A segunda parte taí...
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sexta-feira, 15 de julho de 2016
Eduardo - 2014
Rafael Lage esteve em minha casa, dois anos atrás, enquanto fazia o filme Malucos de BR, levando em conta os muitos anos que andei pelas estradas, em quase todas as regiões do Brasil. Quando tive filhos, tive que intercalar moradias e deslocamentos. Sempre que deparava com a bifurcação pagar aluguel e contas ou manter a alimentação saudável, entregava a casa e saía pra estrada, às vezes pras ruas, onde, por não ter despesas de moradia, a grana era suficiente pra comer natural, saudável, e manter a saúde - o sistema público sempre foi apavorante, um sistema de doenças, precário, criminoso e desumano. A visão de mundo que se formou nessas vivências é clara e simples.
segunda-feira, 11 de julho de 2016
Arte e pensamento em movimento - ou "bora pra estrada"
Hora de dar um tempo. Exponho em Santa Teresa desde o século
passado, morei um ano no bairro e pulei pra outra santa, em Niterói, Santa
Rosa, pra morar. Mas continuei expondo no Largo do Guimarães, primeiro no
armazém fechado, nas três portas frontais. Depois, quando ali abriu um bar,
passei pra parede do cinema. Mas venho sentindo vontade de mudança, um clima
foi se instalando aos poucos, derrubando a sintonia com o lugar. Depois do
desastre do bonde, onde morreram sete pessoas e dezenas se feriram, o bairro
pareceu entrar em dormência. As falcatruas por trás das ações do estado e de
empresas interessadas podem ser sentidas no ar, nos procedimentos, uma
sociedade cujos poderes públicos são na prática privatizados e a hipocrisia é o
lugar comum no trato com a população. Alguns anos sem bonde, agora um bonde
esquisito, modernoso, descaracterizado como o patrimônio histórico que era,
circula em silêncio pelos trilhos, até o Guimarães. Antes era do bairro todo,
agora é só pra turistas. Eram duas linhas, agora é meia.
Encaramos a quebradeira no bairro todo, pra instalação dos novos e falsos bondes. |
Durante as obras, Santa Teresa sofria na alma, os interesses de poucos emanava no ar. |
Depois da “restauração” que tornou possível a circulação das
pessoas, não era mais a mesma coisa, a forma tinha suplantado o conteúdo e os
acontecimentos sinalizavam essa queda no astral do lugar. Começaram a aparecer
figuras de outras vibrações pra expor, fisionomias agressivas ou hipócritas,
sorrisos falsos ou alusões ameaçadoras, o climinha convencional da cultura
social vigente, de competição e confronto, de interesses materiais e hipocrisias.
Tempo de trocar o lugar, sem mágoas nem rancores, apenas sinais. Não me arrogo
a posição do julgamento, da condenação, cada um carrega seu clima e suas
conseqüências. A mim cabe escolher minhas atitudes e a mudança é uma
necessidade permanente. No caso, mudança de lugar. Nada definitivo, mas o
impulso deve dar a direção a seguir, na seqüência.
Em Rio Casca, dormindo em posto de caminhoneiros. |
Surge, então, a oportunidade de realizar a idéia que vem
madurando com o tempo e com a entrada de Celestina, a Kombi, na história. Há um
ano e meio, ela vem sendo preparada pra ser engolidora de estradas. Desde
então, quarenta mil quilômetros foram rodados, em viagens longas ao sul e ao
norte, percorrendo o vale do rio Doce pra recolher informações e histórias
desta hecatombe planetária que, todo o tempo, foi minimizada pelas empresas,
pelo poder “público” e pela mídia dominante.
Chegando em Regência, a ver a bagaceira mineradora que matou o rio Doce desembocando no mar. |
No parque estadual do rio Doce, a morte passa lentamente. |
Saindo de Ouro Preto. |
Sarandi, em Porto Alegre. |
Pelas montanhas de Minas, rumo à Liberdade. |
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Exposição em Vitória, na Gruta da Onça. |
Exposição na avenida Paulista. |
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Em Ouro Preto. |
Maringá Rio, em Visconde de Mauá. |
Cachoeira de São Félix, na Bahia. Homocinética quebrada. |
Expondo na Bahia. |
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De novo na Paulista, encontros. |
Na praça Roosevelt, a convite do Slam Resistência. |
Em Santiago, no oeste gaúcho. |
A idéia agora é sair pra expor nas cidades próximas, num
raio inicial de duzentos quilômetros. E, pelo jeito, vamos em comboio, várias
pessoas expondo suas artes. Se for o caso, proseando em público – ou palestrando,
como dizem –, aproveitando a exposição e se rolar receptividade pra isso. Em
qualquer lugar nesse raio onde se manifestar interesse e houver possibilidade
de vendas pra bancar as atividades, é possível se fazer. Esperamos convites,
pra chegar bem chegado e não ter problemas com os poderes municipais – como todo
poder dito “público”, ávidos por “autorizações” e taxas, no vício de arrancar
dinheiro da gente, sem contrapartida com o cumprimento nem da própria
constituição. Um poder público que não merece nem o próprio nome, sempre
aplicado ao atendimento dos interesses de poucos, os financiadores de campanhas
eleitorais, e em enganar a população. Não pagaremos pra expor, nem ganhamos o
suficiente pra isso, pois nos aplicamos em pagar as próprias contas, com
dificuldade mas com persistência pra não se render aos valores e comportamentos
vigorantes nesta sociedade criminosa, que abandona e sabota grande parte das
pessoas – a miséria, a exploração, a ignorância, a desinformação são crimes
sociais tão cotidianos que estão absurdamente naturalizados, quando ninguém
devia se conformar com isso. Assim como ninguém deveria se conformar com uma
vida sem sentido que gira em torno do consumo e da posse material, valorizando
o desenvolvimento tecnológico, mas não o desenvolvimento moral pra tratar com
ele, o que dá origem à escandalosa concentração de renda e propriedade e à
conseqüente carência, criminalidade e violência. A violência do Estado é a mãe
de todas as violências. E a vida imposta é a origem maior das frustrações
existenciais. Essa é a base do meu trabalho. Escrito, desenhado e falado.
Esperamos contatos pra nos apresentar, levando em conta a
necessidade de vender nossas artes pra seguir adiante – entre nós, ninguém tem
outra fonte de renda senão a rua com as exposições.
No próximo fim de semana estarei na Bahia, palestra em Feira de Santana. Na volta, devo escolher um lugar pra expor, por perto do Rio, em conjunto com os amigos que vão também. Se houver interesse em alguma cidade dentro desse raio, espero a manifestação pra trocar idéias a respeito e, se possível, comparecer. Além de idéias, temos artes.
No próximo fim de semana estarei na Bahia, palestra em Feira de Santana. Na volta, devo escolher um lugar pra expor, por perto do Rio, em conjunto com os amigos que vão também. Se houver interesse em alguma cidade dentro desse raio, espero a manifestação pra trocar idéias a respeito e, se possível, comparecer. Além de idéias, temos artes.
sexta-feira, 3 de junho de 2016
Barragem no "canal da aracruz" filtra os rejeitos da mineração - incluindo o vôo do drone.
Em fevereiro eu estava dando continuidade ao acompanhamento da situação no vale do rio Doce, iniciado por Mariana e descendo até Baixo Guandu, num passo a passo de histórias e imagens ao longo do rastro de destruição e morte deixado pela passagem da tsunami de rejeitos da mineração, em dezembro. Em fevereiro parti pra Regência, pelo litoral norte do Espírito Santo, a fim de subir o rio até Baixo Guandu e fechar o ciclo.
No caminho, passamos por duas aldeias indígenas - Guarani e Tupiniquim - e por um acampamento do MST, onde paramos pra um papo. Tomando um café numa das barracas de lona preta, fiquei sabendo que não eram lavradores ali, mas pescadores pobres, que viviam com suas famílias da pesca pequena, num canal aberto pela Aracruz Celulose, anos atrás, para levar água do rio Doce à fábrica de celulose, já que o rio Riacho não tinha água suficiente. Uma transposição que não foi noticiada pela mídia, ao que me parece, apesar de ter havido movimentos de protesto, em geral inúteis quando se trata de interesses mega-empresariais - invariavelmente financiadores de campanhas eleitorais e, por isso, com forte poder de pressão sobre parlamentos, prefeituras e governos. O canal acabou enchendo de peixes e as famílias se instalaram ali pela necessidade de sobrevivência, até que a onda dos rejeitos barrentos desceu pelo rio e entrou no canal, matando todos os peixes. Sem ter como sobreviver, as famílias se reuniram nesse acampamento, enquanto o jurídico do MST tratava de conseguir indenizações e condições de sobrevivência da mineradora.
Eles disseram que depois de uns dias, a água começou a clarear até ficar transparente de novo. A lama da Samarco danificaria as máquinas da fábrica, então deu-se um jeito de limpar. De que maneira, eles não sabiam. Fotografei o canal.
Depois de Regência, seguimos na busca da entrada desse canal, no rio Doce. Passamos por fazendas de cacau e por poços de petróleo do tipo martelo, erramos, mas acabamos chegando. O nome dado pela empresa foi "canal Caboclo Bernardo, um herói da região, mas a população local não o conhece por esse nome, mas por "canal da aracruz.
