terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Feira, estradas e Caetité

Seguindo a estadia no Capão, seguiram os acontecimentos. Estou com seis encomendas embaladas e prontas pro envio, até hoje sem postar. Um dia fomos a Palmeiras resolver umas coisas, levei os tubos com desenhos pra remeter. Paramos pra comer na chegada, estacionando ouvi o barulho da tampa de trás da kombi, estranha sensação - a de que poderia ter caído coisa do bagageiro na turbulenta estrada de terra, cheia de subidas, descidas e sacodes gerais. Fui conferir, estava mesmo aberta, já olhei esperando ver o tamanho do prejuízo. Dei falta de três das encomendas e, incrivelmente, mais nada. Caixas, estepe, bolsas, ferramentas, cajón, tava tudo ali. Lamentei pelas encomendas, com alívio porque podia ter sido bem pior. Mas perdi o ímpeto de ir ao correio e decidi refazer as remessas em casa. Na volta ao Capão, fui avisado de que pessoas andando pras trilhas haviam encontrado uns tubos que pareciam encomendas na estrada, um deles atropelado, mas dois outros intactos. Afinal, voltaram à noite pras minhas mãos, através de amigos que conheciam as pessoas que acharam. Alívio, congratulações, retribuições foram feitas, as encomendas recuperadas. Os desenhos atropelados foram substituídos, de amassados que estavam. Na verdade gosto desses amassados, marcas são cicatrizes de vivências. Separo pra interferir depois, com tintas ou não, e dificilmente ponho à venda. Cicatrizes são marcas de histórias. Ganharam personalidade própria, ficam guardados pra ocasiões especiais em que são presenteados. Mas a partir daí a viagem ganhou um ritmo que não permitiu a remessa dos seis, novamente juntos, até hoje que estou em Beagá, em pleno carnaval.

Fomos a Feira de Santana, convite na UEFS. No caminho, a gruta sacralizada que já tinha me chamado a atenção em outras passagens foi fotografada. Na paisagem impressionante da chapada, a religiosidade sertaneja mostra suas peculiaridades. Não parei nem pesquisei essa gruta, há um pequeno restaurante caseiro na estrada - estava fechado - e marcas de peregrinação no caminho até a pedra, onde há uma cruz branca na entrada da caverna.

São trezentos e cinquenta quilômetros até Feira. Chegamos no fim da tarde, quase na hora da palestra, fomos ao local e rolava um papo com desabrigados - os chamados "moradores de rua". Assisti um pouco, mas o cachorro se ouriçou com as palmas e roubou a cena, me obrigando a sair com ele do auditório. Fomos à casa dos nossos anfitriões, Vinícius, Ingredy e Iggor, aí banho, janta e toca de volta pro auditório. Expusemos também, claro, dormimos e retornamos ao Capão no dia seguinte, já na preparação pra descida de volta. A palestra estava cheia de gente e interesse, o sentimento de proveito justifica todo o esforço.

Auditório do módulo 2, na Universidade Estadual de Feira de Santana.
De Feira voltamos ao Capão, já no preparo pra começar a viagem rumo sul, com a primeira parada em Caetité. Saímos pela estrada de Seabra, onde Celestina exigiu um pneu novo. Eu não havia entendido um caroço surgido na sola, que acabou consumindo a borracha até aparecer a lona. Mas o borracheiro esclareceu tudo, alguma pancada forte arrebentou os arames internos e aí a pressão do ar estufou a área, desgastando o pneu. Com a quantidade de estradas de terra por onde temos passado, não é de se estranhar, algumas em estado tão precário, com tantas pedras, que a velocidade precisa ser a de caminhada a pé. Às vezes dá pra pegar uma velocidadezinha maior, sempre com o risco de empedrar depois de uma curva ou uma lombada - e é aí que tá o perigo, de repente encrespa em pedras ou buracos e fica difícil evitar algumas pancadas.

Seguimos de Seabra em sentido leste, até Lagoa de Dionísio, onde viramos pro sul, estrada ao longo da chapada no lado oposto a Lençóis, oeste da região. Eu tinha visto o mapa no gúgol e era o menor caminho. O que esse gúgol traíra não avisou era que as estradas por ali estavam em péssimas condições, desde sempre. Fomos em asfalto até a primeira cidade, Ibitiara, ali paramos pra comer e pedir informações. A expressão no rosto das pessoas era inequívoca, a estrada era terrível. Mas já estávamos ali e seguimos adiante. Houve até quem duvidasse da Celestina, "com aquela kombi ali? Cês não chegam lá não". Ora, minha senhora, não tem arrego, vamos em frente. Dali a Novo Horizonte o caminho foi duro, a estrada era muito ruim. Realmente mais perto, mas a buraqueira obrigava à lentidão. Foram mais de quatro horas pra percorrer os oitenta quilômetros.        
       
