segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Chega de "que país é esse?"!

Acho que devíamos trocar a expressão "que país é esse?", quando nos deparamos com ações aparentemente absurdas dos serviços públicos, por outras como "que Estado é esse?" ou "que sociedade é essa?" ou "isso é serviço público?"
Talvez assim se pudesse perceber que o aparato público de administração do Estado mentirosamente democrático foi seqüestrado por poderes econômicos. E é um punhado de podres de ricos, parasitas sociais, quem manda na porra toda. Construíram uma fachada de democracia e manobram nos bastidores pra manter miséria, pobreza, ignorância, desinformação, exploração e altos lucros em cima do sacrifício de direitos constitucionais da população como um todo.
O país não é feito dessa corja minoritária e seus servidores, somos mais de 200 milhões nesse território chamado Brasil, nós é que somos esse país e esse país não é essa vergonha que o administra. Acordando, percebemos. Percebendo, mudamos de atitude. Mudando de atitude, em sentimento, pensamento e comportamento, muda o mundo.
Os serviços públicos não são uma merda por "descaso" ou "incompetência". A medicina lucrativa - laboratórios farmacêuticos e procedimentos da indústria médica - e os planos de saúde impõem um sistema público deterioriado, incapaz, sem recursos, congestionado. Banqueiros, mega-empresários e mercadores da educação impõem a ignorância, a desinstrução, impedindo investimentos numa educação de qualidade pra todos. A estrutura social precisa de ignorância pra se manter. As comunicações concentradas em mãos empresariais garantem a desinformação, a distorção da realidade, a condução da mentalidade geral e da opinião pública. O transporte ferroviário ficou restrito a cargas por ser barato, acabaram com o transporte de passageiros pelo mesmo motivo, por ser barato. E foi substituído pelo transporte rodoviário, que consome muito mais coisas, entre combustíveis, borrachas e toda uma gama de produtos.
O lucro é mais importante que a vida. As forças de segurança são treinadas pra fazerem exatamente o que fazem. Não há nenhum absurdo nisso, a meu ver, é parte da estratégia de domínio e controle social por esses poucos, que investem nas campanhas políticas e lucram com o patrimônio e os direitos públicos, comandando as políticas públicas em seu benefício, como é de se esperar.E que tá na cara de qualquer um que tenha olhos de ver, estampado à nossa volta, no comportamento dos agentes ditos públicos, no trato das instituições com a população.
Absurdo é perceber isso tudo e não mudar completamente de valores e comportamentos, de desejos e objetivos de vida. Esquecer a idéia de competição e adotar a de cooperação, entender o egoísmo plantado, o confronto induzido, a desqualificação das melhores intenções pela mídia e deixar de ser teleguiado, pois esse teleguiamento nos leva ao vazio, ao engano, à frustração, às falsas vitórias.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Alguns pensamentos esporádicos que pude anotar nesses dias... achei agora aqui.

