Dez guerras, dez mentiras
1) Vietnã (1964-1975)
Mentira midiática: Nos dias 2 e 3 de agosto o Vietnã do Norte teria atacado dois barcos dos Estados Unidos na baía de Tonkin.
O que se saberá mais tarde: Esse ataque não aconteceu. Foi uma invenção da Casa Branca.
Verdadeiro objetivo: Impedir a independência de Vietnã e manter o domínio dos Estados Unidos na região
Conseqüências: Milhões de vítimas, malformações genéticas (agente laranja), enormes problemas sociais.
2) Granada (1983)
Mentira midiática:: A pequena ilha do Caribe foi acusada de que nela se construía uma base militar soviética e de trazer perigo à vida de médicos americanos.
O que se saberá mais tarde: Absolutamente falso. O Presidente Reagan inventou esses pretextos.
Verdadeiro objetivo: Impedir as reformas sociais e democráticas do premiê Bishop (depois assassinado)
Conseqüências: Brutal repressão e restabelecimento da tutela de Washington.
3) Panamá (1989)
Mentira midiática: A invasão tinha o objetivo de prender o presidente Noriega por tráfico de drogas.
O que se saberá mais tarde: Formado pela CIA o presidente Noriega reclamava a soberania ao fim do acordo do canal, o que era intolerável para os Estados Unidos.
Verdadeiro objetivo: Manter o controle dos Estados Unidos sobre essa estratégica via de comunicação.
Conseqüências: Os bombardeios dos Estados Unidos mataram entre 2 e 4 mil civis, ignorados pelos meios.
4) Iraque (1991)
Mentira midiática: Os iraquianos teriam destruído parte da maternidade da cidade de Kuwait.
O que se saberá mais tarde: Invenção total da agência publicitária Hill e Knowlton, paga pelo emir de Kuwait.
Verdadeiro objetivo: Impedir que o Oriente Médio resista a Israel e se comporte com independência em relação aos Estados Unidos.
Conseqüências: Inumeráveis vítimas da guerra, depois um longo embargo, inclusive de medicamentos.
5) Somália (1993)
Mentira midiática: O senhor Kouchner aparece na cena como herói de uma intervenção humanitária.
O que se saberá mais tarde: Quatro sociedades americanas tinham comprado uma quarta parte do subsolo somali, rico em petróleo.
Verdadeiro objetivo: Controlar uma região militarmente estratégica.
Conseqüências: Não conseguindo controlar a região os Estados Unidos a manterão num prolongado caos.
6) Bósnia (1992-1995)
Mentira midiática: A empresa americana Ruder Finn e Bernard Kouchner divulga a existência de campos de extermínio sérvios.
O que se saberá mais tarde: Ruder Finn e Kouchner mentiram. Eram apenas campos de prisioneiros. O presidente muçulmano Izetbegovic o admitiu.
Verdadeiro objetivo: Quebrar uma Iugoslávia demasiado esquerdista, eliminar seu sistema social, submeter a zona às multinacionais, controlar o Danúbio e as estratégicas rotas dos Bálcãs.
Conseqüências: Quatro atrozes anos de guerra para todas as nacionalidades (muçulmanos, sérvios, croatas). Provocada por Berlin, prolongada por Washington.
7) Iugoslávia (1999)
Mentira midiática: Os sérvios cometem um genocídio contra os albaneses do Kosovo.
O que se saberá mais tarde: Pura e simples invenção da OTAN como o reconheceu Jaime Shea, seu porta-voz oficial.
Verdadeiro objetivo: Impor o domínio da OTAN nos Bálcãs e sua transformação em polícia do mundo. Instalar uma base militar americana no Kosovo.
Conseqüências: Duas mil vítimas dos bombardeios da OTAN. Limpeza étnica de Kosovo pelo UCK, protegido pela OTAN.
8) Afeganistão (2001)
Mentira midiática: Bush pretende vingar o 11 de setembro e capturar Bin Laden
O que se saberá mais tarde: Não existe nenhuma prova da existência dessa rede. Além disso, os talibãs tinham proposto extraditar Bin Laden.
Verdadeiro objetivo: Controlar militarmente o centro estratégico da Ásia, construir um oleoduto que permitisse controlar o abastecimento energético do sul da Ásia.
Conseqüências: Ocupação extremamente prolongada e grande aumento da produção e tráfico de ópio.
9) Iraque (2003)
Mentira midiática:: Saddam teria perigosas armas de destruição, afirmou Colin Powell nas Nações Unidas, mostrando provas.
O que se saberá mais tarde: A Casa Branca ordenou falsificar esses relatórios (assunto Libby) ou fabricá-los.
Verdadeiro objetivo: Controlar todo o petróleo e chantagear seus rivais; Europa, Japão, China…
Conseqüências: Iraque submerso na barbárie, as mulheres devolvidas à submissão e ao obscurantismo.
10) Venezuela – Equador (2008?)
Mentira midiática: Chávez apoiaria o terrorismo, importaria armas, seria um ditador (depois do golpe fracassado, a razão definitiva ficou meio vaga).
Verdadeiro objetivo: As multinacionais querem seguir com o controle petroleiro e de outras riquezas de toda América Latina, temem a libertação social e democrática do continente.
Conseqüências: Washington empreende uma guerra global contra o continente: golpes de estado, sabotagens econômicas, chantagens, estabelecimento de bases militares próximas às riquezas naturais.
Fonte - Blog do Mello blogdomello.blogspot.com
Agora é por minha conta.
Manifestação pelas eleições diretas lota o centro de São Paulo. A mídia diz que é a comemoração do aniversário da cidade. Motivo: medo da "democracia" planejada se descontrolar e abrir espaço pras denúncias do sem número de crimes cometidos pelas instituições contra a população.
Terremoto no Haiti. A primeira "ajuda" oficial chega no dia seguinte, dos Estados Unidos. Não traz remédios nem médicos, mas soldados, armas, tanques, navios de guerra e aviões de combate, numa mobilização militar que demorou, com certeza, meses sendo preparada. Desconfia-se do Projeto Haarp, a mídia ridiculariza.
A Venezuela havia acertado com Cuba a instalação de um cabo submarino para internet banda larga chegar à ilha, boicotada há 50 anos pelo bloqueio criminoso que pretendia sufocar a economia de Cuba. Esta, mesmo sacrificada, manteve as empresas multinacionais fora da sua área e não permitiu a lavagem cerebral que é especialidade da publicidade comercial. O Haiti fica entre Cuba e Venezuela, eixo de resistência ao controle de grandes empresas sobre os Estados submetidos. Os USA, império das corporações, não se conforma e acusa o "eixo do mal" latinoamericano.
Médicos e enfermeiros cubanos já estavam no Haiti havia muito tempo e recebem reforços depois do terremoto, via marítima. A mídia não divulga. Aviões com ajuda humanitária vindos da Europa reclamam não poder aterrissar no aeroporto de Porto Príncipe, tomado pelas movimentações militares dos Estados Unidos. São obrigados a pousar na República Dominicana e seguir por terra. O general brasileiro comandante da MINUSTAH (embolação militar de vários países instalada no Haiti, depois do presidente eleito, Jean Bertrand Aristide, ser seqüestrado pelos marines e levado à África do Sul, sob o protesto em massa dos haitianos, que precisaram ser reprimidos com violência militar), reclama do desrespeito "americano", chegando sem aviso e se espalhando sem dar a menor satisfação. Não entendo a estranheza, a quarta frota desfila pelo nosso litoral, nos vigiando em nome do ambicionado pré-sal petroleiro. A mídia não deu nada disso e quando deu, foi distorcido em mentiras descaradas.
Prefeito do Rio, eleito por campanha milionária financiada em grande parte por construtoras, assume com a notícia da remoção de 199 comunidades pobres, "para salvá-las dos riscos de desabamentos". As comunidades protestam em desespero. As áreas apontadas são todas de recente valorização imobiliária. A mídia apóia e comemora.
Durante a campanha presidencial, a mídia levanta e martela o tema aborto. O assunto é da alçada do congresso, sem nada a ver com a presidência. Mas serve à tentativa de levantar a campanha do Serra, candidato das oligarquias mais conservadoras, mais tiranas e anti-população. É um desvio dos assuntos mais importantes, mas fracassa. A mídia silencia e se adequa. Dilma vai à Ana Maria Braga.
A conferência nacional de comunicações passa batido, no ano passado. Acompanho algumas movimentações, os representantes da mídia privada comparecem para atravancar o processo, e conseguem. Visito o blog da conferência e fico constrangido. Pouco mais de vinte seguidores. O assunto é de interesse nacional, a pulverização do espectro magnético é fundamental pra acabar com a ditadura midiática e levantar discussões relevantes e informações mais próximas da realidade à população, abrir espaço pra comunicação do povo brasileiro nas comunidades, bairros, sindicatos, escolas e outros grupos. Os enviados da mídia privada atravancam tudo o que podem, com sucesso. O noticiário não noticia.
A mídia histérica saltita em torno da CPI dos "cartões corporativos", denunciando o mau uso das verbas públicas pelos membros do governo do PT, somando um montante de 260 milhões de reais. São dois meses de martelação, todos os dias, várias vezes. Ao mesmo tempo é instaurada a CPI da dívida pública, criada e aumentada de forma suspeita e nunca auditada. Em todos os lugares do mundo onde houve auditoria de dívida pública, houve comprovação de fraude e a dívida foi tremendamente reduzida, inclusive no Brasil, na época de Getúlio Vargas. Por isso as forças econômicas mundiais e locais se levantaram, a mídia fechou o cerco em cima dele e tantas pressões se levantaram que, na iminência de um golpe de Estado, ele se suicidou, desfazendo as condições para tal golpe, que ficou na estufa por dez anos, até estourar em 64. A CPI da dívida pública tratava de um montante de 26 bilhões de reais. A mídia não deu nada. Dessa CPI, não se tomou conhecimento. Foi a óbito silenciosamente.
As comunidades do Complexo do Alemão são ocupadas por tropas armadas do Exército, da Marinha e das polícias, militar, civil e federal. A mídia exulta com a "reconquista" desse território abandonado desde sempre, que só recebe alguma coisa em véspera de eleições, em troca de votos. Centenas de soldados do tráfico são vistos fugindo por uma estrada que liga a Vila Cruzeiro ao Morro do Alemão. Uma operação dessa envergadura é feita com planejamento minucioso sobre um mapa detalhado da área, conhece-se de antemão todas as possíveis rotas de fuga. O general comandante reconhece a "falha". Na verdade, não havia como levar tantos presos ao sistema carcerário já superlotado. Os bandidos somem nos esgotos, fogem em bandos, roubam carros. Um morador avisa que um carro da polícia da região dos lagos deu fuga a vários "oficiais" do tráfico. Outro denuncia uma caminhonete que descarregou armamento pesado para o tráfico, durante o conflito. Morros em Niterói que nunca tiveram tráfico começam a ter. Macaé explode em criminalidade, encabeçando o aumendo de toda região dos lagos. A mídia dá por encerrado o conflito no Alemão, enquanto a Angutv, do Raízes em Movimento, na subida do Morro do Alemão, anuncia estar havendo tiroteio naquele momento, próximo ao centro cultural. Policiais espancam moradores, invadem suas casas, esvaziam suas geladeiras, levam seus pertences, seu dinheiro, matam "por engano"(ops, foi mal), jogam corpos aos porcos. A mídia comemora, o mercado imobiliário exulta, milícias avisam aos moto-táxis que eles vão ter que pagar pedágio pra circular no complexo. Uma facção criminosa é expulsa - pois se recusou a pagar aluguel de favela pra milícia. Outra ocupará o seu lugar, topou a parada e já paga o aluguel de algumas favelas, onde trafica sob a proteção e o comando de milícia. A mídia "não sabe" de nada disso.
Os exemplos são infinitos, paro pra não encher demais o espaço. O fato da mídia privada cometer e apoiar tantos crimes contra a população, o Estado, os recursos naturais, o direito de informação, etc, e não acontecer nada com ela é sinal de que está mancomunada com o real poder, acima das instituições do país, o poder econômico mundial de bancos e indústrias corporativas do "primeiro mundo", suas sucursais e aliados locais, que nos tratam, aos povos do "terceiro mundo", como mão de obra escrava, massa de manobra e lixo (qual seria o "segundo mundo"?) Essa subordinação dos "nossos" poderes precisa ser vista pra ser trabalhada e debelada, pra acabar com a indignidade da miséria e da ignorância. A subalternidade cultural das classes médias é um fator paralisante. Até mesmo os que se dizem "revolucionários" são seguidores de idéias européias, como se apenas do continente que levou o genocídio, a exploração, as doenças, o roubo dos recursos, a miséria estrutural a todos os outros continentes pudesse vir a revolução dos povos. É de chorar, mas eu fico no riso amargo e faço meu trabalho. Para gerações ainda vindouras e as exceções da atualidade.
Ninguém denuncia a mídia privada. E ainda se acredita nela. Até quando, divindade?
OBSERVAR E ABSORVER - observareabsorver.em@gmail.com - Pra ver o trabalho, com dimensões e preços, clique no link abaixo de "Ver o trampo".
terça-feira, 3 de maio de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
"Uma breve noção da dimensão humana" ou "o ridículo do orgulho e da superioridade"
O cara dá bem a nossa dimensão humana. E demonstra a pequeneza do pensamento convencional, o ridículo do sentimento de superioridade, o primarismo do preconceito e a precariedade das "verdades".
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Correntes de mentiras
Já nascemos envolvidos em mentiras. Desde cedo nos acostumam. Bicho-papão, homem de areia, ladrões de crianças, figuras utilizadas pra controlar crianças pequenas através do medo – tática que se estende por toda a vida, mudando as formas. Imagens falsas, como o coelho que dá ovos de chocolate, ou a figura da maldade e indiferença ao sofrimento em nossa sociedade, a do papai noel, excrescência vestida com as cores da Coca-cola que induz ao consumo compulsivo, na época do Natal – outra mentira, esta da igreja cristã, pra fazer frente às festas do solstício, no norte da Europa -, ensinando a fazer o bem por interesse nos prêmios e evitar o mal por medo do “castigo”, em franco egoísmo. Como fazem as igrejas cristãs, sem nenhuma preocupação real com o próximo (falo apenas das instituições), além da teoria – ou diriam aos ricos que se contentassem em ser menos ricos para que não houvesse abandonados e explorados na sociedade.