O sol acabara de se pôr quando, numa das encruzilhadas, encontramos uma placa indicativa improvisada, a primeira legível. O caminho passava por Novo Horizonte e seguia pra Ibiajara. Anoiteceu e a estrada, toda esburacada e cheia de pedras, não permitia desenvolver velocidade acima da caminhada. A impressão era de que não tinha fim, ao longe não víamos nada, nenhuma luz. Uma hora pedi a Clara pra fotografar a estrada pelo parabrisa, em movimento mesmo. Ficou uma imagem meio surreal, mas eu gostei.
A máquina tava com flash, não houve jeito de tirar.
                                                                                 Havia bifurcações, entradas, e eu no instinto, escolhendo, raras placas indicativas, algumas ilegíveis. Chegamos em Novo Horizonte, passamos, continuava estrada de terra, pior, mais esburacada e empoeirada. Mais bifurcações e entradas. Depois de muito tempo sem encontrar nada, cruzamos um cara de moto, fiz sinal e ele parou. Perguntei se era a estrada certa, ele coçou a cabeça e, enquanto confirmava com um aceno, disse "mas tem uma serrinha terrível de passar aí, a estrada vai piorar muito". Nós nos olhamos sem dizer nada, nem precisava - voltar nem pensar -, vamos em frente. A gente já tinha uma dica, dada em Novo Horizonte, "quando encontrar uma ladeirona braba, repare uma saída antes, de pedra, meio escondida no mato, passe por ali que contorna o morro e sai do outro lado". Tão escondida no mato que passamos direto, subindo uma "parede" de pó e buracos até ficar impossível. Aí percebemos que era a "ladeirona braba", descemos de costas, de um lado o barranco, do outro um abismo escuro. Pisca-alerta ligado, por via das dúvidas, bem devagar, mas como não passava nada, não houve problemas. Passamos pela estradinha de pedras, também inclinada ao extremo mas, com a aderência melhor, passamos.
                                                                              
Estávamos na BA 152 e, até chegar a um asfalto, muito precário ainda, passamos por Ibiajara e Tanque Novo. Aí começou um asfalto tão esburacado que me fez ter saudade da terra. Era a BA 156, nos levou à BR 430, aí, sim, uma estrada transitável. Chegamos a Caetité no início da madrugada. Thulio e Ailton nos esperavam na entrada da cidade. A pousada MCM, de Márcio e Ione, que nos acolheram, ficava ao lado, diante de uma praça, ao lado de um quartel.

A exposição foi no dia seguinte, na praça da árvore. Pra minha surpresa dois policiais armados levaram o som e instalaram. Eram amigos dos que me convidaram, músicos ambos. A exposição começou bem antes da palestra, coisa rara, ficamos por ali papeando, trocando idéias, enquanto chegava mais gente. A data não favorecia, véspera de carnaval, mas veio gente suficiente pra fechar o círculo da arena no meio da praça. Roquenrou, o cão, andou livre na área até a hora de começar o papo, aí se recolheu - ou foi recolhido - à Celestina, ali bem próxima.

Chegamos cedo, armamos a exposição e esperamos o povo chegar. Celestina ficou perto.
À noite, palestra - de camisa vermelha, falo (com microfone) ao fundo. Clara e Tito na exposição.
O dia seguinte, sábado "de carnaval", tomamos o rumo de Montes Claros, a caminho de Belo Horizonte. Paramos pra dormir a 50 km de Sete Lagoas, às quatro da manhã. Asfalto bom é outra coisa.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