Não pude fotografar o filtro e o início do canal, a segurança não deixou, mas peguei umas imagens do lado de fora, inclusive dois canos que retornavam do filtro-barragem, devolvendo os resíduos retirados da água ao rio Doce. Não me conformava com a filtragem da água aplicada às necessidades das máquinas de esmagar madeira pra fazer celulose, enquanto todas as cidades ao longo do rio sofriam com morte de tudo o que vivia no rio. A tecnologia de filtragem existe e não estava sendo usada para os milhões de habitantes do vale, mas pras máquinas a filtragem aconteceu em menos de um mês. Pro poder mega-empresarial, acima dos poderes públicos, o lucro vale mais que a vida, as máquinas valem mais que as pessoas.
Depois, em Linhares, procurei uma alternativa pra voltar lá. Um drone. Voltamos na madrugada da quarta-feira de cinzas e, quando amanheceu o dia, o drone fez o serviço.Escaldados com a truculência da segurança da Samarco, que nos abordou em Bento Rodrigues de tal maneira que tivemos que armar uma fuga improvisada - eu fiquei de isca enquanto Rafael e Kenny saíam do local com as fotos e filmagens -, saímos da área voando na kombi, por estradinhas que passavam dentro das fazendas, de volta a Linhares. Nada aconteceu, então.
Andei com essa filmagem, sem conseguir editar, por um tempo, já que não tinha grana, não sei fazer edição nesse nível e o que consegui não estava satisfazendo. A amiga Paula Thebas levou pra Sampa e Wagner Pacífico fez o serviço. O resultado taí.
Trata-se da limpeza dos resíduos da mineração que assassinaram a vida do rio Doce e estragaram a vida de milhões de pessoas. Há solução plausível, mas só se aplicou nos interesses empresariais. O povo, ora o povo... numa ditadura banqueiro-mega-empresarial, o povo tá claramente em segundo plano. Os lucros e o patrimônio valem mais do que a vida.
https://youtu.be/ctC758ikEGc
Tronco submerso, ainda marcado pela cor da lama de rejeitos. |
O pessoal do acampamento. |
O canal da Aracruz Celulose, hoje Fibria. |
Depois de Regência, seguimos na busca da entrada desse canal, no rio Doce. Passamos por fazendas de cacau e por poços de petróleo do tipo martelo, erramos, mas acabamos chegando. O nome dado pela empresa foi "canal Caboclo Bernardo, um herói da região, mas a população local não o conhece por esse nome, mas por "canal da aracruz.
Não pude fotografar o filtro e o início do canal, a segurança não deixou, mas peguei umas imagens do lado de fora, inclusive dois canos que retornavam do filtro-barragem, devolvendo os resíduos retirados da água ao rio Doce. Não me conformava com a filtragem da água aplicada às necessidades das máquinas de esmagar madeira pra fazer celulose, enquanto todas as cidades ao longo do rio sofriam com morte de tudo o que vivia no rio. A tecnologia de filtragem existe e não estava sendo usada para os milhões de habitantes do vale, mas pras máquinas a filtragem aconteceu em menos de um mês. Pro poder mega-empresarial, acima dos poderes públicos, o lucro vale mais que a vida, as máquinas valem mais que as pessoas.
Depois, em Linhares, procurei uma alternativa pra voltar lá. Um drone. Voltamos na madrugada da quarta-feira de cinzas e, quando amanheceu o dia, o drone fez o serviço.Escaldados com a truculência da segurança da Samarco, que nos abordou em Bento Rodrigues de tal maneira que tivemos que armar uma fuga improvisada - eu fiquei de isca enquanto Rafael e Kenny saíam do local com as fotos e filmagens -, saímos da área voando na kombi, por estradinhas que passavam dentro das fazendas, de volta a Linhares. Nada aconteceu, então.
Andei com essa filmagem, sem conseguir editar, por um tempo, já que não tinha grana, não sei fazer edição nesse nível e o que consegui não estava satisfazendo. A amiga Paula Thebas levou pra Sampa e Wagner Pacífico fez o serviço. O resultado taí.
Trata-se da limpeza dos resíduos da mineração que assassinaram a vida do rio Doce e estragaram a vida de milhões de pessoas. Há solução plausível, mas só se aplicou nos interesses empresariais. O povo, ora o povo... numa ditadura banqueiro-mega-empresarial, o povo tá claramente em segundo plano. Os lucros e o patrimônio valem mais do que a vida.
https://youtu.be/ctC758ikEGc
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Inchou e desinchou
Mês passado eu estava em casa de Brisa, Alice e Olívia, por uns poucos dias. Tratava de umas bolhas nas mãos, surgidas depois de movimentar uns caixotes empoeirados e esquecidos num depósito, certamente por alguma substância nociva deixada pela passagem de algum bicho que não pude saber. Restava uma feridinha ressecada, eu sem nada pra passar em cima. Só havia óleo de copaíba na casa, um poderoso cicatrizante e anti-inflamatório que eu já havia usado com sucesso mais de vinte anos atrás, numa ferida séria, com sucesso. Em 2011 usei novamente, mas percebi uma reação adversa, uma urticária que me levou a suspeitar que meu corpo não tava se dando bem com o óleo. Mas o tempo passou e eu resolvi usar a copaíba, porque o óleo amaciaria o ressecamento, como de imediato foi a sensação.
Então desci pra Resende, tinha a regulagem do motor pra ser feito. Seu Manoel Elias gosta de pegar o motor frio, por isso deixo a kombi na oficina à noite e ele faz o serviço de manhã. Pensei em dormir nela, mas teria que ficar preso na oficina trancada desde as seis da tarde. Então deixei lá e fui tomar uma cerveja, levando os desenhos e livrinhos pra eventuais vendas. Abri o computador, declarei minha situação e tentei arrumar um lugar pra dormir por ali. Não recebi resposta até a quarta cerveja, fechei o computador e caminhei na direção da oficina, junto à via Dutra - pensava mesmo em dormir na beira da rodovia, mas passando pela esquina da oficina lembrei que ali a estrada era urbana, não tinha a segurança do isolamento. E resolvi ficar ali na esquina, na calçada, próximo a um treiler de lanches que tava aberto na madrugada.
Deitei e ali comecei a sentir a cara inchada. De princípio não liguei, mas a sensação aumentava. Sem espelho, tirei fotos pra ver como tava. Inchada ainda só um pouco, não entendi o que acontecia, a princípio.
De manhã seu Manoel me viu entrar na oficina, "bom dia, seu Manel Elias", respondeu e ficou me olhando de um jeito que seria estranho, se eu não soubesse que minha cara tava inchada. "Tá inchada, né..." "O que aconteceu?", ele perguntou. "Não sei, inchou durante a noite, mas tá tranquilo, não dói." Ele riu, "isso é estresse, tu anda esquentando muito a cabeça, esse negócio de pensar demais..." Eu ri, também. "se fosse isso eu vivia de cara inchada".
Passamos à regulagem das válvulas, eu tentando aprender alguma coisa, não dava pra deitar debaixo do carro por causa da pressão na cabeça, mas fiquei abaixado olhando tudo. Quando terminou, embarquei rumo ao Rio, esperando que o inchaço não me impedisse de dirigir. Correu tudo certo, cheguei em casa assustando o Pepe, "que es eso, compadre?" "Sei lá, parceiro, tô achando que é reação a um óleo de copaíba que usei ontem."
Foi chegar em casa e a coisa desandou, o inchaço quase que fechou meus olhos. Se estivesse na estrada, teria dificuldade em enxergar o caminho. Pelo rádio ouvi um acidente acontecido na Dutra, minutos depois de eu ter passado na baixada, que parou a estrada. Quatro horas com a via parada, se eu demorasse alguns minutos a mais teria ficado lá, preso no congestionamento. Senti que fui protegido, deu um calafrio pensar que eu podia ter caído nas mãos do sistema de saúde pública, um risco enorme de morte. Aí a cara já tava toda inchada, o corpo tava pesado, comi alhos e tomei gengibre. Parou de inchar mas ficou inchado.
Apelei prum anti-histamínico de farmácia, sem condições de procurar alternativas, por ignorância e incapacidade de movimentação. E a coisa começou a reverter. Pouco a pouco voltei ao tamanho normal, carregando a pele grossa na cara e nas mãos. A sensação de que a pele tava morta se confirmou no descascamento que se seguiu.
Agora passou, estou ainda assimilando o recado espiritual, ou a advertência. É parte do trabalho interno estabelecer a comunicação entre as dimensões a que temos acesso, além da física. Esse contato é permanente, embora pra esmagadora maioria, inconsciente. Não pretendo a plena consciência, mas já não aceito a total inconsciência.
Segue a vida. Tenho até dia 25 pra preparar a viagem ao sul, começando por Sampa e até Porto Alegre, parando em Floripa e, talvez, Curitiba.
Então desci pra Resende, tinha a regulagem do motor pra ser feito. Seu Manoel Elias gosta de pegar o motor frio, por isso deixo a kombi na oficina à noite e ele faz o serviço de manhã. Pensei em dormir nela, mas teria que ficar preso na oficina trancada desde as seis da tarde. Então deixei lá e fui tomar uma cerveja, levando os desenhos e livrinhos pra eventuais vendas. Abri o computador, declarei minha situação e tentei arrumar um lugar pra dormir por ali. Não recebi resposta até a quarta cerveja, fechei o computador e caminhei na direção da oficina, junto à via Dutra - pensava mesmo em dormir na beira da rodovia, mas passando pela esquina da oficina lembrei que ali a estrada era urbana, não tinha a segurança do isolamento. E resolvi ficar ali na esquina, na calçada, próximo a um treiler de lanches que tava aberto na madrugada.
Deitei e ali comecei a sentir a cara inchada. De princípio não liguei, mas a sensação aumentava. Sem espelho, tirei fotos pra ver como tava. Inchada ainda só um pouco, não entendi o que acontecia, a princípio.
