segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O acidente com o bonde









Desenho a partir de fotografia tirada há mais de 20 anos.
O motorneiro é o Nelson, mais de vinte anos mais novo.
O bonde desmiligüiu, como se fosse de papelão. Eu tava expondo no Largo do Guimarães, no dia, ouvi os primeiros rumores do acidente e quase fui lá. Cheguei a ir até o Curvelo de bicicleta, mas tinha que descer muito se passasse dali. Os desenhos estavam expostos, achei que podia perder venda (tava no maior veneno de grana) e que podia ser um acidente pequeno, com uma moto, ou uma batida num carro ou ônibus, coisa corriqueira. Voltei pro Guima, na responsa do trampo. Depois é que vi a comoção geral, o monte de ambulâncias dos bombeiros, de planos de saúde, outras unidades. O acidente foi a pouco mais de um quilômetro do centro do bairro. Quando desci, à noite, é que vi os escombros do bonde, cercado por bombeiros, polícia, vários peritos examinando, fotografando, recolhendo coisas. Como a rua é bem estreita e eles não podiam interromper o fluxo por ali, por falta de alternativas, o isolamento foi mínimo e deu pra chegar bem perto. Saí dali com a cabeça em branco, só fui pensar quando já tava na barca. O Nélson era o melhor motorneiro de todos, o mais gentil, o mais prudente. Morreram mais quatro com ele, na hora, mais dois no hospital, depois. Mais de 50 feridos. Ele foi um herói, tentando frear até o último momento, sabendo que pular seria a salvação. Mas o honrado capitão afundou com o navio pra não abandonar os passageiros. Pelo menos não tinha filho pequeno, era já um coroa dos seus entre sessenta e setenta anos. E acho que, pra alguns, a morte é um alívio, uma libertação. Afinal, pra ser pior que esse mundinho nosso, tem que fazer muita força. Se o cara era bom, saiu por uma boa porta. Nós é que ficamos aqui, impressionados. Nélson abandonou o corpo a caminho do hospital. Estava destroçado. E ele já não estava mais dentro. Boa viagem, motorneiro.


Na semana seguinte, as marcas e a comoção de parentes, moradores e freqüentadores.  Como sempre, a revolta e a cobrança são feitas aos fantoches, e não se questiona os seus manipuladores. Grandes empresários, financiadores de campanhas, interferem e pressionam o Estado para atender seus interesses, no caso, a privatização do sistema de bondes de Santa Teresa, sempre em detrimento da maioria, no caso os moradores do bairro, que se utilizam do bonde como meio de transporte, sobretudo os mais pobres, mas sem restrições de faixa de renda, a não ser as mais altas, sempre arrogantes demais para "se misturar" com a plebe, ou seja, nós. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

QUEM CORROMPE? : TRABALHADOR CORROMPE? PROFESSOR CORROMPE?


Ao leitor


Esse artigo do Laerte diz o que venho repetindo à exaustão, nas calçadas, praças, bares, conversas por aí. Vivemos num regime empresarial travestido de democracia. E fomos levados a acreditar em mentiras e a ver o mundo de maneira totalmente distorcida. Os que se angustiam se vêem num labirinto sem saídas, os que se revoltam encontram as dispersões calculadas para os revoltados, um mercado de revoltados, com produtos e comportamentos que expressem sua inconformação sem ameaçar o sistema, ao contrário, colaborando com ele, como consumidor e como colaborador na montagem do cenário de democracia, que precisa ser constantemente retocado, modificado, reestruturado, para permanecer como ilusão e conter explosões. Qualquer descontrole nessa área, as forças de segurança já estão treinadas e preparadas para a contenção. Desapartadas do sentimento de sociedade, de pertencimento à coletividade, essas pessoas não se constrangem em atacar, agredir homens, mulheres, velhos, crianças, sem perceberem o lado humano vergonhoso de tal atitude que, se os que cometem vissem, em situação de calma, ficariam no mínimo constrangidos, envergonhados pela evidente covardia. Uma força armada, treinada pra luta, pro massacre, atacando populações que não reagem e nem teriam condições de reagir à altura. E nos poucos casos de reação popular, como os recentes, no Juramento, na Mangueira,... dão as sérias conseqüências, revanche com gases, crianças, velhos, crianças passam mal, mulheres grávidas, feridos, presos. Nenhum bandido, além de alguns policiais que se aproveitam da farda e da ideologia do seu treinamento pra extravasar desvios pessoais - sem perigo de sofrer conseqüências, quando contra negros e pobres.


