quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Covardia contra a Aldeia Maracanã - são as grandes empresas, como sempre, manipulando seus fantoches políticos pra saquear o patrimônio público.

O antigo Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro junto com várias lideranças dos povos originários, é a Casa do Índio no Rio de Janeiro, que tem hoje o nome de Aldeia Maracanã. A posse foi oficialmente dada a eles há muitos anos, e o poder público abandonou a casa, a idéia e as pessoas à sua própria sorte. A existência dessa aldeia, a ocupação desse espaço pelos nativos locais, desde antes dos europeus chegarem, contraria interesses empresariais. Como o Estado e a coisa pública são controlados pelos grandes ricos da sociedade, esse punhado que anda de helicóptero e põe o serviço público a seu serviço, a Casa do Índio foi se deteriorando - na certa com a torcida empresarial para que caísse. Mas a resistência existe.

O atual governador (devo dizer gerente) está empenhado em atender a demanda dos seus financiadores de campanha - tranformar esse reduto cultural, a primeira casa dedicada à cultura indígena na América Latina, num estacionamento para o chópim-center que será construído no Estádio Mário Filho, o Maracanã. O cúmulo da insensibilidade, do descaramento, da falta de respeito e da hipocrisia.

Falam em desenvolvimento... que porra de desenvolvimento é esse que só existe na matéria? Não se desenvolve a alma, não? Não dá vergonha a continuação do massacre secular, sempre por interesses materiais, nisso que chamam de riquezas, mas que empobrece escandalosamente o espírito? Somos uma civilização muito sem-vergonha, mesmo.

Falam em atraso dos índios... no entanto nas sociedade indígenas não há abandonados, não há privilegiados e sacrificados, a miséria e o excesso são desconhecidos e indesejados, por desnecessário. Exatamente a busca do excesso está na raiz das crueldades sem conta que se praticam todo dia, em toda parte. A ânsia por muito mais do que se precisa é causa primária da estrutura social em que estamos, onde a vida é uma arena onde todos são adversários, não existe solidariedade e tudo se resume no mercado de consumo e no mercado de trabalho - com o martelar de entretenimentos vazios pelo meio, pra servir de válvula de escape e ajudar a alienar o pensamento, a confundir a realidade. Não há moral pra falar da sociedade indígena, em uma sociedade tão injusta, perversa, covarde, genocida, ecocida e suicida.

A liminar que impedia a remoção dos índígenas de várias etnias da Aldeia Maracanã - e a demolição da casa - foi derrubada ontem e o governador tratou de reafirmar a intenção de retirar as pessoas que resistem lá, há anos - a ataques, ameaças, incêndios criminosos, bombas atiradas de madrugada, sabotagens e terrorismo cotidianos. Uma covardia descarada, mas é preciso acalmar os empresários que sofrem por ainda não terem construído o tal estacionamento. Afinal, eles investiram muita grana nas eleições, agora querem a contrapartida. A lei - ora a lei -, a única lei que esses caras reconhecem é a lei do mercado. E usam o jurídico pra dar um aspecto legal aos seus crimes morais. Contratam advogados que são verdadeiros malabaristas de leis. O que não é difícil, pois no direito romano que estrutura a legislação brasileira, patrício se dá bem e plebeu se fode.




(...)

Ontem, segunda-feira, dia 13 de Novembro, foi cassada a liminar que impedia a demolição do antigo Museu do Índio e protegia os índios da Aldeia Maracanã que lá residem. A Aldeia Maracanã é uma comunidade indígena multiétnica que já há 6 anos ocupa aquele espaço, abandonado pelo poder público, de forma construtiva, promovendo eventos culturais, preservando e tornando acessível a cultura indígena. Funciona como centro de referência para os inúmeros índios que chegam ao Rio de Janeiro, do Brasil inteiro, em busca de estudo e emprego. A queda da liminar representa uma ameaça da iminente retirada dos índios que lá moram. E, consequentemente, uma ameaça às suas vidas, uma vez que eles já se estabilizaram no local e não tem para onde ir. O próprio prédio -centenário - tem valor histórico e cultural inestimável, tendo funcionado como o Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro e em operação até a década de 70 (hoje se encontra em Botafogo), e marcando os passos do Marechal Rondon.
Vale ressaltar, apesar da falta de verba para reforma, que o prédio está, na medida do possível, conservado e bem utilizado. Segundo o defensor público André Ordacgy, existe um laudo do IPHAN a favor da preservação do prédio, assim como um laudo do CREA afirmando que a reforma é possível.
Uma ocupação na própria aldeia, a favor da permanência dos índios e do prédio, está sendo organizada e em processo de efetivação. Pedimos, então, a cobertura da mídia como forma de dar visibilidade à manifestação e fazer pressão ao governo estadual e municipal, mostrando a posição contrária às remoções para a sociedade civil (esta que não foi consultada quanto às obras em nenhum momento).
Mando o contato de dois dos representantes da Aldeia:
Afonso Apurinã: 8362-1472
José Guajajara: 9504-7517

