quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Luxo, fome e fúria












 Por:   David Brooks / La Jornada

A demanda de artigos de luxo, desde sapatos de 800 dólares e cosméticos de 1.300, até Mercedes Benz, de 200.000 dólares, está em alta, enquanto quase 46 milhões de estadunidenses dependem, mais que nunca, da assistência federal para comprar alimentos básicos e evitar a fome. Esta é a atual situação dos Estados Unidos.
O mercado de luxos registrou 10 meses seguidos de aumento de vendas, afirmou o New York Times. As vendas da joalheria Tiffany’s, Givenchy, Louis Vuitton, Gucci, BMW, Porshe e Mercedes Benz, entre outros, registraram fortes crescimentos.
Por outro lado, o governo federal informa que quase 15% da população depende de assistência alimentar, ou seja, 45,8 milhões de pessoas, o nível mais alto já visto, 12% mais que há um ano e 34% acima de há dois anos atrás. Para obter assistência alimentar federal (food stamps), os ganhos de uma pessoa devem ser inferiores a 1.174 dólares por mês (mais ou menos o preço de um par de sapatos Louis Vuitton).
A desigualdade econômica está clara. O economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel, diz que, só nos últimos 10 anos, os ganhos do 1% mais rico aumentou 18%, enquanto os dos trabalhadores caiu 12%. De acordo com análise do Instituto de Política Econômica (EPI), a riqueza está ainda mais concentrada no setor mais rico – mais de um terço da riqueza nacional está concentrado nas mãos desse 1%. Cerca de 20% dos lares, na escala econômica, contavam com apenas 4% da riqueza do país em 2007 e perderam parte disso na última recessão. De fato, em 2009, o 1% das habitações mais ricas tinha um valor líquido 225 maior que o da habitação típica. Uma desigualdade nunca vista.
Enquanto isso, os ricos pagam menos impostos que em qualquer período dos últimos 50 anos, reconheceu o próprio Barack Obama. Um novo informe do Centro para o Progresso Americano (CAP) descobriu que os milionários pagam 25% menos impostos hoje que em meados dos anos 90, e 1.400 milionários não pagaram nem um centavo de impostos, em 2009. Em grande parte devido às reduções fiscais feitas pelo governo de George W. Bush e prolongadas pelo de Barack Obama.
A ira popular contra os “representantes do povo” em Washington segue ardendo, segundo as pesquisas, exatamente porque lhes é atribuída a culpa por aplicar políticas que beneficiam uns poucos às custas de quase todos os demais. Cerca de 82% dos estadunidenses desaprova o desempenho do Congresso: o nível mais alto registrado pela pesquisa da CBS News/New York Times. Outra, da CNN, descobriu quase a mesma coisa. Mais de 4, em cada 5 pessoas, opinaram que o debate sobre a dívida tinha mais a ver com manobras políticas que com a busca do melhor para o país.
As pesquisas também demonstram que Washington faz exatamente o contrário do que deseja o povo. Por mais de dois contra um, os estadunidenses afirmam que a geração de empregos deveria ser uma prioridade maior que a redução dos gastos federais. 63% são favoráveis ao aumento de impostos dos ricos.
Mas, além de reprovar seus líderes, haverá conseqüências políticas? Alguns dizem que todos os eleitos sofrerão a ira popular, em 2012. Outros acreditam que Obama, apesar de ter gerado enorme decepção nas suas bases, não terá problemas graves, por um simples e cínico raciocínio. Como disse um estrategista democrata ao Washingtom Post, “o fato é que os liberais e progressistas não têm para onde ir”, além de votar em Obama e seu partido. Da mesma forma, um pesquisador democrata comentou, no New York Times, que, no caso de Obama, apesar das críticas das suas bases liberais a uma ou outra das suas iniciativas, no terreno eleitoral, “no final das contas estão seguros de uma coisa: vão odiar os candidatos republicanos. Então, sinceramente, não me preocupa muito uma base sólida ou estusiasmada”. Ou seja, o pensamento é que, para as bases progressistas, não há alternativas eleitorais.
“Precisamos de uma Praça Tahir não violenta”, diz o ex-vice-presidente, Al Gore. Diante do acordo para cortar bilhões em gastos, proposta dos republicanos, e das necessidades sociais, é necessária uma primavera estadunidensa (referência à primavera árabe) para resgatar o país aos direitistas, disse no seu canal de televisão, Current TV. Mas, para isso, disse o entrevistador, primeiro é preciso haver fúria.
“Eu acredito que o público está furioso, sim, mas também deprimido pela falta de lideranças e a ausência do sentimento de que é possível ganhar a luta. Os chamados populares a que Wall Street presta contas não levaram a nada, enquanto o dinheiro de Wall Street mantém sob controle os políticos e os ativistas se twiteiam entre si até à dispersão. Os ativistas condenam on line o presidente, mas fazem pouco para enfrentá-lo e exigir outro tipo de ação”, afirmou o jornalista veterano Danny Schechter, em sua coluna no Reader Supported News.
A imagem da classe política nas mãos dos mais ricos é documentada por todas as partes, com doadores milionários que financiam candidatos dos dois partidos. De fato, um novo informe do Center of Responsive Politics demonstra que Obama recebe ainda mais de Wall Street para sua reeleição, do que obteve em 2008.
Para alguns, as políticas econômicas de Obama, até o momento, não são diferentes das do seu antecessor, como a continuação das guerras e a omissão em pedir contas aos financistas e empresários, responsáveis por esta crise.
Talvez por isso não surpreenda tanto que Barack Obama dance confome a música de Bush, literalmente. Mark Knoller, da CBS, reportou que a campanha eleitoral do presidente está usando a canção “Só na América”, de Brooks e Dunn, nos seus comícios. George W. Bush a usou em sua campanha à reeleição, em 2004.

