sábado, 12 de maio de 2012

Promiscuidade Público-Privada (ou Cachoeira de Evidências)

Fico observando as revelações do caso "Cachoeira", desmoralizando defensores da moralidade, como se fosse possível haver moral nas relações de poder em nossa sociedade - reflexo da "civilização" ocidental -, totalmente dominada pelas grandes empresas e seus insaciáveis interesses. Financiamentos bilionários de campanhas, espaços na mídia, ocultação dos podres, trocas de favores com o dinheiro público, anistias fiscais (ou anulação de multas e dívidas por impostos), relações promíscuas e no escuro das coxias na macabra dança das marionetes políticas, enquanto a população morre nas filas dos hospitais, por erros médicos, falta de condições para o atendimento, extermínio disfarçado de "guerra ao tráfico" (que não existe, pelo simples fato dos verdadeiros donos do tráfico, empresários de grande porte com empresas legais para a lavagem das fortunas que o tráfico gera, serem também financiadores de campanhas e exaltados pela mídia como "cidadãos exemplares", decidindo políticas públicas para serem implantadas por seus financiados e evitando, no legislativo, a descriminalização que mataria a galinha dos ovos de ouro). Matam jovens - pobres, negros na maioria - nessa falsa "guerra", e idosos - para eliminar aposentadorias e pensões - na "saúde" pública, de forma grotesca, hedionda, perversa. É o "trabalho" de controle populacional, feito por um Estado criminoso, refém dos poderes econômico-financeiros desumanos.

Durante a cara militar da nossa permanente ditadura foi possível agir abertamente fora da lei, sem possibilidade de contestação ou interpelação judiciária, desmantelando violentamente, à força das armas, todas as organizações operárias, trabalhistas, camponesas e estudantis, ao mesmo tempo em que se destruía a capacidade de ensino da educação pública produzindo, desde então, gerações e gerações de analfabetos funcionais (aqueles que lêem com tanta dificuldade que não conseguem interpretar um texto, chegando a 70% da população, segundo as últimas pesquisas, em 2010). O selo de ouro dessa estratégia foi a expansão da mídia privada, a televisão à frente, no controle das comunicações. Estava pronto o cenário para encenar a peça "redemocratização", apresentada como um "conquista do povo brasileiro". Mentiras deslavadas, confirmadas pelos opositores ao regime, numa cegueira egocêntrica - freqüentemente eurocêntrica -e burra, talvez bloqueados em sua visão por uma espécie de lealdade aos que caíram, na ilusão da luta armada. Parecem não se dar conta das armadilhas institucionais. Campo minado. É pasteurização ou morte. Como temos visto por aí.

Agora a mídia fará parecer que o caso Demóstenes/Cachoeira/Policarpo/Civita é pontual, que foi descoberta uma falcatrua dentro do sistema "democrático", por instituições "democráticas", e que tudo será "democraticamente" resolvido, com a punição aos culpados (que não conseguirem escapar da grossa malha jurídica). Alguns cães maiores serão sacrificados, em nome da manutenção do sistema. Com um cuidado cirúrgico pra não espirrar, porque senão pega em todo mundo ou quase. 

Isto não é um caso à parte, mas situação permanente. São grupos de grande poder econômico e predomínio na mídia privada - televisão principalmente, mas seguida das outras mídias, como se vê nesse caso o envolvimento da revista de "maior tiragem do mundo", o veículo mais reacionário, mentiroso, deturpador de realidades a favor do punhado mais rico da população, subalterno aos mega-empresários das corporações mundiais. Gigantescos vampiros do sangue público, contabilizam seus lucros e obrigam os "representantes do povo" a pagar as contas com o dinheiro dessa população espezinhada, em detrimento dos seus direitos mais básicos. 

O grupo revelado e em estudo para queda calculada é uma casquinha, uma ponta pequena de enorme iceberg submerso. Deve ruir sem afetar as raízes da corrupção endêmica, inerente ao sistema empresarista que se impôs desde o antigo capitalismo, mudando de nome, de roupa e de cara - agilidade que as esquerdas não têm, imobilizadas em sua rigidez ideológica e obrigadas a pasteurizações para compor suas instituições partidárias e já desmoralizadas na mentalidade popular, incapazes de mudanças substanciais e sem poder de convocação ou mobilização, em sua arrogante pretensão de conduzir as massas. Não posso acreditar em "eleitos" que não denunciam o predomínio do poder econômico sobre o político, que não revelam os nomes das empresas que colocam a coisa pública a seu serviço, cada vez mais descaradamente. Que não reconheça o poder aonde se controlam os fios, muito acima do teatro político encenado em ambientação "democrática". Predomina a conivência, a cooptação, a sintonia do mal.

Dois exemplos recentes demonstram bem a promiscuidade público-privada. A construção da represa de Belo Monte (de mentiras) teve oposição generalizada, dos povos originários, da população local, da prefeitura da cidade mais próxima (Altamira), da Organização dos Estados Americanos, da Comissão Internacional para Direitos Humanos, da ONU, de movimentos sociais os mais diversos. Nada adiantou, o governo brasileiro chegou ao cúmulo de responder à CIDH, da ONU, que "o Brasil" sabia muito bem cuidar de si, disparate vergonhoso. Por quê? Porque as construtoras milionárias interessadas e as indústrias beneficiárias da produção de energia a baixo custo são as mesmas que financiaram as campanhas eleitorais.  O caso do massacre de Pinheirinho, em São José dos Campos, é outra demonstração de a quem serve o poder dito "público". Terreno de empresa falida, que nunca pagou impostos, ocupado havia oito anos por uma população desatendida pelo Estado em seus direitos constitucionais, em bairro construído com esforço próprio, com ruas, postes, saneamento sem participação da prefeitura local, foi atacado violentamente pelas forças de segurança "pública", com cenas de barbárie, espancamentos e mortes, seguidas da estratégia municipal de expulsar as famílias da cidade, de maneira espúria e cruel. Surpresa? Não, são obviedades. Sobre esses dois exemplos há várias postagens neste blog (há infinitos outros exemplos, cotidianos, repetitivos - ontem mesmo foi atacada a ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, de onde vieram as fotos abaixo), "Documentários sobre Belo Monte", "Pinheirinho - exposição de um sistema social", "Complementando Pinheirinho..." e "Relato de um defensor público de São José dos Camp...". 
eliana4
eliana2 





eliana

O documentário abaixo não é novidade, foi produzido pela BBC de Londres e exibido em 1993, chegando ao Brasil no ano seguinte. A emissora entrou na justiça e, pelo uso não autorizado da sua marca, conseguiu proibir sua exibição pública em todo território nacional. Achei interessante postar aqui para quem ainda não conhece perceber parte fundamental da estratégia de controle e manipulação de corações e mentes, através da publicidade e das mensagens subliminares, das informações distorcidas de um pseudo-jornalismo mau caráter, na defesa dos interesses empresariais acima dos interesses públicos, transformando a vida, como disse Eduardo Galeano, num manicômio e num matadouro, para a esmagadora maioria da população. Isso deveria ser exibido e discutido nas salas de aula, nas associações de moradores, nos sindicatos, em cada quarteirão. O controle da sociedade não é uma obra acabada, a construção nefasta é permanentemente retocada, reciclada, os cenários estão sempre se adaptando aos acontecimentos, mudando tudo pra permanecer tudo como está, um  predomínio desumano dos interesses empresariais sobre a sociedade, sobre a estrutura do falso poder político, o teatro das marionetes legitimando os crimes contra a humanidade. 

Se não é possível mudar o mundo em pouco tempo, é possível mudar a própria vida, percebendo os valores falsos implantados em nosso inconsciente e assumindo a construção dos nossos valores a partir da própria consciência, mais humanos, mas solidários, menos competitivos e egoístas como nos são impostos. A visão de mundo é direito e responsabilidade de cada um, mas é dificultado ao extremo pelo trabalho intenso e extenso de uma publicidade e propaganda que se utiliza da psicologia do inconsciente, da imposição sub-liminar, do controle das comunicações e da criação deliberada de ignorância e superficialidade (com a sabotagem da educação e controle curricular). Vivemos num mundo de mentiras, é preciso desacreditá-lo para romper as correntes que nos prendem e transformam a sociedade nesse inferno de ameaças, cooptação e medo, necessários ao predomínio das empresas sobre os povos - ignorantizados, explorados, roubados, enganados, controlados, inferiorizados e reprimidos em qualquer manifestação de inconformidade. Mudando a nós mesmos, caçando a verdade hoje acessível, embora ocultada pelo estabelecimento, abandonando os valores falsos e determinando nossos comportamentos para além dos condicionamentos, contaminando as consciências à nossa volta, despertando para a realidade além das mentiras apresentadas, mudamos o mundo, em primeiro lugar, dando sentido à nossa própria existência, criando sabores e cheiros desconhecidos pelos "normais". Além de exemplo, isso dá força à fala.