Penso que ver o mundo como ele é, ou procurar fazer isso, é o primeiro passo no processo de mudança consciente da realidade que nos cerca, da sociedade em que vivemos, esquecidos da coletividade que somos e de nosso compromisso, intrínseco à vida, em solidariedade e sentimento, uns com os outros e todos com o equilíbrio e a harmonia entre todos. Sem nenhuma exceção, esse é o nosso compromisso, consciente ou não. E nesse caminho avançamos, como o tempo, como a evolução de todas as coisas que conhecemos e, imagino, de pelo menos muitas das que não conhecemos. 


O domínio e a pesada influência das grandes empresas nas decisões e mais, na existência dos poderes públicos, com o apoio decisivo da mídia privada dominante, já se mostra a muitos olhos. Ainda poucos dentro do todo, mas isso se propaga como fogo. Resta escapar dos extintores do sistema, até que o incêndio seja tamanho que não se possa mais controlar, pois incendiará os próprios extintores.


Cabe perceber, porém, que a maior parte da força opressora, controladora e repressora reside em nosso consentimento coletivo, assimilando valores e comportamentos impostos, induzidos, criados e implantados pela mídia, pela publicidade e com a distorção das informações pelo jornalismo das grandes empresas. Vemos o mundo como uma arena, cheia de inimigos a vencer, obstáculos a superar, um "inferno" no caminho de um "paraíso" reservado a poucos. Todos adversários de todos, riqueza como objetivo de vida, posses como certificado de valor pessoal, conhecimento como fator de superioridade, e não de responsabilidade. O egoísmo foi entronizado e nós aderimos, mais ou menos escancaradamente. Assim sustentamos o sistema.


"A massa sustenta a marca; a marca sustenta a mídia; e a mídia controla a massa."
 George Orwell


Abraços a todos,
Eduardo.




Quem corrompe? Trabalhador corrompe? Professor corrompe?


Por : Laerte Braga

Há dias o País tem assistido a um esforço desesperado de velhos golpistas (torturadores, estupradores, assassinos de 1964), aliados a grandes empresários, banqueiros e latifundiários, para mobilizar os brasileiros contra a corrupção.

Tentam convocar uma nova marcha da família com Deus pela liberdade arvorados em uma condição de salvadores da pátria, do mesmo jeito que fizeram em 1964 sob o comando do embaixador Lincoln Gordon dos EUA e do general Vernon Walthers, ex-diretor da CIA (o governo dos EUA, em 1964 designou um comandante militar para as forças golpistas que entre outras coisas era amigo pessoal de Castelo Branco e falava português).

Apoiados pela grande mídia, a mídia privada, GLOBO à frente, tecem as mentiras de sempre, criam as ilusões que sempre criaram e tentam reduzir a corrupção a deputados, governadores, senadores, prefeitos, até presidente da República.

Dilma repete o malabarismo de Lula, uma no cravo outra na ferradura. O diapasão desse concerto petista é a bolsa família e 45% das receitas orçamentárias para pagar juros da dívida junto a bancos privados.

A diferença entre Dilma e Lula é que a presidente não consegue se equilibrar sobre o fio tênue do “capitalismo a brasileira” que o ex-presidente inventou. É menor que o cargo e ainda carrega consigo alma de tecnocrata. Ou seja, o que vale são os números não o ser humano. Na cabeça dessa gente numa tragédia, digamos assim, se a primeira impressão é que morreram dez quando poderiam ter morrido vinte, houve lucro, deixaram de morrer outros dez. Enxergam o mundo desse jeito.

No sete de setembro a GLOBO editou as matérias sobre o Grito dos Excluídos e a marcha das elites paulistas que tentam espalhar pelo Brasil, jogando tudo no ar como se fosse protesto contra a corrupção. Canalhice bem ao estilo da rede.

Nasceu com a ditadura, apoiou a ditadura e é instrumento de interesses estrangeiros, de banqueiros, grandes empresários e latifundiários.