São aceitos como naturais os abismos sociais - econômico, educacional, informacional, de cidadania e dignidade, de direitos e oportunidades. Amarga mentira. Esses abismos são artificiais, construídos a partir de cima, para permanecer por cima. Por cima mesmo dos governos, da política e da mídia, que constrói com a maior competência as mentiras nas quais acreditamos. A população precisa acreditar, para se deixar conduzir a sustentar e manter todo esse esquema perverso contra si mesma.
Porque é a população quem sustenta com os impostos e trabalho, quem constrói ruas, prédios e calçadas, quem instala, carrega, levanta, derruba, atende, transporta, serve, limpa, cozinha, desentope, manobra, conserta e põe a mão na massa. E é explorada e desprezada, em nossa estrutura social. Roubada em seus direitos básicos e conduzida a desejos de consumos e privilégios superficiais, alienada e narcotizada pela mídia. A parte mais indispensável, mais necessária à sociedade, é exatamente a mais maltratada, a mais perseguida, a mais explorada. E em caso de inconformação, reprimida com desrespeito e violência. Não são claros os motivos de tanta mentira? Sem ricos, a sociedade poderia ser menos injusta. Sem pobres, seria impossível. São eles a base de apoio.
Impede-se o desenvolvimento do espírito humano, pois ameaçaria o controle dos poucos dominantes sobre a sociedade. E as hipocrisias seguem, junto com a vida. A maior parte das pessoas, abestalhada entre os entretenimentos e os desejos de consumo, tem sua atenção conduzida pela mídia para longe da política – apresentada como um mundo incompreensível entre a falcatrua de muitos e o heroísmo duvidoso de poucos, a hipocrisia de muitos e a honestidade de poucos -, com algo de repulsivo, criando um clima de assunto chato, incômodo, repetitivo, no qual é desagradável pensar.
Não é à toa. Nesse mundo, o político, se manobram as marionetes do poder, se articulam os interesses das grandes empresas, se negocia com o patrimônio público. O poder econômico local (industriais, latifundiários e outros empresários "de peso"), sócio menor e servidor de gigantescas transnacionais estrangeiras e nativas, controla o aparato público, as instituições, infiltra-se no Estado através das forças políticas, compradas com financiamentos de campanhas. A partir daí, se espalha nos poderes da república em variadas relações, no judiciário, nas estatais, nos serviços públicos, nas empresas prestadoras de serviços. A coisa pública, os bens públicos, o dinheiro público, controlados por interesses privados, fazendo fachada de democracia - só se for a "cracia do demo". Esse é o mundo dos crimes contra a humanidade, do roubo dos direitos básicos à maioria da população para privilegiar essa minoria de serviçais de luxo - que fazem pose de "superiores"- e gerar ganhos além da nossa imaginação para os pouquíssimos realmente poderosos – acima até dos Estados nacionais, a ponto de controlar as políticas públicas. Os povos precisam estar de alguma forma narcotizados, precisam ser ignorantes, desinformados, enganados, para se deixarem conduzir. Simples. Destrói-se o ensino público, controla-se o ensino particular, domina-se a mídia e o trabalho está feito. Fácil, quando se tem o governo, legisladores, altos postos do judiciário e a mídia na mão. E a garantia das forças de segurança, públicas e privadas.
Dizem que o mundo é uma guerra, a vida é uma competição e que todos são adversários, em suas áreas. Mentira. Somos irmãos seguindo a aventura da vida, nos desenvolvendo e procurando formas de resolver nossos problemas, solidariamente. Somos gregários, precisamos de harmonia, não de competição. A mídia é que nos instiga uns contra os outros, com a idéia furada de “vencedor” e “perdedor”. Nossa união apavora seus patrões. E a eficiência é tanta que mesmo entre os que se dizem revolucionários se vêem esses padrões de comportamentos e valores. Passar da competição à cooperação é um degrau da evolução humana.
Dizem que felicidade é consumir, é desfrutar e usufruir de luxo e fartura. Mentira. O mais próximo de felicidade que temos é gostar e ser gostado, é abraçar e ser abraçado, é se sentir útil à coletividade, é beneficiar os demais e confraternizar com todos, aprender e ensinar, ajudar e ser ajudado. A mídia nos induz ao consumo egoísta, ao isolamento, condiciona o valor de ser humano à posse, ao poder econômico, ao nível de consumo, e as pessoas se sentem inferiorizadas ou superiorizadas, conforme esses padrões, se envergonham ou se orgulham por esses fatores externos. Induções. Os valores reais são abstratos, estão no ser, não no ter.
É o consentimento geral o que sustenta essa estrutura. A crença nas mentiras plantadas. Acreditamos e reforçamos as correntes da nossa própria escravidão. Cada um de nós consente, em maior ou menor grau, esse estado de coisas. Cada um de nós pode começar o trabalho em si mesmo, que vai encontrar o que fazer, se for sincero consigo e tiver humildade pra encarar as próprias falhas e condicionamentos. De dentro de si é que o trabalho de mudança externa ganha força, na profundidade das raízes, da sinceridade do sentimento. Pois é do trabalho interno que emanará a força avassaladora de uma verdadeira revolução. Cada revolucionário precisa começar o seu trabalho em si mesmo. Ou será mais um desses superficiais e arrogantes, intolerante e conflituoso, pronto a usar os recursos convencionais dessa estrutura doente, ou apenas reforçará a imagem do revolucionário chato, incômodo e indesejável.
Ninguém pode se dizer isento de induções inconscientes. Desde pequenos recebemos cargas maciças de publicidade – televisão, rádio, autidórs, folhetos, jornais, revistas, nos ônibus, trens, barcas, metrôs, nos telefones, em cartazes pela rua, na repetição dos refrões das propagandas. E dali não vêm apenas produtos e desejos de consumos. Embutidos, estão valores sociais e pessoais, objetivos de vida e esperanças, criminosas mentiras detalhadamente preparadas pelas empresas (publicitários, marqueteiros e até psicólogos, sociólogos, pedagogos e advogados) e implantados pela mídia.
Cabe a nós destruir essas correntes, desacreditando-as dentro de nós mesmos e, a partir daí, contagiar à nossa volta, até onde pudermos alcançar. Nós, os que enxergam as correntes, os que não acompanham o gado e não se deixam enganar tanto, os que nos debatemos contra as pressões e lutamos por uma sociedade menos injusta, menos perversa e menos suicida. E mais humana, mais solidária, mais cuidadosa e sincera com todos os seus membros. Enfim, uma sociedade livre das garras de elites, a serviço de todos.
Eduardo Marinho
sexta-feira, 1 de abril de 2011
As laranjas da Cutrale e o MST, ainda
Escrito feito a pedido de Fabio da Silva Barbosa (www.rebococaido.blogspot.com) - eu havia conversado com ele sobre o assunto, na última mesa de bar entre nós, comentando o absurdo de comentários nos meus textos, citando as mentiras da mídia como verdades, derramando ódio contra o MST, ódio plantado pelas elites, através da mídia e seus profissionais altamente qualificados e (mais altamente, ainda,) remunerados. Mentiras, distorções, omissões, classismos, preconceitos... acredita quem quer, quem precisa e quem não tem condições de pensar por si mesmo.
O assunto é velho. Mas me chega, vez por outra, como comprovação do “banditismo” do MST. Na época, procurei me informar, da maneira que costumo, sem interferência da minha vontade em qualquer resultado. Desde que tive contato com acampamentos, assentamentos e pessoas desse movimento, nos encontros e manifestações, simpatizo de verdade com a rapaziada do MST. Com relação à direção, não posso negar minha antipatia por figuras messiânicas que ostentam a posse de “verdades”, ou com posturas omissas, até coniventes, com políticas públicas nocivas à população em geral, com base em razões “estratégicas” impossíveis de compreender, diante do cenário de barbárie social que nos envolve. Mas as minhas restrições ao comportamento das “direções” de movimentos organizados é de ordem muito diferente das posições da mídia, que refletem o conservadorismo raivoso dos beneficiários da miséria e da ignorância, produzidas pela estrutura da sociedade.
Bem, voltando ao assunto, soube que as terras em questão, desde 1910, foram declaradas terras devolutas (não me lembro por que razões jurídicas, pesquise quem estiver interessado na verdade dos fatos, não quem quiser sustentar suas conveniências, ideológicas ou materiais – esses, não há fatos, verdades ou revelações que convençam) e postas à disposição da União. O departamento jurídico do MST, na década de 90, entrou com uma ação reivindicando a área devoluta para efeito de reforma agrária, o assentamento de famílias sem terra, para a produção de alimentos e subsistência dessas famílias. Mas o processo emperrava. Interesses latifundiários da região entravavam o andamento do processo. A rejeição compulsiva dessa classe à proximidade dessa coletividade de pobres, que não reconhecem o seu lugar subalterno e tem o atrevimento de reivindicar direitos constitucionais, se demonstra no ranço e no esforço permanente em rechaçar tudo o que venha daí ou favoreça “essa gentinha”.
No final dos noventa ou começo deste milênio, a Cutrale – empresa pertencente à Coca-Cola - reivindicou a área ao governo. Seus advogados entraram na justiça com essa finalidade. Um acampamento de famílias sem terra havia sido montado, com suas lonas pretas, ao lado das terras em questão, enquanto esperavam a decisão da justiça, até então tida como certa, pra se iniciar um assentamento dessas famílias. Um belo dia, sem aviso ou decisão judicial, apareceu um grupo de homens fazendo uma cerca em torno das terras. Um grupo armado e hostil a qualquer aproximação das pessoas que procuravam saber a razão daquilo, quem autorizara o cercamento. Sob ameaças, cercaram tudo e montaram a “segurança”, pra garantir a manutenção. As famílias, respeitando a lei, se sentiram ameaçadas em seus sonhos de viver e produzir ali.
O jurídico do movimento foi à justiça denunciar, mas nada foi feito para corrigir a situação. Tentava-se criar o “fato consumado”- elemento de peso em decisões judiciais – e, pra isso, foram plantados pés de laranja, produto que a Cutrale concentra para envio à sua empresa-mãe para a fabricação de refrigerantes. As pessoas acampadas foram obrigadas a ver os laranjais crescendo na sonhada terra, enquanto esperavam por uma decisão da “justiça”, que não viria.
Dois anos se passaram, as laranjeiras cresciam, sob o olhar preocupado dos acampados. Em assembléia, diante da possibilidade crescente de perder sua justa reivindicação, os sem terra decidiram ocupar o terreno, de acordo com o que tinham planejado para fazer o acampamento onde ficariam, até fazerem a divisão das terras por família, derrubando as laranjeiras daquele setor – afinal, argumentavam, nenhuma daquelas laranjas seria destinada à mesa dos brasileiros, a não ser depois de industrializadas como refrigerantes da marca estrangeira.
O que eles não sabiam era que a Cutrale esperava essa ação, articulada com mídia, armada de câmeras, para expor à execração televisiva como a “destruição de alimentos pelos bandidos do MST”, acrescentando tratores desmontados, por acréscimo à “ação criminosa” do movimento – curiosamente (ou sintomaticamente), nenhuma das câmeras captou imagens da desmontagem desses tratores. Integrantes do MST, que alegaram não possuir ferramentas próprias para esse trabalho, foram solenemente ignorados. A cobertura da mídia se impôs, embora a justiça, afinal, tenha dado ganho de causa ao MST. Pra isso, devem ter sido apresentadas provas contundentes, ou o juiz não teria coragem pra tanto, contra a elite dominante, local, nacional e internacional. O poder econômico não reconhece fronteiras, a não ser entre as pessoas menos ricas. E a mídia não disse nada a respeito.
Há dois tipos – pelo menos – de pessoas que podem contestar esses fatos. Os ingênuos, que acreditam que podem estar informados pelos jornais da mídia privada, que formam a massa jornalística brasileira e mundial, e os elitistas de má-fé, que põem acima da verdade os seus interesses e o ódio classista por qualquer movimento que defenda ou conscientize a população, por qualquer pobre que não traga em seu olhar, e comportamento, as características da subalternidade social imposta pela estratégia publicitária – numa sociedade de consumo, vale mais quem consome mais. Os ingênuos servem, inconscientes, como massa de manobra, aos interesses dos concentradores de rendas, riquezas e poder, na perpetuação do estado de barbárie em que se encontram enormes parcelas da população. Os elitistas dispensam apresentação, a não ser um sub-grupo interno, aqueles que acreditam na mídia por necessidade de acalmar a própria consciência, interferem com sua própria vontade em suas análises da realidade e chegam sempre às conclusões que lhes convêm. Se são sinceros, é assunto pra ser tratado por psicólogos, mas dos bons.
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No link abaixo, o último discurso de João Goulart, no comício da Central do Brasil, que serviu de estopim ao golpe de Estado preparado e almejado pelas elites, para combater a ascensão do povo ao papel de influenciador nas políticas públicas – o movimento golpista desenvolvido na época de Vargas, por conta do seu entrave às empresas estrangeiras e desenvolvimento de indústrias nacionais, por coronéis (vide o manifesto dos coronéis), e debelado pela morte do presidente, foi finalmente executado por generais, a maioria os mesmos coronéis, agora promovidos, dez anos depois.
O que Goulart fez e, sobretudo, o que ele disse que faria na seqüência, determinaram a data da sua queda – que aconteceria de qualquer maneira, não por ele, mas pela necessidade da classe dominante de conter a efervescência popular, a força dos sindicatos e associações, a crescente participação e consciência de parcelas da população antes mantidas sob controle, na ignorância e na alienação do seu destino. A ocasião pedia a quebra da legalidade para desmontar, violenta e ilegalmente, todas as organizações populares ou de reivindicação por justiça social e melhorias reais, em distribuição de rendas e riquezas, de direitos e oportunidades.