"Muito Além do Cidadão Keyne" peca por imprecisões e informações truncadas que se esclarecem com a última revelação de documentos secretos referentes ao golpe de 64, nos Estados Unidos, publicados de acordo com a lei de quarenta anos para documentos "classificados", ou secretos. Com base nesses documentos em áudio, vídeo e escritos, foi feito o programa "O dia que durou 21 anos", no Canal Brasil, de baixa audiência mas de qualidade incomparável com a mídia privada, em todos os sentidos. São três episódios de 20 minutos cada, ótimos pra exibir e discutir em salas de aula, em associações, em toda parte. É preciso cultivar a memória para formar uma visão do presente o mais próximo possível da realidade e o mais longe possível das distorções impostas pela grande mídia, pelos "donos das informações" no Brasil, interessados em manter essa sociedade vergonhosa onde se abandona seres humanos como lixo.

"Não é sinal de saúde ser bem ajustado numa sociedade tão profundamente doente". (Krisnamurti)

A "Pequi Filmes" reivindicou direitos autorais e mandou retirar o doc. do youtube. Seus lucros são mais importantes do que informar a realidade histórica ao povo brasileiro. Fica o meu protesto. Merda.



Achei impressionante a existência de estudantes universitários que, ao serem questionados qual a ditadura mais recente do Brasil, demonstraram dúvidas ou sugeriram o Estado Novo, de Getúlio Vargas. Foi uma professora quem me falou - de uma sala onde ela dá aulas -, entre o espanto e a revolta. Taí, Suame, passa pros teus alunos. Quantos mais haverá, sem noção da história recente?


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Comunidade Mauá, o anúncio de um novo Pinheirinho.

Prepara-se o aparato de segurança pública para cometer mais um crime social, mais um crime moral, mais um crime do Estado contra a nação brasileira, contra a população mais pobre desta nação, sua maioria. Mais uma vez se vê claro, a coisa pública imersa na privada, governos, legislaturas e magistraturas defendem os interesses econômicos de minorias ricas, empresários gananciosos e desumanos. Não preciso dizer muita coisa, os fatos falam por si. As campanhas eleitorais, financiadas por grandes empresários, são funcionários dos seus financiadores, em acertos feitos durante as campanhas, por exigência óbvia dos patrões.

Como acreditar em democracia? Nunca tivemos uma democracia, não sabemos o que é uma democracia. E esse papo de "redemocratização" é uma grande mentira. Os militares foram removidos do poder aparente para a construção de um cenário fajuto de democracia, que se desmente a cada ato do Estado e das suas instituições, a cada ano na sangria orçamentária para os cofres dos bancos internacionais de metade do orçamento que tem o destino desviado da sua função, os serviços públicos, para os tesouros acumulados dos verdadeiros ditadores das políticas públicas, um punhado de magnatas sub-humanos que se apropriaram de todos os meios que poderiam resolver os problemas da humanidade, para manter o controle sobre as sociedades e concentrar mais e mais poder, às custas do sofrimento das massas.

Está rolando um lento despertar, espalhado por aí, sob inúmeras formas. As mentiras, pouco a pouco, vão sendo reveladas, vão sendo percebidas, no ritmo do tempo, em evolução permanente. Que não se espere resultados plenos e rápidos. Participar do processo, de forma lúcida e persistente, já dá satisfação e sentido à vida. A caminhada se faz passo a passo. E, na minha opinião, começa dentro de cada um, pra depois se espalhar, com base no exemplo, nos valores, nos comportamentos - e não na posse da verdade, na definição de um único caminho, no arrebanhamento ideológico. Por aí, não vai e, quando foi, deu merda.

A arrogância dos revolucionários europeístas, seguidores invariáveis de pensamentos alheios, inutiliza ou, no mínimo, enfraquece suas ações, isola-os da população e os restringe a inexpressivas minorias, embora barulhentas - servindo apenas à composição do cenário falsamente democrático.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Dia do índio é o cacete




Ontem, dia 19 de abril, chamado o “dia do índio”, não escrevi nada sobre o tema porque não existe dia do índio, desde que chegou aqui a civilização européia. Antes, como diz a música, todo dia era dia de índio.

Imagino o assombro com que a rapaziada viu surgirem as caravelas no horizonte, como enormes águas vivas, velas estufadas pelo vento, vindo em direção à praia, cada vez maiores, diante dos olhos espantados da tribo. Relatos escritos pelos europeus dão conta do espanto de índios e civilizados. Uns com a chegada daquelas enormes borboletas marinhas, cheias de brancos fedorentos e cobertos de panos, coisa incompreensível pra eles, naquele calor, outros com a existência de habitantes naquelas paragens desconhecidas, despidos homens e mulheres, uma vegetação nunca vista, com animais e frutos novos, costumes e línguas estranhas de parte a parte.

Os nativos não imaginavam a capacidade destrutiva dos europeus. Ali começavam os cinco séculos de violência, escravização, saque, expulsão e morte. Setenta milhões de habitantes das Américas foram sistematicamente exterminados e seus descendentes ainda são perseguidos até hoje, discriminados, difamados, saqueados, expulsos das terras que lhes restam.



Além da cobiça dos ricos latifundiários, mineradores e outros, os povos originários são perseguidos, a meu ver, por razões ideológicas. Numa sociedade centralizada no consumo e na produção, controlada por uns poucos e impregnada por valores falsos que transformam a vida num inferno, eles incomodam por evidenciar as mentiras nas quais estamos todos imersos. O indígena não vive para trabalhar, mas trabalha para viver e no que gosta. Quando chega da mata, trazendo caça, peixe ou frutos, não dá pra dizer se estava trabalhando ou se divertindo, porque para o índio, trabalho e diversão se misturam. Nós, civilizados, nos acostumamos à idéia do trabalho como um sacrifício a que todos estão obrigados. Assim fomos condicionados e poucos conseguem reagir a isso. Para nós, o mundo é uma competição desenfreada, um inferno de todos contra todos, conforme convém ao pequeno grupo dominante. O objetivo de acumular e de consumir, motor do inferno social, não existe para o índio. O que ele precisa, em seu estado natural, ele faz, não precisa comprar. Se ele precisa de uma casa, ele sabe fazer. Uma canoa, ele faz. Uma panela, uma rede, suas armas de caça, tudo ele sabe fazer, agasalho, remédios, tudo. Produz seu artesanato e pode muito bem viver de trocas, nos poucos produtos civilizados que lhe são úteis, como facões, machados e pouca coisa mais. O objetivo de vida dos índios não é juntar patrimônio, consumir à farta, disputar com seus irmãos quem pode usufruir de mais bens, dinheiro e poder. O objetivo da vida é viver.

Lembro de uma história, da época da vinda dos franceses (invasão francesa, nos livros de história) para disputar o pau-brasil com os portugueses, pois era uma mercadoria altamente lucrativa na Europa, sobre o diálogo entre um ancião tupinambá com um oficial francês, onde ele questionava tantos esforços, riscos e sofrimentos dos europeus para levar aquela madeira pelo mar afora. “Não há madeira lá pra vocês se aquecerem?” O oficial esclareceu que não era pra queimar, mas fazer tinta. “E pra quê é preciso tanta tinta?” O francês explicou que havia homens riquíssimos, que produziam mais tecidos, contas, espelhos e outras coisas em tamanha quantidade que o velho índio não poderia imaginar. E que um só comerciante riquíssimo desses poderia comprar vários navios cheios de pau-brasil. O índio não compreendia. “Mas esse homem riquíssimo de que você fala... ele não morre?” Morria, claro, como todos os outros. “E quando ele morre, o que se faz com o que ele juntou?” Fica para os descendentes dele, como herança, para que possam viver e estar garantidos. Então o índio balançou a cabeça, em reprovação, e afirmou que agora entendia que os europeus eram mesmo loucos. Se submeterem a tanto esforço, tanto risco, tanto sofrimento, a uma vida de sacrifício e dor, por um motivo daquele... não fazia sentido. “Nós também temos parentes de quem gostamos, as crianças nascem e crescem e nós sabemos que a mesma terra que nos alimentou, também os alimentará. Então, vivemos a vida com gosto, sem nos preocupar com coisas inúteis como essa e sem precisar sofrer tanto sem necessidade”.

Então, os povos originários são um péssimo exemplo para a população desinstruída e condicionada aos valores falsos que a sociedade nos impõe de forma tão tirânica, e ao mesmo tempo, insidiosa, que impede o questionamento. Por repelirem o sistema de trabalho empregado e rejeitarem a forma de vida civilizada, são chamados de vagabundos. Por suas áreas demarcadas ficarem fora do mercado de terras e do alcance da cobiça empresarial e latifundiária, execra-se e se impede de todas as maneiras a reparação aos crimes cometidos cotidianamente contra esses povos desde o nascimento do Brasil como o conhecemos, reconhecendo e demarcando suas terras de acordo com suas necessidades. O extermínio prossegue, massacre após massacre, enquanto a mídia defende os agressores e ataca as vítimas. Os patrões os odeiam, os grandes e ricos patrões que os vêem como obstáculos para seus lucros exagerados.

