quarta-feira, 3 de junho de 2020

X9 Internacional



Sérgio Moro e o FBI

 Uma recente investigação da Agência Pública afirma que Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça do Governo Bolsonaro e máximo juiz da Lava-Jato, foi o encarregado de garantir a atuação do FBI no Brasil durante os últimos anos.
O FBI está proibido de realizar investigações em territórios estrangeiros, já que precisa de jurisdição em outros países.
As conexões entre Moro e os órgãos de justiça e inteligência dos EEUU não são novas. Esta relação foi revelada anteriormente pelo Wikileaks, quando se tornou pública a existência do Bridges Project, em outubro de 2009, ainda que o empenho de parte das diferentes Administrações estadunidenses por subordinar a segurança brasileira a sua própria estratégia e interesses nacionais venha de muitos anos atrás. Durante a década de 90, o então chefe do FBI no Brasil, Carlos Costa, concedeu várias entrevistas ao jornalista Bob Fernandes nas quais revelou, sem dissimular, diversos fatos que demonstram este tipo de vínculo. Em 2004, Costa reconheceu que a Policia Federal do Brasil “se sente inferior e desmoralizada devido a dependência dos fundos do Governo dos Estados Unidos”.
Após os atentados contra as Torres Gêmeas em 2001, as autoridades estadunidenses começaram a utilizar o “terrorismo” como bode expiatório para a concretização de objetivosde interferência em diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil.
A investigação
Em 18 de março de 2019, Sérgio Moro e o agora ex-diretor da Polícia Federal (PF), Mauricio Valeixo, se reuniram em Washington com o então secretário de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, e o diretor do FBI, Christopher Wray. Ambas as partes firmaram um acordo afim de legalizar o “intercâmbio de informação sobre grupos criminosos e terroristas através do acesso compartilhado ao registro de impressões digitais e outros dados de identidade”.
Em outubro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto para unificar a base de dados que reúne a informação biométrica de cidadãos e cidadãs de todo o Brasil.
Segundo o tratado firmado em Washington, EEUU pode acessar os antecedentes de qualquer pessoa considerada “suspeita”, independente de que em seguida se prove sua inocência ante tal delito. Conforme esta disposição, o marco legal de atuação por parte das autoridades estadunidenses para acessar informações confidenciais é bastantepermissivo, ainda mais, considerando-se a relação de subordinação que mantém o Governo Bolsonaro para com as políticas que emanam de Washington.
Na mesma reunião, Valeixo firmou outro acordo, dessa vez com o chefe de Alfândega e Proteção Fronteiriça dos EEUU, Kevin McAleenan, que autoriza a atribuição de um agente do Departamento de Segurança Nacional dos EEUU dentro da PF do Brasil, afim de “coordenar as ações de segurança fronteiriça”.
Em meio ao escândalo da Vaza-Jato, Moro realizou uma viagem cuja agenda não foi revelada. A Agência Pública informou que o então Ministro da Justiça do Brasil preparava a instalação do Centro de Fusão ou Centro Integrado de Operações Fronteiriças (CIOF).
O CIOF é um gabinete de inteligência situada na Tríplice Fronteira (Foz do Iguaçu). O projeto foi criado com base em um edifício “modelo” da DEA que se encontra localizado na fronteira entre EEUU e México. Segundo a Agência Pública, tal estabelecimento é “o projeto sonhado da Embaixada estadunidense” pelo qual vem pressionando as autoridades locais há 10 anos. Como publicou Wikileaks, em janeiro de 2008, o Governo Lula se negou a classificar de terroristas os grupos que EEUU considerava como tal.
A viagem oficial de Moro começou em 24 de junho de 2019 e contou com a presença de Mauricio Valeixo, diretor da PF no momento, e outros dois funcionários. O itinerário incluiu duas visitas, uma ao centro de inteligência da DEA, situado em El Paso (México) e outra a um escritório do FBI dedicado a “luta contra o terrorismo”. Ainda que Moro tenha precisado voltar antes do tempo, no segundo dia depois de iniciar seu itinerário, as conversas continuaram semanas depois, quando o ex juiz recebeu uma delegação estadunidense no Palácio da Justiça em Brasília. A comitiva estava composta pelo subdiretor geral do Departamento de Segurança Nacional dos EEUU, David Peter Pekoske.
A CIOF foi inaugurada finalmente em 16 de dezembro de 2019, embora não sem antes ser “ungida” por “um pequeno séquito de estadunidenses” que visitou o recinto um mês antes e contou com a presença anfitriã de Sérgio Moro. O cônsul estadunidense em São Paulo, Adam Shub, e alguns membros do FBI fizeram parte do mesmo.
Em meados de julho de 2019, um mês depois de explodir o caso Vaza-Jato, Moro tirou uma licença não remunerada de uma semana para tirar férias nos EEUU junto à sua esposa. Segundo a investigação da Agência Pública, existem fortes indícios de que o ex juiz se reuniu em segredo com funcionários do FBI. Cinco dias após o regresso de Moro, Walter Delgatti Neto foi detido pela Polícia Federal, depois de ter confessado o hackeio das contas do Telegram pertencentes a membros do grupo de trabalho da Lava-Jato.
O agente Brassanini

Desde 2017, o escritório do FBI no Brasil está sob o comando de David Brassanini, ainda que seus trabalhos para esta filial se remontam, pelo menos, a 2006. Brassanini foi o encarregado de coordenar o trabalho da Embaixada dos EEUU em Brasília, os consulados de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre, incluindo o trabalho dedicada a investigação sobre a Lava-Jato.
Uma reportagem produzida por The Intercept Brasil e Agência Pública revelou que já em 2015 o FBI realizava interrogatórios a denunciantes que estavam fechando acordos com os fiscais no marco da operação Lava-Jato. Os mesmos se realizaram sem o conhecimento (nem consentimento) do Governo Federal, então a cargo de Dilma Rousseff.
De acordo com a investigação da Agência Pública, quem posteriormente se transformou em chefe do FBI no Brasil participou destas instâncias de trabalho conjunto entre os gabinetes judiciais de ambos os países e inclusive as classificou como “dignas de elogio”.
Durante o Governo de Bolsonaro, Brassanini foi o responsável pela posição da Polícia estadunidense que cobrava maior hierarquia no esquema dirigido por Moro, conclui o informe.

Alejandra Loucau 31.05.2020



Tradução – Amanda Mara Lopes.


4 comentários:

  1. Muito bom em fim encontrar algum documentario expondo esse assunto.
    Parabéns ao blog.

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  2. Muito bom em fim encontrar algum documentario expondo esse assunto.

    Parabéns ao blog.

    Bernardo Aquino

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  3. Difícil ver essas notícias ,imparcial e esclarecedor ! Parabéns ,e continuem assim !

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