sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Lançamento de livro

No dia 5 de dezembro, segunda-feira, será lançado o livro Crônicas e Pontos de Vista. Foi um trabalho feito basicamente pelo Rodrigo Raro, editor da Navilouca, que leu meus textos e achou que valia a pena. Toda a parte da arrumação foi feita por ele, já macaco velho de editora, embora jovem ainda, e me poupou do que nunca me propus - encarar as burocracias e tratar com as instituições do Estado por iniciativa própria. Só faço isso obrigado por alguma circunstância além do meu controle.

Convido os amigos e leitores do blogue que estejam na área pra ouvir umas palavrinhas que direi na ocasião, me apresentando como autor da vida que vivi e de onde observo a realidade à minha volta. Claro que não pretendo ter a visão perfeita de mundo, mas são opiniões sinceras e têm base na vivência. Muita coisa aprendi na própria pele. Ou couro, pois teve que ser resistente.

Somos todos tripulantes desse navio que é o mundo e segunda estão todos convidados a subir ao convés da grande nave pra participar do evento.

Abraços a todos,
                             Eduardo.

Aí, Shantal, a data tá na primeira linha da postagem. De novo, então: 5 de dezembro, próxima segunda.
Shantal é uma mina distraída...


Convite de lançamento Eduardo Marinho Crônicas e pontos de vista

Fiquei sabendo que em alguns lugares, ou computadores, não está abrindo essa capa do livro com o endereço. Conferi no Rio Grande do Sul e a figura abriu na boa. Não sei o que pode causar essa discrepância. Mas fica o endereço, que tô lendo no retângulo aberto, rua Coronel Tamarindo, 137, Gragoatá, Niterói. Fica entre a praça da Cantareira e a "praia" da Boa Viagem, entre aspas porque não é praia, mas tem uma vista linda pra baía de Guanabara, com Botafogo, Flamengo e o centro do Rio, ladeado pelo Pão de Açúcar e a ilha da Boa Viagem, à esquerda, com a saída da baía. Pra quem vier do lado da Cantareira, é um muro vermelho à esquerda, com uma porta. O bar Convés é fechado, embora bem aberto. No sentido cultural, claro. Ah, sim, vai ser às 20 h, também tá na filipeta virtual.

Na pequena fala, adoraria gente me questionando, perguntando, tirando dúvidas...

E já que tem gente perguntando, repasso aqui a fala do Rodrigo, o editor:

"Ah, Edu, pra quem perguntar sobre como comprar, pode dizer que estará disponível a partir do dia 6/12 nas livrarias virtuais: Saraiva, Cultura, FNAC, Argumento, Singular, Travessa etc. O preço é o que falei: R$ 20."


Quem quiser pode pedir pelo meu endereço, arteutil.em@gmail.com. Eu até prefiro, porque nesses eu ganho um pouco mais. E me retornam em livros pra vender na mão - a meu ver, a melhor maneira, embora nem sempre seja possível. Nada como o contato pessoal, olhos nos olhos, quando dá.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Guarani-Kaiowá - mais um massacre pra coleção de vergonhas


À Sombra de um Delírio Verde from Mídia Livre on Vimeo.




