
O livro do Amaury tinha tudo pra não aparecer, boicotado pelo silêncio da mídia, ignorado por seus comentaristas literários, políticos, econômicos e policiais - áreas ligadas ao tema dos crimes de lesa-pátria no governo Fernando Henrique Cardoso. Mas os tempos são outros e a internet, as redes sociais e a mídia alternativa constituem vazamentos na blindagem informativa privada e comercial que se faz porta-voz dos interesses empresariais, deformando a realidade e manipulando informações, entorpecendo a população com entretenimentos alienantes e produzindo valores e comportamentos adequados à manutenção da estrutura social concentradora de riquezas e poder para poucos e criadora de ignorância, pobreza, exclusão, miséria e sofrimento para a maioria.
A divulgação, ainda que pífia, aconteceu pelos meios alternativos e a primeira edição, de 30 mil exemplares, foi esgotada em poucos dias, a ponto do autor ser chamado à direção da editora, no exterior, para explicar tal fenômeno, enquanto se prepara a segunda edição, de 50 mil. Nos primeiros dias, o livro foi solenemente ignorado pela mídia. Com a repercussão, entretanto, surgiram algumas menções entre jornalistas midiáticos.
O livro está servindo de base para a instalação da CPI da privataria, proposta pelo deputado Protógenes Queirós, o mesmo que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, por sua intermediação entre o Citibank e o governo Fernando Henrique, com a compra escandalosa do congresso brasileiro e do governo FHC pelo Citygroup (denunciada no mensalão, embora apenas em parte, suficiente para abalar a popularidade do governo Lula e presente no "capítulo brasileiro" do livro A Melhor Democracia Que o Dinheiro Pode Comprar, de Greg Palast, a partir da segunda edição), por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e outras cositas más. A interrupção das investigações, o desmantelamento da operação Satyagraha (apego à verdade) e o afastamento do delegado Protógenes o levou ao trabalho parlamentar, eleito por São Paulo, apesar de ser de Niterói, pela projeção nacional resultante da repercussão inicial dos resultados das investigações - interrompida e desmantelada com pretextos jurídicos para proteger envolvidos "superiores" ao próprio Daniel Dantas, ex-sócio do Citibank e dono do Oportunity, banco brasileiro sediado no paraíso fiscal das ilhas Cayman. O cara manteve sua linha, agora sem poder ser afastado ou processado pelos poderes constituídos dentro e acima da administração pública, os financiadores de campanhas eleitorais, mega-empresários que fazem uso costumeiro dos bens e dinheiros públicos, como se fosse direito adquirido, e atacam ferozmente qualquer tentativa de mudança desse quadro de barbárie social, pela mídia, pela justiça ou pela bandidagem contratada. Como parlamentar, Protógenes tem agora a oportunidade de investigar novamente os crimes de lesa-pátria, com todo o conhecimento adquirido no trabalho de delegado da polícia federal - e já relatado em detalhes, sem que a mídia tomasse conhecimento, apenas desqualificando a investigação, em defesa dos sujos interesses das elites dominantes contra o público geral.
Durante todo o governo FHC assisti, entre estarrecido e revoltado, a entrega do patrimônio público brasileiro a empresas e conglomerados de empresas, praticamente de graça, com as mentiras de sempre, pra "melhorar" a educação pública (como se existisse além de um simulacro nocivo e safado), a saúde (que acabou entregue a laboratórios, planos de saúde e indústria da medicina), etc. Pudemos observar, com o tempo, todas essas mentiras ladronescas, enquanto a mídia produzia freneticamente narcóticos conscienciais para entorpecer a opinião pública, distorcia a realidade e produzia informações dispersivas, para que não se percebesse o latrocínio coletivo (considerando os mortos pela segurança pública e pela ineficiência do que deveria ser a "saúde pública", fora suicídios produzidos pelo desespero e os assassinatos devidos à estrutura social produtora de miséria e desejos compulsivos de consumos impossíveis à maioria). Fernando Henrique é o supra sumo da vaidade acadêmica, totalmente entregue e defensor dos poderes empresariais sobre a sociedade e os bens públicos, emanando desprezo pela população sabotada, na velha postura europeísta do egoísmo e da dominação sobre as coletividades. O próprio lesa-pátria, que deveria estar em cana, ao invés de ser louvado pelas academias mundiais e vender palestras por centenas de milhares de reais ou dólares.