(Breno)

No vídeo abaixo, depois de apresentar a casa, termina apresentando um texto em que aparece a empresa interessada na demolição, IMX. Sabe-se que terminam em X as siglas das empresas do podre de rico Eike Batista, o mesmo que está financiando Unidades de Polícia Pacificadora em locais estratégicos. Com que interesses, não é difícil imaginar. Mas é um notório financiador de campanhas, o "investimento" mais seguro que existe e de maior retorno imediato em obras superfaturadas, em utilização das forças de segurança pública para a "limpeza" dos locais onde haja interesses empresariais (leia-se a remoção dos pobres, com direito a gases tóxicos, pancadas a rodo, tiros de borracha e o cacete. Diálogo gravado pela polícia federal revelou o conselho de um rico empresário a outro - "investe 30 milhões em campanhas e você tem 300 milhões em obras públicas pro ano todo". Esta é a sociedade em que vivemos. Vergonha de participar disso, não posso ser "normal" nessa merda social. Essa civilização é a própria barbárie. Com altas e baixas tecnologias, a alma é esquecida.
Com a exigência legal de audiência pública a respeito da privatização do Maracanã, o governo monta uma farsa e tenta ignorar a sólida oposição moral à entrega de mais esse patrimônio público à avidez empresarial por lucros a qualquer custo. Não só a Aldeia Maracanã, com a Casa do Índio, mas uma escola pública também está destinada, por esse governo-gerência, à demolição, para abrir espaço aos lucros tão ambicionados pelos financiadores de campanhas eleitorais, donos de políticos, sejam legisladores ou governantes.
Isso não é o Brasil, nem representa mais que a parte menor e mais doente da sociedade. Os governantes, os "representantes" do povo, são comprados nos balcões eleitorais. Não é de se estranhar que as ditas "políticas públicas" sejam decididas por empresários, nos bastidores das campanhas e no ar condicionado dos gabinetes. E há idiotas que responsabilizam a própria população, deliberadamente sabotada em instrução, em informação, altamente narcotizada pela mídia e pelo massacre publicitário, conduzida como gado aos infernos das suas vidas. Uma demonstração de cegueira e impiedade. As estratégias de controle, condução e repressão estão aí, no cotidiano, no dia a dia, em toda parte, explícito ou subliminar, declaradamente ou pelo inconsciente.

15 comentários:

  1. Eike Batista dono do Brasil, é essa a impressão que fica.

    Eduardo, você poderia escrever sobre o mito da caverna de Platão?
    Adoraria ler um texto seu sobre esse assunto.

    Abraços.

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    1. Dono do governo, saqueador do Brasil, isso sim.
      Acho que muitos textos que escrevo falam da aplicação prática desse mito, parceiro. E das conseqüência que temos que encarar no dia a dia. O problema é pensar que os outros é que sofrem da síndrome da visão irreal. Essa é uma síndrome muito bem plantada e não tem ninguém isento dela, em maior ou menor grau. Por isso é que o trabalho por mudanças começa dentro. Quem pretende trabalhar por mudanças reais, precisa começar dentro de si mesmo, ou vai cair na mesmice, nos vícios condicionados, na vaidade, na disputa, no julgamento e por aí se perde.

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    2. A coisa tá ficando pior cada dia! Vejo que aqueles valores básicos, como um simples ato de respeito com o próximo, está se dissipando no ar, as pessoas ficando mais agressivas, presas a rotina, igual o coitadinho do burro com o cabresto e o tapa olhos. Alguns conseguem afrouxar um pouco e acho que tem como obrigação ajudar a afrouxar outros.