Observar o papel da mídia, na ocasião, destruiria qualquer ilusão de honestidade que se possa imaginar que esses veículos possuam, em compromisso com a verdade. O comportamento da mídia privada foi, e é, criminoso.
http://blogdomello.blogspot.com/2011/04/por-que-houve-o-golpe-o-que-defendia-o.html
O assunto é velho. Mas me chega, vez por outra, como comprovação do “banditismo” do MST. Na época, procurei me informar, da maneira que costumo, sem interferência da minha vontade em qualquer resultado. Desde que tive contato com acampamentos, assentamentos e pessoas desse movimento, nos encontros e manifestações, simpatizo de verdade com a rapaziada do MST. Com relação à direção, não posso negar minha antipatia por figuras messiânicas que ostentam a posse de “verdades”, ou com posturas omissas, até coniventes, com políticas públicas nocivas à população em geral, com base em razões “estratégicas” impossíveis de compreender, diante do cenário de barbárie social que nos envolve. Mas as minhas restrições ao comportamento das “direções” de movimentos organizados é de ordem muito diferente das posições da mídia, que refletem o conservadorismo raivoso dos beneficiários da miséria e da ignorância, produzidas pela estrutura da sociedade.
Bem, voltando ao assunto, soube que as terras em questão, desde 1910, foram declaradas terras devolutas (não me lembro por que razões jurídicas, pesquise quem estiver interessado na verdade dos fatos, não quem quiser sustentar suas conveniências, ideológicas ou materiais – esses, não há fatos, verdades ou revelações que convençam) e postas à disposição da União. O departamento jurídico do MST, na década de 90, entrou com uma ação reivindicando a área devoluta para efeito de reforma agrária, o assentamento de famílias sem terra, para a produção de alimentos e subsistência dessas famílias. Mas o processo emperrava. Interesses latifundiários da região entravavam o andamento do processo. A rejeição compulsiva dessa classe à proximidade dessa coletividade de pobres, que não reconhecem o seu lugar subalterno e tem o atrevimento de reivindicar direitos constitucionais, se demonstra no ranço e no esforço permanente em rechaçar tudo o que venha daí ou favoreça “essa gentinha”.
No final dos noventa ou começo deste milênio, a Cutrale – empresa pertencente à Coca-Cola - reivindicou a área ao governo. Seus advogados entraram na justiça com essa finalidade. Um acampamento de famílias sem terra havia sido montado, com suas lonas pretas, ao lado das terras em questão, enquanto esperavam a decisão da justiça, até então tida como certa, pra se iniciar um assentamento dessas famílias. Um belo dia, sem aviso ou decisão judicial, apareceu um grupo de homens fazendo uma cerca em torno das terras. Um grupo armado e hostil a qualquer aproximação das pessoas que procuravam saber a razão daquilo, quem autorizara o cercamento. Sob ameaças, cercaram tudo e montaram a “segurança”, pra garantir a manutenção. As famílias, respeitando a lei, se sentiram ameaçadas em seus sonhos de viver e produzir ali.
O jurídico do movimento foi à justiça denunciar, mas nada foi feito para corrigir a situação. Tentava-se criar o “fato consumado”- elemento de peso em decisões judiciais – e, pra isso, foram plantados pés de laranja, produto que a Cutrale concentra para envio à sua empresa-mãe para a fabricação de refrigerantes. As pessoas acampadas foram obrigadas a ver os laranjais crescendo na sonhada terra, enquanto esperavam por uma decisão da “justiça”, que não viria.
Dois anos se passaram, as laranjeiras cresciam, sob o olhar preocupado dos acampados. Em assembléia, diante da possibilidade crescente de perder sua justa reivindicação, os sem terra decidiram ocupar o terreno, de acordo com o que tinham planejado para fazer o acampamento onde ficariam, até fazerem a divisão das terras por família, derrubando as laranjeiras daquele setor – afinal, argumentavam, nenhuma daquelas laranjas seria destinada à mesa dos brasileiros, a não ser depois de industrializadas como refrigerantes da marca estrangeira.
O que eles não sabiam era que a Cutrale esperava essa ação, articulada com mídia, armada de câmeras, para expor à execração televisiva como a “destruição de alimentos pelos bandidos do MST”, acrescentando tratores desmontados, por acréscimo à “ação criminosa” do movimento – curiosamente (ou sintomaticamente), nenhuma das câmeras captou imagens da desmontagem desses tratores. Integrantes do MST, que alegaram não possuir ferramentas próprias para esse trabalho, foram solenemente ignorados. A cobertura da mídia se impôs, embora a justiça, afinal, tenha dado ganho de causa ao MST. Pra isso, devem ter sido apresentadas provas contundentes, ou o juiz não teria coragem pra tanto, contra a elite dominante, local, nacional e internacional. O poder econômico não reconhece fronteiras, a não ser entre as pessoas menos ricas. E a mídia não disse nada a respeito.
Há dois tipos – pelo menos – de pessoas que podem contestar esses fatos. Os ingênuos, que acreditam que podem estar informados pelos jornais da mídia privada, que formam a massa jornalística brasileira e mundial, e os elitistas de má-fé, que põem acima da verdade os seus interesses e o ódio classista por qualquer movimento que defenda ou conscientize a população, por qualquer pobre que não traga em seu olhar, e comportamento, as características da subalternidade social imposta pela estratégia publicitária – numa sociedade de consumo, vale mais quem consome mais. Os ingênuos servem, inconscientes, como massa de manobra, aos interesses dos concentradores de rendas, riquezas e poder, na perpetuação do estado de barbárie em que se encontram enormes parcelas da população. Os elitistas dispensam apresentação, a não ser um sub-grupo interno, aqueles que acreditam na mídia por necessidade de acalmar a própria consciência, interferem com sua própria vontade em suas análises da realidade e chegam sempre às conclusões que lhes convêm. Se são sinceros, é assunto pra ser tratado por psicólogos, mas dos bons.
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No link abaixo, o último discurso de João Goulart, no comício da Central do Brasil, que serviu de estopim ao golpe de Estado preparado e almejado pelas elites, para combater a ascensão do povo ao papel de influenciador nas políticas públicas – o movimento golpista desenvolvido na época de Vargas, por conta do seu entrave às empresas estrangeiras e desenvolvimento de indústrias nacionais, por coronéis (vide o manifesto dos coronéis), e debelado pela morte do presidente, foi finalmente executado por generais, a maioria os mesmos coronéis, agora promovidos, dez anos depois.
O que Goulart fez e, sobretudo, o que ele disse que faria na seqüência, determinaram a data da sua queda – que aconteceria de qualquer maneira, não por ele, mas pela necessidade da classe dominante de conter a efervescência popular, a força dos sindicatos e associações, a crescente participação e consciência de parcelas da população antes mantidas sob controle, na ignorância e na alienação do seu destino. A ocasião pedia a quebra da legalidade para desmontar, violenta e ilegalmente, todas as organizações populares ou de reivindicação por justiça social e melhorias reais, em distribuição de rendas e riquezas, de direitos e oportunidades.
Observar o papel da mídia, na ocasião, destruiria qualquer ilusão de honestidade que se possa imaginar que esses veículos possuam, em compromisso com a verdade. O comportamento da mídia privada foi, e é, criminoso.
http://blogdomello.blogspot.com/2011/04/por-que-houve-o-golpe-o-que-defendia-o.html
Sobre o tráfico internacional e a "guerra às drogas"
Publicado: 29 mar 2011
A CIA, agência de informações dos USA, ajudava o narcotráfico a encher seus cofres e realizar suas operações clandestinas, revelam documentos com selo federal estadunidense, trazidos a público por lei.
A história das relações entre a Agência Central de Inteligência (CIA) e o narcotráfico começou nos anos 70 e teve o seu ponto culminante na década de 90. Mais de oito mil documentos do governo federal revelados por conta do Ato de Informação Pública dão conta destes controvertidos vínculos. Informes da década de 80 mostram que, para contrabalançar a presença militar soviética no Afeganistão, os Estados Unidos gastaram mais de dois milhões de dólares no financiamento da resistência afegã, através dos cartéis das drogas. Os mesmos documentos indicam que a CIA também esteve envolvida com narcotraficantes latinoamericanos.
“No cenário estadunidense, o dinheiro da droga provinha do Cone Sul e se convertia em dinheiro legal em Wall Street. No cenário latinoamericano esse mesmo dinheiro, depois de “legalizado”, voltava à região em forma de fundos destinados ao paramilitarismo”, explica o ex-agente federal Michael Ruppert.
A desestabilização dos governos e revoluções na América Latina não eram os únicos objetivos da inteligência usamericana – também eram vítimas da CIA os movimentos sociais dos Estados Unidos. A agência buscava desacreditar os líderes das lutas pelos direitos civis, com a finalidade de prevenis transformações, no contexto ideológico, a integração racial, a justiça e outros âmbitos.
“O governo queria que atuássemos como mercenários, contra nossas comunidades. Eles nos utilizaram como jagunços (milicianos, paramilitares) para intimidar os radicais ou qualquer um que se opusesse ao governo federal”, lembra o imã (sacerdote muçulmano) Abdul Ali Mussa.
A seu tempo, os presidentes Ronald Reagan e George Bush (pai) promoveram a doutrina da “luta contra as drogas” mas, de acordo com os especialistas, este critério causou mais problemas que soluções.
Na opinião de Bruce Bagley, especialista em assuntos latinoamericanos da Universidade de Miami, a maior parte da luta contra as drogas pertence a uma estratégia falida – em vez de diminuir o narcotráfico, ao contrário, aumentou. Em países como a Colômbia e o México, a violência entre os cartéis causa milhares de mortes, a cada ano. E, nos Estados Unidos, o número de usuários de drogas aumentou. Além disso, a lavagem de dinheiro tem deixado marcas de corrupção e fundos de origem obscura por todo lado.
Por outro lado, os investigadores do assunto assinalam que, hoje em dia, as sofisticadas operações financeiras para ocultar os frutos da lavagem de dinheiro são um fenômeno constante. Estes procedimentos se valem de ferramentas tecnológicas, como a internet, para enviar fundos de uma conta a outra, sem controles ou restrições, assegurando, desta forma, a impunidade
A Comissão de Juristas para a publicação de informações sobre o tráfico de drogas estima que anualmente, nos USA, são “lavados” mais de cem bilhões de dólares procedentes das drogas. A documentação também sugere que uma boa parte da elite econômica, tanto na América Latina, quanto nos Estados Unidos, continua se beneficiando do negócio das drogas.
Fonte – http://actualidad.rt.com/actualidad/ee_uu/issue_22299.html
Tradução – Eduardo Marinho
A CIA, agência de informações dos USA, ajudava o narcotráfico a encher seus cofres e realizar suas operações clandestinas, revelam documentos com selo federal estadunidense, trazidos a público por lei.
A história das relações entre a Agência Central de Inteligência (CIA) e o narcotráfico começou nos anos 70 e teve o seu ponto culminante na década de 90. Mais de oito mil documentos do governo federal revelados por conta do Ato de Informação Pública dão conta destes controvertidos vínculos. Informes da década de 80 mostram que, para contrabalançar a presença militar soviética no Afeganistão, os Estados Unidos gastaram mais de dois milhões de dólares no financiamento da resistência afegã, através dos cartéis das drogas. Os mesmos documentos indicam que a CIA também esteve envolvida com narcotraficantes latinoamericanos.
“No cenário estadunidense, o dinheiro da droga provinha do Cone Sul e se convertia em dinheiro legal em Wall Street. No cenário latinoamericano esse mesmo dinheiro, depois de “legalizado”, voltava à região em forma de fundos destinados ao paramilitarismo”, explica o ex-agente federal Michael Ruppert.
A desestabilização dos governos e revoluções na América Latina não eram os únicos objetivos da inteligência usamericana – também eram vítimas da CIA os movimentos sociais dos Estados Unidos. A agência buscava desacreditar os líderes das lutas pelos direitos civis, com a finalidade de prevenis transformações, no contexto ideológico, a integração racial, a justiça e outros âmbitos.
“O governo queria que atuássemos como mercenários, contra nossas comunidades. Eles nos utilizaram como jagunços (milicianos, paramilitares) para intimidar os radicais ou qualquer um que se opusesse ao governo federal”, lembra o imã (sacerdote muçulmano) Abdul Ali Mussa.
A seu tempo, os presidentes Ronald Reagan e George Bush (pai) promoveram a doutrina da “luta contra as drogas” mas, de acordo com os especialistas, este critério causou mais problemas que soluções.
Na opinião de Bruce Bagley, especialista em assuntos latinoamericanos da Universidade de Miami, a maior parte da luta contra as drogas pertence a uma estratégia falida – em vez de diminuir o narcotráfico, ao contrário, aumentou. Em países como a Colômbia e o México, a violência entre os cartéis causa milhares de mortes, a cada ano. E, nos Estados Unidos, o número de usuários de drogas aumentou. Além disso, a lavagem de dinheiro tem deixado marcas de corrupção e fundos de origem obscura por todo lado.
Por outro lado, os investigadores do assunto assinalam que, hoje em dia, as sofisticadas operações financeiras para ocultar os frutos da lavagem de dinheiro são um fenômeno constante. Estes procedimentos se valem de ferramentas tecnológicas, como a internet, para enviar fundos de uma conta a outra, sem controles ou restrições, assegurando, desta forma, a impunidade
A Comissão de Juristas para a publicação de informações sobre o tráfico de drogas estima que anualmente, nos USA, são “lavados” mais de cem bilhões de dólares procedentes das drogas. A documentação também sugere que uma boa parte da elite econômica, tanto na América Latina, quanto nos Estados Unidos, continua se beneficiando do negócio das drogas.
