Em São Mateus, com o Gavião e o Val, achamos um cara que fabrica cabeçotes. Ele tinha um, feito pra motores a gnv, que esquentam mais, reforçado pra segurar sem vazar. A grana dava pra comprar, mas não pra colocar - é preciso retirar o motor pra fazer a troca. Depois andamos por São Mateus, vendo novos e antigos grafites da rapaziada do grupo OPNI.
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Clara e o grafite em tela |
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A sensibilidade sobrevive na barbárie social e se manifesta nas paredes. |
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O amor feito da dualidade universal, o yin-yang do sentimento, na expressão da menina. |
De São Mateus fomos e voltamos no evento da Vila Guilherme, um casarão cultural no momento, administrada pela secretaria de cultura do município. Foi uma casa de fazenda e tem bem o tipo, paredes grossas, teto alto, passagens em arco, escadaria na frente. Um pouco estranha à urbanidade que o tempo trouxe, cercada pelas ruas, casas e construções, absorvida por um novo contexto social, foi transformada em escola por muito tempo, várias gerações estudaram nela. Mas a escola foi fechada, no processo de permanente desvalor à educação, numa sociedade dominada pelos poucos que mais exploram a ignorância, a desinformação, a alienação geral. E por muitos anos permaneceu fechada, abandonada, sem manutenção. Até que a rapaziada do skate, do grafite, da pichação, os socialmente "errados", entraram e começaram a fazer atividades ali dentro. A repressão não podia se fazer de rogada, rolou direto. Mas contatos com advogados amigos, apoio de pessoas que se relacionavam com as instituições ditas "públicas", desinteresse mega-empresarial (ausência de "pressóes irresistíveis" ao sistema social), vários fatores combinaram pra que o casarão cultural se fizesse. Claro, com a imposição da administração "pública". O espaço foi conquistado, mas quem administra é o Estado.
A exposição e a palestra rolaram em sintonia.
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A casa imponente dá idéia do que deve ter sido, como sede de uma fazenda, provavelmente, de café. |
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A conversa começou mais cedo que o marcado, porque já tinha gente esperando e a exposição estava armada ao lado. |
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Essa era a sala ao lado. Bueno, ainda é. |
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Foi chegando mais gente, tivemos que trocar de sala, pro segundo andar. Teto mais alto, antiga área dos mais "nobres". |
Um dia depois fomos pra Santos, não sem antes comprar dois cabeçotes pra kombi. Era o que tinha faltado na garibada dada em Inhaúma no motor, que foi aberto e tratado nos seus meandros mais profundos. A grana não dava. Na viagem arrumamos e, "coincidentemente", em São Mateus conhecemos o Walter, que fabrica cabeçotes e tinha feito um tipo exclusivamente pra motores movidos a gás natural veicular (gnv). Compramos e levamos, Walter nos indicou uma mecânica que lhe encomendava cabeçotes, do patriarca seu Miguel, seus filhos com ele e todos com mais de quarenta anos, mais os mecânicos que trabalhavam com eles, na Praia Grande. "Gente honesta" foi o código, a senha pra seguir a indicação.
O convite pra Santos foi de Rodrigo Santo, parceiro nas movimentações de palestras e dações de idéias pra coletividades diversas, dentro do sistema social de enquadramento pela educação. Figura ímpar, arrumou todas as condições pra passagem pela baixada santista, que desenrolou depois em outros acontecimentos, de domingo em diante.
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Na saída de Sampa, o cinturão de sempre, dos imprescindíveis que fazem a cidade funcionar, sem ter acesso à consciência dessa realidade, da sua importância no cotidiano social. A foto, obviamente, é da minha parceira amoramante, Maria Clara. |
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A palestra na escola periférica foi de bom proveito, com muitos olhos brilhantes. Contra as condições, vocacionados dão seu jeito. Foto - Pedro Céu |
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Com essa cara de maluco, inda vou escrever um texto e fazer teatro. História pra contar não falta. Será que é teatro ou contação de histórias? Foto - Pedro Céu |
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Exposição no Gonzaga. Foto Pedro Céu |
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Rodrigo Santo é esse de barba, ele que arrumou a licença pra expor. Foto Pedro Céu. |
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Palestra rola sempre. Foto - Pedro Céu. |
Depois dos eventos ficamos por Santos. O domingo acabou numa periferia de Guarujá, em casa de amigas, segunda fomos pra São Vicente, depois de rara praia. Terça era a hora dos cabeçotes e aí começa uma outra história. Na oficina do seu Miguel encontramos Rildo, que montou os cabeçotes no lugar. De caprichoso, apertou demais as válvulas, eu vi, mas como sou inguinorante na mecânica, não disse nada. Saímos dali pra subir a serra e nas subidas o problema se mostrou. A potência caiu e tivemos que parar algumas vezes pra esfriar o motor. Na primeira parada no acostamento, o guincho da via apareceu pra oferecer a volta pra Santos. Recusamos ligando o motor, que funcionava perfeito. O cara foi embora e seguimos viagem até uma subida longa onde a segunda não tava mais dando. Paramos na entrada de um túnel e abrimos o motor pra esfriar mais uma vez. Até fumaça tava fazendo.
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Serrando um parafuso grande pra ficar no caminho do eixo das várvula, o balancim. |
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Edson Estrada, o guincheiro, apareceu pra salvar a situação. Até passeio turístico no Museu do Ipiranga ele nos proporcionou, nos deixando em frente à casa dele, no Ipiranga, com caminho certo e fácil pra São Mateus. |
O motor estava ótimo, mas não subia, aquecia. Nem um pingo de óleo. Edson do guincho parou sem a gente pedir, opinou sobre o motor, "tá bom o barulho, o motor tá ótimo". Contei sobre a troca de cabeçotes, ele concluiu que apertaram demais as válvulas, perigava o superaquecimento, era preciso regular melhor. O problema era a subida. E ele resolveu isso levando a gente até o centro de São Paulo, na porta da casa dele, de onde pra São Mateus eram pouco mais de quinze quilômetros. Chegamos e estamos. Amanhã Celestina vai ter as válvulas reguladas. Seguimos.