O Serra, personagem central no livro, não passa de um menino de recados eficiente, que leva as gordas gorgetas dos seus patrões, satisfeitos em suas ambições desumanas. Não li o livro ainda (e não devo lê-lo tão cedo, por não ser fundamental pra mim - sensação de 'eu sabia', embora sem documentação, pois a realidade já diz claramente o que acontece -, e por falta de grana, mesmo. Lerei, assim que puder), mas nada do que se falou a respeito das suas revelações me parece surpresa. Por que não me surpreendo? É a pergunta que faço, ironicamente, quando se revelam essas barbaridades. A resposta é simples: porque é o que a realidade nos diz, a todo o momento e de inúmeras formas. A força revelada desse "menino de recados", aparentemente avassaladora, apenas anuncia a força descomunal dos interesses que ele atende, protege e defende, sempre contra o povo. Espero que o livro não pare nos fantoches, as marionetes do "teatro" político e midiático. A corrupção começa no corruptor, não no corrupto, que é a parte menor da corrupção, onde costumam parar as investigações, nas poucas vezes em que são feitas. Os que seguram os fios dos bonecos permanecem no escuro e se passam por "benfeitores da humanidade", louvados pela mídia privada, sempre, como geradores de empregos e não como exploradores do trabalho e dos bens públicos, a qualquer custo, que é o que realmente são.
As revelações do livro são novidades apenas por trazer detalhes, nomes, datas à tona. Esses procedimentos são uma triste tradição no exercício do poder público. A única diferença é essa parte específica - o período desse nefasto governo - ter vindo à tona, provavelmente pelo excesso de descaramento, de cara-de-pau, de confiança na imbecilização programada da mentalidade popular. Na minha visão, não há exercício de governo que não compactue, em maior ou menor grau, com a ditadura das empresas. E a base não está apenas no controle da informação e das instituições públicas. Está, principalmente, no condicionamento das mentes e dos comportamentos, dos valores e objetivos de vida, implantados massiva e diariamente, 24 horas por dia, que nos levam a consentir e colaborar com essa estrutura infeliz de sociedade.
Disputamos por qualquer coisa, encaramos os irmãos como adversários, desejamos o ócio e o consumo excessivo, amamos o luxo e o desperdício e admiramos a ostentação e a arrogância. Consumimos marcas como se fossem padrão de qualidade social e pessoal, sem perceber o ridículo de apoiar esses valores artificiais, traiçoeiros e completamente falsos, em essência, embora tristemente reais no cotidiano, quando são estimulados sentimentos de superioridade e inferioridade com base no ter, no parecer, na forma e não no conteúdo, nos sentimentos, no caráter, na integração ao coletivo. Por isso, qualquer trabalho revolucionário precisa começar internamente, dentro de si mesmo, nos condicionamentos impostos a todos, a que ninguém está isento. Quem negar isto está apenas exercendo uma arrogância estúpida ou uma ingenuidade triste.
Precioso livro pra começar a enxergar como as coisas funcionam em nossa sociedade. Recomendo também o "Confissões de um Assassino Econômico", de John Perkins, além do já mencionado "A Melhor Democracia Que o Dinheiro Pode Comprar", como seqüência de "Confissões..."
Abaixo, alguns trechos da reportagem de Carta Maior a respeito.