Deveríamos ver o tal “dia do índio” como o dia da vergonha. Não há progresso que se justifique com o sangue, o saque e a dor de tanta gente. O Estado e a nação brasileira, na pessoa de cada brasileiro, sobretudo nas autoridades, deve reparação aos descendentes atuais de inúmeras gerações, por mais de quinhentos anos, que foram escravizadas, perseguidas, dizimadas e saqueadas, com detalhada e esmerada crueldade. Descendentes que conservam, heroicamente, tradições e sabedorias ancestrais, depuradas ainda com sofrimentos atrozes no cotidiano, fruto do preconceito, da discriminação e da exclusão, que poderiam perfeitamente melhorar nossa sociedade, nossos costumes e nossas relações, tanto sociais quanto com a natureza.


25 de abril de 2012

Desumanidade e injustiça nos crimes do sul da Bahia contra os originários índios pataxós.


Nota de denuncia da comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe contra as policias Federal, Militar, Civil e fazendeiros.


É preciso fazer barulho, passar adiante, se manifestar, denunciar. Está acontecendo agora, a qualquer momento, enquanto comemos, enquanto dormimos, isso está acontecendo. Relatos documentados da covardia criminosa contra comunidades inteiras, famílias como as nossas famílias. O sentimento preconceituoso contra os índios - como qualquer preconceito contra qualquer coisa ou pessoa - só revela o nível primário de consciência. O sentimento de superioridade revela a inferioridade. A busca da igualdade plena - em direitos e deveres - é uma das mais nobres, difíceis e valiosas buscas da humanidade, no caminho da sabedoria e do conhecimento pleno, infinita estrada por onde todos nós andamos, a família humana entre tantas vidas universo afora.
Esse caminho passa pela consciência de que somos uma única família e existimos como tal.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Argentina retoma o controle do seu petróleo - exemplo para o Brasil

O governo argentino enviou ao Congresso o projeto de reestatização da YPF, a Petrobrás da Argentina, que foi entregue por Carlos Menem, o FHC de lá, à REPSOL, petroleira privada espanhola, de graça e de bandeja, como foi a Vale do Rio Doce, a Usiminas, a Eletrobrás e todas as regionais, as empresas de telefonia, de água e esgoto e tantas outras. Assisti a leitura do projeto, emocionado e com um nó na garganta, orgulhoso de los hermanos.

Os lucros do petróleo estavam sendo exportados para uma Espanha, em franco naufrágio econômico, ocupada com as convulsões sociais provocadas pela tal austeridade imposta pelos agentes financeiros internacionais, com o sacrifícios de aposentadorias, pensões, empregos, serviços públicos em geral. Como sempre, o povo tem que pagar a conta desses demônios. Na Argentina, agora, 51% da petroleira pertence ao governo federal e 49% são divididos entre as províncias, que são como os nossos estados. (Há um engano aqui: foram reestatizados 51%, divididos entre o governo federal e os estados ou províncias. O resto continua com empresas privadas, que perderam o poder de mando.)

Cristina Kirschner, mulher corajosa, duramente perseguida, difamada e atacada pelo sistema Clarín (o sistema Globo da Argentina), colocou freios na mídia privada com a ley de medios, apesar da gritaria dos comentaristas e jornalistas mercenários de lá (como vemos aqui todos os dias). Aliás, a mídia daqui tá descendo o malho na presidente argentina, de todas as formas. Insinuações, comparações maldosas - Hugo Chávez de saias, disse uma voz suína -, a mesma nojeira de sempre.

E professores, como o coordenador do curso de jornalismo de São Borja, que me fez ouvir pérolas como "os grandes meios são, sim, o sustentáculo da democracia", numa palestra em que eu denunciava o jornalismo mercenário, desonesto, deformador da realidade que essas empresas praticam, aprovam esse jornalismo e o sonho dos alunos em ser parte desses esquemas cruéis e desonestos. Os gritos, assovios e aplausos, depois da minha resposta, o fizeram se retirar do auditório, furioso. Depois, submeteu o vice dele ao vexame de me esculhambar pelo tuíter, apesar do tal vice-coordenador nem ter ido lá, violando princípios jornalísticos e demonstrando que a defesa de interesses está acima da ética, do profissionalismo e até de regras básicas do jornalismo. Professores que encorajam seus alunos a ambicionar um lugar nessas empresas mau-caráter são elementos de manutenção dessa estrutura injusta, perversa, covarde e desumana. Estimulam o conflito e a competitividade egoísta, atiram uns contra os outros e deixam a verdade em segundo plano, pra ser usada apenas quando for conveniente - caso contrário, mente-se, tranqüilamente. O que vale é a grana, a fama, o "sucesso", não importa o custo moral.

Para esses criminosos morais, a Argentina cometeu pecados imperdoáveis. Estabeleceu o controle legal das empresas de comunicação - coisa que aqui não há, ou não funciona - e reestatizou o que as grandes empresas tinham levado de graça, com pagamento em falácias, papéis podres, títulos de dívidas e outras enrolações econômicas. Deles não se pode esperar outra coisa que reações raivosas, histéricas, ameaças e previsões catastróficas. Como aqui. Farinha do mesmo saco, mercenários da palavra, gente sem pátria ou nação em que se integrem, além dos privilégios obtidos na venda das suas consciências, servindo aos poderosos interesses desses menos de 1% que concentram os reais poderes sobre a sociedade, atacando tudo o que serve à coletividade, indiferentes ao sofrimento da maioria e hostis a qualquer tipo de solidariedade sem restrições, a qualquer tipo de sentimento de família humana.

Parabéns aos hermanos argentinos. Que seu exemplo nos sirva.


Está em espanhol e eu não sei colocar legendas.


Reações (20.04.12)
      Já era de se esperar as reações indignadas da legião defensora (e regiamente paga pra isso) dos interesses empresariais. Entidades representantes da população européia falam em retaliações e defendem explicitamente os interesses mega-empresariais da multinacional expropriada. Jornalistas e comentaristas do mundo todo caem sobre o assunto com mordacidade, com fúria, ironias e deboches pesados, Cristina La Loca, Hugo Chávez de saias (aproveitando o trabalho midiático bem-sucedido de demonização do presidente venezuelano, apresentado descaradamente como ditador, em contradição com os mais de dez pleitos passados por ele, entre eleições, reeleições, referendos e plebiscitos - pelos mesmos motivos, ou seja, conter as grandes empresas no avanço sobre os direitos das populações e colocar o Estado a serviço do seu povo como um todo) e por aí vai, contando com retaliações contra a Argentina.
      A Argentina tem um histórico interessante neste sentido. Até o ano 2000 sua política econômica era apontada como exemplo pro resto da América Latina, privatizando tudo o que era público, desmontando a rede ferroviária, destruindo os direitos trabalhistas, atrelando o país numa dívida externa (que, depois dos processos "globalizantes", mudou o nome pra dívida pública - estratégia marqueteira) e se pondo de joelhos, a pagar juros que só aumentam e uma dívida que não diminui. Então, o país quebrou, o povo foi à miséria generalizada, como era de se esperar, e se levantou, que argentino zangado é brigão, mesmo. Em duas semanas foram derrubados vários presidentes pelo movimento "que se vayan todos" (ver o filme Memória do Saque - Memoria del Saqueo -, de Fernando Solanas, produção franco-suiça-argentina) e foi eleito, pela primeira vez, Néstor Kirshner. Com o povo nas ruas, em levante permanente, as grandes empresas foram acuadas e reduziram seu espaço de manobra, mantendo o poder sobre as comunicações, com a mídia privada já meio desmoralizada - o Clarín é a Globo de lá. E o governo pôde começar a fazer mudanças a favor da população, bem aos poucos. Néstor foi eleito, reeleito e, depois, Cristina Kirshner continuou o processo, firme e feminina, na direção de uma sociedade que não abandone nenhuma parcela da sua população.
      Os privilegiados se revoltam, se agitam, a mídia esbraveja, difama, distorce, conclama à revolta e à derrubada da presidente. Mas ela, com movimentos corajosos de mestre, praticamente anula o poder das minorias ricas que controlavam as políticas públicas, a serviço dos exploradores estrangeiros. Investe na tv pública e esta se torna referência para a população, desfazendo as mentiras das tvs privadas, que urram contra o ataque à "liberdade de imprensa", termo sempre usado pela mídia pra defender sua liberdade de mentir sem ser desmentida. Une seu país ao movimento de união dos países latinoamericanos, fortalecendo a resistência aos abusos das grandes multinacionais representadas por seus governos dos países do chamado primeiro mundo - primeiro, claro, às nossas custas históricas. Seus governos melhoram as condições de vida do povo e, enquanto pela mídia privada internacional a presidente Cristina é difamada, o povo argentino a apóia em massa - fórmula infalível para a continuidade do processo.
      Eu fico até constrangido com esses pseudo-brasileiros privilegiados da mídia, os tais jornalistas e comentaristas e suas expressões fisionômicas sempre falseadas, aos meus olhos, combatendo os hermanos latinoamericanos, bolivianos, venezuelanos, nicaragüenses, equatorianos, que passam por processos de descolonização política e econômica e levantam sua cabeça diante dos impérios corporativos mundiais. Em sua subalternidade ideológica, cultural, moral e quantas outras abjeções, esses profissionais da mentira e da distorção trabalham para difamar, desvalorizar e ridicularizar os processos de libertação dessas amarras seculares, em favor dos que consideram as divindades do mundo, os donos das corporações estadunidenses e européias, acostumados a escravizar, explorar e saquear povos no mundo inteiro, como que por direito de nascimento, como os reis da antigüidade.
      Segue o processo.