Fonte – http://actualidad.rt.com/actualidad/ee_uu/issue_22299.html
Tradução – Eduardo Marinho
sábado, 26 de março de 2011
Eduardo Marinho fala sobre política, religião e outros temas
Entrevista feita por Eduardo Viana, Rafael Martins e Victor Belart. Faz parte de um documentário, em fase final de gestação, chamado "Escafandristas - cifrões, padrões e exceções". Apresenta as visões de artistas independentes, de vários ramos de atuação nas artes, sobre a sociedade e seus padrões impostos. Deve nascer até o final de abril. Se não sair até o final de maio, a gente faz uma cesariana neles. Eles apareceram lá em Santa, esperaram eu terminar de pôr os desenhos e me entrevistaram mais composto, de camisa. Foram quarenta minutos de idéia, de onde eles extraíram esse suco aí. Tô esperando pra ver o filme.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Quando o silêncio é necessário
Há coisas que devemos guardar só pra nós mesmos. Por muitos e variados motivos. É preciso ter muito critério. Aí existe uma encruzilhada, há dois troncos básicos, além de eu vislumbrar um terceiro – não posso dizer quantos há, só quantos percebo -, de menor importância nesta análise, digno de outra análise. As duas principais vertentes de motivos, pela gravidade das suas conseqüências, é como uma balança onde se pesam benefícios e malefícios. Há coisas que não se revelam porque poderiam causar perdas e danos, que trariam tudo de ruim e nada de bom – apenas a satisfação do orgulho com a humilhação de outros, ou interesses menores. Essas são claramente nocivas e evitáveis com o simples silêncio, e é necessário que assim o seja, pela harmonia. Há outras coisas que não se revelam porque poderiam acarretar prejuízos individuais ou a pequenos grupos, embora pudessem beneficiar a coletividade como um todo, ou ao menos estancar alguma sangria desatada na estrutura pública. Essas escondem o que causa sofrimento e injustiça e são um lastimável prejuízo interno, subjetivo, da alma dos beneficiários, dos mentores e dos executores. E uma demonstração de que a sociedade, como um todo, precisa despertar pra cuidar, não só do que é seu, mas do que é dos seus, das gerações passadas e, principalmente, das futuras, que ainda não tiveram a chance de participar do processo e vão receber as conseqüências da nossa inconseqüência social.
O terceiro tronco seria o “neutro”, entre aspas porque se trata da média, nesse tronco de motivos para segredo. Aí há dos motivos egoístas aos generosos. Uma complexidade enorme, de onde eu tô vendo agora, que fica pra outro escrito. Preciso terminar um quadro.
O terceiro tronco seria o “neutro”, entre aspas porque se trata da média, nesse tronco de motivos para segredo. Aí há dos motivos egoístas aos generosos. Uma complexidade enorme, de onde eu tô vendo agora, que fica pra outro escrito. Preciso terminar um quadro.
Sociedade Humana
Agora afirmam que a humanidade está destruindo o planeta. Socializam a responsabilidade. A natureza está sendo destruída, é verdade. Mas uns poucos destroem muito mais que a maioria. São os que estão por trás de grandes bancos, mineradoras gigantes e mega-poluentes, monstros da construção, barragens e transposições desastrosas ao meio ambiente e às populações locais, indústrias produtoras de descartáveis, que se tornam lixo tóxico de longa duração, indústrias químicas, as mais diversas, com resíduos contaminantes, sem falar nas assustadoras usinas nucleares, cujo lixo radioativo nós ainda não temos como tratar. E vêm dizer que quem está destruindo o planeta é o “ser humano”.
São esses poucos quem decide essa realidade, escondidos atrás e acima do poder aparente, o político. Investem nas campanhas eleitorais e têm os políticos como seus representantes no Estado; cooptam carreiras jurídicas, impõem seus protegidos aos cargos-chave da nação. Controlam as instituições públicas e, por extensão, os investimentos públicos. Educação, saúde, transportes, moradia, segurança, saneamento, cultura, informação, tudo é decidido de acordo com os interesses daqueles dominantes, menos de 0,5% da população. Daí a falta de decência dos serviços públicos, a aparente “incompetência” dos governantes e políticos em geral. Na verdade, estes são muito competentes, para o que foram realmente eleitos – e é claro que não o foram pra cumprir suas promessas de campanha.
Por isso o povo precisa estar alienado no processo, precisa acreditar que o poder político é o verdadeiro e não perceber porquê minorias desfrutam privilégios, ostentações e desperdícios, enquanto seus direitos, garantidos na própria Constituição do Estado, são negados pelo próprio Estado, sempre em benefício de empresas, enriquecendo mais os empresários que o controlam. É a contenção do “custo social”. Tudo em benefício das empresas, tanto maiores benefícios quanto maiores forem as empresas – para a população, as despesas cenográficas, os restos e os custos. E aos que não se contentam, a segurança pública. Todas as forças de segurança, militares ou não, em última análise, servem aos interesses empresariais e à contenção dos pobres. E a mídia privada ataca, em histeria raivosa, todo movimento popular que denuncie, reivindique ou conscientize.
Aliás, a mídia é o selo de ouro do esquema de controle social, a garantia de uma população infantilizada, superficializada, desinformada, conduzida a um modo de vida massacrante, frustrante, desumano. Com a destruição do ensino público, sem instrução, a maioria se deixa levar, desarmada de qualquer senso crítico, sem perceber que sua miséria, seu sofrimento, sua angústia, são o que sustenta esse sistema criminoso, essa brutal diferença entre os mais pobres e os mais ricos. As classes médias sofrem o assédio da publicidade frenética, direta e indireta, gerando valores sociais, desejos de consumo, objetivos de vida, tudo planejado e imposto de todas as maneiras por interesses de domínio, lucro e poder. Valores mesquinhos, consumos e entretenimentos narcotizantes e uma vida vazia de sentido.
Em suas ilhas e bolhas de luxo, excessos e ostentações, poucas pessoas escolhem a barbárie social e a impõem aos governos e aos povos, com suas corporações financeiras e transnacionais gigantescas, empresas “esmagadoras” que extraem o sangue e deixam só o bagaço. Isso lhes garante mais ganhos, mais poder, mais riquezas, enquanto a maioria é roubada em seus direitos e levada a uma existência sem dignidade, sem instrução, sem informação, sem acesso ao pleno desenvolvimento das suas potencialidades. Ao contrário, é levada a sustentar essa estrutura com os comportamentos, valores, desejos e objetivos impostos pela parafernália midiática.
Somos forçados a participar e contribuir com essa estrutura e mesmo sustentá-la. Pela indução, aproveitando a falta de instrução, de formação e de informação, pela imposição de valores sociais e pessoais, a partir mídia corporativa e pela pressão, psicológica ou física – quando as forças de segurança dão a última “palavra”.
Não posso respeitar uma sociedade estruturada dessa forma. Preciso questionar cada valor social e meu próprio, preciso duvidar de cada informação trazida por essa mídia privada/safada. E quanto mais ela se dedica a um assunto, mais desconfio dos interesses ocultos dos poderosos da sociedade.
A escravidão predominante de hoje é feita com correntes preparadas com mentiras, e nós as fazemos fortes acreditando nelas. Moldamos os valores, os comportamentos, os desejos, os objetivos de vida, nos baseando em mentiras – daí tanta angústia, tanta frustração e tanto desequilíbrio. Quando formos percebendo isso, vamos desacreditar e as correntes serão rompidas. Seu descrédito é a ferrugem que a corrói. O processo está em curso, mais e mais pessoas, a cada dia, se dão conta de que estão sendo enganadas. Que ninguém se iluda, é um processo longo e lento, embora incontrolável – mesmo com todo o aparato de controle. Participar dele é dar sentido à vida, na direção de uma vida menos insatisfeita e uma sociedade que, afinal, possa merecer com justiça o título de humana.
terça-feira, 22 de março de 2011
Paz em casa e pensamentos
Louça suja. De novo, a pia lotada. Antigamente isso não acontecia. Mas eles eram pequenos. Eu mandava, eles faziam. Depois, durante a adolescência, eu já tinha que pressionar, e quem fazia ficava de cara feia. Com o tempo, veio a resistência, deixa lá que depois a gente lava, e era um depois que nunca chegava. O estado natural da pia da cozinha, na maior parte do tempo, era entulhada. A não ser depois de discussões, de palavras ásperas, de acusações e cobranças, gritos e brigas. E não era só a louça, era a limpeza da casa, a balbúrdia dos quartos, eu tentava arrumar o meu e brigava pra que todos se esforçassem pra isso. Eu brigava com eles, eles brigavam entre si, e a casa, às vezes, era uma orquestra de gritos, bater de portas, barulhos de coisas caindo ou até batendo nas paredes. Pelo que percebi, quando eu não estava aconteciam brigas homéricas, há marcas pela casa toda. Bem, ninguém rolava pelo chão, se engalfinhando, não havia troca de sopapos, pelo menos isso. Ou isso era o que eu pensava. Mas era um inferno de discussões, ressentimentos, e foi assim, até que eles saíram, foram cuidar da vida e o clima aqui tava impossível. Dois anos passaram, e dois estão aqui (a do meio mora no império, aparece menos de uma vez por ano, o “racha” aconteceu depois que ela foi), de novo, agora um pouco mais amadurecidos, a casa tem ficado outra, e em paz, sem gritos ou insultos. O convívio está muito melhor. No início, estava impecável. Agora, já se bagunça um pouco, são roupas esquecidas na sala, brinquedos que não se recolhem (ah, não tinha contado com a neta), aparelhos ligados em vão, luzes acesas. E louça suja na pia da cozinha. Preciso fazer um chá de alho. Eu podia reclamar, mas só ia arrumar mal estar. O que eu quero? A pia da cozinha limpa e arrumada, o fogão limpo e a comida na geladeira. O que eu não quero? Raiva, grosserias e mal estar. Quando cheguei na cozinha, o Ravi tava perto e eu disse, pô não sei que dificuldade tem em lavar a louça. Deixa aí, depois eu lavo, ele diz, em voz baixa e casual, como se nunca tivesse falado isso, e sai, tranqüilo, na direção da sala. Eu dou uma risadinha mais interna que externa e chego na pia. Afasto as coisas, pego a tábua, escolho uns dentes de alho roxo pra amassar. Ponho água numa panela, depois de abrir espaço entre a louça, acendo o fogo pra ferver a água. Descasco o alho e faço virar quase uma pasta, na tábua. E vou pensando, como eles estão melhores agora, embora ainda relaxados demais, ela muito menos, mas ser mãe amadurece mais, e ainda não foi o suficiente. Mas isso se pode dizer que é uma necessidade de todo mundo. Não tô a fim de culpar ninguém. Se quero limpo, eu lavo. Não é tanta coisa assim. Antigamente era muito pior, cobria até a torneira, se esbarrasse caía coisa, essa de hoje, rapidinho, enquanto preparo o chá, fica tudo limpo. A água ferve, eu abaixo o fogo e levo a tábua até a panela, empurrando o alho com a colher. Percebo que se tivesse virado a tábua, o alho ficaria a três centímetros da beirada e seria muito mais fácil jogar na panela. Mas havia um desenho com duas retas levando, como um corredor, pra beira oposta ao cabo, e eu conduzi o alho por ali. Lembrei de como a gente se deixa conduzir pelo lado mais difícil, apenas por encontrar induções, criadas nessa intenção, mesmo. É só olhar em volta e perceber a infinidade de induções plantadas em nosso caminho e em todos os lugares e que, se analisarmos direitinho, nos trazem, e à sociedade, um monte de problemas. É muito bom percebermos essas induções e como tantas já não nos levam, quantos valores induzidos já não nos fazem o menor sentido. E descobrir a profundidade desses condicionamentos, como podem ser sutis a ponto de não percebermos o quanto há deles em nós, nas opiniões e visão de mundo que formamos. É preciso questionar nossas próprias idéias. Eu me deixei conduzir por dois traços feitos em cima da tábua, indicando a “saída”, e fiz o caminho mais difícil. Apago o fogo, cubro a panela com um pano dobrado e coloco a tampa por cima. O calor vai extrair do alho o que eu preciso. Enquanto isso, lavo a louça. Não é melhor que passar raiva? O ruim é que toda hora se deixa coisa suja. Mas é melhor lavar ou bater boca? Lavo, tranqüilo, enquanto o alho curte na água quente. Se eu insistisse em pressionar pra eles arrumarem as coisas, estaria incorrendo num velho erro. Eles têm senso de justiça latente. Acho que é só questão de tempo. Têm solidariedade, também. Às vezes tardia, mas têm – e quem não erra? Lavando, não estou só fazendo ficar limpo, como também mantendo o clima bom. Eles estão fazendo mais que antes, bem mais. Não podem é ser pressionados, nisso parecem comigo. Pressão, só de circunstâncias, não de circunstantes. A força das coisas, dos acontecimentos, não de pessoas. Exemplos, não palavras. As coisas vão ficar limpas. E o clima, tranqüilo. A vida ensina suavemente, quando a gente se dispõe a aprender. Ou asperamente, quando a gente não se dispõe.
domingo, 20 de março de 2011
O espetáculo da subalternidade
Toda a preparação oficial e a euforia dos meios de comunicação dominantes em nossa sociedade, diante da visita do “mandatário” imperial (que não manda nada), nos oferece um panorama constrangedor. Políticos historicamente alinhados aos interesses econômicos estadunidenses e outros nem tanto, prestam vassalagem ao poder das empresas multinacionais, simbolizados na figura da marionete e sua família, que fazem, simbolicamente, uma visita “familiar” à casa dos “amigos”. Posso ver, no escuro atrás e acima dessas figuras cênicas, as garras dos seus manipuladores, a partir das mega-petroleiras e de outras indústrias, como a de armamentos, a farmacêutica, a de alimentos transgênicos (leia-se “monopólios de sementes e alimentos”), etc.
Somos obrigados a assistir um show de idolatria planejada, de sujeição moral e ideológica à tirania mundial das grande empresas mundiais, poluidoras constantes e violadoras dos direitos humanos e de soberanias em países no mundo inteiro, através da bajulação do seu preposto e família.
Seria cômico, se não fosse trágico (devido à desinstrução e desinformação planejadas), ver esses jornalistas corruptos abanando os rabinhos, histéricos como cães à chegada do seu dono, fazendo-nos ouvir disparates como “neste dia tão especial dessa visita” e a referência ao motivo principal como “o lado empresarial da visita”, divulgando o cardápio do almoço com a presidente (eu escreveria “presidenta” se o masculino fosse “presidento”), comentando os vestidos e salamaleques rocambolescos nos palácios, longe do “fedor” do povo, nas cortes de ostentação e desperdício, de sujeição cultural e econômica.