         Domingo passado estive num evento em São Paulo, TedxDaLuz – só descobri a pronúncia quando ouvi falando, “tedex da luz” –, um ciclo de palestras e apresentações de sensibilização, no sentido do desenvolvimento das percepções mais sutis da existência e da evolução humanas em meio à diversidade infinita em unidade absoluta no planeta e no universo. Saí de casa na sexta pela manhã e me desliguei dos boletins de notícias que acompanho, longe das distorções e traições da mídia comercial.
          Durante o evento recebi a informação do massacre, sexta-feira à noite, dos Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Um crime anunciado, prometido e previsível. O coração apertou e se formou um nó na minha garganta, entre a raiva, a tristeza e a vergonha. Os povos originais são perseguidos e dizimados desde que os europeus chegaram por aqui, tomando posse do que não era seu apenas por não encontrar armamentos para lhes fazer frente e de olhos cobiçosos no que consideravam “riquezas”, em sua visão fria e convenientemente preconceituosa.
        Aliás, a “civilização” européia fez isso em todos os continentes, invadindo, saqueando, produzindo morticínios, escravidão, torturas, genocídios. Não entendo como alguém minimamente lúcido pode admirar essa “civilização”, evoluída a partir da miséria e do sofrimento impostos em todos os lugares onde chegaram e por onde passaram.
     Os povos originários os receberam de braços abertos e, em troca, foram enganados, usados, escravizados e expulsos dos territórios onde viviam. O europeu não se contentava nunca e, gradualmente, milhões e milhões de nativos foram violentados, mortos ou postos em fuga. Famílias, tribos, povos inteiros.
         Quando a evolução da sociedade colocou a necessidade de novos critérios de comportamento menos desumanos, ao menos na aparência, pelo incômodo de consciência com a desumanidade descarada, foram se criando reservas para as populações indígenas remanescentes, para depósito e justificativa do roubo dos seus territórios. Entulharam-se em tais reservas os sobreviventes de várias etnias, todas destruídas física, moral e culturalmente. A sociedade da produção e do consumo, da exploração e do controle da maioria por alguns poucos não pode tolerar a existência de coletividades que não partilham dos seus valores, não dependem dos seus produtos e são evidentemente mais felizes em sua simplicidade.
        Os exploradores do trabalho alheio, seus arautos e forças armadas, sem conseguir escravizar plenamente os povos nativos, trataram de criminalizá-los, desumanizando, difamando, apontando sua reação ao saque, à invasão e ao extermínio como prova da sua “selvageria” para justificar a necessidade da aniquilação.
         Ao não se deixar dominar e com sua autonomia plena, os povos indígenas incomodam. O fato do índio produzir tudo o que precisa para viver, de forma independente, autônoma, e não assimilar o trabalho como o centro da vida, muito menos a produção em massa e a busca do lucro e dos excessos materiais, constitui um “péssimo exemplo” de liberdade, alegria e independência que apavora os concentradores, os dominantes e manipuladores da estrutura social dita civilizada. Daí o ódio, forjado e implantado de todas as formas nos valores da sociedade da época e até hoje.
         Não me esqueço de quando eu acampava em Barra do Riacho na época em que se implantava a Aracruz Celulose, as histórias que ouvia dos pescadores e moradores da área, de como estavam ocorrendo conflitos com os índios que viviam na área (conflito é um eufemismo pra massacre), terminando com seu aniquilamento e expulsão dos sobreviventes. Na época ainda vigorava a ditadura dos militares e a imprensa era mais amarrada ainda do que atualmente – nada saía na mídia. Vinte anos depois, esses sobreviventes e seus descendentes, já organizados e lutando pra recuperar pelo menos parte do território roubado, com o inusitado apoio da FUNAI, conseguiram algumas migalhas e passaram a ser acusados de inviabilizar o “progresso”. Alguém me enviou a foto de um “autidor” plantado numa cidade de lá, não lembro se era na Serra ou em Aracruz, afirmando “a Aracruz trouxe 1500 empregos, a FUNAI trouxe os índios”, como se fossem eles os invasores. Essas distorções mentirosas são recorrentes no processo de extermínio e dispersão.
         Essa “civilização” é, ainda, uma vergonha pra humanidade inteira, pela destruição inerente à sua existência que causa em todos os sentidos, enquanto arrota uma superioridade ridícula, com base num desenvolvimento tecnológico reservado a minúsculas parcelas da coletividade, justamente as mais arrogantes e egoístas, exploradoras, controladoras e dependentes da maioria.
         Os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, ou os que sobraram daquele povo, não possuem mais apenas a sabedoria ancestral da harmonia com a natureza e entre si, numa sociedade sem miséria ou abandono, sem predominância de uns sobre os demais. Eles foram acrescidos da sabedoria que a resistência ao sofrimento produz. Será difícil encontrar algum deles que não tenha vários parentes, amigos e conhecidos assassinados. Séculos de perseguição, expulsões, assassinatos, sem descanso ou intervalo, covardemente, sob a indiferença da coletividade, com a conivência de todos os governos e a participação das forças públicas que, na verdade, servem aos interesses privados dos poucos poderosos, como é de praxe.
         Os povos originários não acreditam num deus que criou o mundo para o ser humano, um deus que tem filhos preferidos e estimula a guerra, exige bajulação e sacrifício, que se vinga e impõe sofrimentos eternos aos que o desagradam em seus absurdos regulamentos. Ao contrário, na sua concepção a existência é a integração de todos os seres, minerais, vegetais e animais, onde a Terra é a mãe de todos e merece o máximo respeito, os rios são as artérias e veias do mundo e a água é o sangue que deve ser mantido puro. Sabem que somos parte da natureza e que dependemos dela integralmente, daí sua veneração e gratidão por ela. Não podem entender a destruição e a contaminação, sem medida ou contenção, produzidas pela sociedade “evoluída”, como se fossem os donos da natureza, em nome de benefícios imediatos e ilusórios, sempre restritos aos poucos poderosos.
         Devemos muito, toda a família humana e sobretudo os adeptos dos valores europeus, a esses parentes que foram submetidos pela força das armas e das doenças, violentados em seus direitos, inferiorizados em todos os sentidos e declarados culpados pelos crimes que sofreram e sofrem cotidianamente com a ambição desmedida que é estimulada em nossa sociedade, assim como o egoísmo e a indiferença diante do sofrimento alheio.
         Se (ou quando) a sabedoria desses povos for abraçada e assimilada pela nossa coletividade, aí sim, poderemos sonhar e construir uma sociedade menos injusta, perversa e covarde, mais solidária, equilibrada e bela. E, afinal, verdadeiramente humana.
         Aos Guarani-Kaiowá, toda minha solidariedade, todo meu respeito e minhas lágrimas de tristeza e vergonha. Sentimento que se estende a todas as etnias nativas, exterminadas e remanescentes. E aos miseráveis, aos sabotados, os explorados ou abandonados da nossa "bela" sociedade. Que a luz das consciências reflexivas se espalhe e percebamos a humanidade inteira como uma única família. Que o senso de justiça se desenvolva e molde nossos valores e comportamentos para além das induções criminosas da propaganda mentirosa que só tem como objetivo a contínua concentração de poder, o enriquecimento cada vez maior dos ricos dominantes sobre o sangue dos povos.