Recebi interessante reportagem de Eduardo Febbro, de Paris, em boletim de notícias da Carta Maior, em 20.04.12, nesse link - http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19996&boletim_id=1172&componente_id=18772

Ricos e Pobres




        A falsificação da realidade, trabalho feito com sucesso pela mídia privada, desde sempre, é cada vez mais descarada. A prática política se utiliza dessa mesma estratégia, criando títulos bonitos para ações horrorosas. Um desrespeito à inteligência, um cinismo criminoso.
     O prefeito recém empossado que teve sua campanha eleitoral patrocinada, em grande parte, por empresas imobiliárias, anuncia a remoção de “comunidades pobres”, segundo ele, para livrá-las dos riscos de desabamentos. A lista, provavelmente feita pelas empresas como condição de patrocínio à campanha, inclui as áreas valorizadas pelo mercado imobiliário cobiçada pelos olhos grandes dos empresários.
        Uma barreira visual é construída ao longo da Linha Vermelha para esconder o complexo de favelas da Maré dos olhos dos gringos e visitantes que vão do aeroporto internacional para o centro e zona sul da cidade. O motivo alegado é proteger as frágeis orelhinhas dos moradores do ruído produzido pela via expressa. A ironia é automática, a raiva, inevitável. Até as palavras são torcidas, deformadas, torturadas.
       Como diz Gizele Martins, moradora da Maré, chamar favela de comunidade pobre é o mesmo que chamar um negro de moreninho.
      Favela é comunidade roubada. Em direitos, em cidadania, em humanidade.
         Morador de rua não existe, o que existe são desabrigados.
      Flexibilização é destruição de direitos trabalhistas, é violação de leis.
       Revitalização é expulsão de pobres que se abrigaram em prédios abandonados - devolvendo-os à situação de desabrigados - para ceder os espaços valorizados pela especulação imobiliária a meia dúzia de empresários ricos.
        Segurança pública é repressão e contenção do público.
        Emprego, em geral, é exploração até o talo, é destruição de qualquer qualidade de vida.
        Transporte público é tortura e aviltamento.
       Pessoas que se manifestam para conseguir respeito aos seus direitos constitucionais, permanentemente negados por um Estado que não cumpre sua própria constituição, são classificadas de baderneiras. As ordeiras são as que se conformam, se calam e sofrem sem reclamar, numa depressão silenciosa. “Morram quietos, pobres, mesmo vivos”, é o que nos diz o sistema social dominado pelos ricos mega-empresários, os que têm os políticos no bolso.
        O Estado tem sido um robinhude ao contrário, rouba dos pobres pra dar aos ricos.
Democracia é um cenário fajuto, cada vez mais esfarrapado – democracia de verdade é um povo alimentado, instruído, informado e consciente, tomando decisões a seu próprio respeito. Senão, é a “cracia do demo” e nada mais. Nunca tivemos democracia, só fachada e ilusão.
        Os pobres constróem, mantêm, fazem funcionar e ainda sustentam, via impostos, toda a sociedade. E são desprezados, sabotados, enganados, roubados, explorados, controlados, reprimidos e violentados, cotidianamente. O sentimento de inferioridade e impotência plantado há gerações, pela ideologia midiática e sua máquina de fazer opinião e distorcer a realidade, não deixam perceber a força enorme que a maioria possui. Afinal, quem planta o que se come? Quem carrega as caixas, faz o transporte e prepara a comida? Quem abre as portas, prepara os ambientes, faz a limpeza, tira o lixo? Quem cuida das crianças, dos carros, das casas, dos animais? Quem conserta vazamentos, fiações, quem instala os canos, levanta as paredes? Quem está na linha de montagem do que quer que seja que se fabrique? Quem corta os tecidos e costura as roupas? Quem desce aos subsolos dos gases, fiações e tubos, desentope os entupimentos, conserta os vazamentos? Quem instala as torres de transmissão, seja de comunicações, seja de transmissão de energia? Quem se pendura nas alturas pra todo tipo de risco? Quem viabiliza a existência da sociedade são os pobres.

        O empresário rico diz que “dá empregos” quando, na verdade, tira sua riqueza, seus privilégios, seu luxo e ostentação da exploração dos seus empregados, pagando o mínimo possível e violando direitos trabalhistas. Um rico é uma ilha de arrogância cercada de pobres por todos os lados. Um pobre é a base inconsciente de toda a estrutura. Um pobre pode viver sem ricos. Um rico não pode viver sem pobres.

Muito fácil perceber que sem os ricos a sociedade seria menos injusta e perversa. E que, sem os pobres, ela seria simplesmente impossível.

Alguns dizem ser restrita e preconceituosa a visão da sociedade dividida entre ricos e pobres. É certo, há muitos patamares, tanto na pobreza, quanto na riqueza, inclusive com a importante classe média dividida em degraus – costumo falar no plural, classes médias, que vão do gerente de loja, do sargento ou do mestre de obras ao diretor de grande empresa, ao general ou ao engenheiro-chefe. Mas é impossível não considerar o contraste brutal entre a parte de baixo e a parte de cima. Embaixo, carências, desrespeitos, dificuldades de sobrevivência assolam mais da metade das pessoas. Em cima, luxos, desperdícios, ostentações e usufrutos que ofendem a sensibilidade de quem a tem. Quem está na parte de baixo, como eu, vê a parte de cima como um bloco homogêneo, arrogante e privilegiado, digno do respeito e consideração pelo poder público, muito ao contrário de nós. As diferenças internas de classe, dessa forma, são irrelevantes. Ricos são os que têm mais do que precisam pra viver, pobres são os que têm menos. Simplifico porque no fim das complexidades, a coisa é bem simples. Não há uma fronteira clara entre as classes, mas os extremos contrastam dolorosamente. É aí que a sociedade se apresenta dividida entre ricos e pobres, apesar dos intermediários que podem chegar a 30% da população, variando a quantidade e a qualidade dos privilégios, mas tendo em comum os direitos respeitados, pelo menos os básicos. Só a informação foge a esta regra, pois é distorcida sem preconceito, para todos.
Afinal de contas, pior que a pobreza de grana é a pobreza de espírito. E essa não depende da classe social, embora prevaleça entre os mais ricos. Para usufruir de privilégios sem incômodos de consciência, é preciso empobrecer a alma, acreditar em mentiras crassas e criar indiferença ao sofrimento cotidiano de milhões.
        Para haver respeito aos direitos fundamentais desses milhões, é preciso exterminar esses privilégios materiais, instrucionais e informacionais, privilégios grosseiros e desumanos, apresentados com orgulho quando, na verdade, são uma vergonha.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A coisa anda a passo de tartaruga


Polícia grega a serviço dos bancos, ataca a população em protesto, começando pelos jornalistas.
Polícia grega ataca jornalistas, manifestantes e a população em protesto contra as leis impostas pelos bancos ao país, sacrificando aposentadorias, ensino, saúde e direitos trabalhistas. É a demonstração do controle dos Estados pelos poderes econômicos mundiais, que além de financeiros são, em último caso, militares e sanguinários.


      Para dar aspecto de adesão aos três tratados “anti-corrupção” internacionais assinados pelo governo brasileiro, este enviou ao congresso uma lei que, agora, está sob exame de uma comissão especial na câmara dos deputados.
      Mais uma lei de fachada, mais um instrumento pra ser utilizado em “brigas de cachorro grande”, as disputas entre elementos das elites, única maneira de ver podres vindo à tona e privilégios sendo retirados, em uma dança das cadeiras falcatruesco que não modifica as estruturas altamente corruptas que sustentam o cenário “democrático”.


