domingo, 26 de julho de 2020

A opinião da esquerda negra sobre as eleições estadunidenses importa


A opinião da esquerda negra sobre as eleições estadunidenses importa
23 de julho, 2020.

Netfa Freeman

Netfa Freeman é organizador da Ação Comunitária Panafricana, do comitê de coordenação da Aliança Negra para a Paz e apresenta o programa radiofônico de entrevistas “Vozes com opinião”, com sede no Distrito de Colúmbia, e é simpatizante ativo das Revoluções Cubana e Bolivariana. Em entrevista exclusiva, realizada de Washington DC para a Telesur, Freeman sinalizou que sua principal mensagem aos leitores é “nossa luta, vista a partir do contexto da esquerda negra, é pelo poder”. Em resposta a uma pergunta sobre as ilusões a respeito do Partido Democrata como alternativa ao Republicano de Trump, Freeman declarou:
“A única forma da classe trabalhadora negra nos Estados Unidos alcançar justiça através das eleições presidenciais, é intensificando a luta para construir um partido alternativo tremendo, que se oponha aos partidos republicano e democrata – que são capitalistas e imperialistas.”

Claro, ele está se referindo a um partido político alternativo que inclui a todos os setores da sociedade, independentemente da cor.

Contra o sistema bipartidário, tudo, tudo!

A estória de que mais vale o “mal menor” é um mal endêmico que vigora na política estadunidense, excessivamente venenoso. Inevitavelmente conduz a guerras ideológicas viciosas e contínuas, que estão restritas unicamente aos ciclos de eleições presidenciais.

Freeman continua:
“Os negros nos Estado Unidos devem se resolver a rechaçar de uma vez por todas a falsa noção do menor dos males entre os candidatos dos seus dois partidos. Ambos adotam e mantêm políticas genocidas contra as pessoas de ascendência africana, a nível nacional e internacional. À diferença de Trump, o histórico de políticas contrárias aos interesses dos negros, que Joe Biden (candidato democrata – n do T) apoiou, como senador do Congresso desde 1972, remonta a 1975, quando aparece como partidário racista da segregação e depois, em 1994, quando realiza, na qualidade de co-autor, um projeto de lei na área criminal que estimulou a proliferação do encarceramento massivo de pessoas de raça negra e mulata. Ainda que Biden tenha sido vice-presidente de Obama, o valor do equipamento militar dos departamentos de polícia da nação se incrementou em cerca de 2.400%, o qual se tem utilizado principamente contra os membros das comunidades negras e mulatas.”(Imagino que os latinoamericanos estão incluídos na categoria “mulatos”, pois o trato é o mesmo pelos organismos de “segurança” – n do T)

O mal menor? Falemos sem rodeios...

Quando foi pedido a Freeman que detalhasse o tema da pressão exercida pelo “mal menor”, sua resposta foi uma dura crítica ao sistema político dos EUA:
“Sempre digo que, para ser presidente dos Estados Unidos, a condição ‘sine qua non’ é estar disposto a bombardear bebês em países estrangeiros enquanto se pretende que no país não existam presos políticos, apesar de muitos apodrecerem na cadeia desde os anos setenta.”

Quando Freeman alude ao “bombardeio de bebês”, se refere à guerra que Obama iniciou em 2015 contra o Iêmen? Ou apenas assinala a “ponta do iceberg” que escondia sob sua massa a bomba fabricada nos EUA que matou quarenta crianças iemenis? Quem pode esquecer as horríveis cenas da guerra “bipartidista” estadunidense contra o Vietnã, quando o mundo teve diante dos olhos os corpos de mulheres e bebês que jaziam em abandono, depois que os fuzileiros da marinha os massacraram em Mai Lai?