O sistema tem suas raízes em cada um de nós


Uma sociedade verdadeiramente humana será uma sociedade onde não haverá miséria, ignorância e abandono - uma vergonha do passado, então inconcebível. Qualquer um que apresente qualquer argumento explicando a inviabilidade de uma sociedade assim, apenas me provoca um riso amargo. Não há produção suficiente de alimentos? Não existem conhecimentos, logística, condições de eliminar estas excrescências da face da terra? Ora, é claro que existem.
O que acontece é que a acumulação, a concentração de riquezas, propriedades e privilégios precisa roubar direitos, mantendo populações em condições de barbárie, precisa de ignorância, desinformação, miséria e abandono pra seguir explorando populações e saqueando riquezas, moendo gente, destruindo potenciais e vidas, sujando e envenenando, tanto o planeta quanto as almas, as mentalidades, os comportamentos. Devemos a isso o estado de degradação social em que vivemos.
Querer vencer na vida é sustentar isso. Competir é manter o modo de relacionamento social. Acreditar nas informações e "opiniões" dos veículos de comunicação é envenenar a mente e receber uma visão de mundo completamente distorcida. Querer o que é induzido pelo massacre publicitário em suas sutilezas sedutoras é o alimento do sistema social. Não ligar a violência e a criminalidade ao desequilíbrio social absurdo, à miséria, à pobreza e aos valores distorcidos pela publicidade e pela propaganda ideológica subliminar da mídia, acreditando que repressão e encarceramento são algum tipo de solução - ou mesmo contenção - pra situação de terror cotidiano, pros níveis de criminalidade, é ter a mente lavada, enxaguada, teleguiada, entorpecida e estupidificada. 
Pretender mudar um sistema que estimula a competição, o confronto e a disputa, confrontando, disputando e competindo - ainda mais dentro das instituições, infiltradas e dominadas pelos poderes econômicos - é de uma ingenuidade mais que inútil e incapaz. Acaba sendo a "prova" apontada pelos defensores deste sistema social criminoso de que a farsa política é realmente uma "democracia", alegando que não se poderia falar assim se não fosse uma democracia. Alegação mentirosa, obviamente. Pode-se falar como esses pretensos revolucionários falam porque eles não tem nenhum poder de mobilização popular, em seus condicionamentos de superioridade social, em seu doutrinarismo estéril, em sua arrogância e pretensão de liderar, organizar e conduzir as massas. Pensam que estão lutando por uma sociedade igualitária, mas estão é colaborando com essa estrutura desumana, ajudando a construir o cenário do teatro macabro. Se alcançassem humildade, perceberiam. Eu percebo que há muitos se tocando. O processo tem seu ritmo.
Em cada um de nós há raízes dos condicionamentos sociais produzidos em laboratórios de pensamento bem pagos, contratados por um punhado de parasitas sociais podres de ricos - que não participam do caos que provocam, cercados em suas fortalezas com muros eletrificados e exércitos bem armados de seguranças privadas. Estamos expostos a isso desde o útero materno e ingenuidade é pensar que nossa vontade é toda nossa, como nossa visão de mundo, opiniões, sentimentos, desejos,... esta percepção, a meu ver, é a primeira de todas. E o trabalho interno, o mais importante. A coletividade é formada por todos e cada um. Trabalhando em si mesmo, o trabalho se estende automaticamente ao coletivo, sem pretensões de ensinar, liderar ou conduzir. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Jacobina, Bahia, norte da Chapada Diamantina

Verificação e ajustes, de acordo com o comportamento do motor.
A estrada do Capão tem 20 km de terra, buracos e poeira, antes de chegar a Palmeiras. A verificação da foto foi feita nos Campos, entre o Capão e Palmeira. Coisa de ajuste na cebolinha, que mede a pressão do óleo. Na madrugada, perdemos a entrada pra Cafarnaum e aumentamos a viagem nuns 70 km, por Irecê. Pelo menos as estradas eram boas, ao contrário da volta. Era sexta de noite.

A viagem a Jacobina foi iniciativa de Gaby Barbosa, exceção infiltrada na área jurídica, esse emaranhado intricado pros mortais comuns, historicamente montado pra servir aos poucos e conter os muitos. Chegamos de manhã, no sábado, à tarde fomos até a mineração de ouro que domina o lugar, como a Vale domina o Rio Doce e com a Samarco domina vários municípios no alto do vale. Lembrei da devastação planetária que vi por lá, com total conivência de prefeituras, câmaras legislativas e governos, tanto estadual quanto federal. Ditadura mega-empresarial, liderada por banqueiros. Sinistro de dar calafrios.