De manhã seu Manoel me viu entrar na oficina, "bom dia, seu Manel Elias", respondeu e ficou me olhando de um jeito que seria estranho, se eu não soubesse que minha cara tava inchada. "Tá inchada, né..." "O que aconteceu?", ele perguntou. "Não sei, inchou durante a noite, mas tá tranquilo, não dói." Ele riu, "isso é estresse, tu anda esquentando muito a cabeça, esse negócio de pensar demais..." Eu ri, também. "se fosse isso eu vivia de cara inchada".
Passamos à regulagem das válvulas, eu tentando aprender alguma coisa, não dava pra deitar debaixo do carro por causa da pressão na cabeça, mas fiquei abaixado olhando tudo. Quando terminou, embarquei rumo ao Rio, esperando que o inchaço não me impedisse de dirigir. Correu tudo certo, cheguei em casa assustando o Pepe, "que es eso, compadre?" "Sei lá, parceiro, tô achando que é reação a um óleo de copaíba que usei ontem."
Foi chegar em casa e a coisa desandou, o inchaço quase que fechou meus olhos. Se estivesse na estrada, teria dificuldade em enxergar o caminho. Pelo rádio ouvi um acidente acontecido na Dutra, minutos depois de eu ter passado na baixada, que parou a estrada. Quatro horas com a via parada, se eu demorasse alguns minutos a mais teria ficado lá, preso no congestionamento. Senti que fui protegido, deu um calafrio pensar que eu podia ter caído nas mãos do sistema de saúde pública, um risco enorme de morte. Aí a cara já tava toda inchada, o corpo tava pesado, comi alhos e tomei gengibre. Parou de inchar mas ficou inchado.
Apelei prum anti-histamínico de farmácia, sem condições de procurar alternativas, por ignorância e incapacidade de movimentação. E a coisa começou a reverter. Pouco a pouco voltei ao tamanho normal, carregando a pele grossa na cara e nas mãos. A sensação de que a pele tava morta se confirmou no descascamento que se seguiu.
Agora passou, estou ainda assimilando o recado espiritual, ou a advertência. É parte do trabalho interno estabelecer a comunicação entre as dimensões a que temos acesso, além da física. Esse contato é permanente, embora pra esmagadora maioria, inconsciente. Não pretendo a plena consciência, mas já não aceito a total inconsciência.
Segue a vida. Tenho até dia 25 pra preparar a viagem ao sul, começando por Sampa e até Porto Alegre, parando em Floripa e, talvez, Curitiba.
quarta-feira, 4 de maio de 2016
Os tempos vão passando... acontecimentos não páram.
Virá o tempo em que será vergonhoso se ter mais do que se precisa. O dia em que será constrangedor colaborar com a opressão, venha de onde vier. Um dia em que moral será referência, estar bem com a própria consciência será uma exigência pessoal e geral, independente da opinião alheia - que será bem outra, certamente. Um dia em que a harmonia social será a prioridade do poder então público de verdade, não haverá a possibilidade de um ser humano passar fome ou abandono, um dia em que os animais serão percebidos como nossos irmãos menores e, portanto, dignos dos nossos maiores cuidados. Esse tempo virá. E estamos trabalhando pra isso, exceções às regras, grupos embrionários, que buscam em si mesmos e em suas consciências o respaldo pras suas ações, sempre criminalizadas e perseguidas pelas instituições do poder vigente.
Esse dia virá. E qualquer um poderá se incomodar quando e se vir um ser humano em situação de carência, seja qual for. Se incomodar e acionar a sociedade, que estará pronta a cumprir sua função, atender as necessidades básicas de todos. Estamos ainda primitivos. Quem quiser pode sentar e chorar, os que me interessam são os que partem pra atividade, dão seu jeito, criam, inventam, fazem o que querem fazer, ainda que a sociedade não lhes dê condições. Esses eu admiro, ainda mais se levam na alma a inconformação com o sistema como ele é, se não se afastam do trabalho de construção de uma sociedade mais e mais humana.
Tenho visto, diante dos últimos acontecimentos falsamente chamados de políticos, muita gente decepcionada, estarrecida, surpresa, espantada, indignada diante dos procedimentos dos chamados poderes públicos - que de públicos só trazem o nome. E me pergunto, onde uma gente tão esclarecida, estudada, acadêmica, instruída se informa, onde eles põem os olhos que não percebem que toda a institucionalidade está tomada, infiltrada, dominada por essas elitezinhas parasitas? Fixados numa pretensa "ditadura militar", não percebem que a ditadura é banqueiro-mega-empresarial, que existe desde a proclamação da república, aliás proclamada por essa mesma ditadura, sequiosa de usufruir os privilégios dos "nobres" da monarquia, sem tem o tal sangue azul, sem pedigri.
Cadê a academia que não tem um mísero estudo sobre as causas da pobreza, da miséria, da ignorância endêmica em nossa sociedade, quando há tecnologia, produção e logística pra atender a todas as necessidades de todos os brasileiros? Onde tá a porra da "inteligentzia" nacional, que não aponta as causas, facilmente resolvíveis, das abjeções sociais? Essa barbárie só existe porque está planejada e faz parte do modo de dominação sobre a estrutura social. Não interessa a esses um povo instruído. Ao contário, é preciso manter a ignorância. É só olhar em volta pra perceber que foram muito bem sucedidos. A academia, comprada pelas parcerias empresariais, não tem como estudar e denunciar os crimes dos seus parceiros e patrocinadores.
A mesma sociedade que permite a ação de publicitários e marqueteiros que usam psicologia do inconsciente, os mais profundos estudos sobre o comportamento humano, produzindo desejos compulsivos de consumo sobre toda a população, nega condições de consumo pra sua esmagadora maioria. Desejos são competentemente implantados no inconsciente coletivo, com o foco em marcas como valor social e pessoal, enquanto se nega a capacidade de consumir essas coisas no geral, pra todo mundo. É um convite ao crime. Milhões de famílias são expostas e esta situação, só por ter uma televisão em casa. Os mesmos milhões que fazem os serviços mais básicos e necessários de toda a sociedade. É de se esperar a criminalidade disso decorrente, impossível não haver os que se revoltam, são injustiças demais e cotidianas.
Pra se formarem privilégios, digo isso há trinta anos, é preciso eliminar direitos. É o que acontece em nossa sociedade. As instituições, os governos, os sistemas legislativos, câmaras de vereadores, de deputados estaduais, câmara de deputados federais e senadores, os ministérios e autarquias, tudo está infestado do poder banqueiro-mega-empresarial, tudo rola conforme suas determinações. A ignorância há de ser mantida, via sabotagem do ensino público, a informação há de ser controlada, via mídia privada - globo à frente - e se pode conduzir o povo e sua opinião com a televisão, com a publicidade, com o jogo de cena. E o povo será o fudido de sempre, como tem sido.
Há furos no controle da informação, os de baixo se informam, percebem que são o alicerce desta sociedade que os oprime, pouco a pouco, muito mais lento do que se gostaria. Mas o processo tem seu ritmo. E eu nunca vi tanta entidade nascida em periferia, funcionando, canalizando, resgatando, em toda parte. É novidade, em muitos anos de periferia, desde a década de oitenta, onde encontrava revolta, criatividade, solidariedade na contravenção, por inimizade ao Estado e à sociedade. Era uma coisa intuitiva. Hoje vejo uma consciência como nunca antes havia visto. Não só no surgimento de tantos movimentos periféricos, fundamental no processo, mas na percepção de um domínio de poucos sobre o todo, de um condicionamento, uma estratégia de controle e indução da maioria.
Os que vêem têm sua responsa. Cada um na sua área, que seja. Mas no fundo é a mesma área, o trabalho na evolução humana, neste tempo mínimo em que vivemos. Somos todos um, o mais adiantado não está tão longe assim do mais atrasado. Afinal, estamos no mesmo grupo humano, no mesmo grupo planetário de seres, vivos e minerais.
Tá acima do nosso entendimento, é preciso reconhecer.
Esse dia virá. E qualquer um poderá se incomodar quando e se vir um ser humano em situação de carência, seja qual for. Se incomodar e acionar a sociedade, que estará pronta a cumprir sua função, atender as necessidades básicas de todos. Estamos ainda primitivos. Quem quiser pode sentar e chorar, os que me interessam são os que partem pra atividade, dão seu jeito, criam, inventam, fazem o que querem fazer, ainda que a sociedade não lhes dê condições. Esses eu admiro, ainda mais se levam na alma a inconformação com o sistema como ele é, se não se afastam do trabalho de construção de uma sociedade mais e mais humana.
Tenho visto, diante dos últimos acontecimentos falsamente chamados de políticos, muita gente decepcionada, estarrecida, surpresa, espantada, indignada diante dos procedimentos dos chamados poderes públicos - que de públicos só trazem o nome. E me pergunto, onde uma gente tão esclarecida, estudada, acadêmica, instruída se informa, onde eles põem os olhos que não percebem que toda a institucionalidade está tomada, infiltrada, dominada por essas elitezinhas parasitas? Fixados numa pretensa "ditadura militar", não percebem que a ditadura é banqueiro-mega-empresarial, que existe desde a proclamação da república, aliás proclamada por essa mesma ditadura, sequiosa de usufruir os privilégios dos "nobres" da monarquia, sem tem o tal sangue azul, sem pedigri.