Os meios de comunicação corporativos e ambos os partidos institucionais jamais mencionam que nos Estados Unidos há mais de cinqüenta presos políticos. Trata-se de membros das comunidades negras ou autóctones, em sua maioria. Algumas destas pessoas intervieram no Partido dos Panteras Negras, em movimentos de povos autóctones e em outros movimentos revolucionários dos anos 60/70. Mais recentemente, encarceraram pessoas que participaram nas manifestações surgidas depois do assassinato policial do jovem negro Mike Brown em Ferguson, Missouri (2014), e no enfrentamento que teve lugar na reserva Standing Rock, do povo Sioux, em Dakota do Norte (2016), contra as nações autóctones e seus aliados.

Se no mundo existe alguém que pode compreender plenamente a negativa da esquerda estadunidense em dar por esquecidos estes presos políticos que estão apodrecendo e ainda resistem no cruel, violento e labiríntico sistema penitenciário dos Estados Unidos, é o povo cubano. A nação cubana inteira, apoiada por nações como Venezuela, se negou a aceitar como inevitável o abandono dos Cinco Cubanos.

Desde o assassinato de George Floyd, em maio, um dos conceitos mais importantes que surge como conseqüência da rebelião atual é que, nos Estados Unidos, não é possível dissociar a luta contra o governo racista da luta contra as guerras imperialistas no estrangeiro, tal como Freeman, antes, afirmou firmemente. O centro da atenção atual da população mais perseguida e oprimida nos Estados Unidos, a afrodescendente, é sua insistência magnânima de que nos EUA não poderá haver paz até que haja paz para outros povos do mundo, vítimas da agressão estadunidense.

Malcom X sobre as eleições presidenciais de 2020

Não foi Martin Luther King Jr. quem relacionou a situação interior com a guerra dos  Estados Unidos contra o Vietnã nos discursos que pronunciou logo antes do seu assassinato? A guerra, o militarismo, o racismo e suas preocupações sobre a pobreza generalizada, sistematicamente, são assuntos censurados pelo debate atual que alimenta a revolta em curso. A única fidelidade da elite estadunidense (a Luther King) é o discurso de “Eu tenho um sonho”, branqueando assim, cínica e convenientemente, o legado de Martin Luther King, que oferece uma expressão apta para a cooptação, além de tranqüilizar a consciência dos liberais.

De maneira parecida, os liberais citam Malcom X muito vagamente, como se seu pensamento e ação fossem uma coisa romântica de tempos passados. No entanto, seu legado continua nas mentes e corações de milhões de estadunidenses, de todas as raças. Eleições presidenciais 2020? Malcom X explicou já faz tempo:
“Os conservadores brancos não são amigos do negro, mas ao menos não tentam esconder. São como lobos, mostram os dentes num grunhido que mantém o negro sempre consciente de onde aparece entre eles. Mas os liberais brancos são como raposas, também mostram os dentes ao negro, mas fingem estar sorrindo. Os liberais brancos são mais perigosos que os conservadores brancos. Atraem o negro e, quando o negro foge do lobo que rosna, foge para a boca aberta da raposa risonha. Um é lobo, outro é raposa. Não importa qual seja, ambos te comerão.” Fidel Castro soube escolher com quem se encontrar, durante sua visita a Nova Iorque em 1960: ele se reuniu com Malcom X.

No entanto, deixemos a última palavra na boca de uma especialista “neutra”, em matéria de política estadunidense: a jornalista australiana não negra, mas conhecida, Caitlin Johnstone, que escreveu na prestigiada revista de esquerda estadunidense Consortium:
“Se estes protestos acabarem, não será porque os tiranos do Partido Republicano, como Donald Trump, conseguiram insistir na necessidade de que o exército estadunidense ataque os manifestantes em silêncio. Será porque os manipuladores liberais terão conseguido cooptar e reduzir o seu impulso.

Certo?

Tradução – Eduardo Marinho


https://www.telesurtv.net/bloggers/La-opinion-de-la-izquierda-negra-sobre-las-elecciones-estadounidenses-importa-20200723-0003.html    (em español)

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