domingo, 19 de maio de 2019

Fabio e Edu - cartas trocadas.

Fabio:

"Impressionante como conversar com as pessoas me é cada vez mais insuportável. Tenho cada vez menos paciência de explicar certas coisas. Vejo as pessoas cada vez mais apegadas as suas pequenas certezas e isso é um nojo. Não conseguem ver um centímetro adiante, não tem um mínimo de criatividade ou imaginação. Agora a moda é que para criticar você tem de obrigatoriamente ter uma proposta. Se você diz que não compactua com o sistema, elas vem logo perguntando como deveria ser feito então. Querem quer você dê respostas, precisam de um mapa pra seguir, necessitam de uma receita de bolo. As pessoas tem uma grande dificuldade com essa pegada igual você teve de não saber o que ia acontecer, mas a certeza era de que o que lhe era oferecido não servia. Você saiu pelo mundo sem saber que um dia ia chegar no Eduardo que chegou hoje. Entende? Eles tem pavor do desconhecido. Precisam de seus ismos para servir de bengala. Mergulhar no desconhecido e construir enquanto se caminha chega a ser uma heresia. Elas querem uma resposta pronta. Você não acredita em partido, não acredita no sistema como é, não quer escolher um menos pior para te representar, então como tem de ser? Daí tu tenta falar que você não tem respostas prontas, que a coisa precisa ser construída no coletivo enquanto se faz para ter algum sentido... E aí já enlouquecem. "Se você não sabe então está satisfeito do jeito que está." Entende isso? O potencial escroto dessa lógica? Você não pode ver que está ruim porque não pode adivinhar o futuro ou porque não tem a fórmula mágica.  E vem uma torrente de merdas imensuráveis. E isso tô falando de gente que se diz de esquerda e até uns que se dizem libertários estão aderindo a essa lógica, a essa necessidade de trabalhar com respostas e afirmações que criam polos que se retroalimentam. A necessidade de convencer o outro. Nojo total das pessoas. Muito cansativo dialogar quando a burrice está mais solidificada que nunca em ambos os lados."  

Edu:


"Nisso de fazer o caminho caminhando, minha opinião é que o clima de heresia aparece pra esconder o medo. Respostas e certezas tranqüilizam e evitam o pânico ao risco. A tal "segurança social" é um esterilizante, uma corrente que prende essas mentes tão instruídas na formalidade. É a ignorância instruída, adestrada a funcionar pelo sistema, mesmo sendo "contra", pra não perder seus direitos de abastados, pra se manterem na "casta" acadêmica. É a facilidade dos teóricos, na prática são prisioneiros dos seus próprios pensamentos - que, aliás, nem próprios são na esmagadora maioria das vezes. Evito perder tempo com essas mentalidades, por saber que é não só inútil, como desagradável. A maioria, na verdade, nem tá nessa. E a gente prefere trabalhar com a maioria, com a sabedoria e não com o saber. Com a prática na base das teorias vivenciais a que vamos chegando, sem esse cheiro de múmia das teorias eurocêntricas. Mais pra intuição do que pra lógica, mais pro sentir do que pro raciocinar, embora não se dispense a participação nem de lógica, nem de saber - apenas descidos dos seus pedestais e postos a serviço do sentir, do sentimento de família estendido pra toda humanidade, toda a vida planetária. Um passo distante ainda na caminhada. Estamos em meio aos espinhos e armadilhas, em direção ao colapso, aos escombros de onde apenas aqueles habituados às dificuldades rotineiras poderão reconstruir o mundo, menos desumano, menos desigual, menos arrogante, mais respeitoso e integrado em todas as suas formas de vida e existência. Coisa pra gerações ainda distantes. Agora estão chegando as da reciclagem, da auto-suficiência e dos desenvolvimentos necessários no momento, a partir da autonomia psicológica, mental e espiritual. Estas estão na base de todas as autonomias. É preciso ignorar os fracos que se fazem de fortes. Eles não são capazes de muita coisa. Há os que são e não se encontram entre teóricos sem prática verdadeira. Os simulacros abundam por aí, garimpamos exceções em qualquer meio. Não há só dois lados. Há infinitos."