É óbvio que o motivo principal e mal disfarçado dessa incursão “diplomática” é o mesmo que levou o império a invadir ilegalmente o Iraque e armar um furdunço do Oriente Médio. Petróleo. As jazidas do pré-sal, ainda não inteiramente divulgadas, apontam pra uma quantidade de óleo três vezes maior que todas as reservas brasileiras e de melhor qualidade. Um amigo petroleiro, que trabalha numa plataforma em alto mar, próximo ao litoral de Santos, há dois anos, contou ver a passagem diária de navios da 4ª Frota dos USA, desde que se descobriu o pré-sal e se reativou essa frota. A onda que invadiu a baía de Guanabara e danificou um catamarã, segundo consta, foi fruto de uma explosão de teste, feita no fundo do mar a partir de um porta-aviões estadunidense.
Os pretextos da “visita diplomática” e sua encenação midiática são uma afronta aos que pensam por si, nessa coletividade narcotizada por obra e graça da mídia, que conta com a política da deseducação para encontrar um povo desarmado de senso crítico. O Estado brasileiro é como um criminoso que mantém seu povo refém da ignorância e entregue aos manipuladores da opinião pública, altamente capacitados e remunerados. Ricos de grana, pobres de espírito. Onde está a dignidade de quem bajula os opressores de seu próprio povo?
O estupro da Cinelândia pôde ser evitado, não pelo discernimento das autoridades locais, eufóricas com a oportunidade de paparicar o "imperador", mas pela própria segurança estrangeira que, diante das reações nas ruas, percebeu que isso ia dar merda e que eles se arriscariam a matar alguns brasileiros, o que, no momento, não seria aconselhável, pois desmascararia a própria “visita diplomática para o estreitamento dos laços entre os dois países (Brasil e USA)”. Na verdade, os laços que eles pretendem apertar estão nos nossos pescoços brasileiros e, por extensão, latinoamericanos. E eles preferem matar no atacado, com alta tecnologia, do que no varejo, em denunciador conflito de rua num país dito "amigo". Os assassinatos de varejo seletivo são trabalho para a CIA, como fizeram com os cientistas nucleares iranianos, pela sucursal da CIA, o MOSSAD israelense.
Diante desse quadro, ainda temos a lastimar que os “nossos” revolucionários também são estrangeiristas que pretendem aplicar, aqui, modelos estrangeiros de revolução. Leninistas, trotskistas, stalinistas e demais marxistas têm, pelo brasileiro comum, o mesmo desprezo dos imperialistas. Caem na vala comum de responsabilizar as vítimas pela ignorância e desinteresse, pretendem “conduzir as massas”, como quem entrega pizzas, e não fazem nenhum movimento de real conscientização do povo. Têm medo de entrar nas áreas de exclusão, a não ser através de lideranças cooptadas por suas siglas e, absurdo dos absurdos, usam roupas, tênis e bolsas de marca. Que tipo de “revolucionário” é esse? Respondo: é do tipo vazio de substância e cheio de vaidades – almeja apenas a glória entre seus pares, que nem falar a linguagem da população sabem. Esses caras mais assustam do que cativam a população. E acabam, em seus arroubos agressivos, justificando o desenvolvimento e o recrudescimento dos aparelhos de segurança do Estado contra o povo, principalmente os pobres. Facilitam o trabalho da mídia em criminalizar os movimentos de contestação, reivindicação, denúncia ou defesa da maioria. O sistema adora esses "revolucionários" que, além de justificar medidas de contenção, ajudam a montar um cenário "democrático". Em Cuba eles não teriam essa liberdade, dizem os pilantras, os elitistas e os ingênuos que se informam pela mídia. Se não fosse uma auto-denúncia, agradeceriam a esse bando de otários, digo, a esses "revolucionários".
O lamentável espetáculo da subalternidade dos “dirigentes” e “comunicadores” da nossa sociedade me faz agradecer à pereba na perna e à encomenda de uma pintura (num momento em que estou em dificuldades) que, juntos, me fizeram desisitir de ir lá na Cinelância, assistir aos acontecimentos ofensivos à dignidade do meu país. Faltasse um dos dois e eu teria ido. Claro que eu teria me divertido, encontraria conhecidos velhos de guerra e distribuiria cartazes manifestando repúdio, tanto à visita da marionete quanto à posição colonizada dos pretensos representantes da sociedade. Mas, com certeza, na reflexão forçada pela travessia das barcas, choraria de tristeza.
Somos obrigados a assistir um show de idolatria planejada, de sujeição moral e ideológica à tirania mundial das grande empresas mundiais, poluidoras constantes e violadoras dos direitos humanos e de soberanias em países no mundo inteiro, através da bajulação do seu preposto e família.
Seria cômico, se não fosse trágico (devido à desinstrução e desinformação planejadas), ver esses jornalistas corruptos abanando os rabinhos, histéricos como cães à chegada do seu dono, fazendo-nos ouvir disparates como “neste dia tão especial dessa visita” e a referência ao motivo principal como “o lado empresarial da visita”, divulgando o cardápio do almoço com a presidente (eu escreveria “presidenta” se o masculino fosse “presidento”), comentando os vestidos e salamaleques rocambolescos nos palácios, longe do “fedor” do povo, nas cortes de ostentação e desperdício, de sujeição cultural e econômica.
É óbvio que o motivo principal e mal disfarçado dessa incursão “diplomática” é o mesmo que levou o império a invadir ilegalmente o Iraque e armar um furdunço do Oriente Médio. Petróleo. As jazidas do pré-sal, ainda não inteiramente divulgadas, apontam pra uma quantidade de óleo três vezes maior que todas as reservas brasileiras e de melhor qualidade. Um amigo petroleiro, que trabalha numa plataforma em alto mar, próximo ao litoral de Santos, há dois anos, contou ver a passagem diária de navios da 4ª Frota dos USA, desde que se descobriu o pré-sal e se reativou essa frota. A onda que invadiu a baía de Guanabara e danificou um catamarã, segundo consta, foi fruto de uma explosão de teste, feita no fundo do mar a partir de um porta-aviões estadunidense.
Os pretextos da “visita diplomática” e sua encenação midiática são uma afronta aos que pensam por si, nessa coletividade narcotizada por obra e graça da mídia, que conta com a política da deseducação para encontrar um povo desarmado de senso crítico. O Estado brasileiro é como um criminoso que mantém seu povo refém da ignorância e entregue aos manipuladores da opinião pública, altamente capacitados e remunerados. Ricos de grana, pobres de espírito. Onde está a dignidade de quem bajula os opressores de seu próprio povo?
O estupro da Cinelândia pôde ser evitado, não pelo discernimento das autoridades locais, eufóricas com a oportunidade de paparicar o "imperador", mas pela própria segurança estrangeira que, diante das reações nas ruas, percebeu que isso ia dar merda e que eles se arriscariam a matar alguns brasileiros, o que, no momento, não seria aconselhável, pois desmascararia a própria “visita diplomática para o estreitamento dos laços entre os dois países (Brasil e USA)”. Na verdade, os laços que eles pretendem apertar estão nos nossos pescoços brasileiros e, por extensão, latinoamericanos. E eles preferem matar no atacado, com alta tecnologia, do que no varejo, em denunciador conflito de rua num país dito "amigo". Os assassinatos de varejo seletivo são trabalho para a CIA, como fizeram com os cientistas nucleares iranianos, pela sucursal da CIA, o MOSSAD israelense.
Diante desse quadro, ainda temos a lastimar que os “nossos” revolucionários também são estrangeiristas que pretendem aplicar, aqui, modelos estrangeiros de revolução. Leninistas, trotskistas, stalinistas e demais marxistas têm, pelo brasileiro comum, o mesmo desprezo dos imperialistas. Caem na vala comum de responsabilizar as vítimas pela ignorância e desinteresse, pretendem “conduzir as massas”, como quem entrega pizzas, e não fazem nenhum movimento de real conscientização do povo. Têm medo de entrar nas áreas de exclusão, a não ser através de lideranças cooptadas por suas siglas e, absurdo dos absurdos, usam roupas, tênis e bolsas de marca. Que tipo de “revolucionário” é esse? Respondo: é do tipo vazio de substância e cheio de vaidades – almeja apenas a glória entre seus pares, que nem falar a linguagem da população sabem. Esses caras mais assustam do que cativam a população. E acabam, em seus arroubos agressivos, justificando o desenvolvimento e o recrudescimento dos aparelhos de segurança do Estado contra o povo, principalmente os pobres. Facilitam o trabalho da mídia em criminalizar os movimentos de contestação, reivindicação, denúncia ou defesa da maioria. O sistema adora esses "revolucionários" que, além de justificar medidas de contenção, ajudam a montar um cenário "democrático". Em Cuba eles não teriam essa liberdade, dizem os pilantras, os elitistas e os ingênuos que se informam pela mídia. Se não fosse uma auto-denúncia, agradeceriam a esse bando de otários, digo, a esses "revolucionários".
O lamentável espetáculo da subalternidade dos “dirigentes” e “comunicadores” da nossa sociedade me faz agradecer à pereba na perna e à encomenda de uma pintura (num momento em que estou em dificuldades) que, juntos, me fizeram desisitir de ir lá na Cinelância, assistir aos acontecimentos ofensivos à dignidade do meu país. Faltasse um dos dois e eu teria ido. Claro que eu teria me divertido, encontraria conhecidos velhos de guerra e distribuiria cartazes manifestando repúdio, tanto à visita da marionete quanto à posição colonizada dos pretensos representantes da sociedade. Mas, com certeza, na reflexão forçada pela travessia das barcas, choraria de tristeza.
quinta-feira, 10 de março de 2011
O garimpo humano
Temos do “demoníaco” ao “divino”, entre nós. E dentro de nós. Conheço trevosos e iluminados, anjos e demônios. Vi anjos virarem demônios e vice versa, conforme as circunstâncias. Todas a falhas que vemos pelo mundo estão dentro de nós, em maior ou menor grau, como árvore frondosa ou apenas semente, esperando a ocasião. As proporções variam do imperceptível ao impressionante, em incontáveis degraus.
A humanidade é um grande garimpo. O que aparece é lama, cascalho e pedra sem valor. No meio, de raro em raro, há pedras preciosas e pepitas, misturadas com tudo. Há quem desista, “ora aí só tem barro, que sujeirada”, logo de saída, ou depois de uma busca frustrante. Mas há quem se aplique, quem procure e encontre. É preciso educar os olhos, apurar os sentidos, pra perceber uma pedra de valor, uma pepita, envolvida na lama, no cascalho humano. Não é difícil, eu as tenho encontrado, sempre, em todos os meios e coletividades.
Claro que não são a regra geral. A sociedade será outra quando forem, pelo menos, minoria. São exceções à regra. Muitas se dedicam a trabalhos de conscientização, de ensino, de amparo, de apoio, de luta por melhorias de verdade, no ser humano e na sociedade. Outras não se dedicam diretamente, estão em toda parte, espalhadas, formando a sociedade como pessoas comuns, em todas as profissões. Essas iluminam aonde estão, questionando, propondo, exemplificando, sendo diferentes do "normal". A diferença está no olhar, na compreensão das coisas, da forma de reagir, de sentir, de atuar. Há quem esteja buscando, quem não se conforme, quem sofra com a discriminação inevitável numa sociedade onde a mediocridade, a mesquinharia, a conformação, a padronização ainda são as regras vigentes. Os contatos que valem a pena, da humanidade, são as exceções. Em geral, são pessoas que, quando andam com a corrente, se angustiam, sofrem. Pessoas para quem se conformar e reprimir as necessidades internas é adoecer a vida, é se tornar amargo, depressivo, mal-humorado, descrente de tudo.
Somos mesmo complexos e variados. Mas somos, também, ignorantes de nós mesmos. Cegos de consciência, tateamos no escuro, aprendendo com a dor, colhendo frutos que plantamos sem nem perceber. Aprender, essa é a tarefa. Pra isso existimos e é o que levamos da vida. Alguns sabem disso, outros sentem. Poucos, é claro. A maioria anda por aí, superficializada, induzida ao desinteresse, à inércia, ao seguir as ondas, sem perceber a fonte dos seus próprios valores, sem perceber os próprios condicionamentos, muitas vezes no cárcere da indiferença, do egocentrismo, do apequenamento do mundo. Essa maioria não pode entender a angústia, o vazio que assalta implacável, a cada silêncio, a cada encontrar consigo mesmo.
A preciosidade humana tem uma característica própria, única, e é o que me faz acreditar na diversidade infinita desse trabalho de lapidação. Diferente da preciosidade mineral, exclusiva, a preciosidade humana contagia. Uma luz pode acender várias, e essas passam a acender outras. A diferença entre uma pessoa iluminada e outra ignorante não é tão abissal quanto nos parece. Em essência, são a mesma coisa - às vezes, um leve toque produz o brilho. Taí o trampo, esse é o trabalho. Pra mim, é isso o que faz a vida valer a pena. Aprender e passar, deixar os toques pra que alguém os aproveite em seu trabalho/caminho. Não espero ver tudo pronto, do jeito que sonho. Mas preciso andar neste sentido. Não tenho a ingenuidade de plantar pra mim, planto pra dar valor à minha vida.
Nada é estático, tudo muda. Não há milênios pra trás? Também os há pra frente. As previsões apocalípticas visam desestimular qualquer movimento de mudança mais incisivo. Não há extermínio. Pode haver hecatombes, sim, mas não o extermínio. E se houvesse essa possibilidade, isso seria mais um motivo pra lutar. Sentar e se acomodar como os usufruintes alienados, não quero condenar ninguém, mas eu teria vergonha. De mim mesmo.
Prefiro tratar com pessoas que possuem algum terreno fértil em suas consciências, com essas dá pra trabalhar. E ajuda a fertilizar e desenvolver a minha própria, que é o que eu mais preciso. As mudanças, as revoluções, se fazem no dia a dia, internamente, sem detrimento das lutas externas, de grupo, dos posicionamentos, das manifestações e apoios solidários, das reivindicações justas, do esclarecimento cotidiano.
Nem todos estão acomodados. Nem todos almejam o desfrute e o prazer materiais como finalidade de vida. Nem todos se deixam condicionar por uma mídia tão poderosa que forma valores, costumes, opiniões, sempre em benefício de empresas e em detrimento do desenvolvimento real do ser humano e da sociedade. São poucos, ainda, é verdade. É um garimpo. Mas eu percebo a formação de muitos veios, espalhados por aí.
