto agora com 19 anos , e atento na vida e nas vivências
ResponderExcluirMuito lúcido e sereno no falar do porvir. Sim estamos já vivenciando a transição planetária. Sabemos e sentimos... obrigada Eduardo por abrandar
ResponderExcluirComo posso adquirir as suas obras de arte?
ResponderExcluirGratitudeeee
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ResponderExcluirMuito bem.
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