Trabalhador e professor, por exemplo, não corrompem ninguém. São ludibriados por políticos corrompidos por banqueiros, grandes empresários e latifundiários. Veja o caso de Minas. Quando governador do estado o ex-presidente Itamar Franco anulou um acordo feito pelo seu antecessor, Eduardo Azeredo – corrupto de carteirinha – que entregava a CEMIG a grupos estrangeiros. Aécio, agora, no final de seu governo refez o acordo e entregou a CEMIG.

A mídia disse alguma coisa? Nada. Está no bolso. É venal. E o povo, o trabalhador, os professores mineiros nas mãos de uma aberração política o tal Antônio Anastasia, valet de chambre de toda essa gente, está como? Mas Aécio comprou um apartamento de um milhão de reais no Rio de Janeiro.
Segundo outra aberração, Cid Gomes, “professor tem que dar aula por amor, se acha o salários baixo que procure outra profissão”. Sogra não. O dito leva para Paris em vôo pago pelos cofres públicos.

O esquema de financiamento de campanhas políticas no Brasil permite que empresas, bancos e latifundiários comprem lotes de candidatos em todos os partidos com representação na Câmara ou no Senado através de doações. Tornam-se proprietários lato senso desses deputados, senadores, de governadores, prefeitos, vereadores, atingem o Judiciário e permeiam o Executivo.

Mas e daí?

O xis da questão não está em reformas políticas ou outras, na tentativa de construir painéis coloridos de ilusão e manter uma realidade podre como querem os que se voltam apenas contra os políticos no caso da corrupção.

E quem corrompe? Para que exista um corrupto é necessário que exista um corruptor.
A corrupção está intrinsecamente ligada ao modelo político e econômico vigente. A reforma política tira José Sarney de cena e coloca na cadeia? Não. Sarney serviu a ditadura militar com subserviência e de quatro durante todo o período do regime, da mesma forma que descaradamente emergiu – com a morte de Tancredo – como guia e condutor do processo de reconstrução democrática.

E o povo? A participação popular? Não tivemos uma assembléia nacional constituinte, mas um congresso constituinte e tutelado pelos militares que, entre outras coisas, não permitiram, como tem criado toda a sorte de obstáculos para que sejam revelados os documentos que mostrem a covardia diária dos golpistas/torturadores enquanto durou o regime.

Na passeata contra a corrupção em São Paulo estava um desses generais, eram visíveis bandeiras dos Estados Unidos.

Não foi por outra razão que o pensador e parlamentar inglês Samuel Johnson afirmou que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

O que querem? Mudar os políticos? É só olhar os antigos colaboradores do regime militar, vivos e fortes aí, exercendo mandatos e se afirmando democratas.

O que essa gente pretende é simples. Antônio Ermírio de Moraes compra dez tênis adidas a vista produzidos com trabalho escravo em países asiáticos, inclusive a China e o trabalhador compra um pagando em dez prestações para se sentir num dado momento como Ermírio de Moraes, na ilusão que vivemos numa democracia. O espetáculo, a “sociedade do espetáculo”.

Ermírio de Moraes está destruindo o Espírito Santo – o meio ambiente – com suas empresas, o tal progresso, adoecendo um povo, com aplausos de um ex-governador corrupto e assassino, Paulo Hartung, que de fato continua no covil do governo (chamam de palácio), onde um contínuo chamado Renato Casagrande faz de conta que governa.

Por trás da tal campanha existe a sórdida mentira capitalista, pela simples razão que os corruptos são corrompidos por eles. Não querem pagar impostos, não querem conquistas e direitos dos trabalhadores, não querem que o progresso seja algo comum a todos e sim privilégio deles. Querem professor dando aula por amor.

Quando se concede benefícios fiscais e tributários a uma grande empresa o custo dessa concessão é pago pelos trabalhadores, pelos pequenos empresários, pelo dinheiro que falta na saúde, na educação. É o caso da COCA COLA que financia parte dessa campanha. Ocupa terras públicas, através de uma empresa chamada CUTRALE, vende a idéia de progresso, geração de empregos, compra deputados, senadores, juízes, etc para manter as terras que repito são públicas e imputa-se a culpa aos trabalhadores rurais sem terra, aos pequenos produtores rurais.