Cadê a academia que não tem um mísero estudo sobre as causas da pobreza, da miséria, da ignorância endêmica em nossa sociedade, quando há tecnologia, produção e logística pra atender a todas as necessidades de todos os brasileiros? Onde tá a porra da "inteligentzia" nacional, que não aponta as causas, facilmente resolvíveis, das abjeções sociais? Essa barbárie só existe porque está planejada e faz parte do modo de dominação sobre a estrutura social. Não interessa a esses um povo instruído. Ao contário, é preciso manter a ignorância. É só olhar em volta pra perceber que foram muito bem sucedidos. A academia, comprada pelas parcerias empresariais, não tem como estudar e denunciar os crimes dos seus parceiros e patrocinadores.
A mesma sociedade que permite a ação de publicitários e marqueteiros que usam psicologia do inconsciente, os mais profundos estudos sobre o comportamento humano, produzindo desejos compulsivos de consumo sobre toda a população, nega condições de consumo pra sua esmagadora maioria. Desejos são competentemente implantados no inconsciente coletivo, com o foco em marcas como valor social e pessoal, enquanto se nega a capacidade de consumir essas coisas no geral, pra todo mundo. É um convite ao crime. Milhões de famílias são expostas e esta situação, só por ter uma televisão em casa. Os mesmos milhões que fazem os serviços mais básicos e necessários de toda a sociedade. É de se esperar a criminalidade disso decorrente, impossível não haver os que se revoltam, são injustiças demais e cotidianas.
Pra se formarem privilégios, digo isso há trinta anos, é preciso eliminar direitos. É o que acontece em nossa sociedade. As instituições, os governos, os sistemas legislativos, câmaras de vereadores, de deputados estaduais, câmara de deputados federais e senadores, os ministérios e autarquias, tudo está infestado do poder banqueiro-mega-empresarial, tudo rola conforme suas determinações. A ignorância há de ser mantida, via sabotagem do ensino público, a informação há de ser controlada, via mídia privada - globo à frente - e se pode conduzir o povo e sua opinião com a televisão, com a publicidade, com o jogo de cena. E o povo será o fudido de sempre, como tem sido.
Há furos no controle da informação, os de baixo se informam, percebem que são o alicerce desta sociedade que os oprime, pouco a pouco, muito mais lento do que se gostaria. Mas o processo tem seu ritmo. E eu nunca vi tanta entidade nascida em periferia, funcionando, canalizando, resgatando, em toda parte. É novidade, em muitos anos de periferia, desde a década de oitenta, onde encontrava revolta, criatividade, solidariedade na contravenção, por inimizade ao Estado e à sociedade. Era uma coisa intuitiva. Hoje vejo uma consciência como nunca antes havia visto. Não só no surgimento de tantos movimentos periféricos, fundamental no processo, mas na percepção de um domínio de poucos sobre o todo, de um condicionamento, uma estratégia de controle e indução da maioria.
Os que vêem têm sua responsa. Cada um na sua área, que seja. Mas no fundo é a mesma área, o trabalho na evolução humana, neste tempo mínimo em que vivemos. Somos todos um, o mais adiantado não está tão longe assim do mais atrasado. Afinal, estamos no mesmo grupo humano, no mesmo grupo planetário de seres, vivos e minerais.
Tá acima do nosso entendimento, é preciso reconhecer.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
A casa da traição
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Tudo o que é público está ameaçado de piorar mais, muito mais do que já é ruim. Vão privatizar muitíssimas coisas e vai ser preciso pagar pra ter alguma dignidade respeitada.
Tava oiano aqui essa bosta na câmara. Uma confusão dos diabos, um gritagrita, empurrempurra que não deixa nada nem ninguém se entender. Atrás do plenário aparece a faixa fora cunha, a sessão pára em gritos, o próprio cunha preside a fanfarronice, manda tirar faixas "de qualquer tipo" do plenário.
O processo não tem lógica nem base, não tem argumentos nem provas. Não resistiria a um debate calmo, sereno e lúcido, onde se pudesse limpar das interferências e ver a realidade como ela se apresenta. Aí eu pergunto: a quem interessa a bagunça, o tumulto, o gritagrita e empurrempurra? Óbvio. Quem levantou a faixa, foi os de esquerda? Burrice? Ou falsa bandeira, na intenção de tumultuar pra não esclarecer? Tô entendendo não. Ou tô entendendo demais. |
A casa da traição cumpre o seu papel. Nada de se espantar. No cenário que vejo, os movimentos sociais, as organizações das vítimas de crimes sociais, espalhadas entre milhões e milhões de sabotados, roubados em seus direitos, sabem muito bem quem são esses que ameaçam ocupar as instituições do Estado, e se preparam pra levantar uma muralha de resistência. Aqueles que há pouco tempo conheceram o respeito a alguns dos seus direitos, que viram filhos entrarem em universidades antes vedadas, não creio que assistam inertes a retirada desses direitos, agora tão sagrados, tão valorizados. Aguardo pra ver a seqüência. A institucionalidade é uma área, há muitas outras áreas a serem trabalhadas, todas interligadas. Cada um que ande nas suas, de sua escolha e sintonia, embora eventualmente precisemos circular em qualquer uma.
Nunca apoiei esse governo, nunca gostei desse governo, nem reconheço qualquer governo, em um Estado que viola sua constituição em seus artigos mais importantes, que garantem a dignidade e espaço social pro exercício pleno da vida, para todos os que queiram, sem nenhuma exceção. Mas daí a aprovar esse movimento, todo baseado em mentiras, distorções, interesses, envolvendo parlamentares pendurados em processos judiciais por malabarismos jurídicos que são fartos neste sistema, a distância enorme. Salvo algum improvável ingênuo ou totalmente equivocado, são bandidos armando um golpe institucional pra abolir leis incômodas, e abrir as portas ao saque, à revelia da população. A ameaça que está representada nas figuras de proa desse movimento impitimador inclui pré-sal, privatização do que resta público até onde possa dar lucro, dizimação de direitos trabalhistas e de programas sociais de migalhas, que ficam longe das obrigações constitucionais do Estado. Só bagaço que vem por aí, se essa porra for adiante. A começar pelos conflitos da resistência de quem tem os direitos ameaçados, se unindo e dando seu jeito. O Estado está por se declarar inimigo. Mesmo já o sendo há muito tempo. Agora a parada vai recrudescer, as migalhas serão retiradas. Se já deram os frutos, não será fácil.
sábado, 16 de abril de 2016
Amanhã se arrisca mais um governo latinoamericano - uma presidente sem nenhuma pendência judicial é julgada por quarenta ladrões juramentados cujos processos estão pendentes em malabarismos jurídicos.
Aproveitando minha incapacidade momentânea de sair à rua,
desenrolo aqui uma série de reflexões a respeito do que acontece, no momento, em
nossa sociedade brasileira. Ligando os acontecimentos aos do mundo, como
parte da geopolítica imposta pelos poderes corporativos planetários, através de todos os meios, diplomáticos,
econômico-financeiros, culturais, interferindo brutalmente nas políticas
nacionais. Onde não funcionam os meios subterrâneos, ocultos, entra a
força militar das armas, descarada, sob os mais variados pretextos, com um único ponto em
comum: são todos mentirosos ou, no mínimo, distorcedores da verdade.
Não se trata de "defender a democracia", porque não há democracia neste país, mas uma ditadura da grana, explícita, que domina todas as instâncias ditas democráticas. Trata-se de defender o processo social em curso, insipiente, que não tem no governo a iniciativa, mas a anuência aos pequenos avanços da maioria mais pobre no sentido de começar a participar dos processos, a alcançar algum nível de instrução e informação, a formar seus coletivos, ainda exceções às regras, nas comunicações, nas informações, na percepção da sua importância na estrutura da sociedade.
Toda vez que um governo freia a ganância dos mega-parasitas –
mega bancos e empresas transnacionais –, ele passa a ser maldito, difamado e
atacado pela mídia. E as oposições internas, sejam lícitas ou ilícitas, começam
a receber incentivos, apoios e dinheiro pras suas atividades lícitas ou
ilícitas, pelas vias política, jurídica, publicitária-midiática ou mesmo
armada, pra desestabilizar tal governo e reinstalar outro, mais submisso ainda, fortalecendo as dragas que
sugam as riquezas, os recursos, o patrimônio e as verbas públicas, com total
desprezo pela miséria e sofrimento que se causam às populações.
É espantosa a semelhança das elites cooptadas pelos poderes
imperiais do mundo – na América Latina isso é claríssimo. Como sua oposição em
geral não tem substância real e se baseia na inconformação diante da elevação
do padrão dos mais pobres – e conseqüente contenção da avidez dos mais ricos – a
base dessa oposição é o ódio, a difamação, a violência, o descontrole
emocional, a briga, onde a poeira se levanta pra esconder a realidade. O mesmo se
vê em contendas individuais, onde quem não tem razão parte pro insulto vazio e busca o conflito pra
que não se esclareça o assunto, parte pra agressão, não deixando
espaço pro diálogo. Qualquer um que se disponha a conversar sobre esse
impítiman falcatruesco, ainda que sem expor opinião contrária e apenas
questionando as motivações reais, com qualquer dessas pessoas que querem
expulsar o atual governo, vai encontrar impropérios, palavrões, raivas incontidas,
acusações absurdas e sem provas, papagaíces midiáticas e nenhuma razão ponderada, com
fundamento, que possa ser explicada com calma.