      De minha parte, não tenho como acreditar na eficiência de tal lei – que ainda não foi aprovada e talvez não seja –, enquanto à minha volta empresas são constantemente favorecidas em prejuízo do público. Quando vejo a situação dos transportes, aqui no Rio de Janeiro – esfregada em nossa cara pelo menos duas vezes por dia –, ônibus superlotados, parados nos congestionamentos, metrôs apinhados, abafados, quebrando no meio do caminho, gente passando mal, sem ar, empurra-empurras, lotações esgotadas em trens, nas barcas, os serviços rotineiramente desrespeitosos, como o deboche das tarifas absurdas – onde, no mundo, trens, metrôs e barcas têm passagens mais caras que os ônibus? – e dos cartazes publicitários afirmando o cuidado e o amor aos passageiros, como se o serviço fosse a principal preocupação desses empresários do setor, e não o lucro a qualquer custo.
      O financiamento das campanhas é o foco e a manutenção dos bonecos políticos sob o controle empresarial. Pelo menos o foco principal e mais perceptível. A promiscuidade escancarada entre os políticos e os empresários deixa bem claro a quem serve a chamada “representação pública”, que de pública só tem o nome e o poder sobre o aparato estatal onde quem menos apita é o próprio público.
      O “avanço” que vejo é o fato de se estar falando em corruptor. Sempre me incomodou demais os ataques aos corruptos políticos, sem menção aos seus patrões, os mega-empresários que determinam políticas públicas, sem serem eleitos. Há muito tempo as decisões são tomadas de um círculo acima da política, no escuro dos bastidores. Manifestações “contra a corrupção” que terminam em acusações ao congresso ou a elementos de câmaras legislativas me parecem superficiais, cosméticas, infantis e passam longe das causas da corrupção tradicionalíssima nos poderes públicos das falsas democracias do empresarismo neo-liberal – o “capitalismo” sem cabeça nem nome de que falam as “esquerdas revolucionárias” arrogantes e elitistas.
      Pouco a pouco (e, meu deus, como é pouquíssimo!) se percebe que as causas da barbárie social que se alastra pelo mundo – atualmente “terceiromundizando” a Europa, começando, como sempre, pelos mais pobres – têm suas causas mais acima que a política das marionetes, no escuro dos mercados financeiros, no alto da pirâmide social, entre os riquíssimos a quem interessa manter a população ignorante e desinformada para seguir controlando seus fantoches e determinando as ações e omissões dos poderes públicos – que, de públicos, só têm o nome.
      Não sei quantos passos falta nessa direção, pra se começar a perceber que essa preponderância do poder privado se infiltrou na mentalidade, nos valores sociais e pessoais, produzindo opiniões, objetivos, desejos, modos de vida, comportamentos que sustentam, alimentam e mantêm essa estrutura social. O atrelamento do ensino aos interesses empresariais infestou as escolas e academias, aumentando o abismo entre as classes e desenvolvendo o egoísmo, a arrogância e a competitividade ao extremo, criando indiferença com relação à miséria, à pobreza e à exploração como se fossem mazelas inevitáveis, ao invés de vergonhas inaceitáveis.

      Os acontecimentos na Grécia deixam escancarado os mecanismos de ação e servidão dos governos “democráticos” submetidos à ditadura do “mercado financeiro”- representado hoje pelo que os gregos chamam “tróika”, a trinca Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Mercado Comum Europeu. Quem determina realmente as políticas públicas passa longe de eleições.


      O poder empresarial é desumano e não poderia ser de outra forma, pois seus objetivos se reduzem ao maior lucro e ao menor custo, como uma lei imutável e natural do nosso sistema social, o sistema que aceitamos como único possível e sem possibilidade de mudanças além da superfície e que sustentamos com nossos valores e comportamentos – que foram criados em laboratórios multinacionais e impostos, basicamente, pela mídia, como demonstrou Milton Santos no filme do Silvio Tendler, “Conversas com Milton Santos – a globalização vista pelo lado de cá”.


      Ainda nas palavras do brilhante negão, as empresas não têm nenhuma responsabilidade social, nenhuma responsabilidade moral, nem mesmo territorial, pois o centro do seu interesse é o lucro – a qualquer custo.
      Não consegui colocar o nome de nenhuma dessas marcas famosas, acompanhado das palavras “trabalho escravo”, no gúgol, sem obter resultados. Todos o nomes, náique, adidas, zara, marisa, etc, deram resultados, flagrantes ou denúncias de trabalho escravo, de exploração de crianças, em qualquer parte do mundo. E nós, boçais e ignorantes, vendo as marcas como nos foi programando, como símbolos de qualidade e até de afirmação de valor social. “Estupidezes” alienadas, condicionadas, como se vê em qualquer pesquisa em saites como o do Repórter Brasil.


      Precisamos deixar de ser otários e parar de colaborar com esse estado de coisas, precisamos levantar quais são realmente os nossos valores e quais foram implantados pela competência da publicidade, sobretudo depois do advento da psicologia do inconsciente aplicada à criação de valores e comportamentos sociais. Um processo criminoso e desumano que se vê no documentário “O século do ego”, produzido pela BBC de Londres e já divulgado neste blogue. Estamos todos impregnados, em maior ou menor grau. Quem se pretender isento passa atestado de ingenuidade, pra dizer o mínimo. E é por isso que os trabalhos de mudanças na estrutura social para colocar finalmente o Estado a serviço do seu povo precisam começar internamente pra adquirir consistência externa, poder de contágio e propagação. Não é uma figura de linguagem a afirmação de que mudando a si mesmo é que se muda o mundo. É uma necessidade.
      Sem isso, qualquer papo sobre revolução é inconsistente, não passa de teoria ou simples conversa fiada.

domingo, 1 de abril de 2012

Quando 31 de março foi 1º de abril

Por volta das quatro da madrugada as tropas do exército, com tanques, armamentos, caminhões lotados de soldados, jipes, caminhonetes, canhões e todo o aparato de guerra, partiram de Minas com direção ao Rio. Era o dia 1º de abril e um golpe era iniciado contra o governo eleito de João Goulart, golpe gestado desde a época de Getúlio, inclusive com um “manifesto dos coronéis”, e abortado –ou adiado – pelo suicídio estratégico do próprio Getúlio. Dez anos depois, quando os coronéis já estavam generais, deu-se o golpe. Tinha a cara, as mãos e as armas militares, mas – 1º de abril! – a cabeça era empresarial – mega-empresarial multinacional, pra ser mais exato. Um embaixador estadunidense era a mola propulsora e a correia de transmissão.
João Goulart seguia a linha de Getúlio que, em seu governo nacionalista, contrariou determinações dos “patrões” estrangeiros. Gegê estabeleceu o ensino obrigatório, criou leis trabalhistas, fez investigar a dívida externa, que caiu em 40%, entre outras coisas, ameaçou simpatias ao regime nazista e conseguiu, com muito jogo de cintura, fundar a Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobrás e outras estatais que os industriais do crescente império estadunidense proibiam por vias tortas. Claro, ele era um latifundiário populista, membro da elite, que conquistou o povo com seu paternalismo, mas suas atitudes criaram condições pra que a população mais pobre começasse a entender como funcionava a sociedade. As associações, sindicatos, federações de trabalhadores ganharam uma força nunca vista e, quando Jango chegou à presidência, encontrou apoio suficiente pra encarar as elites e começar as tais “reformas de base”. Apoiou os movimentos dos trabalhadores, aumentou em 100% o salário mínimo, enfurecendo os patrões e as elites nacionais e assustando os internacionais, em plena época de guerra fria, onde o comunismo era uma ameaça terrificante. Sacrilégio dos sacrilégios, desapropriou as terras em torno das rodovias e ferrovias federais, até dez quilômetros de distância de cada lado, e decretou a reforma agrária. Essa foi a gota d’água e o golpe foi dado. Ou eles perderiam o Brasil do seu controle, como haviam perdido Cuba, poucos anos antes, e temiam perder seus “quintais” na América Latina, entre os quais o Brasil era o mais rico e importante.


Para continuar o texto, clique no link abaixo. No final, documentário.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Anistia



Com a criação da Comissão da Verdade, fala-se que os torturadores e assassinos do período de destruição das brechas do sistema são anistiados e não podem ser acusados, processados ou presos.

Eu penso aqui na minha ignorância. Anistia não é o que se dá a uma pessoa que foi presa, julgada e condenada? Anistia não é uma espécie de perdão? Como é que se anistia quem não foi acusado, nem é condenado? Prender, julgar e condenar não é condição pra se anistiar? Mesmo os exilados foram presos e condenados.

Posso estar enganado, mas me parece muito esquisito isso. Se eles querem ser anistiados, que se apresentem como criminosos. Senão, como obter uma anistia? O que acontece é cumplicidade com os crimes, isso sim, é o que me parece. Proteção devido aos “serviços prestados”. Mais uma mentira, mais um deboche. Mais uma falta de dignidade.