E infestam a mesa do brasileiro de veneno como mostra um excelente documentário do notável Sílvio Tendler sobre agrotóxicos e coisas que tais. O veneno que comemos todos os dias produzido pelos compradores de deputados, senadores. juízes e que agora protestam contra a corrupção, biombo para disfarçar seus verdadeiros interesses.

Se fosse para valer não haveria um banqueiro solto. Estariam todos presos. Nem um grande empresário, ou latifundiário que até hoje se vale de trabalho escravo.
Por mais irônico que possa parecer, ou trágico, os que protestam contra a corrupção e tentam transformar a corrupção em único mal do Brasil são os que corrompem.  E a meia dúzia de inocentes a acreditar nesse tipo de marginal.

O institucional está falido. O modelo está corrompido por essa gente. O palco da luta é outro, é dos trabalhadores e é nas ruas contra a farsa de campanhas como essa.
São velhos gatunos tentando fazer ressurgir o golpismo que é parte da genética desse tipo de gente.
Deputados, senadores e juízes corruptos, governadores, são apenas figuras execráveis e compradas que carregam em seus balaios.

Trabalhador não corrompe ninguém. Professor, que é trabalhador, não corrompe ninguém.
Quem corrompe são banqueiros, grandes empresários e latifundiários.
É simples entender isso. A corrupção é parte inseparável do modelo político e econômico que temos.
Jogar por terra toda essa estrutura podre e construir um Brasil livre e soberano, sem essa gente, aí sim, essa é a luta real dos brasileiros.
Não há corrupto sem corruptor.

E por longo que fique, uma breve e real historinha. Nos idos de 2002 a GLOBO estava enfrentando sérias dificuldades de caixa. A GLOBOPAR estava levando o dinheiro da empresa. Tentaram 250 milhões de dólares junto a FHC e como o ex-presidente estivesse demorando muito a liberar o dinheiro, lançaram, inventaram, a candidatura Roseana Sarney à presidência. Chamaram o IBOPE e suas pesquisas prontas para atender o interesse do cliente, levaram Roseana às alturas e aí FHC chamou a turma na conversa.

O capital da GLOBOPAR era o seguinte – 90% da GLOBO, 5% do BNDES e 5% da MICROSOFT.

Convocaram uma assembléia geral para aumento de capital de um jeito que esse aumento implicasse nos 250 milhões de dólares e aprovação da emenda constitucional que passava a permitir a presença de capital estrangeiro no setor de telecomunicações. A GLOBO não entrou com sua parte, lógico, estava inclusive ameaçada de falência, havia credores externos apertando os Marinhos, a MICROSOFT que já sabia da mutreta correu fora e o BNDES entrou com a sua parte, dinheiro dos brasileiros. O Congresso aprovou a emenda, o grupo MURDOCH comprou parte da GLOBOPAR. Na semana seguinte a Polícia Federal de FHC estourou o escritório do marido de Roseana achando um milhão de reais ilegais doados para a campanha. Tudo pronto, ficou acertado o apoio da rede a candidatura de Serra. O furo foi exclusivo da GLOBO.

E a GLOBO está na campanha contra a corrupção. Dá para entender os verdadeiros motivos desses bandidos?

A luta é outra. É contra bandidos compradores e comprados. Se bobear essa gente revoga a Lei Áurea e amplia os limites da escravidão contra todos os trabalhadores. Na prática, vão fazendo isso nessa mistura de populismo com capitalismo e campanhas imorais e amorais como essa. Jogo de cena de bandidos para vender imagem de santos.

laertehfbraga@gmail.com

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Resposta ao preconceito contra o "brasileiro"