"'Privataria' chega ao Senado, e PT e PSDB se enfrentam em plenário"
"Líder petista pede providências ao Ministério Público e desafia PSDB a debater 'capítulo triste'. Serrista fala em 'calúnia' para abafar denúncias contra governo e expõe atrito interno, ao negar aparte a Aécio. Na Câmara, líder do PMDB diz que 'não vai embarcar em CPI', para a qual segue coleta de assinaturas, e ilustra efeito de silêncio da mídia: 'Livro tem documentos mesmo?'"
"...o líder do PT, Humberto Costa (PE), provocou o Ministério Público a tomar providências e desafiou o PSDB a debater o que seria “um dos mais tristes capítulos” da história brasileira. Ao responder, os tucanos apontaram “calúnia”..."
"...o livro revelaria “entrega do patrimônio público” durante privatizações no governo Fernando Henrique, com “documentos contuntendes”...
"...o livro revelaria “entrega do patrimônio público” durante privatizações no governo Fernando Henrique, com “documentos contuntendes”...
"...Marta Suplicy (SP), que também é do PT, disse: “Tive acesso a esse livro e realmente é um espanto."
"A exemplo de outro serrista ilustre, presidente do PPS, deputado Roberto Freire, (o senador) Nunes Ferreira afirmou que o livro, que teria “calúnias”, serve apenas para proteger a gestão Dilma."
"Nos bastidores de Brasília, fala-se que parte das investigações do autor de Privataria, o jornalista Amaury Ribeiro Jr., começou por interesse de Aécio de se proteger contra Serra na disputa que os dois travavam no PSDB como postulantes a candidato a presidente da República. Amaury foi repórter do jornal O Estado de Minas durante parte da gestão de Aécio como governador do estado."
"...Humberto Costa foi irônico"..."os grandes arautos da moralidade, as vestais da honestidade"..."sai uma nota num jornal, querem convocar o ministro para vir ao Congresso Nacional, pedem a abertura de uma CPI, vão para o Ministério Público. Agora, diante de um livro de 300 páginas, que tem 141 documentos sobre as coisas que estão aqui denunciadas, uma única palavra para se pedir apuração eu não ouço por parte da oposição.”
"A exemplo de outro serrista ilustre, presidente do PPS, deputado Roberto Freire, (o senador) Nunes Ferreira afirmou que o livro, que teria “calúnias”, serve apenas para proteger a gestão Dilma."
"Nos bastidores de Brasília, fala-se que parte das investigações do autor de Privataria, o jornalista Amaury Ribeiro Jr., começou por interesse de Aécio de se proteger contra Serra na disputa que os dois travavam no PSDB como postulantes a candidato a presidente da República. Amaury foi repórter do jornal O Estado de Minas durante parte da gestão de Aécio como governador do estado."
"...Humberto Costa foi irônico"..."os grandes arautos da moralidade, as vestais da honestidade"..."sai uma nota num jornal, querem convocar o ministro para vir ao Congresso Nacional, pedem a abertura de uma CPI, vão para o Ministério Público. Agora, diante de um livro de 300 páginas, que tem 141 documentos sobre as coisas que estão aqui denunciadas, uma única palavra para se pedir apuração eu não ouço por parte da oposição.”
O link do livro:
https://mail-attachment.googleusercontent.com/attachment?ui=2&ik=c2852f517c&view=att&th=13441d90d1b77708&attid=0.1&disp=inline&realattid=f_gw7dx6ng0&safe=1&zw&saduie=AG9B_P8U20JKWrq12pxll5L3yLDr&sadet=1324048865281&sads=xaAJAFM3TqxuFWTypXPXzlaPSrE&sadssc=1
Entrevista com Amauri Ribeiro Junior, no dia do lançamento: mais de duas horas e vinte minutos, entre vários jornalistas "alternativos".
Entrevista com Amauri Ribeiro Junior, no dia do lançamento: mais de duas horas e vinte minutos, entre vários jornalistas "alternativos".