Um veio (vêio), no garimpo de minerais, é onde se encontram grande quantidades de pedras, ou ouro, num lugar só, a sorte grande do garimpeiro. No meio humano, já vi muitos veios preciosos, funcionando dentro da coletividade, de todos os tipos, formas e qualidades. Com o tempo, fui percebendo o fenômeno da evolução espalhada e, aparentemente, desconectada. O trabalho está sendo feito. Sem anúncio, sem alarde, em toda parte, em todos os níveis. Sem que se perceba e é bom que assim seja. A estrutura dominante está pronta pra esmagar qualquer ameaça de mudança, venha das ruas, dos grupos, dos gritos, através do terrorismo, do combate direto ou indireto, explosivos ou informações. Esse grande esquema só não está preparado pra consciência. Por isso tanto investimento em entretenimento, em condução da opinião pública, em idiotização, em infantilização pela mídia da mentalidade geral. Assim, roubam os direitos fundamentais da maioria e atiram grande parcela da população na ignorância, na pobreza e na miséria. O mandamento moral, agora, é conscientizai-vos uns aos outros. Esse é o trabalho que está sendo feito. Sem controle aparente, aparentemente espontâneo.
Participar desse trabalho é necessário a muitos dos que não se contentam com o que a sociedade apresenta como ideal de vida. Pros que não se deixam enganar e se sentem parte dessa coletividade narcotizada. Pros que não se identificam, nem se conformam com essa estrutura social injusta, mediocrizante, manipuladora, mentirosa e criadora de problemas pra esmagadora maioria. E o trabalho começa dentro. Os que se limitam a lutar por mudanças na sociedade, a partir do externo, não desenvolvem em si a força da mudança. Desistem ou se acomodam com a forma sem conteúdo da revolução sem raízes, com verdades impostas e subalternidade cultural.
As verdadeiras exceções estão aí, é um imenso prazer e um incentivo reconhecê-las, vez por outra.
A humanidade é um grande garimpo. O que aparece é lama, cascalho e pedra sem valor. No meio, de raro em raro, há pedras preciosas e pepitas, misturadas com tudo. Há quem desista, “ora aí só tem barro, que sujeirada”, logo de saída, ou depois de uma busca frustrante. Mas há quem se aplique, quem procure e encontre. É preciso educar os olhos, apurar os sentidos, pra perceber uma pedra de valor, uma pepita, envolvida na lama, no cascalho humano. Não é difícil, eu as tenho encontrado, sempre, em todos os meios e coletividades.
Claro que não são a regra geral. A sociedade será outra quando forem, pelo menos, minoria. São exceções à regra. Muitas se dedicam a trabalhos de conscientização, de ensino, de amparo, de apoio, de luta por melhorias de verdade, no ser humano e na sociedade. Outras não se dedicam diretamente, estão em toda parte, espalhadas, formando a sociedade como pessoas comuns, em todas as profissões. Essas iluminam aonde estão, questionando, propondo, exemplificando, sendo diferentes do "normal". A diferença está no olhar, na compreensão das coisas, da forma de reagir, de sentir, de atuar. Há quem esteja buscando, quem não se conforme, quem sofra com a discriminação inevitável numa sociedade onde a mediocridade, a mesquinharia, a conformação, a padronização ainda são as regras vigentes. Os contatos que valem a pena, da humanidade, são as exceções. Em geral, são pessoas que, quando andam com a corrente, se angustiam, sofrem. Pessoas para quem se conformar e reprimir as necessidades internas é adoecer a vida, é se tornar amargo, depressivo, mal-humorado, descrente de tudo.
Somos mesmo complexos e variados. Mas somos, também, ignorantes de nós mesmos. Cegos de consciência, tateamos no escuro, aprendendo com a dor, colhendo frutos que plantamos sem nem perceber. Aprender, essa é a tarefa. Pra isso existimos e é o que levamos da vida. Alguns sabem disso, outros sentem. Poucos, é claro. A maioria anda por aí, superficializada, induzida ao desinteresse, à inércia, ao seguir as ondas, sem perceber a fonte dos seus próprios valores, sem perceber os próprios condicionamentos, muitas vezes no cárcere da indiferença, do egocentrismo, do apequenamento do mundo. Essa maioria não pode entender a angústia, o vazio que assalta implacável, a cada silêncio, a cada encontrar consigo mesmo.
A preciosidade humana tem uma característica própria, única, e é o que me faz acreditar na diversidade infinita desse trabalho de lapidação. Diferente da preciosidade mineral, exclusiva, a preciosidade humana contagia. Uma luz pode acender várias, e essas passam a acender outras. A diferença entre uma pessoa iluminada e outra ignorante não é tão abissal quanto nos parece. Em essência, são a mesma coisa - às vezes, um leve toque produz o brilho. Taí o trampo, esse é o trabalho. Pra mim, é isso o que faz a vida valer a pena. Aprender e passar, deixar os toques pra que alguém os aproveite em seu trabalho/caminho. Não espero ver tudo pronto, do jeito que sonho. Mas preciso andar neste sentido. Não tenho a ingenuidade de plantar pra mim, planto pra dar valor à minha vida.
Nada é estático, tudo muda. Não há milênios pra trás? Também os há pra frente. As previsões apocalípticas visam desestimular qualquer movimento de mudança mais incisivo. Não há extermínio. Pode haver hecatombes, sim, mas não o extermínio. E se houvesse essa possibilidade, isso seria mais um motivo pra lutar. Sentar e se acomodar como os usufruintes alienados, não quero condenar ninguém, mas eu teria vergonha. De mim mesmo.
Prefiro tratar com pessoas que possuem algum terreno fértil em suas consciências, com essas dá pra trabalhar. E ajuda a fertilizar e desenvolver a minha própria, que é o que eu mais preciso. As mudanças, as revoluções, se fazem no dia a dia, internamente, sem detrimento das lutas externas, de grupo, dos posicionamentos, das manifestações e apoios solidários, das reivindicações justas, do esclarecimento cotidiano.
Nem todos estão acomodados. Nem todos almejam o desfrute e o prazer materiais como finalidade de vida. Nem todos se deixam condicionar por uma mídia tão poderosa que forma valores, costumes, opiniões, sempre em benefício de empresas e em detrimento do desenvolvimento real do ser humano e da sociedade. São poucos, ainda, é verdade. É um garimpo. Mas eu percebo a formação de muitos veios, espalhados por aí.
Um veio (vêio), no garimpo de minerais, é onde se encontram grande quantidades de pedras, ou ouro, num lugar só, a sorte grande do garimpeiro. No meio humano, já vi muitos veios preciosos, funcionando dentro da coletividade, de todos os tipos, formas e qualidades. Com o tempo, fui percebendo o fenômeno da evolução espalhada e, aparentemente, desconectada. O trabalho está sendo feito. Sem anúncio, sem alarde, em toda parte, em todos os níveis. Sem que se perceba e é bom que assim seja. A estrutura dominante está pronta pra esmagar qualquer ameaça de mudança, venha das ruas, dos grupos, dos gritos, através do terrorismo, do combate direto ou indireto, explosivos ou informações. Esse grande esquema só não está preparado pra consciência. Por isso tanto investimento em entretenimento, em condução da opinião pública, em idiotização, em infantilização pela mídia da mentalidade geral. Assim, roubam os direitos fundamentais da maioria e atiram grande parcela da população na ignorância, na pobreza e na miséria. O mandamento moral, agora, é conscientizai-vos uns aos outros. Esse é o trabalho que está sendo feito. Sem controle aparente, aparentemente espontâneo.
Participar desse trabalho é necessário a muitos dos que não se contentam com o que a sociedade apresenta como ideal de vida. Pros que não se deixam enganar e se sentem parte dessa coletividade narcotizada. Pros que não se identificam, nem se conformam com essa estrutura social injusta, mediocrizante, manipuladora, mentirosa e criadora de problemas pra esmagadora maioria. E o trabalho começa dentro. Os que se limitam a lutar por mudanças na sociedade, a partir do externo, não desenvolvem em si a força da mudança. Desistem ou se acomodam com a forma sem conteúdo da revolução sem raízes, com verdades impostas e subalternidade cultural.
As verdadeiras exceções estão aí, é um imenso prazer e um incentivo reconhecê-las, vez por outra.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
É mesmo óbvio? Ou estou sendo pretensioso?
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Capa do nº1 do fanzine, que é dobrada ao meio. |
Mas olho para a estrutura da sociedade e me parece muito simples. A ignorância, a miséria, fruto de uma desigualdade brutal; um povo aparvalhado, infantilizado, entre a ausência de ensino e a “formação” de opinião pela mídia privada; a violência de um Estado que não garante as condições mínimas definidas pela sua própria constituição – básicas para extinguir esses males – e que se transforma na violência social, no crime, na truculência da polícia contra as comunidades pobres. Nos crimes das grandes empresas contra as populações que se encontrem em seu caminho insano, em direção ao lucro. Contra o meio ambiente, contra a soberania nacional, contra os povos nativos e locais, contra a qualidade de vida que apregoam como razão da sua existência - numa hipocrisia mal mascarada pela publicidade inteligente, insidiosa, que pega pelo inconsciente, o subliminar. Tudo isso e muito mais me dizem claro que a sociedade humana está dominada e controlada por empresas, quer dizer, os donos das maiores empresas controlam, interferem, influenciam, pressionam, concentram poderes o mais que podem sobre os Estados nacionais, compondo com as empresas de cada lugar, com os poucos das elites locais. Aí está a razão dessa estrutura cruel de sociedade. Será que é muita pretensão minha? Que eu tô delirando, vendo coisas? Parece tão óbvio...
A estrutura social (imposta pelos poderes reais, os econômicos, ou das pessoas que se escondem atrás de suas grandes empresas), enquanto massacra a maior parte, submete enorme parcela da população, as classes intermediárias, a uma existência sem outro sentido que “subir na vida”, de forma a sustentar essa estrutura, com nossos desejos, nossos objetivos de vida, nosso egocentrismo induzido e estimulado. O massacre publicitário é o tempo todo. Forma nossas opiniões, desejos e valores desde a infância. A agressividade é estimulada, a competitividade é imposta. Os postos de comando são mais bem remunerados, imprescindíveis que são no controle da maioria, na administração da ordem vigente. A grade curricular das escolas é direcionada ao “mercado”, não mais à sociedade. O ensino público, fundamental e médio, é deteriorado, destruído, conservando as formas pra sair na foto. Tudo interessa às empresas, até mesmo a miséria – a melhor garantia de manutenção dos salários baixos. É preciso explorar ao máximo. Não é à toa que o Repórter Brasil denuncia trabalho escravo, todos os dias. A estrutura favorece.
E nós favorecemos a estrutura, desejando o que nos mandam, nos submetendo a trabalhos de que não gostamos, priorizando o ter, o possuir, o desfrutar, em detrimento de ser, de estar, de se relacionar com o mundo e consigo mesmo, abrindo mão de nos realizar como seres humanos. A sociedade “como um todo” nos cobra essa desumanização. Enxergamos a miséria e a ignorância como inevitáveis. Vivemos um presente frustrante, na expectativa de “benefícios” futuros, que não compensam o alto preço que custam em qualidade de vida ao longo do tempo. Permitimos que nos formem os valores, através de mecanismos do inconsciente, conhecidos pelos marqueteiros, publicitários e “formadores de opinião” da mídia. Sem perceber, não vemos alternativas diante das pressões na direção da normalidade, muitas vezes cobrando de outros as mesmas posturas. Cheguei a trilhar esse caminho, mas a angústia e a falta de sentido eram tão intensas que resolvi mudar o rumo, apesar das ameaças. Mesmo sem saber a direção a seguir. E as ameaças de discriminação, de repulsa social, de perseguição se concretizaram. Não foi trágico, apenas sintomático. Eu procurava caminhos que não me eram apresentados. Não podia esperar compreensão, muito menos apoio. E não houve nem respeito. Com o tempo, percebi que o único respeito imprescindível é o próprio. E que, em alguns casos, o desrespeito é como um elogio.
É a nossa permissão que faz a sociedade ser o que é. Nossa acomodação, nosso medo, nossa indiferença, nossos objetivos de vida, tudo plantado, tudo planejado. Acolhemos valores desumanos e vivemos desgraçadamente em torno deles, sofrendo-lhes as conseqüências e sem saber a quê atribuir a nossa angústia.
Simples assim. As empresas dominam os Estados. A coisa pública está imersa na privada. O inimigo se instala, sorridente, nas salas das casas, com declarações de afeto e juras de amor, “entretendo” com novelas e programas (por onde escorrem as invasões subliminares, a formação de valores falsos, os condicionamentos). E ataca os que o denunciam, com seus jornais e revistas, rádios e televisões, criminalizando, distorcendo e omitindo informações, incitando as forças de segurança e a população em geral contra os que ousam resistir – e a população, em tais condições, não percebe os crimes dos quais é vítima.
Buscar a realização pessoal humana é um ato revolucionário. Construir seus próprios valores, independente dos induzidos, é uma obrigação de quem o percebe. Renegar as marcas, consumir apenas o necessário, exterminar a cultura do consumo, desenvolver o gosto pela contemplação, a movimentação gratuita, a diversão sem custo monetário, a alimentação e a medicina mais próximas à natureza e ao bem estar interno. Dedicar mais atenção aos sentimentos, desenvolver a tolerância, a reflexão, a solidariedade, a consciência. E aplicar nas relações com os indivíduos e a coletividade. A mudança precisa de base interna, pra ter força. As mudanças externas são uma extensão, uma conseqüência que, sem as raízes internas – profundas e sinceras -, logo secam e morrem, ou se demonstram ervas venenosas. Como disse Gandhi, é preciso fazer em si as mudanças que se deseja no mundo.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Frases
“Antigamente era mais difícil se informar e tomar consciência. Hoje, com as novas tecnologias, com a informática, qualquer pessoa com uma curiosidade mais aguçada pode perceber o mundo como ele é.”