Não aceito bem a desvalorização do brasileiro como um todo. Pra começar, o povo brasileiro é recém nascido e ainda não se conformou nem mais ou menos. Estamos em pleno processo.
Dizer que é indolente, acomodado, desqualificá-lo diante do europeu e do anglo-saxônico, sobretudo, é comparar o incomparável. Papo de quem vive fora da realidade, não tem noção do que é a coletividade brasileira, em franca formação, aglutinando elementos de todo o planeta, de todos os povos, sem conflitos em sua maioria, recebendo e abraçando a mistura - exceção feita a alguns focos, insignificantes diante da totalidade.
Quem anda pelo chão da sociedade conhece o espírito solidário, criativo e resistente das coletividades brasileiras, juntando os elementos mais diferentes de modo harmônico, integrando, diluindo as etnias em permanentes misturas, num processo de integração dos diversos povos do mundo.
Ignorância, preconceito, ingenuidade, fraqueza mental, primitivismo espiritual, não sei quantas possibilidades posso imaginar pra esse tipo de conceito. Ou preconceito.
A concentração histórica de terras, riquezas, rendas, tecnologias e poderes nas mãos de elitezinhas insignificantes, desde que chegaram os invasores europeus até hoje, sonega direitos da maioria e cria uma situação de domínio e exploração com o apoio total das instituições do Estado, atirando milhões à pobreza, à miséria e à ignorância, negando-lhes os direito básicos, hoje determinados na Constituição do Estado. 
Ponham-se os filhos da elite nas escolas públicas que formam a massa da população, com os mesmos recursos de que dispõe a maioria, e vai se ver o que causa essa aparente "inferioridade" do povo brasileiro.
A mensagem ainda usa o jargão "cada povo tem o governo que merece", na velhíssima prática de culpar as vítimas, e fala sobre os corruptos. Como sempre, da parte mais fraca da corrupção, jamais tocando no corruptor - nos donos das imensas empresas que promovem a corrupção através de mandatos sucessivos, em todo governo, em toda a legislatura -, sem considerar que as instituições estão infiltradas desde as estruturas - por essas mesmas elites e seus elegantíssimos apaniguados - e que a origem primeira da corrupção é o interesse empresarial  nas riquezas públicas e seu controle sobre o Estado e seus flutuantes políticos, governantes, legisladores, mesmo juízes dos altos escalões.

Eis a resposta. Aproveito pra recomendar os links.


Isso foi hoje. Até agora, ninguém me respondeu. 










Aí, rapaziada.

Ilusão esse negócio de que brasileiro não luta. Aliás, ilusão planejada, montada em laboratórios de mídia, a serviço da elite dominante pra dentro e dominada de fora, pra moldar a mentalidade da população. Quem não luta ou se faz de palhaço são pessoas das classes médias (das altas às baixas), emburrecidas e superficializadas ao extremo - e a parcela subalternizada da massa pobre, que é levada a ver o consumo como ideal de vida, a esquecer os seus direitos fundamentais roubados e viver cheia de sonhos de consumos impossíveis, assimilando a sabotagem institucional como incapacidade ou inferioridade pessoal. Essa maioria esmagadora muitas vezes põe sua mentalidade a reboque das classes médias (supõe-se que por ter mais acesso ao consumo, "sabem das coisas") que, perdidas entre o trabalho, o consumo e as contas, formam sua visão de mundo a partir da mídia comercial e dos isolamentos em que procuram se manter.

Mas há movimento, sim, e muita luta. Essa imagem do brasileiro pacato e omisso é criada, estimulada e divulgada pela mídia, num processo de acomodação e desinformação geral. Correspondências como essa apenas colaboram com essa visão. Pegue a história do Brasil, vista por historiadores honestos e não cooptados pelos agentes controladores dos bastidores sociais (Mario Schmidt, por exemplo, Moniz Bandeira e tantos outros, cujos livros são boicotados nas escolas). Inúmeras revoltas, rebeliões e levantes são apagados da história ou citados como folclóricos, movimentos desligados do contexto histórico das lutas populares de resistência.

Só como sugestão, sugiro um filme que vi ontem, Atrás da Porta, de Vladimir Seixas, feito em duas ocupações no centro do Rio, de prédios abandonados por pessoas sem casa, moradores de rua. (www.atrasdaporta.blogspot.com, pra adquirir o dvd, mas tá no youtube, em 7 partes, que foi como assisti - se eu pudesse, compraria o dvd pra ajudar na luta do cara que, fazendo o que faz, não tem nenhum apoio financeiro). Como não estou podendo no momento e o filme tá disponível no youtube, tô articulando baixar e colocar em um filme inteiro, pra exibição e distribuição - pois são informações boicotadas que precisam vir a público, até pra desfazer essa idéia depreciativa sobre o povo brasileiro, que é de luta, sim, além de extremamente solidário, guerreiro, disposto e criativo. Essas informações eu não busquei na mídia, não, convivo nas periferias há pelo menos trinta anos, desde a mais despossuída condição, onde até o que comer e onde dormir me era dado ou improvisado, até pagar meu aluguel e manter um cotidiano proletário de artista de rua, enquanto meus filhos cresciam.