Disseram que o mundo era uma arena competitiva, um mundo cruel onde vence o mais forte. Tive medo, tive raiva, competi, perdi, ganhei, comecei a ficar forte e ganhar mais. Até ser natural ganhar. Então percebi a tristeza dos vencidos. Não gostei de produzir este sentimento. Acabou minha alegria. Ganhar incomodou. Que valor tem a alegria da vitória, se ela é construída em cima da tristeza dos vencidos? Não gostei e não quis mais. Mentira. O mundo não é um campo de batalha. E os meus irmãos não são meus inimigos. Não quero a derrota de ninguém, não quero competir. Não preciso vencer na vida, preciso mesmo é viver. E a idéia de vencer, na verdade, me inferniza a vida. Desde aí, nunca mais pretendi vitória nenhuma. E minha vida ganhou paz e fluxo, se mostrou como um manancial de ensinamentos, de aprendizados, de ganhos que se dividem sem diminuir, ao contrário, essa riqueza se multiplica quando é dividida.  
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Como quando se trata com uma pessoa mentirosa, depois que percebi a quantidade de mentiras que a sociedade me conta, deixei de acreditar no que ela me diz. É convenção, desconfio. Vem de instituições, não acredito. Há sempre interesses por trás. Sempre? Não, há exceções. Mas a regra é essa. Que se desenvolva o discernimento pra perceber. Aí há um trabalho interno. Somos prisioneiros cotidianos de valores fabricados e falsos, de comportamentos induzidos, de objetivos que não satisfazem o espírito humano e de uma vida vazia de significado além da forma, da matéria, da superfície.
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A freqüência pessoal determina simpatias e antipatias pela vida, sintoniza pessoas e acontecimentos, influencia sentimentos e situações. Esta freqüência é emanada por cada um, permanentemente, com as variações de momento, mas com a base pessoal, única, formada por temperamento, visão de mundo, caráter, desejos, sentimentos, conceitos, valores, pelo corpo abstrato do ser, de cada indivíduo. Sintonizamos a nossa freqüência e a realidade que vivemos se faz a partir daí. Como disse Einstein, “isso não é filosofia, é física”. (28.12.15)
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Quem pretende vencer, pretende a derrota de outros. Não é um bom desejo pra se abrigar. Assim se estabelece a sintonia da disputa, do confronto, do conflito. Esta é a forma de relação induzida e estimulada por este modelo de sociedade que se alimenta de exploração, angústia, miséria, ignorância, abandono e sofrimento. Uma estrutura social que nos atira uns contra os outros, em busca de vitórias enganosas da forma sem conteúdo, sacrificando a alma em nome do falso vencer pra poucos, da derrota pra muitos e pro inferno pra todos. E que culpa as próprias vítimas.  (28/12/15)
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A sociedade está tão impregnada de valores falsos quanto cada um de nós. Quem quiser pensar em mudanças sociais deve olhar pra dentro de si mesmo, enxergar seus próprios condicionamentos e trabalhar o próprio íntimo, nos padrões impostos pelo incessante massacre escolar, cultural, artístico, comportamental – em todas as áreas da sociedade. As reformas íntimas são fundamentais nas reformas sociais. Sem elas, toda contestação é falha, fraca, carente de verdade. E os contestadores – se dizem “revolucionários” – exercem plenamente os condicionamentos esterilizantes, orgulhos e vaidades, sentimentos de superioridade, compulsão ao confronto, ao conflito, visão superficial, alcance socialmente nulo – como vemos já há séculos. Vivem isolados em seus pequenos grupos, cheios de bandeiras e arrogância, incapazes de falar a língua geral, de se misturar com a população, de servir de informações e conhecimentos que são intencionalmente vetados à maioria. Acreditam que o fato das pessoas não serem acadêmicas as torna “ignorantes”, convenção imposta e esterilizante, desunião estratégica e planejada. Esses “revolucionários” acabam, no final das contas, servindo à fachada de uma falsa democracia, que os aponta como prova de que o sistema é democrático, “eles podem falar assim porque estamos numa democracia” e é uma grossa mentira. Eles podem falar assim porque não têm poder de mobilização, de conscientização, de contaminação. E porque servem ao cenário construído pra enganar o povo, sem nem perceber, acreditando que estão fazendo “a revolução”. Repito, a revolução interna, íntima, com base no tripé profundidade, sinceridade e humildade, é fundamental pra uma verdadeira revolução social. (28/12/15)
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Quando digo que as instituições estão infiltradas, influenciadas e dominadas pelo poder real sobre a sociedade; que o controle dos poucos podres de ricos está estabelecido e não há caminho institucional pras mudanças necessárias; que o próprio Estado está seqüestrado e voltado contra a população sempre que os interesses econômicos o obrigam; aí alguns perguntam, "então qual é a saída, qual é a solução?"

Não há solução nem saída. O que há é o caminho e caminhamos nele. Podemos escolher como caminhar, mas costumamos caminhar como nos mandam, como nos induzem, como nos condicionam e nos fazem crer que é melhor. Mentiras interesseiras nos conduzem. E, quando nos revoltamos, há modelos de revolta programados. Levamos os condicionamentos à frente, em iludidas lutas por mudanças. Não estamos em tempos de luta, as lutas são programadas pelo sistema pra se manter. Estamos em tempos de serviço, de trabalho, de instrução, de informação, de conscientização. Lutar é uma ancestralidade a ser superada na evolução humana, como tantas outras foram, são e serão, mas o sistema incita a competição, o confronto, a disputa, estimula e atiça ao máximo - pela mídia avassaladora e seu massacre publicitário, pelo modelo de educação enquadrador, pela arte e pela cultura em geral, transformadas em produtos de consumo e celebrismos. O confronto é fácil pro controle do sistema social. O domínio dos parasitas podres de ricos não teme o confronto, o aparato da segurança pública taí pra isso. O que essa corja teme, e treme de pavor e ódio, é a instrução, a informação, a solidariedade, a autonomia, a tomada de consciência, o esclarecimento e a união dos povos. Esse é o trampo, desde muito antes de nascermos e até muito depois de morrermos. É preciso dar sentido à vida e o caminhar é permanente. (5.1.16)