Mentiras - o objetivo, a qualquer custo, são os altos lucros.
As histórias que ouvi são muitas. Duas vezes por mês sai um avião carregado de ouro. A cidade sofre uma operação gigante, todo o percurso do ouro é vedado à população. Os empregados da mineradora ficam trancados num galpão pra não verem nada, enquanto o ouro é retirado. Uma vez, carregado demais, o avião caiu e em instantes a área estava isolada pela segurança armada com um círculo de segurança feito pela polícia local - que tampouco teve acesso às proximidades. A sujeição do "poder público" é óbvia ao poder econômico privado, as mega-empresas têm prefeitos, legisladores, governadores em seu bolso. A hipocrisia prevalece em todas as comunicações, tanto da empresa quanto das "autoridades", quando se dirigem à população. Os subterrâneos são podres. Há notícias de cemitérios clandestinos, com corpos de funcionários mortos por doenças pulmonares, como salitrose - ou coisa parecida, areia que endurece o pulmão e impede a respiração. Ao se sentirem ameaçadas em seus poderes ou ganhos, as mineradoras se tornam monstruosas, a população local que o diga. Ainda na instalação da empresa, foram expulsos todos os moradores do vale seguinte à exploração do ouro. Depois, com a organização pra se defenderem,            
As marcas das expulsões permanecem na frente da represa de rejeitos.
começou o terrorismo institucional e empresarial contra os moradores que resistiam. Uma velha e conhecida história de crimes contra a humanidade cometidos por essas mega-empresas, com a conivência e a cumplicidade dos poderes falsamente públicos. O cenário lembra a promessa de devastação que começou em Mariana e atingiu todo o vale, até o mar em Regência, onde continua a empestear há mais de ano.

O aspecto sinistro emana nocividade.
Andamos por ali sentindo a freqüência no ar, peso de crime organizado de alta máfia, senhores de vidas e patrimônios, sorridentes bandidos que espalham migalhas angariando a simpatia dos ignorantes. Procedimentos padrão, há séculos, que estão sendo denunciados cada vez mais, na busca de esclarecimentos sobre os bastidores sociais e empresariais mancomunados contra os povos. O padrão é mundial, como o domínio sobre os Estados.

A informação, a instrução, a consciência das pessoas é o terror desses criminosos que têm as leis nas mãos pra barbarizarem como querem, em busca das riquezas que serviriam de sobra pra acabar com a miséria, a ignorância, o abandono, o sofrimento pela omissão do Estado no cumprimento da sua constituição. Todos os movimentos coletivos que se põem a esclarecer a população, conscientizando da destruição dos mananciais e da natureza já tão sacrificada, são alvo de discriminação, difamação e perseguição.

Ainda no sábado, fomos a um evento onde conhecemos o trabalho de Joan Sodré, um Raul Seixas jacobinense, com presença de palco, ótimo som, cantou músicas do próprio Raul e também dele mesmo. E, devo dizer, com a mesma qualidade do Raulzito em suas letras e músicas.

Levando os painéis de exposição
A exposição foi domingo, na praça do CEU, com exibição do documentário Observar e Absorver e palestra. Creio ter tido bastante proveito. E as vendas compensaram bem o deslocamento. Bons plantios em terra fértil.

Chegando...


Levando mais painéis.

No final do encontro, a foto da saída. Atrás, Celestina espera já carregada, pronta pra partir.

Claratendimento direto.

Mostrando e explicando o trabalho.
 O filme rolou dentro do auditório, a exposição e as falas foram fora. Falei e respondi perguntas até acabar o tempo e mandarem parar.
Levi na fita.


Teve gente de esquerda e de direita, anarquistas e não alinhados em nenhuma ideologia definida. Todos de boa vontade, pelo menos naquele momento, os olhos eram bons e emanavam bons sentimentos. O entendimento rola melhor quando é assim.
Com Gilson Pereira, dom Quixote da moralidade em Jacobina
 Saímos na segunda à tarde da casa de Beto e Gaby, depois de várias boas conversas e com o som de Joan Sodré no violão, ali na cozinha, tomando café com a gente. Gilson também apareceu por lá, na sua hora de almoço que foi esticada ao máximo. Estavam Levi e Bianca - várias fotos são deles. A despedida foi entre corações. Gente que tem como objetivo a harmonia e não a vitória, a solidariedade e não a competição. Exceções ás regras sociais da mediocridade, do egoísmo e da vaidade. Todos parecem saber que vencer na vida é, na verdade, perder a vida com superficialidades, com formas sem conteúdo, com angústias e frustrações.