Aí estão a 1ª e a 2ª partes, se quiserem é só seguir adiante.

Entrem no saite do MST, se já não estiverem contaminados pelo preconceito raivoso plantado pela mídia. Os elitianos (e os elitistas,  seus seguidores) se enchem de ódio contra aqueles que foram estereotipados como seres humanos inferiores, quando eles têm o atrevimento de tomar atitudes de resistência e defesa contra o massacre social e ideológico cotidiano em cima dos mais pobres.
A América Latina está em movimento, a sociedade brasileira está em movimento. Não esperem tomar conhecimento sem correr atrás, os meios de comunicação estão aí pra distorcer, ocultar, omitir e atacar qualquer movimento que não atenda a linha conservadora de manutenção da ignorância e da inação.

Na minha opinião (e eu posso estar errado, é claro - além de não querer ofender ninguém), a posição exibida neste seu comunicado é do interesse das grandes empresas que dominam os Estados e suas instituições, inocula ainda mais o desvalor criado para manter a maioria cabisbaixa, desacreditada em si mesma, na estratégia cruel de manutenção dessa sociedade desigual, perversa, desumana, criadora de misérias para a maioria e opulência para poucos. Repitam com a mídia: "o povo brasileiro é inferior, incapaz, desinteressado, preguiçosos e merece estar nessa miséria estatisticamente predominante. Europeu e estadunidense (brancos, lindos e inteligentes) é que sabe das coisas, eles é que são o modelo de ser humano evoluído. Nosso povo é todo constituído de gentinha mestiça, pobre, suja e burra, exceção feira aos mais enriquecidos e embranquecidos, infelizmente em minoria insignificante socialmente, embora dominando riquezas e poderes."

Gostaria de não ter ferido susceptibilidades de ninguém. Não carrego verdades, apenas opiniões, não desejo insultar ou ofender ninguém, tenha a mentalidade que tiver, respeito até o que considero absurdo, no campo do pensamento. Reparem, porém, que os conservadores, os elitistas, os ideólogos da alienação e do consumo reagem com ódio, por não terem argumentos sustentáveis pra defender essa estrutura social ridícula e vergonhosa, e partem pro insulto pessoal, a agressividade, a desqualificação preconceituosa. As falácias são evidentes e não resistem a delicados golpes de informação real e consciência sobre o que acontece, por trás das distorções midiáticas. Os que não desejam mexer a bunda pra mudar a sociedade e preferem usufruir seus privilégios egoístas, resultado do roubo dos direitos da maioria, através do controle do Estado pelas empresas, estão sempre prontos a atacar qualquer ameaça à sua acomodação, com os pretextos e as opiniões mais absurdas, odiosas e odiantes, além de desumanas.

Quem quer se informar de verdade, encontra o que precisa aqui na net, mesmo. Mas os que não querem saber, para continuar na sua comodidade injusta e mentirosa, não têm jeito, não. Rejeitam tudo o que se aproxima da realidade que os denuncia em sua arrogância, seu egoísmo, sua grosseria, enfim, sua desumanidade e sua inferioridade espiritual.

Vai desculpano carqué coisa aí.
Abraços a todos,
                         Eduardo Marinho. 

Outro documentário que assistimos no vídeo-garagem da última quinta, Sagrada Terra Especulada, mostra bem a hipocrisia dos governantes e seus executivos no poder político, a serviço das empresas, com desprezo pelos que eles dizem servir, os indígenas em histórica situação de genocídio - físico, moral e cultural. Taí o link, dá pra assistir inteiro: http://www.vimeo.com/28597529"

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Teoria na prática ganha vida




O aprendizado só se completa vivenciando. A vida é o nosso campo de prova. De estudos, também, mas aí qualquer situação é, depende mais da disposição e do interesse em aprender. As provas e as conseqüências dos nossos atos, desejos, sonhos e objetivos de vida, isso não é opcional, é imposição da vida, do destino ou como quer que se chame. “O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.”