Existem razões palpáveis pra essa interferência nos países
considerados subalternos pelos poderes econômicos mundiais que emanam das
corporações estadunidenses e européias, acostumadas à exploração livre desses
países, ao parasitismo nocivo aos povos, através do controle dos seus governos. O histórico de golpes militares
na América Latina – todos os países latinoamericanos sofreram golpes militares
planejados, induzidos e financiados diretamente pelos governos dos Estados
Unidos (no caso do Brasil, o documentário feito pela TV Brasil - "O dia que durou 21 anos" -, com base nos
documentos secretos que a lei estadunidense obriga a publicar depois de 40
anos, mostra toda a trama, o cenário montado em território nacional pelas
agências de segurança, pelas filantropias de fachada, pelo treinamento e
infiltração de mais de 30 mil agentes nos sindicatos e associações e culminando
com o envio da 4ª Frota, armada pra guerra, com o objetivo de derrubar um
presidente que investia na educação, no transporte, na organização popular, na
erradicação do analfabetismo, na reforma agrária, ou seja, na população – sob a
acusação falsa de que era um “comunista”, contando com a ignorância geral do
povo).
Desde o princípio da invasão européia nestas terras
habitadas, foram instaladas aqui elites dominantes a serviço das metrópoles –
neste caso, Portugal e Inglaterra – que, ao longo dos séculos, vêm se mantendo
e cumprindo sua função, com extremo desprezo pela população local, com
submissão explícita às ordens e aos interesses externos, na manutenção dos seus
privilégios sujos de sangue, na repressão permanente a qualquer tipo de revolta ou resistência,
de reivindicação de direitos e de conscientização das camadas de base da
população. Essas elites, fiéis aos exploradores e traidoras da nação e do povo,
são as que se levantam hoje em fúria contra o governo do petê, engrossadas suas filas com a ignorância e o controle da opinião pública exercido pela mídia.
Não que esse governo mereça alguma contemplação. Esse
partido - o petê - fez um expurgo interno a partir da campanha de 89 – a luta interna já
havia – e conseguiu impor o coletivo chamado “articulação”, hoje “campo
majoritário”, anulando sua índole socialista, popular, e pouco a pouco
exterminando os processos que davam voz ao coletivo do partido, se aproximando
cada vez mais dos procedimentos convencionais dos partidos na chamada “democracia
burguesa”, termo absurdo e contraditório, pois se é burguesa não é democracia.
Depois de várias eleições perdidas e do expurgo das forças internas mais
democráticas – que não admitiam essas mudanças que acabavam com a força das
bases partidárias – o petê já se assemelhava aos outros partidos e precisava se
agarrar à sua história pra se diferenciar dos outros. Mas aqueles mais ativos
na construção dessa história já estavam fora – se aglomerando em siglas
partidárias sem penetração popular – restando as celebridades, os quadros de
colunas flexíveis, que se submeteram aos poderes econômicos e suas exigências
sociais – manutenção da miséria e da ignorância – sabotagem do ensino público e
enquadramento do particular –, da concentração fundiária e industrial, da
preponderância dos interesses banqueiro-mega-empresariais, e consequentemente
da exploração, da destruição das garantias trabalhistas, da privatização do
patrimônio público e na intocabilidade da concentração das comunicações em meia
dúzia de famílias. Como acontece tantas vezes a nível individual, esse grupo
partidário abriu mão da sua alma pela sua ânsia de chegar ao “poder”, na
verdade o governo, gerente dos verdadeiros poderes – que comandam dos
bastidores, onde não existem eleições.
Aqui entra a analogia dos capatazes. Na dualidade simplória
imposta pela mídia, há governo e oposição, apenas e mais nada. Digamos dois
capatazes pra gerenciar uma fazenda Brasil, tida como propriedade de quem nem
vive em território nacional, apenas explora o mais que pode seus recursos, seu
patrimônio e sua população. O petê, capataz eficiente que mantém o predomínio
internacional sobre as riquezas da nação, é “benevolente” com os escravos da
fazenda, o povo, e deixa cair migalhas a eles dos fartos banquetes dos poucos
potentados. Daí a entrada de um punhado de pobres nas universidades, a ascensão
ao consumo – mas não à instrução ou à informação – de parte da população mais
pobre, do acesso à moradia de milhões de desabrigados, da criação de programas
sociais mínimos que atendem parte das vítimas de crimes de Estado seculares contra sua
própria constituição. De outro lado, a oposição rechaça esses programas. Este é
o capataz sádico, pra quem o povo produz melhor debaixo de chicote, de pressão,
sem o custo da alimentação que os engorda e amolece. Escravos devem ser
tratados duramente, pra isso o aparato de segurança “pública” vem sendo
preparado desde a segunda guerra mundial – época em que a dominação passou das
mãos de uma Inglaterra destruída pros Estados Unidos, programado pra ser a
próxima potência imperialista. Esta é a mentalidade das elites apoiadas e
financiadas de fora. O pobre deve se conformar com sua inferioridade, acreditar na mentira da meritocracia e dar
graças por ser explorado. Mantida na ignorância e na desinformação, a população
deve sonhar com o impossível e servir a vida inteira numa expectativa falsa.
Nas palavras de Darcy Ribeiro, “uma elite mesquinha, tacanha, escravista”, que
tudo faz pra impedir o desenvolvimento da maioria, cheia de potencial,
de criatividade, de capacidade de superação de dificuldades, em condições de ser um
dos povos mais desenvolvidos do planeta, desde que não se impeça como se vem
impedindo, atacando ferozmente todas as vozes que mostram as imensas
possibilidades do povo brasileiro, todas as iniciativas de instrução e conscientização, de reivindicação de direitos básicos, fundamentais, humanos e constitucionais..
As migalhas atiradas aos mais pobres enfureceram as elites
locais e amedrontaram as elites mundiais, numa combinação nefasta. A atitude do
governo brasileiro de apoiar a união dos países latinoamericanos – um recurso para
a contenção das ânsias dominadoras das corporações, criadoras de miséria,
pobreza, ignorância e exploração, semelhantes em todos os países da América
Latina –, a independência diplomática apenas esboçada, a defesa tímida de
apenas parte do patrimônio público, como o petróleo, despertou os mecanismos de
interferência internacionais. Já que os tempos não aconselham o uso direto da
ocupação militar, os meios passaram a ser institucionais, a partir do estímulo,
apoio e financiamento de oposições internas em seus países, os piores seres
humanos, traidores de suas nações, entreguistas de seus países e seus povos em
nome dos seus privilégios sujos. Apesar de eficiente na manutenção dos poderes
vigentes, externos, corporativos, o governo brasileiro produz efeitos
colaterais que não agradam, pois a médio e longo prazo tais migalhas são
sementes de esclarecimento e conscientização – como já está acontecendo, ainda
que de forma embrionária – e tornará cada vez mais difícil e trabalhoso o
domínio tão pleno e desbragado como agora.
A meu ver, não se trata da “defesa da democracia” ou o “combate
à corrupção”, pois não existe democracia a defender além da fachada, de um
lado, e não é possível combater corrupção a partir das ações de grupos sabida e
historicamente corruptos. Trata-se de impedir alguns poucos procedimentos
governamentais que, ainda que mínimos, insuficientes, que passam longe de
resgatar a dívida social do Estado, acabam criando condições pro
esclarecimento, ainda que embrionário, da população, com seu conseqüente
empoderamento na realidade política e social. Os situacionistas poderão brandir
os números alcançados em atendimento aos pobres – e é verdade, pois desde a
instalação dos militares no governo do país, nunca houve tantos programas
estatais de atendimento à pobreza. Mas isto passa longe de colocar o Estado a
serviço do povo como deve ser, prioridade máxima dada aos que mais precisam, às
vítimas históricas, esmagadora maioria, da tirania elitista que sempre dominou.
Considerando a sabotagem permanente dos serviços públicos,
principalmente a educação, a comunicação e a saúde, o que vemos ser chamado de
política é, na verdade, uma grande farsa, encenações histriônicas diante de uma
população ignorantizada, desinformada, deliberadamente incapacitada de
compreender o que acontece, facilmente enganável com as articulações midiáticas
que se utilizam dos mais profundos conhecimentos acadêmicos em psicologia do
inconsciente, em condução de massas, em antropologia, sociologia, estatística,
conhecimentos cooptados para o domínio de poucos sobre a sociedade. A meu ver,
só é possível uma verdadeira política com um povo bem alimentado, instruído,
informado, consciente dos mecanismos legais pro controle dos que se fazem seus “representantes”.
Isso não é permitido e, se proposto, é atacado com todas as forças da
difamação, com todo o ódio dos cooptados pelos exploradores de fora, mesmo no
seu mais leve esboço, como é o caso.
Amanhã será o dia do confronto entre os servidores e
admiradores incondicionais dos poderes corporativos mundiais e os servidores
condicionais, que servem aos seus interesses com a ressalva de atirar migalhas
à pobreza endêmica. Os interesses internacionais, os financiamentos, as
estratégias semelhantes em vários países – no Paraguai, a derrubada de Fernando
Lugo foi uma caricatura rápida do que está acontecendo no Brasil agora – não são
mencionados nas falas e nos argumentos de ambos os lados, salvo leves
referências inócuas e que, em geral, passam batido, sem que se perceba sua
decisiva importância. Sem esse apoio, explicitado apenas na mídia construída e
bancada de fora que se faz de brasileira mas constituída de funcionários dos poderes econômicos internacionais, as forças que exigem esse impítiman absurdo não seriam forças,
seriam ridículas, sem nenhum sentido, como em verdade são, quando se faz uma
observação profunda e isenta dos acontecimentos.
Os interesses corporativos internacionais ainda determinam,
com irresistível força, a pauta nacional do que se chama de política, essa
farsa suja, desumana, vazia de povo. A maioria dos que engrossam o coro da
oposição, ignorantizados, idiotizados e teleguiados pela mídia, se tivesse
instrução e consciência do que acontece, morreriam de vergonha. O campo da
ignorância e da desinformação foi meticulosamente preparado durante os
quarenta anos de serviço militar nos governos do país. Agora os dominantes
fazem uso dos frutos que os traidores da pátria, conscientes ou
inconscientes, plantaram em território nacional.