Eduardo Marinho – 24 de novembro de 2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O nascimento de Adhara


            Praia de Itapoã, domingo de sol, eu vendia meus brochinhos, passando de mesa em mesa, na areia, enquanto Brisa e sua mãe, grávida de seis ou sete meses, não sabíamos ao certo, esperavam sob uma cobertura de palha, na sombra. Estivemos separados durante a gravidez, havia dúvidas quanto à concepção exata. Em cada volta que eu dava, passava onde elas estavam, com um coco, uma tapioca, um milho, água.
            Eram por volta de três da tarde, quando ela me disse estar sentindo os sintomas do parto, ou parecido. Fiquei alerta, torcendo pra ser alarme falso, mas não saí de perto, rodando pelas mesas mais próximas, de onde podia vê-las. Em minutos, ela teve certeza e me falou – “é igual ao que senti no nascimento de Brisa”. Foi o código.
            Olhei em volta. Na rua, em frente a um bar, havia um táxi sem ninguém dentro, com os vidros abertos. Entrei no bar, falando alto em direção a todo mundo, “de quem é esse táxi aí na porta?” O taxista se apresentou na hora, “é meu, por quê?” Ele estava numa mesa, bebendo com quatro mulheres. Eu fui direto, “minha mulher tá aí fora, grávida de sete meses e com as dores do parto, precisamos ir para um hospital e não temos grana pra pagar”. Ele fez uma expressão de desagrado, “porra, acabei de largar o serviço...” enquanto as quatro mulheres assumiam, “que nada, vai levar sim”, e foram levantando, saindo com ele do bar, meio contrafeito, mas sorridente com as brincadeiras das meninas. Fomos até onde estavam as duas, as mulheres as rodearam e levaram pro carro, enquanto eu pegava as bolsas e mochila.
            Fomos ao hospital mais próximo dali, Roberto Santos, estava sendo trocado o plantão médico. Ela foi deitada numa cama, na emergência, esperando. O médico chegou, sentou à mesa próxima das camas e começou a preencher formulários. Ela falou com ele, estava sentindo dor e medo, pediu pra ele dar logo uma olhada. O doutor foi ríspido, “espere sua vez de ser atendida”. Ela insistiu, estava com muita dor, que ele olhasse agora, por favor. “Já disse pra esperar!”, ele falou, irritado. Eu esperava no balcão, de onde estava podia ver, embora não pudesse ouvir claramente, apenas percebi que o cara expunha desagrado na fisionomia. De repente, levantou e saiu da sala, entrando na área administrativa de atendimento, perto de onde eu estava. Atrás dele, vinha ela, segurando a barriga. No rosto, a conhecida expressão de raiva, prestes a detonar. “Escuta aqui, tô com dor de parto, com sete meses e você não vai me atender, não?” Ele olhou com superioridade, a cara zangada, e quase gritou, “já mandei ficar deitada!” Acostumado à sujeição da maioria, inferiorizada diante do “superior”, ele não percebeu que ali o papo era outro. O tapa rodado estalou na cara do médico e soou no ambiente, pra meu susto e, maior ainda, dele, que se paralisou o suficiente pra tomar outro, no caminho de retorno da mão, dessa vez com os nós dos dedos. Eu não podia aprovar aquilo, mas o momento exigia nossa velha união contra os males do mundo.
            Temi a reação, pois o médico era grande, e pulei o balcão. Caí atrás dela, já com um alicate na mão abaixada e a outra erguida e espalmada, “não reage, não”, disse a ele, olhando em volta, prevenido, tratando de colocar a parede às minhas costas. Ele estava de olhos arregalados, parado ainda, eu já segurando a raivosa. “Fui agredido”, ele balbuciou. Chamaram a polícia, as mulheres vieram pra proteger, ela, nervosa ainda, ameaçou o policial (“não se mete não, que cê apanha também!”), que ficou sem saber o que fazer e, quando as mulheres a cercaram e a foram levando, “vamos pra outro hospital, melhor que esse”, ouvi o murmúrio do PM, “em mim a senhora não pode bater, eu sou um policial...” Saí meio rindo do hospital, meio revoltado, embora não surpreso com mais essa exibição de falta de respeito social.