Nós todos feitos de otários, mais uma vez. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Difícil de entender




              Tenho dificuldade em compreender certas situações e sua permanência.
            Em Pinheirinho foi documentada a expulsão de mais de mil e seiscentas famílias, cerca de nove mil pessoas, idosos, crianças, deficientes, mulheres e homens – e a destruição de suas casas, muitas com os poucos pertences dentro, lançando essa multidão ao desabrigo. Crianças confiscadas de seus pais pelo conselho tutelar da cidade, por estarem desabrigados, não terem aceitado passagens pra fora da cidade e ocupado os abrigos improvisados pela prefeitura – que sofreram e sofrem uma pressão estúpida, com bombas de gás lançadas dentro desses abrigos durante a noite, explosões de efeito moral e assédio ininterrupto, sem banheiros suficientes, sem higiene e com a alimentação precária. O proprietário do terreno desocupado pela polícia, um mega-especulador já denunciado há anos, responsável pela quebra na bolsa do Rio de Janeiro, nunca pagou impostos devidos ao município, a área estava abandonada e se tornou um bairro – não uma favela – com ruas, postes e saneamento, pelo esforço da própria comunidade, há oito anos. Na omissão do Estado, o povo deu seu jeito. O usucapião urbano é de dois anos, a comunidade, repito, tinha oito. Mas o Estado e seu aparato de segurança foram usados pra defender a propriedade do especulador milionário – denunciado até pela veja, a revista mais reaça do país, na época da quebra da bolsa –, atacando a população, massacrando, espancando, matando cachorros e pessoas, em cenas de barbárie explícita. Algo mais claro?
            Na Grécia, considerada o “berço da democracia” nos meios acadêmicos (apesar de ter sido um sistema escravagista e de o voto ser restrito aos poucos “cidadãos de bens”, os homens ricos), vimos no mês passado a polícia de choque circundar o parlamento para protegê-lo da fúria da população, enquanto seus “representantes” votavam mudanças na legislação impostas pelos bancos internacionais, suprimindo direitos, cortando salários e empregos, aposentadorias e pensões – covardia cada vez mais comum –, privatizando coisas públicas e destruindo a economia do país enquanto, na cidade inteira, o resto da polícia combatia focos de levantes populares, sem conseguir. Foi o caos durante dias, controlado com muito sangue, pancadaria, quebra-quebras e prisões, numa guerra generalizada onde o Estado ataca, contém e controla a população roubada, que se debate em protesto. Inutilmente. Algo mais claro?
            No Rio, os empresários do ramo imobiliário estão esgotando as áreas da Barra e zona oeste litorânea e voltam os olhos para o centro da cidade. Abandonado há décadas e com milhares de prédios sem uso, deteriorando, o centro foi tendo vários desses prédios ocupados pela população desabrigada. Na ausência do Estado, que não cumpre sua “lei máxima”, a constituição, que garante moradia, alimentação, etc., o povo sem teto toma suas iniciativas e se apropria do que é seu direito, violado pela própria estrutura social. Com a cobiça dos grandes empresários, a prefeitura apareceu com um projeto de “revitalização”, denominação mentirosa que mal encobre o processo de expulsão dos mais pobres pra longe dali, de investimento de dinheiro público na reestruturação da infra-estrutura do centro, agora transformado em patrimônio histórico, preparando a área pra chegada dos empresários. É o que eles chamam, na encolha, de “limpeza”. Pra eles, os pobres são lixo e devem ser removidos. Comunidades inteiras têm sido removidas no interesse dos financiadores de campanhas de legisladores e governantes, tornando-os seus agentes, travestidos de representantes do povo. Algo mais claro?
            Em São Paulo, favelas em locais valorizados são assediadas de todas as formas, legais e ilegais, físicas e psicológicas. Os incêndios nessas comunidades se tornaram comuns, a ponto de surgirem métodos de combate ao fogo pelos próprios moradores. Eles perceberam não poder contar com o poder público. Apesar dos chamados insistentes aos bombeiros, quando começa um desses incêndios, quem chega primeiro é a polícia, cercando a comunidade, enquanto empresários e seus políticos esfregam as mãos, repetindo o jargão dos fanáticos religiosos diante do que acreditam ser o demônio – “queeiima!” Num desses, que por acaso contou com a presença de algumas equipes de imprensa, foi mandado um caminhão dos bombeiros, pra não ficar tão mal na foto. A polícia teve que abrir passagem pra entrada do veículo. Era um caminhão velho, estava com meia carga de água e a mangueira tinha tantos furos que os moradores amarravam plásticos e camisas pra conter os vazamentos, sem sucesso. A água não chegava com a pressão necessária. A cena da mangueira jorrando água pra todos os lados, menos no fogo, era de revirar os intestinos. Algo mais claro?
              O Estado está seqüestrado pelos poderes econômicos e em preparação constante para a guerra e o massacre contra suas próprias populações. Exemplos temos de sobra, falta assumir a realidade. A coisa pública está imersa na privada.
            E nós, boiada conduzida, vemos o mundo restrito a dois “mercados” básicos, o de trabalho e o de consumo; vemos a vida como uma competição permanente e cada irmão como um adversário; sonhamos com consumos impossíveis para todos e aceitamos trabalhos que odiamos, transformando o prazer de trabalhar em sacrifício insuportável; assistimos os jornais da mídia privada mesmo depois de provas à exaustão da desonestidade dessa mídia, das distorções da realidade e da defesa histérica e irrestrita dos interesses empresariais, em prejuízo da maioria. Não nos revolucionamos por dentro, mas pretendemos revolucionar a sociedade, numa ingenuidade desanimadora. Os protestos e mobilizações são cada vez mais inúteis e ignorados pelas autoridades – ou atacados pelas forças de segurança, pondo em risco a integridade física e mesmo a vida dos que se manifestam. Em vez de conscientizar a população, a proposta é conduzir as massas, liderar, numa arrogância planejada e produzida nos laboratórios transnacionais de psicologia do inconsciente – na criação de valores falsos, desejos superficiais e comportamentos condicionados – e imposta pela mídia. As contestações não escapam ao condicionamento, por isso são inócuas, inofensivas ao sistema empresarista estabelecido sobre os poderes públicos. Se mudanças acontecem, no mais das vezes são mudanças cosméticas, na aparência, superficiais demais pra provocar mudanças profundas e reais na estrutura social.
            Começo a achar que o movimento hippie era muito mais revolucionário que esses europeístas cheios de arrogância, condicionados de todas as formas, subalternos ideológicos ao pensamento europeu, incapazes de criar e de revolucionar o próprio comportamento, incapazes de olhar dentro de si mesmos e encontrar aí o trabalho a ser feito, em primeiro lugar. Os hippies começavam mudando seu comportamento, seus valores, sua vida. Por isso contaminavam daquela maneira avassaladora, conquistando a juventude em massa e obrigando o sistema ao trabalho intensivo de criminalização daquela onda, de perseguição implacável, de dispersão e extermínio que eu vi, ninguém me contou. Eles pregavam a vida com o mínimo necessário de material, a abolição da alimentação industrial, o uso da medicina não comercial, natural, na maior parte dos casos, o desenvolvimento das artes e das relações fraternas, o igualitarismo, a generosidade, a solidariedade irrestrita, o pacifismo e a resistência às imposições de valores e comportamentos. Mais que isso, eles praticavam e viviam essas coisas. Sua revolução partia da alma, de dentro, era preciso vivenciar os novos valores.
            Não estou dizendo que eles revolucionariam a sociedade, que por ali seria possível. Apenas que era um movimento muito mais inteiro, muito mais contagiante, por ser impossível apregoar sem vivenciar no dia a dia, sem assumir o que se propõe e viver de acordo, independente se a sociedade é assim ou não, não importam as conseqüências. Um revolucionário sem amor, arrogante e cheio de verdades não é um revolucionário. Ao contrário, esse tipo de postura desmoraliza a palavra revolução. São os revolucionários dos rebanhos, esporrentos, raivosos e inofensivos ao sistema, recusados pela população, ridicularizados pela mídia e cansativamente repetitivos, incapazes que são de mudanças reais. Dizem querer mudanças, mas não conseguem ser essas mudanças – esta é sua limitação, sua contradição, sua precariedade.
            Não há meio termo, não há como negar. A sociedade está sob controle dos poderes econômicos, dos bancos, das grandes empresas, e o povo é traído permanentemente, sabotado, enganado, explorado e excluído dos benefícios do desenvolvimento. Difícil entender como pessoas informadas, instruídas e desejosas de mudanças não enxergam essa realidade e ainda falam em democracia, na pseudo “democratização pós-ditadura”, numa ditadura que mudou de cara, mas não de essência. Estamos envolvidos por mentiras descaradas que não resistem a uma análise simples. O problema é que não analisamos sem partir de premissas falsas. Na sociedade atual, o patrimônio vale mais do que a vida, o privilégio vale mais que o direito, o rico vale muito, o pobre não vale nada. O Estado, amarrado, seqüestrado, dominado, toma dos pobres pra dar aos ricos e está cercado por vampiros, morcegos, sanguessugas, carrapatos, pulgas, piolhos, bactérias, que o enfraquecem. O remédio contra essa anemia está na instrução, na informação, na conscientização – por isso se sabota o ensino, se controla tão ferrenhamente as comunicações e se ataca todo movimento popular que defenda os direitos da maioria, reivindique, denuncie ou conscientize. É a estratégia dos zero vírgula alguma coisa por cento da população pra impedir mudanças reais e garantir seu vampirismo sobre o poder público e as riquezas do país.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Notícia da Agência Petroleira dá o que pensar

http://www.apn.org.br/apn/content/view/4208/48/

Recebi esta notícia e senti necessidade de repassar. Acabei escrevendo o texto abaixo, a partir da gravidade do que está rolando na área do petróleo, extraído com ânsia e urgência por empresas petroleiras privadas multinacionais, conscientes de que o saque pode ser percebido e contido a qualquer reviravolta política. Por enquanto, contam com políticos, legisladores e juristas domesticados e a seu serviço. Mas sabem dos movimentos contrários à sua exploração. E a cobiça exige a urgência na extração, indiferente a conseqüências nefastas ao meio ambiente e às populações locais, como sempre.


