quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Televisão e controle mental

A televisão mostra uma árvore de natal feita do lixo catado em rios e praias. Convoca a população a não deixar lixo nos lugares de lazer, mostra o exemplo de pessoas que trazem o seu saquinho pra levar o lixo produzido, "para não poluir as praias", no início do verão. Do lixo industrial, químico, tóxico, cerca de 90% do total do lixo produzido pela sociedade, como um todo, não se fala.

Notícias sobre a escassez de água brotam nos telejornais. Sobre o racionamento imposto às periferias, há muito tempo, nada. A televisão convoca a população a economizar, aconselha fechar a torneira quando escovar os dentes ou lavar as mãos, a não lavar as calçadas e a limpar os carros com panos úmidos. O uso empresarial da água tratada - 70% pelo agronegócio e 26% por indústria e comércio - não é mencionado.

A comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Senado sobre o déficit da previdência conclui que não há déficit nenhum, ao contrário, há superávit. O que acontece é que, com a lei de desvinculação de recursos (LDR), o dinheiro da previdência é desviado pra outras finalidades, no atendimento de interesses empresariais. A televisão oculta as conclusões da CPI, continua falando no "rombo da previdência", atendendo, como sempre, aos poderes econômicos que pressionam a privatização da previdência, ao mesmo tempo em que contam com a grana pra entregar a banqueiros, com o pretexto de uma dívida pública forjada e não investigada. A mídia mente, de acordo com esses interesses perversos, com falsidades e distorções da realidade - "é tudo para o bem da sociedade." A massa mais pobre, roubada em seus direitos constitucionais, humanos e básicos, que se dane.

A primeira notícia sobre febre amarela foi localizada em Teófilo Otoni, cidade a 50 km de Governador Valadares - a maior cidade na beira do falecido rio Doce. A segunda foi em Alegre, no sul do Espírito Santo, longe do vale. Valadares, onde os postos de saúde não dão conta de tantos casos, os profissionais da saúde pública atarantados, sem recursos como sempre, só foi noticiada muito tempo depois, sem nenhuma referência ao rio morto onde morreram todos os peixes, sapos e rãs - que se alimentam de mosquitos e suas larvas. Sem predadores, os mosquitos proliferaram sem contenção, aos bilhões, e as doenças transmitidas por eles se tornaram epidemias. A televisão não mencionou nenhuma vez o papel dos rejeitos da mineração que infestaram os 800 km do maior vale da região sudeste. Interesses mega-empresariais, no caso das mineradoras, valem mais do que a vida.

Com um mínimo de consciência, ligar uma televisão é uma vergonha, um perigo, um absurdo. O papel das empresas de comunicação é o de controle mental. Não é à toa que um Estado que não cumpre sua própria constituição está dando o tal conversor pra televisão digital, de graça, na cesta básica. Uma necessidade deste modelo de sociedade, pra manter o controle mental sobre a população.



observar e absorver

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