            Chegamos ao Tsila Balbino, na Estrada da Rainha, um hospital universitário. O carro ia parando e eu já desci e entrei na recepção, impondo “aí, tô com minha mulher grávida de sete meses entrando em trabalho de parto e vou querer respeito!” Ela vinha um pouco mais atrás, amparada pelas quatro, o motorista coçando a cabeça. Brisa estava todo o tempo colada comigo, onde eu ia ela acompanhava, sem falar nada, olhos bem abertos, curiosa com tudo. Uma enfermeira passou por mim, na direção do grupo, e disse, “não atrapalha, não, que quem precisa de ajuda aqui é ela, não você”. Parei na hora, constrangido e com alívio. Ah, pensei, aqui tem gente.
            A grávida foi levada pra dentro, o táxi foi embora com as mulheres e eu fiquei com Brisa, esperando. Logo, a médica veio falar comigo, era um alarme falso, um quase parto, devido, ela achava, aos esforços da vida que a gente levava. Bastava que ela ficasse em repouso e a criança não nasceria, para aumentar um pouco o tamanho e a resistência, até os nove meses da gestação. “Então se ela ficar, não nasce agora”, e a médica confirmou.
            Fui embora com Brisa, pra voltar dois dias depois, o prazo estipulado pela médica. Morava fora da cidade, na aldeia de Arembepe, 50 km ao norte de Salvador. Chegamos em casa noite alta, caminhamos os dois quilômetros de areia, na duna que corria ao longo da praia, da vila até a aldeia. Dois dias depois, nascia Adhara, morena, cabelos pretos, olhos escuros, de sete meses, com um quilo e oitocentos, pequena de caber numa única mão. Forte, foi pra casa com dois dias, sem ter precisado de incubadeira nem nada. “Só acredito que é de sete meses por causa do tamanho e do peso, porque todos os órgãos funcionam como se fosse uma criança de nove”, disse o médico do dia.
            E lá fomos nós, pra nossa casinha de palha, na aldeia de Arembepe, isolada pelas areias do caminho. Naquela noite, houve fogueira e dança, saxofone, violão e atabaque. O batizado de Adhara foi feito debaixo de uma lua cheia, o grupo (umas quinze a vinte pessoas) se uniu no pedido de luz na criação daquela nova vida, mãos dadas em corrente, enquanto eu desembrulhava aquele ser minúsculo e a levantava, diante do fogo, na direção da Lua, oferecendo a criança ao mundo e rogando a capacidade de educá-la para ser uma boa pessoa na coletividade humana. Houve um silêncio respeitoso, naquele momento, apenas o crepitar do fogo acompanhou o ritual na aldeia cheia de coqueiros, até o vento parou por um instante.
             A festa acabou por volta das três da manhã. Adhara, amamentada e seca, dormia a sono, numa caixa de papelão bem forrada e limpa, com buracos pra ventilação e coberta com um mosquiteiro. A festa tinha continuado, com vinho, coco, peixe e tudo o mais. Às cinco, a polícia federal invadia a aldeia, revistando todas as casas, como faziam uma ou duas vezes por ano. Mas isso já é uma outra história.
Adhara aos oito anos (final de 1991), em viagem a Visconde de Mauá, com Victor , o peruano que morou quase um ano em minha casa,  na região do cerrado mineiro. Pintura a óleo sobre tela, de 1998.

A água é uma barreira para alimentar o mundo, diz novo diretor da FAO


 OCTUBRE 2011


O próximo diretor do Organismo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o brasileiro José Graziano da Silva (agrônomo, formado em economia rural e sociologia, professor e escritor, foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate a Fome, enquanto a pasta existiu, entre 2003 e 2004), declarou em entrevista à BBC que “a água foi convertida no principal obstáculo para aumentar a produção, especialmente em áreas como a região dos Andes, América do Sul, e os países ao sul do Saara”.