Levi, Cândida, Bianca, Eduardo, Clara, Gaby e Beto, na despedida de Jacobina.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Mídia e Estado canalhas

Há quem se espante com a canalhice da mídia. Mas ela foi criada canalha, com a expansão de um jornalzinho na forma de rede nacional de televisão, com centenas de repetidoras pelo país, de tv e rádio, sem falar nas publicações escritas. Foi desenvolvida ilegalmente com a tecnologia e a grana da Time-Life estadunidense, a partir do golpe de 1964, pra servir aos interesses das corporações estadunidenses, subalternizando a mentalidade da população aos valores estadunidenses, levando à idolatria do império das corporações que nos assola desde a segunda guerra, onde foi subalternizado o exército brasileiro ao estadunidense, com a deformação ideológica da oficialidade na Escola das Américas, no Panamá mas estadunidense, incutida de um anti-comunismo obsessivo e ignorante - o pânico e o ódio dos exploradores de pessoas e recursos na construção de riquezas privadas.
Não são casos episódicos, é a natureza da mídia, desde sua criação. O controle das comunicações é estratégico na dominação do país, no saque permanente com a cumplicidade das elites locais, sempre traidoras do seu próprio povo e nação, que desprezam, enquanto bajulam e admiram os saqueadores, exploradores e opressores estrangeiros, punhado de parasitas sociais que infernizam o mundo com seus mega-poderes.
"O comunismo vai acabar com o mundo!", gritam os que estão acabando com o mundo. Hoje, "comunista" é o insulto contra qualquer um que tenha preocupações humanitárias, que deseje menos injustiça social, que se preocupe com a população sabotada em seus direitos humanos, básicos, fundamentais e CONSTITUCIONAIS.
Um Estado seqüestrado pelo poder econômico de um punhado de podres de ricos, que não cumpre sua própria constituição, é uma organização criminosa simulando poder público, encenando uma farsa chamada de "democracia", mas que não passa de uma ditadura banqueiro-empresarial da qual a mídia é porta-voz e encarniçada defensora. Não é à toa a destruição do ensino público, a sabotagem da educação. É o impedimento da instrução, da formação de senso crítico e de consciência.
Perceber a mídia como ela é - e sempre foi - é um passo fundamental pra se começar a ver a realidade como ela é, ao contrário do que a mídia mostra. Isso aqui tá muito longe de ser uma democracia. Instituições ditas "democráticas" estão tomadas, infiltradas, dominadas pelos interesses parasitas mundiais, através e com a cumplicidade comprada das elites locais - e governantes, legisladores e juristas patrocinados.
Em vez de se lamentar, se revoltar, se decepcionar, desistir, se deprimir, é preciso se ligar, mudar de atitude, de desejos, de objetivos, de visão de mundo, de comportamento. Então, mudam as formas de relacionamento, mudam os sentimentos em viver, muda o mundo, no seu ritmo. E se ganha sentido.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Na cara de todo mundo...