 De pensadores o mundo tá cheio. Esses, se não vivenciam suas teorias, carregam dentro de si distância da realidade, mentiras convenientes e a angústia da incoerência, da falta da vivência que se manifesta de muitas formas diferentes. Percebe-se no olhar, no comportamento, nas opiniões, na freqüência pessoal - a capacidade de percepção se desenvolve com a prática. Sem isto, somos cabeças rolantes, sem corpo, coração ou intestinos, egos exaltados em simulações revolucionárias sem conseqüências além de desacreditar a idéia de revolução diante da população feita rebanho.

Saber e não fazer ainda não é saber.
Mahatma Gandhi
A reflexão é fundamental, mas sozinha é frágil e inútil. Percepções pedem decisões e mudanças na realidade. É o tripé evolutivo – refletir, decidir e praticar. Essa é a base. Fora disso, somos apenas teóricos, alheios, indiferentes, medrosos e vaidosos, levantando hipóteses, sem comprová-las além da teoria, sem experimentar para perceber e corrigir falhas, construindo valores sociais - e pessoais - ilusórios e egocêntricos, sem a menor condição - nem intenção - de mudar o comportamento e a mentalidade. Forma sem conteúdo.

É preciso correr os riscos. É preciso errar para acertar. Não se pode pretender a perfeição, mas é fundamental se aperfeiçoar, sempre. Às vezes, é a escuridão que nos faz perceber e dar valor à luz.  