Tradução – Eduardo Marinho                                                             Boletim Telesur de 11 de agosto de 2011

7 comentários:

  1. Simplesmente, são mais dados que comprovam os verdadeiros poderosos do mundo: as empresas, que subjugam governos facilmente com financiamentos de campanha.
    Eduardo, como é mesmo aquela frase que resume a relação entre empresas, Estado e mídia?

    ResponderExcluir
  2. Não sei. Será a do Orwell, "a massa sustenta a marca, a marca sustenta a mídia e a mídia controla a massa" ?

    ResponderExcluir
  3. olá, gosto de ver o que você pensa, se expressa bem.
    gostaria de ver algo comentando sobre a frase:
    se nós temos o poder, por que eles governam para eles ?
    claro se você quiser ou tiver algo pra falar sobre
    de qualquer forma obrigado
    ótimos posts

    ResponderExcluir
  4. Realmente, as grandes corporações sempre vão estar fazendo frente nos interesses dos políticos, até porque são elas quem o colocaram lá. Enquanto não houver uma reforma no sistema eleitoral (financiamentos de campanhas no geral acredito eu) não vai mudar nada

    ae Eduardo, se tu tiver tempo da uma lida ae...grande abraço e continue escrevendo!

    http://contraofluxo.blog.com/

    ResponderExcluir
  5. decadência do império americano
    mais cedo ou mais tarde
    já está acontecendo...

    ResponderExcluir
  6. Interessante que ao mesmo tempo em que o próprio Obama reconhece que os ricos estão pagando menos impostos, o terceiro homem mais rico do mundo, nada menos que Warren Buffett, em artigo publicado no TNY Times, diz que o governo deve parar de mimar os super-ricos: http://blogprojetonacional.com.br/de-um-bilionario-americano-para-a-turma-do-cansei/

    "Ta tudo errado!", peço licença para dizer o que penso sobre a frase: Desde quando nós temos o poder? O governo nunca foi do povo, em raríssimas exceções dos que realmente o exercem com seu objetivo. O poder dos governantes em tese deveria ser para o povo, mas essa idéia de representatividade e democracia, não fica muito longe de um discurso retórico. Veja, nós não temos o poder, porque nem mesmo somos capazes de reunirmos para uma revolução, um basta na corrupção e no desvio do sistema. Reune-se alguns milhões em uma marcha de gays e afins, mas não reune-se uma centena para protestar contra corrupção. Foi só uma comparação, ao meu ver ambas as causas seriam, e são justas. Vejam o que Zygmunt Bauman fala dos motins em Londres, a revolta não passa de uma busca desenfreada pelo consumo:http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/08/12/foi-um-motim-de-consumidores-excluidos-diz-sociologo-zygmunt-bauman-925126381.asp

    ResponderExcluir
  7. Como dizia Plutarco: "Um desequilíbrio entre ricos e pobres é a doença mais velha e fatal de todas as républicas."
    Parece que ainda não aprendemos nada com o tempo...

    ResponderExcluir

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.