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  2. Falando em Eike Batista, interessante o que você falou: "inanciando Unidades de Polícia Pacificadora em locais estratégicos.", as poucas vezes que lemos que alguma empressa ou politico está fazendo algo para os menos favorecidos até dá uma certa alegria, afinal dará mais visibilidade e até uma esperança que o problema possa ser resolvido mais facil. Mas o quanto essas pessoas estão realmente interessadas nessa minoria e não em interesses próprios. Daí é que surgem os falsos messias prometendo de tudo, mas na verdade só está tirando. A midia maquia e nós ficamos sem saber em que acreditar e se o problema já está relmente resolvido, quando cada um diz uma coisa. Então eu lhe pergunto, como ter uma certeza, como ter uma visão critica para perceber o que está acontecendo? Para mim isso ainda é muito dificil, infelizmente.

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  3. O Rio virou uma cidade-empresa: Fria, egoísta, idiotizada e despolitizada.

    E arrogante também.

    O prefeito e o governador, que mais parecem um bicho de duas cabeças, brincam com a Eduacação, transformaram as salas de aula em linhas de produção, zombam do povo trabalhador, infringem os direitos humanos e fica tudo por isso mesmo, afinal tem o apoio dos "homi lá de cima".

    Enquanto o Rio virou um dos lugares mais caros do mundo pra se viver (ou melhor, pro trabalhador viver) tem MUITA grana rolando pra cima e pra baixo..

    Eduardo Paes e Sergio Cabral viraram as costas pro povo e deram as mãos pros donos do Bradesco, Delta, Odebretch e pro MrX. É essa turma que manda que traça os territórios, e futuro da cidade. Tudo aqui é decidio na mesa deles, no "mapa da grana".

    O pupilo de César Maia então nem se fala, surfou na onda da Copa e das Olmpiadas, ´botou a mídia no bolso, aplicou a cartilha neoliberal como nunca se viu, instaurou a "Republica da Playboyzada", grudou no gov.federal (ainda botou um deles pra cuidar da Habiatação), fechou com o "todo andar de cima" de se lambuzar em restaurante francês.

    Isso não governo, isso é estupro moral e espiritual do povo trabalhador.


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  4. Estou lá na aldeia dando um apoio sempre que posso, ainda ontem passei por lá. a imponência arquitetônica do lugar me supreende e arrepia todas as vezes em que entro naquele prédio, como se fosse sempre a primeira vez. É uma tristeza o que está acontecendo, e com a escola também, e o polo aquático, de atletismo...que governo prefere demolir uma grande escola e um museu por um estacionamento?? só o nosso...só o nosso...

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  5. Não é só o de vcs... o de Porto Alegre está a botar estacionamentos em locais tradicionalmente de encontros públicos, artistas de rua etc...

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    1. É a mesma coisa em todo o mundo conhecido. A parte do mundo que tá conseguindo fazer diferente é distorcida, não faz parte do mundo conhecido senão pelas lentes de distorção espalhadas em todo o canto. Um Estado realmente a serviço da sua população é o terror das elites dominantes. Mas os tempos andam e as coisas mudam, a blindagem das informações tem vazamentos e cada vez mais. Esse é um caminho importante, central, as comunicações.

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  6. Dia 1 de dezembro: Todos a Saen Pena pra denunciar bem alto mais essa injustiça!