A movimentação já se faz em direção a Brasília. Se aproxima
um momento decisivo. Um governo de merda, tatibitate, acovardado em assumir
seus verdadeiros adversários, se bate contra os parlamentares e juristas paus-mandados de bancos e
corporações internacionais, os ditadores do planeta, fonte de tanto sofrimento
pelo mundo inteiro, os mesmos a quem se submete o petê. Os patrões estão
tentando demitir um gerente que dá mole pros escravos, ainda que mantenha a
exploração sobre eles. O perigo desse mole, já se vê, está vindo com o tempo.
Os resultados que vejo me fazem crer que não há reversão na maneira cênica. Será
preciso mais descaramento, mais tirania explícita, não haverá retorno sem
resistência dos de baixo, que são quem apavora as elites. Não se imaginava o
que a população seria capaz de fazer com essas migalhas, dividindo e
multiplicando nas periferias, em meio à exploração desenfreada. Espero que seja
tarde pra conseguirem reverter esse processo. E, se conseguirem derrubar esse
governo, ainda que de merda, a reação irá convulsionar o país de norte a sul,
de leste a oeste. E será, de qualquer maneira, mais um fator na conscientização
geral. O processo é irreversível, embora os medos, as ameaças e as aparências.
Como dizia Einstein, uma mente que se abre a uma nova
experiência, jamais retorna ao seu tamanho original. Se mentes suficientes foram abertas, não haverá reversão. E se houver, haverá uma resistência nunca vista.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Não gostaria de falar sobre isso.
Andam pedindo que eu faça uma análise da situação atual, com essas "manifestações" pelo território nacional. Tenho observado, confesso que de saco cheio, essas orquestrações que se pretendem - ou se anunciam mentirosamente - "políticas", mas que se desmoralizam nas propostas, nas palavras de ordem sem substância, cênicas e vazias de significado, além da exposição de ódio e alienação desses "milhões de pessoas". Estas movimentações a partir da mentalidade das elites locais em vários países da América Latina são muito semelhantes. Antes de tudo, ódio e agressividade, pra anular qualquer possibilidade de diálogo que obrigue a algum esclarecimento a respeito das reais intenções dessas movimentações promovidas pelas mídias infiltradas de interesses corporativos internacionais. O fato dos programas de domingo serem interrompidos durante toda a sua programação pra noticiar essa manifestação sem alma - ou com a alma do demônio - é bem sintomático, mostra os interesses banqueiro-empresariais - o motor da mídia comercial dominante - insuflando as elites, cooptando o sentimento de revolta dessas minorias privilegiadas, diante do aparecimento de pobres em locais antes reservados exclusivamente a essas minorias, como universidades e aeroportos. Há pouco tempo vimos uma dessas peruas da elite reclamar que não tem mais graça viajar à europa ou aos esteites, porque até o "seu" porteiro pode fazer isso. Mentalidade escravista, exploradora, anti-população.
O governo petista, partido que antes de chegar em tal patamar - durante a época dos militares e logo depois - era o refúgio de verdadeiros democratas, fez o seu auto-expurgo, conservando apenas os "moralmente flexíveis" e dando no que deu, perdendo sua alma e sua popularidade pra compor com o verdadeiro poder e se tornar o seu gerente. Estamos diante de uma luta de capatazes, ambos loucos pra ocupar o lugar de gerentes. Os patrões, donos da fazenda Brasil, nem moram na área - daí os capatazes fazerem pose de dono -, apesar de a explorarem com afinco e grandes lucros. Educação pública sabotada pra manter a ignorância, educação privada formando os supervisores e chefes da ignorância, comunicações dominadas pra distorcer a realidade, enganar o povo e formar mentalidades absurdamente superficiais, instituições públicas infiltradas por agentes do poder real pra conter qualquer ação na direção de uma democracia e o quadro está formado, dentro do predomínio econômico sobre a falsa política.
Há duas linhas de capatazes. Uma, benevolente e bonachona, não tem ódio dos escravos - nós, como povo - e, desde que se comportem, atiram migalhas a eles, como prêmio, incentivo a que continuem trabalhando sem reclamar. A outra é imbuída de um ódio e um desprezo incontrolável pelos escravos, que devem ser mantidos sob pressão, debaixo de chicote, comendo pouco pra não ficar mole, apanhando muito pra produzir ao máximo, sem qualquer chance de pensar ou agir fora do exigido.
A predominância da classe rica nessas "manifestações" demonstra a reação dos exploradores do trabalho assalariado às pequenas aberturas que permitiram a passagem de alguns pobres pra áreas onde, antes, pobres só entravam como serviçais. O ódio e o preconceito, além da superficialidade, da falsidade, da cenografia mambembe das propostas, foram a tônica dessa armação midiática que estimulou ao máximo a inconformação com a ascensão da classe pobre a patamares nunca dantes alcançados. As periferias se movimentam, resgatam auto-estima, percebem a sabotagem estatal ao seu desenvolvimento, reivindicam direitos constitucionais antes desconhecidos - e desrespeitados desde que se inventaram as constituições. Há informativos nas favelas, há movimentos organizados de esclarecimento e conscientização, o processo segue seu curso e os injustamente privilegiados estão em pânico, mortos de medo - e esse pavor é evidente no ódio visceral que se vê nesses ajuntamentos de carros caríssimos, de gente rica acostumada a explorar os pobres, que se sentem superiores como seres humanos, apesar de dependerem completamente do trabalho de quem desprezam.
Observando a América Latina, vejo as manifestações dos ricos em toda parte, com incrível semelhança de propósitos e comportamentos. Não é difícil perceber a orquestração continental a partir das elites planetárias, com a costumeira ingerência no que consideram seu quintal, seu domínio, nossos países condenados à exploração desenfreada, à ignorância imposta e planejada, à desinformação estratégica, à miséria e ao abandono de parte da população, enquanto se privilegia as elites locais, sempre traidoras das suas nações, inimigas das multidões, entreguistas e subservientes à ditadura banqueiro-empresarial que manda no mundo através do aparato público dos países do chamado "primeiro mundo", herdeiros do colonialismo europeu, desse parasitismo planetário que agoniza entre guerras e catástrofes provocadas pelos poderes vigentes. O que acontece no Brasil é parte da estratégia de subjugação do povos, ameaçada pelos movimentos sociais, pela união dos países dominados, pelas propostas de integração solidária do povos. A herança colonialista ensina: é preciso dividir, promover conflitos e ódios, pra dominar.
Todo esse movimento, barulhento, odiento, mentiroso, superficial e sem propósito lúcido tem origem no ódio de classe, no terror que os exploradores têm de que os explorados se esclareçam, se organizem, que resistam às explorações desumanas a que são submetidos no dia a dia, no seu cotidiano, há gerações e gerações. É a inconformação dos desumanos com a humanização do sistema, que mal se esboça e apenas nas intenções, nos paliativos iniciais que romperam campos de força de proteção cuja função era manter os pobres fora de locais estratégicos na sociedade, como a academia, os cargos públicos, os clubes fechados, aeroportos, etc.
Senão, o que faria essas pessoas abrirem mão dos seus clubes, piscinas, das suas bolhas de usufruto, de luxos e desperdícios, pra estarem nas ruas vociferando seu ódio contra um governo que, apesar de vendido aos poderes econômicos, atira migalhas aos pobres? Eles não sabem, mas intuem apavorados, o que podem fazer com essas migalhas aqueles que não têm nada além de dificuldades pra superar na vida. As migalhas nas periferias são sementes e se reproduzem como os peixes e os pães de que falam as escrituras cristãs, se propagam e contaminam em conscientização e esclarecimento. Este é o trabalho do momento, desenvolvimento interno, de sentimentos e consciência diante do mundo e da vida. O processo é inexorável, impossível de conter. E esses esforços de contenção são a tentativa de manter as coisas como sempre foram. Nada permanece como é, tudo está em permanente mutação e o máximo que conseguirão será causar muito mais sofrimento do que o que já seria necessário no caminho da coletividade humana. A rota da caminhada já está traçada. Entre idas e vindas, seguimos.
Os beneficiários da miséria, da pobreza e da ignorância se debatem em fúria, vendo diminuírem - apenas diminuírem - os abismos sociais entre eles e seus empregados-explorados. Em sua desumanidade costumeira, herança do escravismo, não se conformam em se ver como são. E não engolem a idéia de igualdade de direitos entre todos, incapazes que são de manterem seus sentimentos de superioridade, estando em pé de igualdade. Seus privilégios são um vício, um fragilizador da sua própria humanidade. Por isso são tão odientos e desumanos - o pânico gera o ódio.
Quanto aos ingênuos, os que se deixam levar, os bois de manada, nada de inesperado ou surpreendente numa sociedade que produz ignorância e alienação, que produz mentalidades consumistas e competitivas, que estimula o egoísmo, a vaidade e a superficialidade, em massa, permanentemente. Daí a essa dicotomia ridícula, anti-petralha ou governista, constrangedoramente superficial, teleguiada, vazia de significado, desmoralizante pra mentalidade dos que a assumem.
Não gostaria nem de comentar o assunto. Estou apenas atendendo a pedidos de pessoas a quem considero. O que vejo é uma extensão da estratégia de dominação mundial, semelhante em toda parte, adaptada às realidades locais e suas características sociais e culturais. A visão míope que se percebe é também parte da estratégia, pra que não se veja o quadro mundial, a geopolítica das corporações que dominam os Estados e a vergonhosa manipulação da mentalidade pelo exército de especialistas em psicologia do inconsciente, em publicidade e márquetim, em sociologia, em antropologia, em todas as ciências cooptadas pra manter a dominação da massa humana - em benefício do punhado de parasitas, vampiros que mantêm dinastias no topo do poder mundial, há muitas gerações.
