sábado, 2 de abril de 2022

"Americano"?

Os cara chama estadunidense de americano. Brasileiros, submetidos pelos poderes estadunidenses desde a medula, induzidos a um sentimento de inferioridade que facilita o saque das nossas riquezas. Que nos faz admirar, além de um império criminoso, os Estados Unidos, que interfere em todos os países das Américas -, a Europa, um continente construído em cima da colonização do resto do mundo, de invasões, destruições, escravizações, extermínios muitos, saques permanentes até hoje, apresentando em seu pequeno território condições sociais invejáveis em qualquer outro lugar do mundo. "Invejáveis" pra quem não tem noção de como foram construídas essas condições de "primeiro mundo". Vergonhosas, pra quem tem. Não há motivo pra admiração nenhuma.

Escuto o cara falando no vídeo - assunto bom, denso, ligado na realidade - que o interesse "americano" tá na guerra da Ucrânia. Concordo que os Estados Unidos vêm fabricando essa guerra desde a década de noventa do século passado, mas contesto o linguajar num comentário.

"Americano"? Tu é o quê? Eu sou o quê? Sub-americano? Tu assume essa subalternidade? Eles são estadunidenses, além de americanos. Nós somos brasileiros, além de americanos. Chamar estadunidense de americano é reconhecer "os donos", os "patrões", os "senhores" do continente americano. Subliminarmente, claro, condicionamento do inconsciente com psicologia do mesmo nome. E a gente repetindo por aí, programações mentais do colonialismo. Se liga, cumpade. Não estou sendo hostil, raivoso, dono de verdade nenhuma, tô só te dando um toque. A gente exerce esse colonialismo sem perceber. Mas se percebe, pode ser útil no desfazimento dessa "inferioridade" artificial, criada pelos colonizadores - com o auxílio da elite local - pra manter o controle, inclusive mental, além de ideológico, psicológico, cultural, a partir da alma. Arte conversa com a alma. É preciso muita responsabilidade. Mas, como em todas as áreas, a gente vê a arte ser usada mais pra aprisionar do que pra libertar. Arte não é boa coisa só por ser arte. Depende sempre do artista, de quem produz a arte. Do caráter, do interesse, da intenção, daquilo que move o artista. É nessa base que tá o valor da arte, não na fama, na repercussão, no celebrismo. Aí, muitas vezes, é que tá a perdição da arte. No sentido da evolução humana.

Sobre a guerra na Ucrânia eu não tô falando, porque fico triste de ver como as pessoas repetem, em vários níveis, os condicionamentos, as distorções e as mentiras da mídia empresarial, dominante no mundo ocidental todo. Lembrando sempre que "mundo ocidental" pode até nos incluir, como subalternos, aliados na língua deles - assim como empregado, funcionário ou contratado agora é "colaborador" -, mas na verdade o que se considera "ocidente" tem a Europa e os Estados Unidos. Tá bom, o Canadá também, embora economicamente "desprezível", tá de irmão menos, de linhas coloniais francesa e inglesa. Mas América Latina, África, Ásia e Oceania tá tudo fora, é tudo "sub-gente" pra eles.

Colonialismo mental, cultural, econômico, social, político, psicológico, comportamental é um assunto pra se pensar.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.