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  7. É impressionante como, em vários textos seus, você se utiliza do termo "empresários manipulam o governo" ou coisas do tipo. Você acha mesmo que políticos são pessoas naturalmente boas e se corrompem, e são pessoas que só pesam no bem estar geral e não em fins próprios. Não é nada disso. É mais que sabido que políticos - talvez especiamente aqui- pensam em si mesmo, e no curto prazo do período eleitoral de campanha. Isso é um problema SISTÊMICO do próprio estado, não do setor privado.Isso não interessa à ninguém além de grandes empresários e políticos. Também não á nada que o liberalismo defenda, mas justamente o oposto. Se um empresário ver que pode fazer lobby(mais barato) com o governo, em vez de investir na empresa, o que acha que ela irá fazer? esse é o problema quando o governo seleciona "campeões"(leia-se financiadores de campanha) por critérios não muito óbvios(são amigos do rei) no mercado. Veja o bndes financiando grandes empresários com bilhões e bilhões de reais( e eles , além de não precisarem, também financiaram campanhas, e aumentaram seus lucros assustadoramente, curioso). No mercado, os campeões aparecem pelo critério da eficiência - entregar melhores produtos/serviços a um preço menor. Essa simbiose nefasta entre estado e grandes empresários possui inclusive o nome de capitalismo de compadres - para isso sugiro que leia o livro "capitalismo de laços". E, repito, não é nada que um liberal defenda, pois é o oposto da livre concorrência no mercado. Uma provável solução para isso: menos poder arbitrário ao estado e reforma política (financiamento público de campanha)

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  8. "Você acha mesmo que políticos são pessoas naturalmente boas e se corrompem, e são pessoas que só pesam no bem estar geral e não em fins próprios." Eu, hein... fale por si, não por mim. Eu não penso nada disso. O que vejo é que a relação estabelecida entre o poder econômico e o poder público subalterniza os políticos e dá preferência aos corruptos. O BNDES financia as empresas financiadoras de campanhas eleitorais porque esse é o acerto entre eles - olha Belo Monte aí, sendo feita apesar das denúncias, dos protestos, das condenações por organismos internacionais inclusive da ONU. As empreiteiras construtoras são financiadoras de campanhas eleitorais estabelecidas e dominantes. As instituições são subalternas aos políticos que são subalternos aos seus financiadores. É uma equação bastante simples, mesmo pra um artista de rua sem qualificação como eu. O governo não seleciona "campeões" (acredito que a referência é aos grandes empresários, pra mim campeões em desumanidade), ao contrário, são eles que escolhem os governos e, na dúvida, investem em campanhas opostas pra que, quem quer que ocupe os cargos "públicos" tenha o rabo preso em suas mãos. O foco da luta anti-corrupção são os corruptores, presença constante, acima dos corruptos, presença flutuante. Os corruptores não são eleitos, formam dinastias e compram políticos a cada mandato, alguns mantidos por vários mas cuja ausência não afeta o esquema, pois são substituíveis em caso de serem desmascarados. Corruptor é função passada de pai pra filho, nessa dezena de famílias que dominam nossa sociedade e fazem nosso inferno cotidiano definindo políticas "públicas" na verdade privadas, por trás de um cenário que simula uma democracia, farsa que se desmoraliza apenas ao observar os abismos sociais, as periferias, a massa amorfa e acéfala construída pelo seqüestro dos poderes estatais, estaduais e municipais.

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  9. Bacana, trazer índios de outras regiões a partir do momento em que ouviram falar que haveria uma Copa e que o Maracanã sediaria um dos eventos. Quem move essa campanha é o Comitê Popular da Copa, do PSOL, criado para fazer oposição aos eventos programados para ocorrerem no Brasil em 2014 e 2016. A idéia é criar oposição a toda obra, inventando um modo de mobilizar a população, mesmo que seja por factóides e mentiras. O Museu do Índio foi transferido para Botafogo em 1978 e está em pleno funcionamento em um imóvel, este sim, tombado. O prédio do antigo museu foi cedido à companhia estadual de abastecimento e depois ficou abandonado, sendo ocupado por mendigos. Usar a identidade indígena como modo de mover protestos políticos é apropriação de identidade alheia. Os poucos índios que hoje moram ali provavelmente recebem algo para estarem ali. Enquanto o museu estava invadido por moradores de rua e depredado, ninguém se preocupava com ele. Bastou anunciarem a Copa ... para virar ponto de polêmica e campanha na rede.

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    1. "Trazer índios" é interessante. Quem você acha que trouxe índios? E qual o interesse nisso?

      O imóvel tem história e é dos povos originários, mesmo. Pesquise e verá. Sua opinião demonstra muita ignorância a respeito do assunto.

      Cê deve assistir e acreditar na globo. Só assim posso entender suas opiniões.

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    2. "Provavelmente recebem algo para estarem ali" é uma afirmação triste. Vai lá pra ver, parceiro, e perceber a merda que cê tá falando.

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