De acordo com estudos da FAO, em 2050 a produção de alimentos deverá ser 70% maior para acompanhar o ritmo de crescimento da população. Graziano afirma que, apesar da pressão sobre os recursos naturais imposto pelo crescente número de seres humanos sobre a Terra, é possível acabar com a fome com quatro ações principais. Aplicação de técnicas modernas de agricultura (muitas já disponíveis), criar uma rede de segurança social para as populações mais vulneráveis, recuperar para a agricultura os produtos locais e mudar os padrões de consumo dos países ricos.

“Se pudéssemos mudar os padrões de consumo dos países desenvolvidos, haveria comida para todos”, comenta Graziano. “Desperdiçamos muita comida, atualmente, não só na produção, como no transporte e no consumo”. Segundo ele, enquanto nos países ricos se desperdiça comida, um bilhão de pessoas passam fome. “Precisamos garantir que essas populações se alimentem, facilitar-lhes trabalhos bem pagos ou encontrar uma fórmula de proteção social”.

O brasileiro disse que os programas de transferência de dinheiro servem a cerca de 120 milhões de pessoas na América Latina, o que ajudou a reduzir as taxas de desnutrição na região. Ele defende a expansão desses programas a outros países com o mesmo problema, especialmente na África.

Mercados locais

Outra ação que poderia ajudar na luta contra a fome, argumenta o futuro diretor da FAO – que assume em 1º de janeiro de 2012 –, é recuperar a agricultura de produtos típicos de cada região. Ele acrescenta que, por esses produtos não serem matérias primas (ou “comodities”), não são afetados por mudanças repentinas de preços, beneficiando assim consumidores e produtores. Pode-se criar um ciclo de produção e consumo local.
“O que faz a comida cara é o transporte, porque a produção é muito barata. Se pudéssemos diversificá-la e tornar regionais os canais de distribuição, os preços seriam muito menores”.  Graziano também afirma que estimular os produtos tradicionais ajudaria a diversificar as fontes de alimentos.
“Atualmente há poucos produtos responsáveis pela alimentação de sete bilhões de pessoas”. Conforme comentou na entrevista, a prioridade dada aos alimentos presentes nos mercados internacionais, por exemplo, reduzem a capacidade da América Latina na produção de feijão, uma fonte tradicional com alto valor nutritivo e baixo custo.

O problema da obesidade

 

A diversidade da produção agrícola também serviria para enfrentar outros problemas com relação aos alimentos – por exemplo, o aumento da obesidade, inclusive em países pobres. Graziano assegura que o número de pessoas com dieta inadequada ou com obesidade já está em dois bilhões, o dobro dos que passam fome. E atribui o fato ao estilo de vida moderna, que desestimula a atividade física e facilita o acesso à comida industrializada, normalmente com altas concentrações de açúcar. Por isso, o brasileiro acredita que a luta contra a obesidade deveria incluir campanhas educativas “que foram esquecidas”. Ele acrescenta, “acreditamos que nossas mães sabiam o que se devia comer. Nossas avós tiravam o alimento da horta, mas as mães de hoje querem comida rápida, porque passam muito tempo trabalhando fora de casa”.
Graziano argumenta que as multinacionais de comida rápica deveriam estar conscientes de sua responsabilidade neste quadro e aumentar a presença de alimentos crus em seus cardápios, como frutas e verduras.
Biocombustíveis

José Graziano, atual diretor regional da FAO para a América Latina e Caribe, destaca outros dois problemas que, junto à obesidade, são parte da recente discussão sobre a produção de alimentos ao redor do mundo – a suposta competição entre agricultura para a alimentação e a produção de biocombustíveis; e os riscos que a agricultura impõe à preservação do meio ambiente. Ele destaca que duas das três áreas que mais produzem biocombustíveis, Estados Unidos e Europa, verificaram aumentos nos preços de alguns alimentos por terem que competir com os plantios para a fabricação desses combustíveis. Na terceira área de grande produção, o Brasil, os estados que produzem etanol a partir da cana-de-açúcar não observam impacto nos preços dos alimentos, pois os plantios estão sendo feitos em terras que não eram produtivas e passaram a ser, graças à modernização das técnicas (e ao desmatamento extensivo e destruidor das florestas nativas – n do T. No entanto...) Graziano acrescenta que não há conflito entre a preservação ambiental e a necessidade de expandir a produção agrícola. “Assim como há colesterol bom e mau, isso acontece com os biocombustíveis” , diz ele. “A intensificação da produção através de tecnologias modernas, reduzindo o uso de fertilizantes e pesticidas, podem beneficiar enormemente o meio ambiente. Os avanços tecnológicos nessa direção deveriam acabar com esta dicotomia entre os ambientalistas e os agricultores”.