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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Estrutura dominada – a raiz pessoal


A mineradora que infestou de lama tóxica, rejeitos da mineração carregados de metais pesados, toda a maior bacia hidrográfica do sudeste brasileiro, afirma que a lama é inerte e inofensiva, diante de toda destruição de vida que ainda continua matando mar adentro. Os governos fecham escolas públicas, superlotando as unidades restantes e arrasando qualquer possibilidade de ensino que mereça esse nome pra população. Ao mesmo tempo, constroem presídios que, na certeza da superlotação pela ausência de formação profissional, pela criação de mais e mais miséria e exploração da pobreza que aumentam e continuam aumentando a criminalidade, já estão sendo privatizados pra que as prisões em massa, planejadas, gerem lucros empresariais. Não se fala na previsível explosão da criminalidade na região destruída, onde centenas de milhares de família simplesmente perderam suas fontes de sobrevivência e não têm como se manter. É possível crer que ficarão todos conformados com a miséria, com a fome e o abandono? O que me parece é que o evento se encaixa no planejamento carcerário “nacional”. Também não se fala no câncer anunciado pelo contato direto com os metais pesados dos rejeitos da mineração. O Estado e a empresa, com seus laboratórios de análises químicas, dizem que a lama é inerte e inofensiva à saúde, ao contrário de todos os exames independentes que foram feitos indicarem alarmantíssimos índices de contaminação de um monte de metais pesados, que entram pela pele, se alojam em várias partes do corpo e, em alguns anos, aparecem como tumores cancerosos, problemas neurológicos e tantos mais. Os laboratórios farmacêuticos e a indústria da medicina lucrativa esfregam as mãos, sorrindo.

As delegacias de crime contra o patrimônio demonstram que a vida vale bem menos que o patrimônio, se comparadas às delegacias de crimes contra a vida. As ciências exatas são as mais consideradas, as que recebem mais investimentos, em detrimento das ciências sociais, relegadas a um segundo plano de importância na sociedade humana, reduzidas ao plano assistencialista nos âmbitos oficiais. Os sinais estão aí, escritos à nossa volta.

Recebi um comentário falando da situação atual, “decepcionante”. É comum essa reação entre os que se deixavam enganar e vão tomando consciência da realidade ao mesmo tempo em que percebem as mentiras de que foram e são vítimas desde que começaram a pensar. Um pensamento acomodante e amedrontado que senta e lastima. Respondi.

“A situação atual é esclarecedora sobre todas as situações que existiram na história do nosso povo. É preciso enxergar a realidade antes de pensar em mudá-la. Na verdade nascemos em um mundo em constante mutação e a vida é nossa participação no processo. Consciente ou inconscientemente participamos todos da permanente mutação, que vem de sempre e irá adiante depois da saída de cada um de nós. Ninguém vai mudar o mundo, pois este muda independente de qualquer um. O que se pode é escolher como participar do processo e é aí que está a dificuldade. Escolhemos o que queremos ou o que somos levados, induzidos a querer? Sentimos por conta própria? Enxergamos com nossos próprios olhos ou com as lentes impostas por uma educação falsa ou enquadradora, por um massacre midiático-publicitário que usa conhecimentos profundos sobre o psiquismo humano?

Depois, continuei refletindo.

O aparato induzidor da realidade social em que vivemos está enraizado em toda a estrutura social, a partir do inconsciente coletivo, o inconsciente individual de cada um de nós em média, na formação do modo de vida que vemos normalizado, no tipo de relações entre as pessoas, entre nós e o meio em que vivemos. Valores sociais e pessoais, objetivos de vida, desejos cotidianos, comportamentos são criados em laboratórios de pensamento e impostos sedutoramente, impositivamente pela mídia, essencialmente concentrada em mãos empresariais - e comandada por cabeças empresariais, é preciso lembrar. A televisão fala com as pessoas na sua intimidade, especializada em tocar e conduzir sentimentos, visão de mundo, em alienar as mentalidades, em.condicionar comportamentos, em criar valores falsos, em acomodar e paralisar as consciências.