Petróleo “Brasileiro”

            Sindicalistas, revolucionários, ativistas, políticos e ideólogos que se dizem nacionalistas dão uma conotação hipócrita à palavra ‘brasileiro’, como se isto significasse ‘dos brasileiros’. A idéia é fraca e não cola, a realidade se impõe. Nas chamadas mobilizações, nas manifestações, vemos as mesmas caras, os mesmos grupos embandeirados com suas siglas e ideologias, cada um certo de que está com a verdade, como as religiões, de vez em quando se estranhando seriamente, ódios explícitos e insultos irreconciliáveis – em termos. Circunstâncias podem acontecer de vermos inimigos ferrenhos, pessoas que ontem se acusavam das piores intenções, de portadoras do pior caráter, no mesmo palanque, se afagando como se fosse um ato de nobreza, de superação das diferenças, em cenas ofensivas ao entendimento, à sensibilidade, numa hipocrisia cujo único ponto positivo é demonstrar em que nível está nossa prática política, a administração da nossa sociedade, e o quanto merece de confiança.
            Basta observar o ridículo poder de convocação, o descrédito popular às organizações ditas revolucionárias, pra perceber o isolamento destes grupos, restritos a movimentações simbólicas, sem poder de catalizar as paixões, de despertar as consciências, de provocar debates independentes, de causar, pelo menos, questionamentos. Quando acordarão pro fato de que a revolução da sociedade começa na revolução do indivíduo e, em primeiro lugar, nos que se pretendem revolucionários?
            Bueno, eu comecei a escrever na intenção de divulgar uma notícia que dá o que pensar, chegada pela Agência Petroleira de Notícias. Vazamentos de petróleo no fundo do mar. Acidentes provocados, como é freqüente, pela ganância, e que muitas vezes nem vêm à tona, não se fala, os interesses envolvidos são gigantescos, poderes econômicos esmagadores. Há uma série desses “acidentes” acontecendo, com regularidade, há bastante tempo. Regularidade acentuada depois de se descobrir o pré-sal. As empresas que já conseguiram seu quinhão, via leilões lesa-pátria que os governos se viram obrigados a fazer, pressionados pelas forças econômicas estrangeiras e, sobretudo, pelos sócios brasileiros, neo-mega-empresários e a mídia, essas empresas sabem haver disputas internas e que há luta por leis que restrinjam sua participação. Quando se intalam, tratam de retirar o máximo de petróleo, o mais rápido possível, não importam as conseqüências, antes de serem impedidas por lei – ainda que tenham grande poder de pressão interna e internacional, política e jurídicamente, somados ao poder de mídia.
            Um conhecido meu trabalha numa plataforma de petróleo, em Santos. Há alguns anos encontrei com ele, que me relatou a passagem de navios de guerra dos Estados Unidos margeando as águas territoriais brasileiras desde a divulgação do pré-sal, da descoberta de enormes quantidades de petróleo. Ele me disse que via passarem esses navios todo dia. Foi a reativação da quarta frota estadunidense, parte da polícia do planeta, em demonstrações de força. Quantidades imensas de dinheiro são necessárias pra mover essas esquadras, com seus porta-aviões, destróieres, cruzadores, aviões, helicópteros, bombas, munições e milhares de militares. Essas movimentações dão idéia do tamanho da importância desse petróleo, da quantidade inimaginável de grana que vai brotar dali e do perigo que estamos todos correndo, com a cobiça dos grandes inimigos da humanidade localizada em nossa área. Já vimos como são capazes de atacar países, matar populações civis, destruir estradas e pontes, hospitais e escolas, fábricas e toda a infra-estrutura de uma nação, em proveito de suas empresas - petroleiras, armamentistas, construtoras, etc. No Brasil, eles contam com a desinstrução e a desinformação do povo, além de terem aliados de monte - e de monta - nas elites do país, que arreganham os dentes aqui dentro e abanam o rabinho lá pra fora. 
            A população não sente o petróleo como sendo seu. Nunca viu resultado dessa riqueza em sua vida, a mixaria destinada à maior parte da população - se é que existe, não dá pra sentir, nunca deu, nem quando era estatal.. A gente vê os políticos e os especialistas falando em altas somas, valores incríveis, mas o posto de saúde é uma merda, a escola é outra, os transportes, nem se fala – e olha o preço da comida, olha quanta gente desabrigada, olha a miséria que nos cerca. As coisas não são explicadas à maioria, ao contrário, à população é sabotado o desenvolvimento racional, com uma parcela ridícula do orçamento para a educação, perpetuando a ignorância – a meu ver, intencionalmente. O povo não entende o que acontece. Intuitivamente, sente, pois a intuição se desenvolve na carência do desenvolvimento da racionalidade e o brasileiro médio tem uma intuição altamente desenvolvida. Um poder que ele mesmo não reconhece, esmagado pelo massacre publicitário e de propaganda pseudo-ideológica, que implanta sentimentos de inferioridade aos que têm pouco, que “sabem menos”, à esmagadora maioria, aos explorados, sabotados, reprimidos e desprezados da sociedade. Não se pode esperar que a população lute pelo "seu" petróleo. Ela não sabe e não acredita que essa riqueza seja sua, seu dia a dia esculacha com essa idéia, torna-a absurda, sem pé nem cabeça.
            Uma vez recuperada a auto-estima, a intuição se torna um instrumento de grande utilidade, nas escolhas pessoais, nas relações sociais, nas posições políticas. Para despertar dessa narcose, o caminho é o sentimento. O afeto é o melhor caminho para despertar as pessoas. A tolerância, a persistência com inteligência, com respeito e humildade. De outra forma, o que se encontra é rejeição, oposição e conflito. Que, aliás, é o que mais vemos no cenário político. Conflitos inúteis, inofensivos ao sistema.
            Falta quem trabalhe em conscientização, em despertamento, sem arrebanhamento, sem imposição ideológica alguma. Os cursos de formação política que vejo por aí são, na verdade, cursos de conformação ideológica, de imposição de verdades e criação de rebanhos que gastarão suas energias combatendo outros grupos, enquanto a barbárie social come solta. Esses comportamentos desmoralizam cada vez mais a palavra ‘revolução’ e o revolucionário já é costumeiramente ligado à noção de chato, de perturbação, de incômodo, à sensação de “já vi e não gosto, não”.
            Já tô saindo da linha de novo. O papo aqui é petróleo. Nada do que acontece é de se estranhar, onde há mega-empresas, há mega-falcatruas. Mas é preciso repercutir essas notícias, dentro do processo de despertamento que percebo, ainda pouco visível, mas que venho acompanhando há pelo menos trinta anos e caminha, sem parar, embora lentamente. Hoje, há muito maior número de despertos que antes. E o processo de contaminação está bem mais intenso. Conscientizemos uns aos outros.
            Não adianta, de qualquer ponto estou caindo na evolução humana, individual e coletiva. O recado está dado.

             Abraços a todos,
                                         Eduardo.

sábado, 17 de março de 2012

Cátia com "C"

Cadê você?
Cê começou a contar sua história e parou no seu pai, desescolarizado e sábio. Essa condição e seu amor por ele criaram a condição rara de obter o conhecimento acadêmico e não perder o respeito pela sabedoria dos sabotados em educação. Esperei que aparecesse no segundo dia de PUC-RS, cheguei a perguntar ao Guilherme, mas nada.
Tua história pode servir pra muita gente, que vive nos pedestais acadêmicos, se tocar do ridículo e do quanto estão perdendo, com esse condicionamento idiota de superioridade. Cê disse que lia esse blog, vez por outra. Apois, tô tentando saber o resto da história. O endereço é esse do cabeçário, mesmo, faz favor. Tem gente boa que se contamina com o condicionamento de superioridade dos cursos universitários, pelo inconsciente, e nem percebe, tão entranhado é esse condicionamento. A arrogância, a grosseria, a indiferença ou a benevolência com que se trata os mais pobres e menos escolarizados têm origem no mesmo sentimento de superioridade, as variações são pessoais, do temperamento e do caráter de cada um.
Curso superior deveria ter outro nome, se não tivesse o objetivo de formar classes "superiores", separadas do todo, da coletividade, para servir aos interesses empresariais. De todas as formas, seja com serviços profissionais específicos de cada área, seja na administração hipocritamente pública (pois está sob controle da privada), seja no comando, controle e condução da massa empobrecida, explorada e excluída dos benefícios da tecnologia, além de sabotada e roubada em seus direitos fundamentais.
Numa sociedade verdadeiramente humana, considerando a situação atual, deveria haver um pórtico na entrada das universidades, com letras garrafais, dizendo "você que entra neste estabelecimento está tendo acesso a conhecimentos negados à maioria da família humana, portanto está adquirindo uma dívida moral com essa maioria, que construiu, mantém e sustenta não só essa escola, como toda a sociedade. Trate de merecer esse privilégio, distribuindo todo o conhecimento e seus benefícios à coletividade".
Na forma atual, dominada por interesses empresariais, egoístas, a mensagem é oposta, embora subliminar na maior parte das vezes. "Guarde o conhecimento privilegiado como um capital pessoal, em seu próprio benefício e dos mais próximos, pois o mundo é uma arena de batalha onde todos são adversários e não se pode confiar em ninguém".
Interesses empresariais dominam nossa sociedade em todos os setores estratégicos. Esses poucos se prepararam pra todo tipo de contestação, manifestação, protesto. Mas não têm como permanecer no controle se houver consciência da realidade espalhada pela população. Instrução e informação são as maiores carências pra mudar a sociedade pra melhor, em benefício de todos.