(N do T – Ele não diz como as mega-transnacionais dos transgênicos, dos fertilizantes e pesticidas mais mortais se colocam diante desse quadro.  Nem aborda a estratégia, claramente executada por essas monstruosidades empresariais -  como em várias áreas, como energia, transportes, medicinas, educação, comunicações, mineração, etc, etc. -, de concentração de poderes no setor de alimentos, na intenção também clara de controlar a alimentação no maior espaço possível do planeta, eliminando a autonomia da produção dos pequenos agricultores, e assim controlar também, sob chantagem, os governos fantoches das falsas democracias controladas nos bastidores pelos poderes econômicos. Na fala do futuro diretor da organização para a alimentação mundial, não há referência ao controle exercido pelas transnacionais sobre os governos, a partir do próprio império planetário atual, os Estados Unidos, incidindo diretamente sobre as políticas públicas, como ficou claríssimo no Brasil, com o processo criminoso de legalização dos transgênicos, cujas empresas produtoras fizeram distribuição ilegal e gratuita para os plantadores sulistas de soja - com promessas de lucros altíssimos -, que se encarregaram de pressionar o governo para a liberação, diante da iminência da safra proibida. O governo federal, ao invés de declarar o crime contra a soberania nacional, processar e multar os fazendeiros cúmplices do crime, apreender e destruir a safra geneticamente modificada, além de expulsar a empresa do país, bundou diante das pressões e se submeteu à maquinação multinacional, legalizando vergonhosamente as sementes transgênicas.


Sem esclarecer as causas de tanto deseqüilíbrio social no planeta, o predomínio das finanças, de bancos e empresas gigantescas sobre os poderes políticos e sociais, fica difícil enxergar o quadro todo e, por conseqüência, modificá-lo. Não percebemos o quanto fomos condicionados pelo trabalho midiático - usando a psicologia do inconsciente - nos nossos valores, comportamentos, desejos e objetivos de vida. Não percebemos que a sustentação desse sistema perverso tem base nisso. Exercemos a vida conforme esses condicionamentos, nos comportando como planejado e imposto pela propaganda explícita e subliminar, que cria falsos valores e objetivos insatisfatórios de vida, levando-nos ao conflito permanente, à insatisfação constante e às angústias de uma vida sem sentido real).  

(Tomado de BBC Mundo)                                                                                                  Boletim CubaDebate 27.10.2011
Tradução – Eduardo Marinho

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Violência do Estado no Alemão

Dezenas de pessoas são feridas em violento 
ataque do Exército no Complexo do Alemão
RIO — Na madrugada do último sábado, dia 5 de novembro, centenas de pessoas que celebravam um aniversário em um salão de festas do Complexo do Alemão, na localidade Largo do Cruzeiro, foram atacadas por soldados do exército. Segundo um dos aniversariantes, ferido no rosto com um tiro de bala de borracha, os militares tentaram invadir a festa, mas foram impedidos pelos convidados. Em seguida, os soldados teriam atirado bombas de gás lacrimogêneo para dentro do salão. Ainda segundo os moradores, as pessoas que saiam do imóvel, sufocadas com a fumaça, eram atingidas na saída com tiros de bala de borracha disparados pelo exército. Tiros de fuzil também teriam sido efetuados para o alto pelos militares. Cerca de 40 pessoas ficaram feridas no ataque. 
Sufocadas pelas bombas atiradas pelo exército para dentro do salão, algumas das vítimas chegaram a pensar que não sobreviveriam ao ataque. Os moradores disseram ainda que não existe um orgão que fiscalize a ação dos militares no Complexo do Alemão. Segundo eles, a população das 13 favelas do Complexo encontra-se abandonada e a mercê dos excessos cometidos diariamente pelo exército.


Quem vive ali, ou convive, é que sabe da arrogância, da violência das "forças de segurança", das injustiças que acontecem todo dia. Pra quem vê a estratégia de criminalização das áreas pobres, de criação de medo, de contenção e repressão, é uma triste realidade, nada de novo. A novidade é vir à tona, é a possibilidade de fazer essa realidade ser percebida pela sociedade como um todo. Uma vergonha para todos.