Os políticos são comprados a peso de ouro de acordo com sua importância e influência, em financiamentos de campanha, apoio midiático e facilidades milionárias, leis são feitas de acordo com interesses empresariais, direitos trabalhistas são violados, direitos humanos, básicos, constitucionais são ignorados por um Estado dominado, seqüestrado pelo poder econômico de bancos e mega-empresas. As ações dos poderes públicos são claramente contra a população toda vez que interesses econômicos determinam. Comunidades são expulsas de seus locais de origem, desabrigados perambulam pelas ruas, a miséria e a pobreza criando violência e criminalidade, o desatendimento dos direitos aceito como inevitável, “no caminho do desenvolvimento econômico e tecnológico” e ninguém fala em desenvolvimento moral, humano, social. Aliás, não sei se vão concordar comigo, a palavra “social” muitas vezes é dita entre a ironia, o deboche e o desprezo – sentimentos induzidos. A mesma distorção foi feita com a expressão “direitos humanos”, sinonimizado com “defender bandidos”.

As universidades sofreram um grande expurgo, verdadeira caça, durante a cara militar da ditadura, com o exílio, a prisão, a perseguição, a tortura e a expulsão das melhores cabeças, as mais sensíveis, as mais humanizadas e interessadas no desenvolvimento de uma sociedade justa. Essa dizimação intelectual das academias abriu espaços enormes no quadro de professores dos cursos superiores, faltavam mestres, os melhores. Isso foi “resolvido” estrategicamente, com a formação, pelo Instituto Ford – envolvido no golpe –, de professores universitários, no atacado, com a mentalidade empresarial, cérebros lavados e enxaguados pra atacar o estado e exaltar a qualidade e a eficiência das empresas como modelo ideal de sociedade, senão o único possível. Aos poucos as empresas foram se infiltrando no ensino superior e hoje ditam regras, valores, comportamentos profissionais desumanizados no serviço prioritário do lucro, do ganho pessoal, da competitividade desenfreada, do mundo apresentado como uma arena de guerra onde vencem os melhores e os perdedores merecem as agruras da miséria, da pobreza, da exploração e do abandono, enquanto o luxo e a ostentação nojenta de privilégios se apresenta como sinal de sucesso, de eficiência, demonstração de competência. As ciências sociais são vistas como menores, a pesquisa é exaltada e enaltecida, tendo a parceria e o investimento empresarial – em troca de conhecimentos exclusivos e patentes – enquanto a extensão... bem, quem é universitário e tá inteirado, sabe. O tripé “ensino, pesquisa e extensão” foi desequilibrado em favor dos interesses empresariais. O que inclui a manutenção da ignorância, da desinformação, da alienação, da “educação” enquadradora e condicionante, do consumismo como valor pessoal e social, do inferno pra maioria.

A parada é uma rede complexa, insidiosa, infiltrada desde as instituições públicas, governos, legislaturas, até o íntimo de cada um de nós, pelos condicionamentos do inconsciente, passando pelos detalhes das relações sociais e humanas. Superioridades e inferioridades são implantadas, invisibilidades sociais, competitividades, vaidades, egoísmos são estimulados ao máximo, a restrição da solidariedade é apresentada como única possível. O linguajar acadêmico, o academês, serve de cerca de arame farpado pro conhecimento ficar restrito aos iniciados, ao grupo restrito que será usado na administração da estrutura social, minoria pra comandar e controlar a maioria, com direitos respeitados e privilégios graduais. Com o preço, claro, dos medos inerentes a essa classe, num mundo de pobreza, miséria e conseqüente criminalidade, da queda no padrão, sob pressão de cobranças e ameaças, de angústias e frustrações pessoais, de turbulências espirituais e de consciência, sobretudo pros mais sensíveis, mais honestos e bem intencionados.

Assim, o acadêmico é levado a um sentimento condicionado de superioridade quando, a meu ver, deveria perceber que está tendo acesso a conhecimentos que são negados à grande maioria da população – e é um direito constitucional. Além do mais, a própria universidade depende dessas vítimas pro seu funcionamento, sem o que não teria condições de existir. E as explora socialmente, com salários que não permitem uma vida digna, impondo e se valendo da inferioridade e invisibilidade social ostensiva, no quadro de degradação social em que vivemos. De um lado, a superioridade, do outro a inferioridade, ambos condicionamentos sociais a serem percebidos e superados, tanto individualmente em primeiro lugar, tornando a vida melhor, mais em paz, quanto coletivamente, por conseqüência e nunca antes – quando certamente seria ilusão, como já se provou em sistemas que se pretenderam socialistas. As pretensões acadêmicas de superioridade, de melhor preparo, de direito ao comando, esbarram na realidade. Tudo depende de pobres.