Educação e Sociedade




         O “empresarismo” é a ideologia dominante, embora se declare, em sua hipocrisia costumeira, sem ideologia.
         O programa “universidade para todos”(PROUNI), falácia descarada, paga bolsas de estudos para alunos pobres cursarem faculdades particulares. Mina de ouro para os empresários do ensino, resolvendo o problema da inadimplência e eliminando impostos.
         Há mais de 14 milhões de analfabetos integrais no país, 9,7% da população a partir de 15 anos. Vergonha que aumenta muito com a inclusão do número de analfabetos funcionais, aqueles que assinam o nome e, com dificuldade, lêem e escrevem bilhetes e pequenas frases, sem condições de compreender ou escrever um texto, uma notícia, muito menos um livro. Aí o número pula pra em torno de 70%. Setenta por cento da população brasileira! Sete, a cada dez pessoas, são sabotadas em instrução - a Constituição, em tese, obriga o Estado a garantir educação de qualidade. E a elite torna o Estado criminoso, em benefício e garantia dos seus privilégios e excessos cuja origem perversa está na eliminação de direitos da maioria.
         Por que o problema não é resolvido? Falta de verba, de competência ou atenção é conversa pra boi dormir, só a ignorância e/ou o massacre da mídia, entre a desinformação e a publicidade, – ou a má fé – podem conceber tais absurdos. A narcose midiática encurrala grande parte da população entre os desejos de consumo e as relações com o sistema financeiro que domina o Estado, diminuindo ou eliminando a capacidade de reflexão independente, o desenvolvimento de uma visão de mundo mais próxima da realidade. Na verdade, é preciso conservar o povo ignorante e desinformado, para manter um sistema social tão desumano, desonesto, injusto, perverso e suicida. É esse o sistema que favorece a elite dominante, a concentração de poder e riquezas nas mãos de poucos, em prejuízo da maioria. A situação de destruição do ensino é intencional, deliberada, estratégica.
         A constituição de 88 estabeleceu a obrigação de repassar verbas para a educação, a partir da arrecadação de impostos. Federais, 18%, estaduais, 25%, municipais, 25%. Em 94, aprovou-se a lei que permite o desvio dessas verbas para fins não declarados, com o nome-fantasia de fundo social de emergência, depois fundo de estabilização fiscal e, por último, desvinculação dos recursos da união, sempre a mesma coisa, subtração de verbas para as áreas sociais da educação, da saúde e da previdência. A prioridade é manter a ignorância, criando uma fachada de esforço cenográfico para “melhorar” a educação. Não se pode melhorar uma coisa que não existe - socialmente falando. Uma população instruída não permitiria tamanhos descalabros na administração dita “pública”, tamanha exploração do trabalho, tanto abuso, muito menos a destruição das leis trabalhistas, com o título hipócrita de “flexibilização”, e o predomínio das empresas na sociedade estaria em risco.
         No período de 2000 a 2007, foram destinados à educação pública R$ 149 bilhões, enquanto no mesmo tempo os bancos credores da dívida pública receberam 1 trilhão e 267 bilhões de reais, só de juros, sem que a tal dívida diminuísse em nada. As prioridades estão claras. Os interesses predominantes estão claros.
         A ideologia imposta à sociedade – e à educação, como estratégia – se baseia no predomínio das leis de mercado, derrubando custos e priorizando lucros. A qualidade do ensino é proporcional ao preço. Qualidade, no caso, não significa preparação do ser humano para se integrar à coletividade humana, de forma harmônica, afetiva e útil à sociedade. Ao contrário, desenvolve-se a eficiência para competir com os semelhantes, a vida tornada uma arena sem limites nem trégua, no mundo reduzido aos mercados de trabalho e de consumo que excluem a grande maioria da população. O modelo de educação mais valorizado, atualmente, é o desumanizante, desintegrador, anti-social. O jovem não deve desenvolver sua capacidade de pensar, sentir, criar, se relacionar com o mundo, solidária e generosamente, em evolução física, mental e espiritual.  Deve desenvolver, sim, a capacidade de produção e consumo, de acordo com o “seu lugar” na sociedade e os interesses empresariais, sua competitividade, sua frieza, seu oportunismo. Sem questionar as causas de tanto sofrimento e tragédia, ignorância e miséria – resíduo e combustível da nossa sociedade - exalta-se o egoísmo, o apego aos bens materiais, a busca de superioridade sobre os demais, como valor social.
         As políticas governamentais de adaptação das atividades do ensino às necessidades privadas demonstram o controle do Estado e das instituições públicas pelas grandes empresas. Em todos os setores, sobretudo os estratégicos – comunicações, energia, educação, alimentação, saúde,... – o privado se impôs ao público, por dentro das instituições mais “respeitáveis”. Creio que a ênfase na sabotagem da educação pública e o controle da educação particular se deve à importância da ignorância e da desinformação, de um lado, e da oferta de profissionais ao “mercado”, de outro, para a manutenção da estrutura social como ela é, altamente injusta, pela sujeição ao poder econômico dos mais ricos entre os ricos. A rede pública é reduzida à miséria, num simulacro abjeto de ensino mentiroso, em detrimento de professores e estudantes, cujas relações foram deterioradas ao longo do tempo, impedindo a integração família/escola, que traria à tona os podres do sistema e apoiaria os professores na sua luta por condições dignas, por estar claro que o interesse nessa luta é de todos. A rede particular é impregnada com a ideologia empresarial no processo de enraizamento dessa estrutura, que já vem de décadas ou séculos. Preparam-se competidores para o mercado de trabalho, competindo pelo mercado de consumo, e não pessoas para viverem em sociedade. Estimula-se o egoísmo extremo, o preconceito social, econômico e instrucional, a ânsia de consumo, a preparação para o conflito entre irmãos, ao mesmo tempo em que se inibe a capacidade de questionar, de pensar com independência. Discrimina-se e se marginaliza os que não se deixam levar ao rebanho de escravos mentais. E são exatamente esses que brilham com suas luzes em meio à escuridão da consciência coletiva, da vida sem sentido, medíocre e vazia, enquanto os donos do mundo se esforçam, com seus inúmeros recursos, para apagar todas as luzes que não os sirvam.
         Não posso apresentar soluções. O que pretendo é mostrar aqui a profundidade em que essa ideologia se entranhou, durante todo o desenvolvimento da mídia – e desde muito antes –, em todos nós. É preciso enxergar o esquema a partir das suas causas e o trabalho aparece em todos os setores da sociedade. Os valores dessa ideologia, que chamei de “empresarismo”, impregna as relações da sociedade e a divide. É preciso percebê-los dentro de nós mesmos, em nossos próprios condicionamentos. A partir daí, podemos nos posicionar diante das imposições enfiadas até no inconsciente - pra isso a academia centrou o estudo da psicologia em mente e comportamento, abandonando filosofia, sociologia, antropologia, enfim, as matérias que humanizam, para se concentrar no controle - pensamentos, valores e comportamentos de massa. É preciso trabalhar, vivenciar e exercer o que desejamos do mundo. Assim podemos trabalhar dentro da coletividade. Modelando nossos valores, modelamos o mundo.

Eduardo Marinho                                                                                      

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.