A mim parece óbvio que a sociedade precisa dar prioridade às situações de fragilidade plena, a miséria, a ignorância. É preciso investimentos maciços na população, na formação de todas as pessoas, na saúde plena, ao invés de estar ao serviço de um mercado controlado por uma dezena de famílias, se tanto, e seus vassalos, os poderosos regionais. Duvido que não existam recursos pra acabar com a situação de miséria, não existam recursos para a educação ser de qualidade ou a saúde ser pronta e ótima. Apenas esses recursos são desviados para servir aos interesses privados de grandes bancos e mega-empresas nacionais e internacionais, resultando na sabotagem da educação como estratégia de manter a maioria ignorante. Controlando as comunicações, é possível criar valores, desejos, objetivos de vida, sentimentos de inferioridade ou superioridade, distorcer a realidade de acordo com os interesses em lucros, riquezas e poderes. As pessoas, sem instrução, sem informação, não têm senso crítico pra se defender dos condicionamentos, das induções, das distorções da realidade que são cotidianas. É preciso perceber a mídia privada como inimigo público que tem sido, investindo ferozmente na deformação da opinião pública, na formação dos valores de consumo compulsivo, na transformação do consumo e da posse em valor social, na desumanização da sociedade, do favorecimento explícito às grandes empresas em prejuízo de vastas camadas da população.

É preciso perceber que as instituições estão todas infiltradas e dominadas, para não representarem perigo ao modo social da exploração, da coação, da mentira, da concentração de riquezas e poder por um pequeno grupo de grandes banqueiros e empresários, que controlam as instituições e as comunicações, criando valores, comportamentos, desejos e objetivos de vida falsos, em benefício de poucos e em angústia, inconsciência e sofrimento para muitos.

É preciso cuidar dos nossos desejos, nossas reações, nossos comportamentos e nossos valores que concordam, consentem e colaboram com esse estado de barbárie, ainda que inconscientemente. Competitividade, agressividade, violência, insultos, tudo formas de ação do opressor, estimuladas pelo sistema até como justificativa para investir mais e mais nas forças de "segurança", na verdade forças de opressão às maiorias pobres, na manutenção dessa estrutura perversa, covarde e suicida.

Há maneiras de ação cotidiana, de mudança de valores e comportamentos, de desejos e objetivos, quando se toma consciência do que acontece e se decide recusar os valores impostos. Assim se pode perceber valores mais verdadeiros, mais humanos, mais solidários. E se desenvolver consciência de grupo. Somos uma grande família e ainda não percebemos. Caminhamos para perceber, os movimentos do mundo são contínuos, como o movimento de todas as coisas que se conhece no universo, nada parado, tudo em movimento.

Cada um que descubra e exerça o seu papel nisso tudo. Em benefício de todos, me diz o sentimento. Em seu próprio benefício, me diz a intuição.

                                                                                                               Eduardo Marinho

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Encontro sobre a mídia


Na matéria "Rompendo o cerco da mídia", o professor de jornalismo Laurindo Lalo Leal Filho anuncia a convocação para o próximo dia 25, pela direção nacional do PT, do debate com a sociedade das suas propostas para a comunicação, já hostilizadas pela mídia privada desde o último congresso. Eis um trecho:

"Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner enfrentou essa batalha e conquistou bela vitória aprovando no Congresso a Lei de Meios. Em pronunciamento recente foi muito feliz ao dizer que “a lei não é para controlar ninguém, mas para impedir que o povo seja controlado”.
A aprovação foi obtida graças a um forte respaldo popular. Movimentos e organizações sociais foram às ruas estabelecendo o necessário contraponto à doutrinação contrária exercida pelos grandes meios. E venceram.
Por aqui, o movimento cresceu nos últimos anos, mas ainda não é forte o suficiente para sustentar um amplo movimento social em defesa da democratização das comunicações. Ainda estamos na etapa de ruptura do cerco midiático estabelecido em torno do tema.
Dai a importância da convocação feita pela direção nacional do PT para discussão pública das suas propostas para a comunicação. Elas foram aprovadas como moção no último Congresso nacional do partido e logo rotuladas de censura pela mídia.
Como não é possível desfazer a mentira através dos mesmos canais, o PT optou por discutir as propostas diretamente com a sociedade. O encontro está previsto para o próximo dia 25, em São Paulo.
Claro que o impacto de uma conversa não se compara com a força de persuasão dos grandes meios. Mas é um passo importante para difundir idéias democráticas, censuradas pela mídia e que terão nos participantes do encontro, novos agentes capazes de multiplicá-las pela sociedade."