Não se pode comandar, conduzir, ensinar, aqueles de quem se depende. É preciso servir. Dos conhecimentos que são seu direito roubado pelo próprio Estado. Falo de vítimas de crimes sociais, não de necessitados, ignorantes ou inferiores. É preciso aprender com a vivência social dos considerados de baixo, com a sabedoria adquirida na prática cotidiana de uma sociedade que persegue e discrimina, que seduz pro consumo e nega condições econômicas de consumir – um convite ao crime -, que violenta no trabalho, no transporte, no trato com qualquer setor público do estado, seja escola, hospital, qualquer repartição públicas. Se há exceções, apenas confirmam a regra e basta observar pra perceber razões – políticas, econômicas ou cenográficas – pra qualquer uma delas. É preciso servir os conhecimentos acadêmicos e colher os da sabedoria popular – rotineiramente ridicularizada nas academias, em clara estratégia de separação. Socialmente, interessa muito mais misturar esses conhecimentos, retirando os interesses empresariais dos estudos – pois o que não dá lucros, ou os diminui, não interessa, ainda que favoreça às populações, o que tampouco interessa.

Por isso o brasileiro é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo e não há no Estado nenhum apoio à agricultura orgânica, familiar, não há reforma agrária, nem incentivo à produção de alimentos livres de químicas nocivas à saúde humana e ambiental. As indústrias alimentícia, de pesticidas e venenos agrícolas, sobretudo as de trangênicos, com o apoio e a adesão do agronegócio (e da mídia, sempre), impõem o comportamento do poder público e impedem a divulgação da realidade do câncer e tantas outras doenças provocadas pelo agrotóxico em milhões de pessoas, bilhões entre os que plantam e os que comem, de tantas nascentes e mananciais contaminados. A saúde não dá lucro. O que dá lucro é a doença. Então os laboratórios farmacêuticos e a indústria da medicina se infiltraram nas escolas de medicina, na formação dos médicos que, hoje, se reduziram a receitadores de remédios e de procedimentos em máquinas. Mal tocam nos pacientes, preferem tocar nos exames e seguir o que está escrito nos compêndios médicos impessoais, receitando remédios mesmo desnecessários, quando há acordos com laboratórios e prêmios por vendas.

Também a saúde pública é precarizada, abandonada pelo Estado em condições de penúria, por força e influência de planos de saúde e das empresas da medicina lucrativa, a quem interessa uma saúde pública apavorante. Há planos de saúde populares pra aplacar o medo. Financiamentos de campanhas eleitorais garantem sabotagens políticas e supressão de verbas, tanto pra saúde pública quanto pra educação e outros “gastos” sociais.

A educação pública, sabotada como é, serve pra criar ignorância, enquanto tortura alunos, professores e funcionários com permanente falta de verbas e condições de ensino mínimas. É preciso manter farta a mão de obra barata, ignorante, desinformada, conduzível, condicionável, fácil de enganar. Já a educação particular, destinadas às camadas da classe média, tem como função formar os diversos níveis dessa classe nas hierarquias da estrutura e, por conseqüência, nas hierarquias sociais, desde as supervisões e gerências até as diretorias e altos cargos, tanto civis quanto militares. É impedida a visão da sociedade como um todo harmônico, onde a solidariedade seja estimulada, a instrução seja qualificada pra todos, as comunicações sejam pulverizadas em todos os espaços públicos. Onde prevaleça a cooperação e não a competição.

É proibido denunciar o porquê de tanta injustiça, ignorância, miséria e criminalidade. É preciso vencer na vida, ser melhor que os demais, o mundo é assim, a pobreza é inevitável e é culpa dos pobres, infelizmente, o máximo a fazer é enriquecer pra ser caridoso.