Fabio da Silva Barbosa e seu novo livro - socos no estômago, tapas de vergonha na cara. Quem quiser encarar, pedidos por email a ele próprio. 
Fabio da Silva Barbosa fsb1975@yahoo.com.br


10 comentários:

  1. Vida Longa Celestina, Vida longa Edu!

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  2. Nossa que relato! Quanta verdade sobre nosso dia a dia, realmente tem sido difícil de lidar com essas pessoas mais relutantes a humildade. Geracoes futuras estudaram e nos chamaram de os antigos. Que as coisas mudem de rumo 🍀🧠

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  3. sinto-me triste por não ter conhecido há mais tempo esse ser iluminado, acabei esbarrando por acaso em um vídeo seu no YouTube, até que enfim, que os algoritmos serviram para me mostrar algo de útil. parabéns pelo seu trabalho, queria muito trocar umas ideias pessoalmente com você!! sucesso!!

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  4. Primeiro pensamento quando li a carta de Fábio. "Ok, tudo bem! Então os outros são hereges porque não concordam com sua posição, ou pedem respostas e soluções. Mas você está certo e é liberal porque assim o decidiu e a sua opinião é que conta! Tenha dó! Nós somos donos dos nossos ideaís e não dos, dos outros. Temos que respeitar! Se outro acha que seguir o que a sociedade diz(ou acha bem) é que está certo. Respeita e assim estarás a respeitar-te a ti próprio."

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    1. Interessante seu argumento. Achas que o respeito é algo que se mede diante de cada situação? Se sim, tenha essa pauta(resposta) como encerrada.

      Se não, então talvez poderia pensar em como em cada ser, cada espectro vivo, cada reflexo de vida ou de sentimento que existe, exigiria a mesma busca pela garantia de respeito diante de cada situação que lhe foi colocada ou imposta. Expressões existem para ser sentidas, vividas, questionadas, respeita-las não significa que nao possa senti-las, vive-las ou questiona-las. Estamos vivos como tudo a nossa volta somos parte de tudo isso e em tese isso se torna muito maior que uma única palavra para expressar outra que na realidade traduz o real sentimento que tentas explicar sem expor-se. Essa "mascara" te ferirás provavelmente porem se a prefira e te satisfaz, tu tens a opção de mante-la sem condoer-se com a opinião alheia.
      Uma pauta.
      Expressões.
      Pensamentos.
      Visão do hoje.
      Sem julgamento.
      Não te julgo, mas procuro te sentir, e então "o respeito" e sentirei "um respeito." - R.

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  5. É que pra projetar os sonhos de mudança tem que se adaptar a rede dos mudadores de mundo oficiais, os que são considerados pelas potências européias e etc, aí eles precisam se afunilar pra passar pela peneira da elite intelectual, e viver produzindo teoria, mas daí a pressão pra passar é tanta que definham as ideias e não conseguem produzir nada de mais
    Boa noite

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  6. O homem que chegou a uma conclusão chegou numa morte.

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  7. "Eu prefiro viver com a sabedoria e não com o saber. Com a prática do que vou aprendendo e não com o que me disseram ser. Sigo a intuição, sem de todo desprezar a lógica. O caminho está no sentir e não no pensar. Embora o pensar e a lógica são necessários para interpretar o que sinto com a intuição. E tudo está interligado, em todas as formas de vida e existências."
    Só tem uma forma de você ter escrito isto, Você se despiu completamente e esta é a sua real essência!
    Foi isto que te conduziu a sua vida toda, veio com você, e é só o que você tem que respeitar, isto que te leva a fazer as coisas que ninguém compreende, que você nem compreende a razão de ser, mas sabe que é por isso ou pra isso que está aqui.
    Você sabe que você me assustou



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