Milton Santos - geógrafo baiano documentariado por Sílvio Tendler, em "Encontro com Milton Santos - o mundo globalizado visto do lado de cá" (vale assistir). 1926 - 2001
“Quem não quer pensar, é um fanático; quem não pode pensar, é um idiota; quem não ousa pensar, é um covarde”.
Horace Walpole - romancista inglês aristocrata, foi "Conde de Oxford". 1717 - 1797
"A massa sustenta a marca; a marca sustenta a mídia; e a mídia controla a massa."
George Orwell (Eric Arthur Blair) - Escritor e jornalista inglês. 1903 - 1950
"Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano e eu o declaro meu inimigo."
Pierre-Joseph Proudhon - filósofo político e econômico francês. 1809 - 1865
Eduardo Marinho - 1960 e, ainda, vivo.
Milton Santos - geógrafo baiano documentariado por Sílvio Tendler, em "Encontro com Milton Santos - o mundo globalizado visto do lado de cá" (vale assistir). 1926 - 2001
“Quem não quer pensar, é um fanático; quem não pode pensar, é um idiota; quem não ousa pensar, é um covarde”.
Horace Walpole - romancista inglês aristocrata, foi "Conde de Oxford". 1717 - 1797
"A massa sustenta a marca; a marca sustenta a mídia; e a mídia controla a massa."
George Orwell (Eric Arthur Blair) - Escritor e jornalista inglês. 1903 - 1950
"Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano e eu o declaro meu inimigo."
Pierre-Joseph Proudhon - filósofo político e econômico francês. 1809 - 1865
A sabotagem do ensino, a desinformação, a narcotização pelas mídias e a violência contra os pobres de grana são planejadas, comandadas, executadas e consentidas pelos pobres de espírito.
Eduardo Marinho - 1960 e, ainda, vivo.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Satisfação aos “seguidores”
A banca vermelha é de minerais para colecionadores e amantes das pedras. O cara se chama Miguel, o acupunturista. O que ele está "apertando" é tabaco, não se iludam. |
Neste último terço de janeiro, este blogue ficou meio abandonado. Como alguns amigos ficam admiradíssimos quando digo o número de seguidores (detesto esse nome), comecei a sentir uma certa responsabilidade, uma dívida de consideração com essas pessoas, a maioria que nem conheço, mas que, claramente, acompanha estas coisas óbvias que eu posto aqui. Por isso acho que devo uma satisfação a essa rapaziada, pra que saibam o que acontece e porque.
Eu não tinha noção da importância desse número, mas lembrei de Diamantina, quando um garimpeiro que se tornou meu amigo me mostrou uma pedra. Estávamos num bar, à noite, e comentávamos as dificuldades de sobrevivência da maioria, quando ele me falou da sorte que tivera, na semana. Olhou pros lados, disse que ia reformar a casa da mãe e a dele, e ainda trocaria de moto. Com um sorriso triunfante, tirou do bolso do casaco uma pedra e pôs na minha mão, sempre dando umas olhadas em volta. Peguei o diamante bruto, rolei na mão, olhando, procurando alguma coisa que o diferenciasse das outras pedras de cristal que via pelo chão das ruas e das estradas. Eu passaria por aquela pedra sem nem perceber, eu a chutaria como brincadeira, tentando acertar alguma coisa mais na frente, só por “desfastio”, como dizia minha avó. Fiz a ligação com a vida e percebi quantas vezes se tem nas mãos algo valioso e não se percebe. Talvez exatamente por estar na mão. Desdenhamos nossas preciosidades, até que elas se vão. Aí percebemos, já tarde demais.
Bem, voltando ao assunto, no sábado, 22 de janeiro, eu expus em Santa Teresa, até umas nove da noite, pois estou chegando mais tarde devido ao calor do sol no lugar em que exponho. Ravi, meu filho, estava na área, vendendo seu artesanato nos bares e muvucas que se formam no bairro. Conversando com Jean, o rasta que faz e vende instrumentos de percussão, ali no Guimarães mesmo, Ravi manifestou o desejo de aprender a fazer instrumentos – assim, um desejo casual, sem nenhum compromisso com o tornar realidade essa vontade. Mas o Jean, prestativo, nos chamou à sua casa, ali perto, pra ele ver como é que é. Depois de encerrarmos o “expediente”, fomos caminhando até lá, Jean e sua mina, Ravi e eu.
Era uma rua que ligava a descida pra Glória ao largo do Curvelo, de pouca circulação. Neste percurso, surgiram mais na frente um cara e dois cachorros, um grande e outro pequeno. O grande estava preso numa guia e na mão do cara. O pequeno, solto, nos viu e veio na nossa direção. Não dei muita atenção, é normal o cachorro vir dar sua cheirada de reconhecimento a cada novidade que aparece na sua frente. Mais interessante era a arquitetura de uma casa pela qual passávamos, no alto de uma escadaria ao lado da rua, com a alvenaria toda trabalhada em detalhes. Nisto, ouvi um pequeno rosnado e senti a bocada rápida, atrás da perna direita.
Surpreso, comentei, “fidaputa, me mordeu, esse vira-lata!” Levantei a calça, olhei, embaixo da batata, acima do tornozelo, um arranhão e um ponto. Tive vontade de lhe dar uma bicuda, mas ele já estava a uma distância segura, na calçada do outro lado da rua. Olhei pro cara, que foi logo dizendo que não tinha nada a ver com aquele cachorro. “Cachorrinho safado, eu não tava nem olhando pra ele. O dono deve ser um pilantra” e o cara riu, sem graça. “Cê conhece o dono?” “Conheço”. “Sabe se é vacinado?” “É, sim.” Pela expressão dele, achei que ele tava mentindo, que o cachorro era dele. “O cachorro pega o caráter do dono”, arrematei. Não valia a pena confrontar o cara, já estava mordido, mesmo, nada ia mudar isso.
Chegando à casa do Jean, perguntei se tinha água oxigenada. Não tinha. Fui ao banheiro, lavei com sabão o arranhado, esfreguei bem. Depois, ficamos um tempo papeando, ele mostrava a Ravi seu material de trabalho, explicava como fazia e tal. Quando saímos, Ravi foi vender nos bares e eu fui pra casa. Como era tarde, tive que sair de Santa a pé e atravessei todo o centro do Rio, até chegar na praça XV, onde tem transporte pra Niterói, a noite toda. Levei mais umas duas hora pra chegar em casa.
Aí, fui tratar da ferida. A perna havia inchado, o arranhão estava preto e fundo, a inchação dava a ele o aspecto de uma boca sem dentes, meio sorrindo. Tomei um susto quando vi, “caraca”, e preparei uns emplastros de alho socado. Esquentei no vapor e pus em cima, três vezes. O preto foi saindo, a cada emplastro. Quando apareceu a cor da carne, passei uns óleos essenciais (lavanda, tea tree), fiz um curativo e fui dormir. Mas o tempo de demora tinha infiltrado mais fundo a infectação e eu tive muito trabalho com aquilo, a perna inchada, a ferida crescendo, enquanto superficializava e eu colocava emplastros de alho e folhas de saião, tomava extrato de própolis e mastigava uns dentes de alho, pra reforçar o sangue. O aspecto ficou assustador, mas eu já conhecia esse processo. Pra resumir, duas semanas mancando com dor, até reverter. Encarei como um expurgo, o momento na minha vida era agudo, emocional e afetivamente, e aquilo me pareceu parte do processo. Algo estava sendo posto pra fora, através daquela ferida.
A necessidade de produzir os desenhos, de aquarelar, pra expor e arrumar o sustento, tomava toda minha energia. Fiquei sem inspiração pra escrever. Trabalhava com a perna esticada num banco, pra doer menos, e só fazia o essencial. Era, mesmo, um momento especial, de reflexão na vida. Finalmente a ferida se superficializou de todo, agora já está na casca, embora ainda precise de cuidados, mas no caminho da solução. Já não dói tanto, só arde um pouco, quando faço mais esforço. Mas a perna desinchada mostra o final do processo. Olhei o blogue e me senti em falta. Por isso, inaugurei a seção “crônicas de estrada”, postando o “encontro com Adauto”, já escrito há algum tempo, na esperança de, um dia, editar um livro com essas histórias. Valeu a idéia, de vez em quando publicarei uma crônica dessas – tenho várias espalhadas em muitos cadernos, perdidos no meio das minhas bagunças ou sumidos pra sempre.
Aos que acompanham a evolução deste blogue, peço um pouco de paciência, pois ele não paga minhas contas e eu preciso me dedicar ao que me traz a merreca que eu ganho, ou seja, os desenhos, os “livrins” e outros babilaques. A web já me toma mais tempo do que eu posso, são vinte ou trinta imeios por dia e não gosto de deixar ninguém sem resposta.
Outro dia me perguntaram se eu tinha algum sonho pessoal, em termos materiais. Pensei um pouco e descobri qual é esse sonho: nunca mais me preocupar com as contas e poder fazer meu trabalho totalmente dedicado a ele. Diante da sociedade que me cerca, sinto uma enorme necessidade de trabalhar no que transformei em meu lema. Sensibilizar, esclarecer, conscientizar. Começando por mim mesmo e minhas grandes falhas internas. Assim, minha vida tem sentido.
Abraços a todos.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Crônica de estrada
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Eduardo Marinho em uniforme de gala 1977 - Campinas, SP |
Chovia muito. Quase não dava pra ver o outro lado da rua. Entrei encharcado na rodoviária de Barra Mansa, calças arregaçadas, descalço, sandálias havaianas presas na cintura, pela corda que servia de cinto e prendia, do outro lado, um rolo de fio de “alpaca” – arame cor de prata, que eu usava pra escrever nomes em forma de broches. Bolsa de sisal atravessada do ombro, mochila média às costas, cabelos longos e barba rala, tudo pingando muito,subi as escadas que levavam ao patamar das bilheterias e parei ao reconhecer, de longe, entre as duas figuras destacadas de verde, um conhecido da escola militar. Paletó verde-oliva, botões dourados, camisa e gravata bege, duas estrelas em cada ombro. Um eu não conhecia, o outro fora meu colega de sala de aula e de setor na segunda companhia. Adauto. Encostei numa pilastra ao lado do fim da escada, sorrindo. Eu sabia que ele seguiria carreira. Imaginava toda a linha dos acontecimentos da vida dele. Terminara a escola que fazíamos, ingressara automaticamente na academia. Foi novamente bicho, calouro e veterano. Recebeu o espadim em solenidade e tornou-se aspirante a oficial, por seis meses, eu acho. Daí a segundo tenente, por alguns anos e, automaticamente, “promoção” a primeiro tenente. Aí, mais anos passariam até chegar a capitão. Depois disso, o critério das promoções deixa de ser automático, passa a ser “merecimento”, ou seja, relacionamentos, influências, “peixadas”.
Adauto ainda não me vira. Estava de lado, esperava o outro comprar as passagens no guichê. Eu, parado junto à escadaria que acabara de subir. De repente ele olhou direto pra mim- sem me reconhecer - mas, como estávamos distantes uns trinta metros, relanceou o olhar pro outro lado, em busca de algo perto dele que eu pudesse estar olhando. Não encontrando, olhou pra mim de novo, já começando a achar estranho. Ele tinha a mesma cara, acrescentando um bigodinho fino sobre o lábio; eu estava irreconhecível para ele. Minha vida, meus valores, minha visão de mundo, minhas buscas, ele não fazia a menor idéia de nada. Minha imagem, pra ele, eu sabia estranhíssima, descalço, cabeludo, pingando e encarando. Na terceira olhada ele já tinha franzido as sobrancelhas, quando chegou o outro tenente. Adauto falou algo perto do seu ouvido e os dois me olharam. Falaram entre si, pegaram suas bagagens e vieram na direção da escada, agora os dois me encarando. A tendência era a agressividade, mas o meu meio sorriso os desarmava. Quando passavam a dois metros de mim, soltei baixo e melódico “Adauto”... Ele deve ter tomado um choque, porque, com um pulo, agarrou meu braço, gritando “quem é você? QUEM É VOCÊ?” – “calma, Adauto”- “de onde você me conhece?”- “larga meu braço, Adauto” – “DE ONDE VOCÊ ME CONHECE?”- “vai me agredir, Adauto? Vai me prender?” Ele se recompôs, constrangido, largou meu braço “não, tudo bem, mas fala quem você é”. O outro tenente se colocara em posição de cortar uma rota de fuga, preferi não ver. “Sou o Marinho, da preparatória, lembra não?” Ele buscou nos arquivos mentais, ficou meio aturdido ao lembrar –“Marinho?”- mudou o tom pra estarrecido – “Marinho?!”- e, ao me olhar de cima a baixo, foi ficando penalizado –“Marinho!”. Sua expressão era a da mais profunda desolação – “meu Deus! O que aconteceu com você? Como é que você caiu nessa?”- eu continuava sorrindo, tranqüilo, ele demonstrava confusão –“morreu alguém da sua família?”- eu ria, abertamente, “não, não”- “foi mulher?”- gargalhei -“quê isso, cara, eu tô bem, tô legal!”- “ah, não tá, não. O que aconteceu com você? Como é que cê caiu nessa?”- “paga uma cerveja e eu te conto”- “eu pago, cê tem que me contar que que aconteceu.”
Fomos a um boteco em frente à rodoviária, Adauto e eu, o outro ficou. Sentados, com uma cerveja no meio, discorri para ele sobre minha trajetória até perceber que não me enquadraria de maneira formal na estrutura social. “Por que não seguiu carreira? Hoje seria um oficial do exército”, era sua questão. Eu lhe disse como encarava o papel dos militares na sociedade. Lembrei de como apontamos fuzis para uma multidão desarmada. Falei que os militares, com essa de não questionar ordens, não defendiam a população. Que as Forças Armadas eram usadas pra manter privilégios da minoria rica e reprimir qualquer revolta ou manifestação dos sabotados, da maioria. Ele não estava preparado. Não conseguia me encarar. Eu observava seus olhos inquietos procurando os debaixos das mesas, as laterais do boteco, enquanto eu falava no uso dos militares para servir aos interesses da minoria dominante. De como, em última análise, éramos jogados contra a população, espoliada das condições básicas de existência, a favor de uma concentração absurda das riquezas do país, gerando miséria, ignorância, sofrimentos sem conta para a maior parte. Adauto não chegou à metade do primeiro copo. Alegou estar em cima da hora, de repente, apertou rapidamente a minha mão e saiu sem pagar a cerveja. Eu fiquei olhando aquele jovem oficial, túnica verde-oliva, botões dourados, quepe na cabeça, atravessando a rua debaixo de chuva, em fuga.