O trabalho é um sacrifício necessário. Ensinam isso pras crianças quando elas entram na escola, ávidas pelo prazer e divertimento em aprender e lhe ensinam que o prazer ficará pra hora do recreio, pros fins de semana, pros feriados e férias. Ao contrário da sua prática cotidiana até ali, as crianças devem saber agora que aprender não pode ser um prazer, mas uma responsabilidade, séria e ameaçadora. As avaliações são periódicas e o proveito medido em notas. É a preparação pro mercado de trabalho. Viver nas horas vagas, trabalho é sacrifício, tortura, sofrimento. Por isso a sexta-feira é tão ansiosamente esperada e a segunda é fonte de depressão. Por isso os feriados, as férias, as horas vagas se tornaram válvulas de escape das pressões que se convencionou aceitar no trabalho. Por isso se toma tanto anti-depressivo, pra alegria dos laboratórios farmacêuticos. Por isso o consumo compulsivo foi passível de ser implantado como um alívio pros sacrifícios da vida – um proveito empresarial pra angústia e uma forma de esterilizar arte e cultura, elementos potencialmente subversivos, transformando em produtos e criando celebridades, tanto na arte quanto na cultura, pra serem vendidos como mercadorias.. E se faz a marginalização das formas populares não controladas de cultura e arte. As controladas são desconteudizadas e apresentadas como folclore. Arte mesmo é a européia – ou estadunidense, sua decorrência.

Outro foco de sujeição social é a subalternização da mentalidade, do conhecimento, da cultura ao padrão estadunidense e europeu, branco, melhor se louro e de olhos azuis. É a imposição do colonizador, a inferiorização do dominado. Por quê a Grécia é vista como o berço da filosofia nas academias, se a Índia e a China, apenas como exemplo, tinham códigos filosóficos formados e sociedades organizadas sete e dez mil anos antes, quando na região da Grécia os hominídeos ainda batiam pedras e esfregavam paus pra acender fogueiras? Houve muitas outras civilizações e formulações filosóficas antes, mas a filosofia grega é a base da filosofia vigente. Criação de subalternidade. Imposta, assimilada e reproduzida no cotidiano, no dia a dia, em valores, comportamentos e créditos. Pra aceitação da exploração pelos superiores. O resultado é uma sociedade inferiorizada, fragilizada diante dos interesses banqueiros e mega-empresariais e dominadas por elites locais subalternizadas. Em todos os setores, inclusive e sobretudo os estratégicos.

É preciso ver que o poder político, as instituições públicas, a administração ainda chamada de “pública” não representa o público, a população brasileira, mas sim os interesses de um punhado de podres de ricos que se impõem a uma estrutura construída pra ser controlada, dominando a sociedade. Assim o Estado se tornou um criminosos contra seu próprio povo, roubando os direitos constitucionais mais básicos, fundamentais e humanos da grande maioria, em defesa e a serviço dos lucros astronômicos daquele punhado de parasitas das multidões. É preciso perceber que a política partidária não tem condições de oferecer resistência ao poder vigente, o econômico, porque foi construída conforme os mesmos interesses, com todos os recursos pra impedir as ações efetivas de atendimento e respeito aos direitos de todos. Financiamento de campanhas e controle das comunicações (com a mídia privada) num ambiente de ignorância e desinformação são a garantia da manutenção desse modelo criminoso. No máximo se consegue denunciar – alguns dons quixotes que conseguem furar o controle eleitoral, solitários e isolados nos parlamentos ou furiosamente atacados e difamados pela mídia, quando no executivo, como Brizola e Luiza Erundina, entre outros –, sem repercussão jornalística, os crimes cometidos por governantes e legisladores comprados, sob o silêncio estrondoso da mídia.

A raiz primeira desta situação está, volto a afirmar, dentro de cada um de nós, ainda que pareçamos insignificantes no oceano populacional e na complexidade estrutural. É possível e necessária a mudança interna, a percepção da própria vontade bloqueada por vontades artificiais, dos próprios valores influenciados pelos trabalhos permanentes de formação ideológica, desde as escolas infantis, fundamentais, de ensino médio e superior até o massacre midiático-publicitário permanente, nos meios de comunicação e em toda parte onde vamos ou passamos, em bombardeio constante e profundo. Essa mudança interna, trabalho permanente, é que se reflete pra fora, na coletividade, com a eficiência do exemplo, da prática de outros valores e comportamentos. Não há como pensar numa verdadeira mudança desta estrutura pra outra mais solidária, humana, igualitária, sem esse trabalho interno eliminando preconceitos, valores, comportamentos padrão e criando valores de integração e serviço, com base no respeito e no afeto, no interesse do bem estar coletivo e da harmonia social.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.