Então, Cátia, dá as caras aí, preciso da tua história, que ficou pendurada na minha precária memória.

Em 12 de maio de 2012 - ...e a Cátia não apareceu.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Luzes quebram correntes

O cidadão médio, com cabeça de televisão, o político marionete,
manobrado do escuro, o ensino em ruínas, os hospitais opressivos,
as correntes de mentiras, entre outros detalhes.


          Uma sociedade injusta como a nossa precisa ser observada com muito cuidado e prevenção (contra as armadilhas, dissimulações e distorções “plantadas” no caminho do entendimento), para revelar suas realidades, a forma como está entranhada, infiltrada em nossa inconsciência, como se fosse a única estrutura social possível, como se fosse a melhor, com valores traiçoeiros, falsos, mas fortes como verdades.
            Acreditamos que a vida é uma competição desenfreada e é dividida em dois mercados, o de trabalho e o de consumo. Acreditamos ser superiores quando temos muito e inferiores quando temos pouco – seja materialmente ou em conhecimentos mas, em geral, os dois. Narcotizados pela mídia, pressionados econômica e psicologicamente, esquecemos os valores da alma, a solidariedade, a preocupação com o bem-estar coletivo e sua busca, o afeto nas relações, o prazer do bem-fazer, o sentimento de integração no todo, a cooperação, a humildade, a generosidade. Ou guardamos tudo isso num cubículo remoto da mente, para usar apenas com uns poucos, mais próximos e chegados. E o resto é guerra.
            Com o egoísmo estimulado ao máximo, vemos adversários por todo lado e deixamos de perceber a grande família humana da qual somos parte – mais que isso, somos uma família planetária e consangüínea, pois nos alimentamos todos da carne e do sangue do mesmo planeta. Somos todos conterrâneos. Mas estamos acorrentados por mentiras em que acreditamos e que nos estragam a vida e o mundo. Descobrir em nós mesmos – e desacreditar – as mentiras impostas como verdades é o primeiro passo para quebrar as correntes da escravidão contemporânea.
            Para muitos, é difícil perceber as próprias prisões. As grades são apresentadas como proteção, como garantia contra a barbárie. Por isso a barbárie – miséria, ignorância plena, abandono; e violência e repressão como conseqüência – é mantida, para criar medo, conformação, como uma chantagem irresistível. Por isso a mídia se especializou em distorcer a realidade, para não se ligarem causas e conseqüências de tanto desequilíbrio. Para que a miséria seja vista como inevitável, sem nada a ver com o predomínio empresarial, com o egoísmo estimulado, com a concentração de riquezas e privilégios.
            Desejamos riquezas e privilégios, vemos nos irmãos, adversários, transformamos qualquer discordância em discórdia e conflito, confundimos valor e preço, amor e posse, amizade e interesse, felicidade e consumo. Construímos, assim, as grades da prisão e as correntes da nossa própria escravidão. Prisioneiros de mentiras, desejamos o que nos é induzido e nos comportamos como é condicionado.
            Se rompemos ou afastamos algumas dessas grades, apenas o suficiente para colocar a cabeça lá fora, é possível perceber o infinito espaço externo, ao mesmo tempo as restrições e o sofrimento da vida engaiolada – e a inutilidade dos seus subterfúgios –, além da fragilidade das mentiras que compõem as grades e correntes que nos prendem. Se, de dentro, essas prisões parecem indestrutíveis, de fora elas se revelam ilusões e desabam ao leve toque de um olhar mais lúcido. Nesse momento, é impossível conter a vontade de abrir as asas e voar. Só o medo pode impedir o vôo, as ameaças estratégicas, planejadas e impostas pelo sistema – cobrando o preço da frustração, do vazio e da falta de sentido na vida a todos que precisam de mais do que matéria, ostentação, consumo e outras superficialidades sem alma. Mas o tempo passa, mudanças não param de acontecer e, apesar das mentiras, cada vez mais a angústia supera o medo, cada vez mais pessoas abrem suas asas e voam, apesar das ameaças, apesar das mentiras, apesar das perseguições, apesar da repressão.
            Como uma febre que se alastra, a lucidez contamina, a consciência se desenvolve e abre caminho na escuridão. Lentamente, como todo processo da natureza, e sem que nada possa impedir. As luzes se acendem, ainda poucas, mas são luzes que acendem outras luzes que, por sua vez, seguirão acendendo luzes outras.

                                                                                                                          Eduardo Marinho

sexta-feira, 9 de março de 2012

Crimes sociais de empresas, desta vez aéreas, em cooperação com os poderes "públicos", por Oberdan Barbosa.

Recebi o pedido de ajuda do Oberdan, pra divulgação da situação em que está colocado por, ele diz (e eu acredito), ter feito em seu trabalho denúncias sobre procedimentos que atentavam contra a segurança dos vôos por algumas empresas. Fucei aí na internet e encontrei várias referências ao assunto, senão verdadeiras, perfeitamente possíveis de serem verdade. Muitíssimas empresas, na busca de seu objetivo principal, dinheiro, o chamado lucro, contêm custos sonegando, demitindo, aumentando cargas de trabalho, violando legislações, comprando parlamentares, juízes, advogados, destruindo vidas, influenciando poderes públicos, difamando, perseguindo, assassinando denunciantes e testemunhas que não se vendem e inumeráveis outros procedimentos na mesma linha. Não é de se estranhar, as grandes (leia-se ricas) empresas costumam não ter nenhum compromisso moral, social, humano, nenhum compromisso além do lucro, dos ganhos possíveis a qualquer custo. Alguns podem dizer que não é bem assim, que não são todas. Eu digo que pode até haver exceções, mas essa é a regra geral - basta ver como o aparato público trata a maior parte do público, a maioria pobre. Essa mazela social não está restrita ao espaço aéreo, está espalhada e enraizada em toda sociedade, em todos os setores. A empresarização da sociedade se reflete no modo de vida, nos valores vigentes, nas disputas intermináveis, as competições cotidianas, na idéia da vida restrita ao ridículo vencer ou perder, a coletividade dividida entre vencedores, poucos, e perdedores, muitos. Absurda dualidade que inferniza a vida de toda coletividade humana, afastando, dividindo, conflitando, o egoísmo estimulado ao máximo. A desonestidade "bem-sucedida" é premiada, enquanto a honestidade que se põe no caminho do lucro é reprimida, difamada, corrompida ou destruída. Ou pelo menos reduzida a uma expressão mínima e inofensiva aos interesses vampirescos. É disso aí que fazemos parte, é nesta sociedade que a maioria tenta se ajustar, colaborando com seus valores e comportamentos, objetivos e meios de alcançá-los.

Voltando ao assunto, coloquei abaixo um vídeo do Oberdan e um texto da associação formada pelos parentes das vítimas do acidente com o avião da Gol com o Legacy dos pilotos estadunidenses ilesos enquanto os 154 ocupantes do outro avião (que voava em sua rota programada) morreram. Num comentário, Oberdan se apresenta e é apresentado por outros comentários.

O vídeo, pra mim, parece mais o ensaio que a apresentação. Há pausas desnecessárias, mistura os fatos com opiniões pessoais, analisa frações do sistema judiciário, cita os movimentos árabes, com ênfase no Egito, aconselha ações a diversas figuras envolvidas e denuncia as perseguições que sofreu e vem sofrendo. Acusa a venalidade e a traição de advogados e testemunhas. Declara sua confiança num deus, coisa que sempre me causa uma sensação estranha, embora eu respeite essas projeções por perceber sua influência nas posições morais dos mais fragilizados. Não contesto, apenas não reconheço no ser humano capacidade pra compreender tal magnitude, pois se não conhece nem uma ínfima parte da criação como pode se arvorar a conceber o criador? Aliás, criador já indica forma de gente, um "super-serumano". Mas nada disso serve pra desacreditar as denúncias, ou seu denunciante que é também vítima. Nada disso sinaliza a índole do caráter.

Acredito no Oberdan, embora reconheça sempre a possibilidade de estar errado. Ou, dito de outro modo, reconheço sempre a possibilidade de estar errado, mas acredito no Oberdan. O assunto é digno da atenção de todos.

 http://oberdanbarbosa.wordpress.com/videos/

http://nadiatimm.com/Joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=451&Itemid=35

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.