Terminei a cerveja, paguei, fui ao andar de cima da rodoviária, comprei a passagem pro Rio e desci à plataforma do ônibus. Para minha surpresa, Adauto e seu colega estavam na fila do mesmo ônibus. Quando olhei uma segunda vez, Adauto havia sumido. Entrei na fila, no ônibus, sentei na poltrona. Quando o motor foi ligado para a partida, entrou o Adauto, passou por mim com um aceno e um sorriso amarelo e foi pro fundo do veículo.
Eu não havia dormido à noite, apaguei antes de chegar à estrada; quando acordei, na rodoviária do Rio, era o motorista que me sacudia –“chegou, chegou, rodoviária!”. Não havia mais ninguém no ônibus. Adauto tinha ido embora, com seu colega e sua confusão.
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Eduardo e Brisa do Outono, com 6 meses. 1982 |
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
A condução do querer
Até que ponto nossos valores e desejos são realmente nossos? Até que ponto é nossa própria consciência e sensibilidade que criam nossos planos e desejos, valores e razões para a existência? Somos bombardeados com valores impostos, pelo consciente, pelo inconsciente, pelo emocional, pelo ego, pelo sexo, pela vaidade, pelo instinto de disputa (resquício do animalismo ancestral) ou pela insegurança social (planejada e implantada na sociedade pelo controle do Estado e, sobretudo, através da publicidade e da mídia, que formam, enganam e narcotizam a opinião pública para dar à barbárie um aspecto de inevitável).
Foram desenvolvidas formas de criação, controle e condução do comportamento, da opinião e dos valores. Por acaso somos imunes ao assédio de televisão, rádio, out-doors, folhetos, jornais, revistas, veículos e todos os lugares e meios usados para criar desejos e influenciar o comportamento e a mentalidade humana?
Que cada um analise seus próprios valores, objetivos e opiniões sobre a realidade, procurando os fundamentos, as fontes, as razões e as motivações dos próprios desejos e encontrará aí induções e influências, evidentes ou sutis.
A sociedade é conseqüência do que somos, individualmente, dando forma ao coletivo. Não é possível se orgulhar de uma sociedade que ostenta tanta barbárie, miséria e ignorância; ilhas de fartura e ostentação, privilégios e desperdícios para poucos, em meio a um mar de pobreza, de lutas insanas e vidas difíceis. Uma grosseria, uma vergonha, uma insensibilidade, uma desumanidade. A maioria vive entre a ansiedade, a angústia e a miséria; entre a hipnose, a ignorância e as violências cotidianas.
É preciso questionar a sociedade, sua estrutura injusta, covarde, hipócrita e suicida, mas a partir de cada um de nós, dos nossos próprios condicionamentos. É preciso se questionar a si mesmo, para perceber como reproduzimos os comportamentos sociais induzidos, individualmente, nas nossas relações pessoais, em nossos valores, desejos e objetivos de vida. E o quanto perdemos com isso, no turbilhão de sentimentos em conflito, na adaptação da consciência, na qualidade da existência e nas relações com o mundo.
Eduardo Marinho
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Mensagem reescrita
Recebi uma mensagem com a comparação entre religião e espiritualidade. O remetente alegava desconhecer a autoria. Li todo o texto, aproveitei sua essência e o reescrevi, todo. A não ser pela frase "a religião é para os que dormem", todo o texto foi modificado e incluí uma introdução.
Tomei essa liberdade por minha conta, mesmo, por achar algumas colocações incompletas, outras precárias, outras equivocadas, algumas mal colocadas, enfim, procurei lapidar a mensagem, sem querer tirar onda de superioridade - pensando na recepção, na absorção e na compreensão.
Abraços a todos,
Eduardo.
Há centenas de religiões, cada uma se proclamando portadora da verdade e desqualificando as outras.
A espiritualidade é apenas uma, em exercício permanente e sem forma única.
A religião possui templos para louvores e adorações.
O templo da espiritualidade é o ser, o mundo, o universo.
A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que despertam.
A religião é para aqueles que necessitam de um código externo e precisam ser guiados.
A espiritualidade é para os que ouvem e praticam o embrião da consciência, a voz interior.
A religião é um conjunto de regras e dogmas, não admite questionamentos.
A espiritualidade te leva à reflexão, a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.
A religião ameaça, amedronta, impõe e cobra.
A espiritualidade procura, desenvolve, liga causas e conseqüência, serenamente.
A religião aponta pecados e declara culpas.
A espiritualidade aponta a ignorância e toma o sofrimento como ensinamento.
A religião reprime, condena e acusa.
A espiritualidade transcende, compreende e esclarece.
A religião inventa.
A espiritualidade descobre.
A religião determina formas.
A espiritualidade desenvolve conteúdos.
A religião não indaga, nem questiona.
A espiritualidade duvida, experimenta, observa e procura absorver..
A religião é crença.
A espiritualidade é busca.
A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é ligação e não tem regras.
A religião divide, secciona e discrimina.
A espiritualidade une, respeita e abraça.
A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade, você precisa buscá-la.
A religião necessita do (e determina o que é) sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado, em tudo.
A religião se alimenta do medo e da ignorância.
A espiritualidade se alimenta na busca e no desenvolvimento da consciência.
A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com ser.
A religião ensina a evitar o mal por medo do castigo e fazer o bem por interesse na recompensa.
A espiritualidade ensina que o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.
A religião é adoração e temor.
A espiritualidade é reflexão e amor.
A religião tortura o presente com os valores do passado, ameaçando com castigos no futuro.
A espiritualidade vive o presente, levando em conta as lições do passado, fazendo o plantio do futuro.
A religião condena e encarcera a natureza.
A espiritualidade desenvolve a consciência para tratar com a natureza.
A religião manda crer na vida eterna.
A espiritualidade nos permite viver a eternidade da vida.
A religião promete o encontro com Deus depois da morte.
A espiritualidade busca o encontro com Deus dentro de nós mesmos, a cada momento.
A religião determina e inquieta.
A espiritualidade desabrocha e aquieta.
Religião é tirania espiritual.
Espiritualidade é consciência existencial.
Tomei essa liberdade por minha conta, mesmo, por achar algumas colocações incompletas, outras precárias, outras equivocadas, algumas mal colocadas, enfim, procurei lapidar a mensagem, sem querer tirar onda de superioridade - pensando na recepção, na absorção e na compreensão.
Abraços a todos,
Eduardo.
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"Nascer" - óleo sobre tela, 53x68cm - Rio, maio/junho de 2000 |
Religião ou Espiritualidade
Há centenas de religiões, cada uma se proclamando portadora da verdade e desqualificando as outras.
A espiritualidade é apenas uma, em exercício permanente e sem forma única.
A religião possui templos para louvores e adorações.
O templo da espiritualidade é o ser, o mundo, o universo.
A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que despertam.
A religião é para aqueles que necessitam de um código externo e precisam ser guiados.
A espiritualidade é para os que ouvem e praticam o embrião da consciência, a voz interior.
A religião é um conjunto de regras e dogmas, não admite questionamentos.
A espiritualidade te leva à reflexão, a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.
A religião ameaça, amedronta, impõe e cobra.
A espiritualidade procura, desenvolve, liga causas e conseqüência, serenamente.
A religião aponta pecados e declara culpas.
A espiritualidade aponta a ignorância e toma o sofrimento como ensinamento.
A religião reprime, condena e acusa.
A espiritualidade transcende, compreende e esclarece.
A religião inventa.
A espiritualidade descobre.
A religião determina formas.
A espiritualidade desenvolve conteúdos.
A religião não indaga, nem questiona.
A espiritualidade duvida, experimenta, observa e procura absorver..
A religião é crença.
A espiritualidade é busca.
A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é ligação e não tem regras.
A religião divide, secciona e discrimina.
A espiritualidade une, respeita e abraça.
A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade, você precisa buscá-la.
A religião necessita do (e determina o que é) sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado, em tudo.
A religião se alimenta do medo e da ignorância.
A espiritualidade se alimenta na busca e no desenvolvimento da consciência.
A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com ser.
A religião ensina a evitar o mal por medo do castigo e fazer o bem por interesse na recompensa.
A espiritualidade ensina que o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.
A religião é adoração e temor.
A espiritualidade é reflexão e amor.
A religião tortura o presente com os valores do passado, ameaçando com castigos no futuro.
A espiritualidade vive o presente, levando em conta as lições do passado, fazendo o plantio do futuro.
A religião condena e encarcera a natureza.
A espiritualidade desenvolve a consciência para tratar com a natureza.
A religião manda crer na vida eterna.
A espiritualidade nos permite viver a eternidade da vida.
A religião promete o encontro com Deus depois da morte.
A espiritualidade busca o encontro com Deus dentro de nós mesmos, a cada momento.
A religião determina e inquieta.
A espiritualidade desabrocha e aquieta.
Religião é tirania espiritual.
Espiritualidade é consciência existencial.
Correspondência com o primo.
Enviei o texto "Feliz Ano Novo..." ao primo Bosco. Ele vive em Mato Grosso e respondeu com uma pergunta. Respondi e depois, lendo o escrito, achei que devia postar aqui. Vejamos se vale.
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Vou digitar uma frase desgastada pelo tempo: “CONCORDO COM VOCÊ EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU". Agora pergunto: Tens alguma idéia para virar o sistema?
Um abraço, primão.
ººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº
Olha, compade meu primo,
já me dá um trabalho danado retirar o sistema de dentro de mim mesmo. Por mais que eu viva diferente do padrão, procurando enxergar e não me deixar levar pelas sutilezas insinuantes dos falsos valores, falsas buscas e objetivos, encontro ecos no inconsciente que, às vezes, se manifestam. O trabalho de condicionamento, de esvaziamento da vida vem de longa data e tem raízes profundas em nosso inconsciente. A mídia não brinca em serviço e ataca desde a menor infância.
Não tenho a pretensão (ou ingenuidade) de "virar o sistema". Mas isso não me faz conformar com ele, muito menos aderir aos seus falsos valores, ou aceitar o que é apresentado como realidade. Isso seria, pra mim, a morte em vida. O processo é universal, tudo em constante mutação, nada estático, nem no micro, nem no macro. Faço questão de escolher como participar disso tudo, sem me deixar levar (ao menos, tão facilmente, sem reação). Daí essa minha necessidade de trabalhar nesse sentido, questionando, denunciando, propondo, pesquisando, divulgando. O sistema se sustenta porque nós todos consentimos. Eu, de minha parte, procuro retirar o meu consentimento. A partir daí, encontrei pessoas trabalhando neste mesmo sentido, de várias maneiras. É um grupo crescente de pessoas, sempre e ainda exceções à regra geral, que tem um outro brilho nos olhos, uma vibração pessoal diferente, uma abertura na mentalidade que as diferencia da maioria - que é tratada como gado humano, pela mídia e pelo Estado, conduzida em seus valores, objetivos, desejos e padrões de comportamento. Da mesma forma que levou tempo pra se formar essa estrutura social, leva tempo pra reformar, muitas gerações de instrução, de informação, de conscientização. Quem pretendeu mudar o mundo em uma vida, ou desistiu ou morreu cedo. Bem, acho que são duas formas de morrer.
Eu mesmo achei que não chegava aos trinta. Depois, com o tempo, percebi a toada e a parte que me cabe, o acorde momentâneo que é a minha vida. E coloquei meu trabalho a serviço dessa parte. Assim, a vida tomou cores e sabores que não existiam antes, quando a vida era sem gosto.
Abraço,
Eduardo.
ººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº
ººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº
Vou digitar uma frase desgastada pelo tempo: “CONCORDO COM VOCÊ EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU". Agora pergunto: Tens alguma idéia para virar o sistema?
Um abraço, primão.
ººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº
Olha, compade meu primo,
já me dá um trabalho danado retirar o sistema de dentro de mim mesmo. Por mais que eu viva diferente do padrão, procurando enxergar e não me deixar levar pelas sutilezas insinuantes dos falsos valores, falsas buscas e objetivos, encontro ecos no inconsciente que, às vezes, se manifestam. O trabalho de condicionamento, de esvaziamento da vida vem de longa data e tem raízes profundas em nosso inconsciente. A mídia não brinca em serviço e ataca desde a menor infância.
Não tenho a pretensão (ou ingenuidade) de "virar o sistema". Mas isso não me faz conformar com ele, muito menos aderir aos seus falsos valores, ou aceitar o que é apresentado como realidade. Isso seria, pra mim, a morte em vida. O processo é universal, tudo em constante mutação, nada estático, nem no micro, nem no macro. Faço questão de escolher como participar disso tudo, sem me deixar levar (ao menos, tão facilmente, sem reação). Daí essa minha necessidade de trabalhar nesse sentido, questionando, denunciando, propondo, pesquisando, divulgando. O sistema se sustenta porque nós todos consentimos. Eu, de minha parte, procuro retirar o meu consentimento. A partir daí, encontrei pessoas trabalhando neste mesmo sentido, de várias maneiras. É um grupo crescente de pessoas, sempre e ainda exceções à regra geral, que tem um outro brilho nos olhos, uma vibração pessoal diferente, uma abertura na mentalidade que as diferencia da maioria - que é tratada como gado humano, pela mídia e pelo Estado, conduzida em seus valores, objetivos, desejos e padrões de comportamento. Da mesma forma que levou tempo pra se formar essa estrutura social, leva tempo pra reformar, muitas gerações de instrução, de informação, de conscientização. Quem pretendeu mudar o mundo em uma vida, ou desistiu ou morreu cedo. Bem, acho que são duas formas de morrer.
Eu mesmo achei que não chegava aos trinta. Depois, com o tempo, percebi a toada e a parte que me cabe, o acorde momentâneo que é a minha vida. E coloquei meu trabalho a serviço dessa parte. Assim, a vida tomou cores e sabores que não existiam antes, quando a vida era sem gosto.
Abraço,
Eduardo.
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