Tô vendo o nível do descaramento, esperando a "inteligentzia" brasileira se ligar no que acontece e sair da superfície. As instituições não funcionam pelo povo, mas contra ele. Os governantes seguem as ordens dos mega interesses estrangeiros e desmantelam a sociedade, ponto a ponto, amarrando e amordaçando a população nas instituições falsamente "democráticas". O país está claramente em caos, o setor público sendo saqueado, direitos parcos e conseguidos com muito sacrifício de muitíssima gente sendo destruídos no focinho de todo mundo. Tô esperando os instruídos, os investidos em cargos, os honestos, bem intencionados que têm legitimado as "instituições democráticas" tentando inutilmente mudar suas atuações anti-democráticas, se manifestarem publicamente e fecharem com os trabalhadores da base, os periféricos, os informais, os encanadores, faxineiros, ajudantes de pedreiro, diaristas, gente que convive e supera cotidianamente dificuldades e obstáculos, desprezo e exploração. Aí começa um movimento avassalador, invertendo a vassalagem, a submissão e a opressão pra liberdade.
Quanto mais será preciso pros bem intencionados dons quixotes da institucionalidade - uns poucos entre pulhas - assumirem a realidade? Os mais fortes são mantidos na ignorância e na desinformação, no controle mental e no policial. Pessoas em condições degradantes, sem direitos humanos - e constitucionais - respeitados, com todo potencial a ser desenvolvido na formação de uma sociedade menos injusta e desarmônica. Populações inconscientes da sua própria força e capacidade de superação.
Multidões convencidas de uma inferioridade e uma impotência falsas, impedidas no desenvolvimento humano integral que lhes é de direito, na formação criminosa das legiões mais indispensáveis ao funcionamento de toda a sociedade - os trabalhadores braçais, a chamada "mão de obra de baixa qualificação".
Informar e instruir os que tiveram esses direitos negados é uma obrigação social, não caridade ou ajuda. É interesse de todos os que desejam uma sociedade menos injusta, sem miséria, ignorância e abandono - por conseqüência, com baixíssimos índice de violência e criminalidade. Investir em repressão e encarceramento seria uma estupidez, se o objetivo fosse a harmonia social. Seria necessário investir na população, além de acabar com o controle das comunicações por empresários e torná-las de fato públicas. Servir de instrução não enquadradora e de informações verdadeiras a todos é uma necessidade social pra harmonizar as relações sociais. Em verdade teria que ser um programa de Estado, no resgate das vítimas de crimes sociais, roubados por gerações em seus direitos humanos.
Mas a harmonia social está longe de ser o interesse de quem controla a sociedade, dos seus bastidores, escondidos dos holofotes da mídia. Ao contrário, a instrução, a informação, a união, a solidariedade e a consciência da grande maioria é seu terror. Eles cairiam sozinhos das costas dos povos, sem precisar ninguém derrubar, porque são fracos e dependem dos mais pobres todo o tempo, pra tudo. Fácil entender os porquês das estratégias desumanas, do controle midiático, da destruição da educação, da criminalização e perseguição da resistência, do controle da farsa política.
Autonomia é o desenvolvimento a se levar adiante. A pulverização impossibilita a concentração e o controle. Autonomia mental, pra começo de serviço, já é o alicerce necessário. A limpeza nos próprios condicionamentos, valores, visões de mundo, desejos, objetivos de vida, comportamentos e formas de relacionamento com as pessoas, com o mundo e com os acontecimentos. Aí está a chave de ignição da tomada de controle sobre a própria vida. Dentro de si em primeiro lugar, no coletivo por conseqüência.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Vale do Capão


No Capão eu tô produzindo originais, nada acabado ainda. Se não sair com tudo pronto, termino depois, porque várias coisas estarão começadas - um livrinho da editora Faisamão, "Reflexões", e um desenho a nankim da imagem que só fiz em pinturas, um "cabeça de fósforo".
Eu me deleito com a imagem no retrovisor.

A viagem não teve sobressaltos, a não ser no pedaço de terra, sem sobre mas com muitos saltos, buraqueira incontornável. A poeira, finíssima em alguns pontos, levanta como fumaça densa, mesmo na mais baixa velocidade. Parece talco cor de terra.

Roquenrou se comporta melhor na kombi que fora dela, quando revela sua criancice aos pulos, de orelhas em pé pra qualquer coisa que se mova - assusta pelo tamanho e pela cara de lobo, apesar de ser inofensivo. Qualquer cachorra velha mau humorada bora ele pra correr. Mas quando ela desiste diante da velocidade dele, ele faz a volta e vem provocar de novo. Ela ataca outra vez e ele foge e volta. Até que eu o faço respeitar os mais velhos, chamando pra perto de mim. Ele não insiste. No bar do Capão ele foi imprudente e uma dessas tascou-lhe um arranhão que só foi superficial porque ele se deu conta a tempo. Dessa vez, não precisei chamar, ele veio e ficou sentadinho perto, olhando pro grupo de cães comandado pela matriarca idosa.

Saindo pra passear o Roque - ele precisa - vimos o por do sol demorar no Morro Branco, marca registrada do Capão. No caminho, a pixação surpreendeu, com o anagrama do observar e absorver num muro, bem diferente do original. A essência deve ter sido entendida, mas a forma não tava bem assimilada. Embaixo, a explicação da viagem: bateu.
O por do sol demora no Morro Branco.
A reprodução do anagrama tá diferente, mas a explicação tá embaixo. Erva de qualidade.

Na praça da vila, nuvens coloridas na despedida do dia.

Isso que parece uma estrada é o leito seco do principal rio do Vale do Capão, o rio Preto baiano. Água tá escassa e chuvas são esperadas com expectativas, pelos moradores e visitantes. Basta uma chuvada pra lavar a poeira e acentuar os verdes. Mas não é suficiente pra encher os rios, represas e cachoeiras.
Roquenrou não se esconde pra se aliviar.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.