Comportamentos, mentalidades, valores, relações sociais produzidos em laboratórios do pensamento e implantados pelas mídias são elementos a serem superados na formação de pensamentos próprios, independentes, a partir da própria prática e da visão de mundo que se forma vivendo e não ouvindo as mentiras atiradas pelos organismos viciados de comunicação - criados nesta intenção.
Nomear como políticos esses farsantes que se fazem passar por representantes do povo é uma demonstração de cegueira, de condução mental, de crença ingênua em instituições infiltradas e dominadas por interesses de poucos pra enganar muitos. Isso não é política. É farsa.
PS - É preciso sempre lembrar que o petróleo descoberto no pré-sal, abundante e de ótima qualidade, tem motivado a campanha midiática de desmoralização da Petrobrás, a serviço das gigantes do petróleo mundial. Que estão bem infiltradas no Estado, nos parlamentos, nos judiciários, nos executivos, em todo lugar onde a "democracia" pode ser comprada. E a quem serve o tumulto institucional, sempre na desestabilização de um governo que opõe uma mínima resistência à ambição avassaladora das mega-petroleiras mundiais.
Há corrupção em todas as obras públicas, é de conhecimento geral, público e notório. Só não se fala a respeito com coerência e ligação, pra não se perceber que todas as instituições são uma enorme falcatrua mentirosa e mantenedora de miséria, ignorância e abjeções sociais que de há muito já poderiam ter sido resolvidas, pelas condições de produção, tecnológicas, logísticas, acadêmicas, de todas as formas há condições de resolver todos esses problemas básicos em todo o planeta.
Pense-se a respeito, é uma necessidade.
Eduardo Marinho
O governo petista, partido que antes de chegar em tal patamar - durante a época dos militares e logo depois - era o refúgio de verdadeiros democratas, fez o seu auto-expurgo, conservando apenas os "moralmente flexíveis" e dando no que deu, perdendo sua alma e sua popularidade pra compor com o verdadeiro poder e se tornar o seu gerente. Estamos diante de uma luta de capatazes, ambos loucos pra ocupar o lugar de gerentes. Os patrões, donos da fazenda Brasil, nem moram na área - daí os capatazes fazerem pose de dono -, apesar de a explorarem com afinco e grandes lucros. Educação pública sabotada pra manter a ignorância, educação privada formando os supervisores e chefes da ignorância, comunicações dominadas pra distorcer a realidade, enganar o povo e formar mentalidades absurdamente superficiais, instituições públicas infiltradas por agentes do poder real pra conter qualquer ação na direção de uma democracia e o quadro está formado, dentro do predomínio econômico sobre a falsa política.
Há duas linhas de capatazes. Uma, benevolente e bonachona, não tem ódio dos escravos - nós, como povo - e, desde que se comportem, atiram migalhas a eles, como prêmio, incentivo a que continuem trabalhando sem reclamar. A outra é imbuída de um ódio e um desprezo incontrolável pelos escravos, que devem ser mantidos sob pressão, debaixo de chicote, comendo pouco pra não ficar mole, apanhando muito pra produzir ao máximo, sem qualquer chance de pensar ou agir fora do exigido.
A predominância da classe rica nessas "manifestações" demonstra a reação dos exploradores do trabalho assalariado às pequenas aberturas que permitiram a passagem de alguns pobres pra áreas onde, antes, pobres só entravam como serviçais. O ódio e o preconceito, além da superficialidade, da falsidade, da cenografia mambembe das propostas, foram a tônica dessa armação midiática que estimulou ao máximo a inconformação com a ascensão da classe pobre a patamares nunca dantes alcançados. As periferias se movimentam, resgatam auto-estima, percebem a sabotagem estatal ao seu desenvolvimento, reivindicam direitos constitucionais antes desconhecidos - e desrespeitados desde que se inventaram as constituições. Há informativos nas favelas, há movimentos organizados de esclarecimento e conscientização, o processo segue seu curso e os injustamente privilegiados estão em pânico, mortos de medo - e esse pavor é evidente no ódio visceral que se vê nesses ajuntamentos de carros caríssimos, de gente rica acostumada a explorar os pobres, que se sentem superiores como seres humanos, apesar de dependerem completamente do trabalho de quem desprezam.
Observando a América Latina, vejo as manifestações dos ricos em toda parte, com incrível semelhança de propósitos e comportamentos. Não é difícil perceber a orquestração continental a partir das elites planetárias, com a costumeira ingerência no que consideram seu quintal, seu domínio, nossos países condenados à exploração desenfreada, à ignorância imposta e planejada, à desinformação estratégica, à miséria e ao abandono de parte da população, enquanto se privilegia as elites locais, sempre traidoras das suas nações, inimigas das multidões, entreguistas e subservientes à ditadura banqueiro-empresarial que manda no mundo através do aparato público dos países do chamado "primeiro mundo", herdeiros do colonialismo europeu, desse parasitismo planetário que agoniza entre guerras e catástrofes provocadas pelos poderes vigentes. O que acontece no Brasil é parte da estratégia de subjugação do povos, ameaçada pelos movimentos sociais, pela união dos países dominados, pelas propostas de integração solidária do povos. A herança colonialista ensina: é preciso dividir, promover conflitos e ódios, pra dominar.
Todo esse movimento, barulhento, odiento, mentiroso, superficial e sem propósito lúcido tem origem no ódio de classe, no terror que os exploradores têm de que os explorados se esclareçam, se organizem, que resistam às explorações desumanas a que são submetidos no dia a dia, no seu cotidiano, há gerações e gerações. É a inconformação dos desumanos com a humanização do sistema, que mal se esboça e apenas nas intenções, nos paliativos iniciais que romperam campos de força de proteção cuja função era manter os pobres fora de locais estratégicos na sociedade, como a academia, os cargos públicos, os clubes fechados, aeroportos, etc.
Senão, o que faria essas pessoas abrirem mão dos seus clubes, piscinas, das suas bolhas de usufruto, de luxos e desperdícios, pra estarem nas ruas vociferando seu ódio contra um governo que, apesar de vendido aos poderes econômicos, atira migalhas aos pobres? Eles não sabem, mas intuem apavorados, o que podem fazer com essas migalhas aqueles que não têm nada além de dificuldades pra superar na vida. As migalhas nas periferias são sementes e se reproduzem como os peixes e os pães de que falam as escrituras cristãs, se propagam e contaminam em conscientização e esclarecimento. Este é o trabalho do momento, desenvolvimento interno, de sentimentos e consciência diante do mundo e da vida. O processo é inexorável, impossível de conter. E esses esforços de contenção são a tentativa de manter as coisas como sempre foram. Nada permanece como é, tudo está em permanente mutação e o máximo que conseguirão será causar muito mais sofrimento do que o que já seria necessário no caminho da coletividade humana. A rota da caminhada já está traçada. Entre idas e vindas, seguimos.
Os beneficiários da miséria, da pobreza e da ignorância se debatem em fúria, vendo diminuírem - apenas diminuírem - os abismos sociais entre eles e seus empregados-explorados. Em sua desumanidade costumeira, herança do escravismo, não se conformam em se ver como são. E não engolem a idéia de igualdade de direitos entre todos, incapazes que são de manterem seus sentimentos de superioridade, estando em pé de igualdade. Seus privilégios são um vício, um fragilizador da sua própria humanidade. Por isso são tão odientos e desumanos - o pânico gera o ódio.
Quanto aos ingênuos, os que se deixam levar, os bois de manada, nada de inesperado ou surpreendente numa sociedade que produz ignorância e alienação, que produz mentalidades consumistas e competitivas, que estimula o egoísmo, a vaidade e a superficialidade, em massa, permanentemente. Daí a essa dicotomia ridícula, anti-petralha ou governista, constrangedoramente superficial, teleguiada, vazia de significado, desmoralizante pra mentalidade dos que a assumem.
Não gostaria nem de comentar o assunto. Estou apenas atendendo a pedidos de pessoas a quem considero. O que vejo é uma extensão da estratégia de dominação mundial, semelhante em toda parte, adaptada às realidades locais e suas características sociais e culturais. A visão míope que se percebe é também parte da estratégia, pra que não se veja o quadro mundial, a geopolítica das corporações que dominam os Estados e a vergonhosa manipulação da mentalidade pelo exército de especialistas em psicologia do inconsciente, em publicidade e márquetim, em sociologia, em antropologia, em todas as ciências cooptadas pra manter a dominação da massa humana - em benefício do punhado de parasitas, vampiros que mantêm dinastias no topo do poder mundial, há muitas gerações.
Comportamentos, mentalidades, valores, relações sociais produzidos em laboratórios do pensamento e implantados pelas mídias são elementos a serem superados na formação de pensamentos próprios, independentes, a partir da própria prática e da visão de mundo que se forma vivendo e não ouvindo as mentiras atiradas pelos organismos viciados de comunicação - criados nesta intenção.
Nomear como políticos esses farsantes que se fazem passar por representantes do povo é uma demonstração de cegueira, de condução mental, de crença ingênua em instituições infiltradas e dominadas por interesses de poucos pra enganar muitos. Isso não é política. É farsa.