Detesto a política partidária, sua forma de atuar, seus padrões de comportamento, suas amarras econômicas. Mas isso não impede que me interesse e valorize eventos necessários a mudanças. A convocação feita por pessoas do PT para o debate acerca da mídia trata de um dos pontos mais centrais em nossa sociedade. Haverão "revolucionários" de carteirinha que reagirão da forma sectária que lhes é característica, em sua arrogância e distância da realidade da maioria, com pérolas como "não vou colocar azeitona na empada dos outros", na sua concepção pobre de que só eles sabem o caminho para a "revolução", centrados em seu próprio umbigo e convencidos de que são eles os legítimos condutores das massas, portadores das verdades universais. E que quem não concorda com eles e não os reconhece como guias são reacionários, sem caráter, ou ignorantes e iludidos que não sabem de nada. Querem conduzir as massas mas não sabem nem falar sua língua, expressando um academês restrito e exercendo seu preconceito intelectual sobre a maioria, em pleno desprezo pela sabedoria, pelos saberes empíricos, sem considerar a criatividade, a personalidade e a resistência desse povo que, apesar de todas as sacanagens, se mantém solidário e alegre, levando a vida com muita dificuldade e jogo de cintura, com capacidades sequer imaginada por esses pseudo-revolucionários, esporrentos de siglas sem expressão real na população. Mais uma vez eu repito - quem pretende conduzir massas deveria entregar pizzas. O povo não se deixa levar por líderes e intelectuais. A classe dominante sabe muito bem disso - e paga regiamente publicitários, psicólogos da mente e do comportamento, estatísticos, para falarem a língua da população e convencê-la, amável e mentirosamente, a se alienar, a buscar o consumo, a procurar valor pessoal na forma, egoisticamente, dispersamente, cultivando ilusões de consumos impossíveis e produzindo desejos de privilégios e esquecendo os direitos básicos garantidos pela Constituição e sonegados por um Estado seqüestrado pelos poderes econômicos, pelos mega-empresários patrões dos políticos que mentem ao povo, simulando porcamente representá-lo. A importância do assunto deve fazer a ponte para que se passe por cima dos preconceitos e da estreiteza dos que desejam a revolução em causa própria.

Eduardo Marinho

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aviso aos navegantes


Tô com as postagens paradas por falta de grana. Preciso me dedicar ao trampo da rua pra cobrir umas despesas extras que aconteceram na minha ausência (telefone/internet + irresponsabilidades). Estou sob aviso de corte. As vendas pela net são muito poucas, não cobrem minhas parcas despesas.

E não é só isso, esse foi só o detonador, pois vai inviabilizar justamente o que tem tomado muito do meu tempo, a internet. Faz tempo que venho tentando diminuir o tempo na web. O IPTU começou a atrasar justo no ano seguinte ao que comecei a usar o computador. Estou com a carta ameaçadora da prefeitura aqui, já são três anos de atraso. Nada que não se resolva. Se me aplicar direto a produzir e expor, com o tempo tudo se acerta. Ou se de repente começarem a me encomendar mais pela net. Aproveito pra mandar essa idéia por aqui. O obs/abs tá com mais de dois mil "seguidores", quem sabe dá resultado? (Melhor seria "verificadores" ou simplesmente "leitores", na minha opinião - acho que criei certa aversão a "seguidores", embora use sem problemas)

Se alguém pensou em comprar algum desenho, pra expor numa parede ou dar de presente, a hora é agora, o momento da salvação. O endereço tá no cabeçário aí em cima, por ele eu passo a conta poupança - o único elo que tenho com o funesto sistema financeiro. As "paredes de exposição" estão no link aí ao lado, "ver o trampo", com desenhos, pinturas e preços, ainda que não esteja pronto. Pelo endereço pego as encomendas e dou as explicações que se fizerem necessárias.

Nos próximos dias vou estar dedicado muito mais ao trampo de mão e de rua, de toda forma fazendo a mesma coisa que faço aqui, de maneira mais direta, embora de menos alcance. Serve mais à construção interna, sem dúvida. Estarei provisoriamente menos freqüente na internet.

Alguns dirão que isso é apelação. E eu digo: é mesmo. Apelo aos que gostam. Quero ver é se vai dar certo.

(não consegui fazer melhor que essa arrumação estranha)





Ah, sim, segunda-feira, 5 de dezembro, no bar Convés, aqui em Niterói, três livros serão lançados. Um deles é o Crônicas e Pontos de Vista, com escritos esparsos e algumas histórias colhidas pela minha vida. O trabalho é da Navilouca, editora do Rodrigo (outro dos livros é dele) que me abordou e tomou todas as iniciativas, até ficar pronto no papel e ser lançado no Convés. Vou pegar mais detalhes com ele e posto aqui, na seqüência.


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