PS - É preciso sempre lembrar que o petróleo descoberto no pré-sal, abundante e de ótima qualidade, tem motivado a campanha midiática de desmoralização da Petrobrás, a serviço das gigantes do petróleo mundial. Que estão bem infiltradas no Estado, nos parlamentos, nos judiciários, nos executivos, em todo lugar onde a "democracia" pode ser comprada. E a quem serve o tumulto institucional, sempre na desestabilização de um governo que opõe uma mínima resistência à ambição avassaladora das mega-petroleiras mundiais.
Há corrupção em todas as obras públicas, é de conhecimento geral, público e notório. Só não se fala a respeito com coerência e ligação, pra não se perceber que todas as instituições são uma enorme falcatrua mentirosa e mantenedora de miséria, ignorância e abjeções sociais que de há muito já poderiam ter sido resolvidas, pelas condições de produção, tecnológicas, logísticas, acadêmicas, de todas as formas há condições de resolver todos esses problemas básicos em todo o planeta.
Pense-se a respeito, é uma necessidade.
Eduardo Marinho
sexta-feira, 11 de março de 2016
Viagem a Sampa, curta e densa.
Aqui o cansaço, baqueado com a garganta, pode baixar em São Mateus. Eu tava em casa. |
Uma noite na estrada, via Dutra, poucas horas dormidas num
posto de abastecimento. Na casa que nos recebeu, um bom banho. As atividades,
no entanto, não terminaram antes das quatro da manhã, enquanto esperávamos pra
descansar. Éramos três, dois dormiram na Kombi e todos dormimos precariamente,
de novo por pouco tempo. Ali era muito mais casca que miolo, muito mais forma
do que conteúdo. O interesse estava no ar, os olhares não correspondiam às
expressões e, quando correspondiam, mostravam ingenuidade e superficialidade de
consciência – em plena simulação de consciência cósmica, com tendências
orientais e alguns traços da mística afrobrasileira. Roupas vaporosas, túnicas
indianas, turbantes, incensos, velas, o cenário era bonito, embora de
espiritualidade só tivesse o que tem em qualquer parte que haja vida. Os que
deixam o hábito de comer carne, muitíssimas vezes, sentem superioridade sobre
os carnívoros, “primitivos”, “atrasados”, sem perceber que este sentimento de
superioridade é o demonstrativo da sua própria precariedade espiritual, sem
perceber suas próprias necessidades evolutivas, se contentando com este
sentimento mediocrizante de superioridade e se fechando em grupinhos “mais evoluídos”, segregando mais ou menos os que não fazem parte. E aí se estaciona, se fabrica futuros sentimentos de vazio, de ausência de sentido na vida, de angústias inevitáveis. Falta
raiz, falta realidade, falta o pé no chão, o peso da ação prática, da visão
reta, da simplicidade no olhar, no sentimento de igualdade, reconhecendo a diversidade. Namastê... gratidão... e a gente vê a distância nos
olhos e no sentimento. Quando não é distância afetiva, é distância de consciência, distância de realidades, distâncias morais. Não há
fraternidade verdadeira sem o sentimento de família, de igualdade e respeito, com todas as
diferenças de forma, de atitude, de pensamentos e sentimentos. A humildade aproxima, aprende e ensina, sem superioridade, por prazer, por dever moral, por necessidade interna. E, sobretudo, sem interesse algum em retribuição, seja qual for. O prazer em fazer é a retribuição.
Primeiro papo, de manhã, no MASP, avenida Paulista. |
Muita gente parou pra ver, pra assuntar, alguns pra comprar. |
Papo no ateliê, com o Val e a rapaziada. |
A turma reunida no Ateliê de São Mateus. |
Agradeço a recepção de Toddy e Val, de dona Malvina e seu
Atílio. Tudo família, em sentimento e em humanidade. Solidariedade plena e
valiosa.
Os papos no ateliê do grafite são sempre densos, profundos e enraizados na realidade da maioria, no confronto entre Estado e população periférica, entre a repressão, a exploração e o desrespeito cotidiano, social, econômico, político, instrucional, informacional. A autonomia é o primeiro passo a ser dado na direção da realização pessoal e coletiva. Autonomia do pensamento, na criação de valores e comportamentos, de desejos e objetivos de vida além da falsidade institucional.
"Agora vou dormir, amanhã tem trezentos quilômetros até Visconde de Mauá." Dito e feito. |
sábado, 5 de março de 2016
Avenida Paulista hoje e amanhã. Segunda Slam Resistência.
Hoje vou expor na avenida Paulista, desenhos, livrinhos, zines, ímãs. Devo estar lá até a noite, conforme o clima - nos dois sentidos, chuva e astral.
Esta é uma postagem divulgativa e provisória, Avisando da exposição, hoje e amanhã. Segunda tem o evento do Slam Resistência, no começo da noite, na Praça Roosevelt.
Esta é uma postagem divulgativa e provisória, Avisando da exposição, hoje e amanhã. Segunda tem o evento do Slam Resistência, no começo da noite, na Praça Roosevelt.
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Na praça Roosevelt, evento do Slam Resistência, com Adelson Del Chaves. |
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Retalhos das viagens ao vale.
Impressionante é o mínimo que expressa o sentimento.
Devastação apocalíptica nos povoados de Mariana, onde as pessoas parecem
anestesiadas, sem acreditar no que estão vendo, na destruição plena e
contaminada. Parece uma daquelas pancadas que se sente o choque e se sabe que a
dor virá em seguida, surgindo com o tempo, do fundo abalado pela porrada. A
devastação resultante é como um rastro da morte que passa em massa e arrasta
tudo o que encontra pela frente. Na beira dos rios, ribeirinhos pobres se
instalaram, desde sempre, em área de ninguém, se arriscando nas enchentes, se
prevenindo com lugares mais altos, protegendo suas pequenas importâncias ou perdendo
o pouco que têm, pra conseguir tudo de novo aos poucos, numa seqüência de cair
e levantar comum aos mais pobres. Pescadores, lavradores, garimpeiros viviam
nas beiras dágua, muitos com família, em barracos improvisados, de taipa,
estuque, chão batido, telhados de palha, criando seus patos, às vezes porcos,
galinhas, lavouras variadas. Estavam tranqüilos, não havia chuva, não havia perigo de enchente, quando ficam todos de orelha em pé no nível do rio. Ninguém os avisou, eles não tinham como se informar. Pelo Gualaxo do Norte, pelo rio do Carmo até o Rio
Doce, o volume da lama de rejeitos da mineração subiu as encostas, arrancando
árvores, levando casas, pontes, máquinas, carros, tratores, tudo, num estrondo
enorme. No meio, essa gente ignorada, invisível na sociedade, que não entrou na
conta dos mortos.
“Com os troncos vieram pedaços de gente, orelha, braço,
costelas, pés, tudo picado pela madeirama, não deu pra contar. Na frente da
troncarada tinha dois corpos inteiros, que a gente tirou e a turma da Samarco
levou.” Dono do posto na cidade de Rio Doce.
Em Rio Doce ficou a maior aglomeração de troncos que eu vi na região. Desceram da serra enquanto a inclinação é forte, em Rio Doce o vale já ameniza a inclinação, o peso dos troncos os faz parar. |
“Eles tão vendendo essa madeira toda. Tão separando as de
qualidade pras madeireiras, as sem qualidade pras carvoarias. Eles não perde
nada.” Funcionário terceirizado pela Samarco, num dos canteiros de obras
improvisados em Rio Doce, a cidade.
“A gente ouviu falar, telefonaram pra cá avisando que a
barragem tinha rompido. Mas são oitenta quilômetros de lá até aqui, era pra
lama ter acabado pelo caminho. Ninguém acreditou, ninguém tomou providência,
ninguém tava preparado.” Papagaio, ex-garimpeiro e faz tudo na prefeitura de
Barra Longa.
Quintais envenenados, hortas atropeladas pelos metais pesados. |
“Parecia o rugido de mil bichos, urrando pelo escuro, de madrugada,
cobrindo esses terreno tudo, chegando nos quintais, subiu por aqui, foi lá em
cima, acabou com tudo que tava plantado, e foi descendo rio abaixo aquele
rugido medonho. Aqui tinha de tudo, horta, fruta, cana, feijão, criação, até
pros passarinhos a gente plantava, preles vir cantar.” Rômulo, dono da birosca
feita em sua casa, onde comemos peixe vindo de outro lugar, trazido pelo
Papagaio.
O departamento de márquetim da Samarco é um dos mais
exigidos depois do rompimento da barragem. O “janeiro cultural” que a empresa
armou pra entreter e ocupar os flagelados pela lama química, além de gerar
ótimas imagens com os sorrisos que esperavam nas crianças, não teve muita
adesão, ninguém se interessou. Eles preferiam ter suas casas de volta, seu
trabalho, suas hortas e criações, suas ocupações cotidianas. Isso a Samarco não
pode nem pretende dar.
Mas o departamento de márquetim é persistente. Agora chamam
os flagelados, os quase mortos, os que perderam tudo, de “beneficiários”. Incrível.
A cara de pau não tem limites.
“Ninguém avisou a gente, a gente não sabia de nada, quando
viu era o rio morrendo e morrendo tudo dentro dele. Minha mãe tinha sonhado na
outra noite, contou pra gente e eu não consegui dormir, pensando no sonho dela.
A morte tá vindo pelo rio, ela disse. Eu levantei de madrugada, sem sono, fui
pra beira do rio. Tava amanhecendo quando eu vi chegar essa lama, aquele monte
de peixe morto na frente da onda. Parecia uma coberta, não vinha na água, vinha
cobrindo a água, como uma pele, um cobertor, por cima da água.” Rondon, cacique
no território krenak.
Agora, na área dos krenak, só os cães e os urubus andam entre as pedras do rio Doce. Carniça contaminada. |
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